MANCHETES
O Globo
País registra 407 mortes pela Covid em um dia
Crise na crise: Moro resiste a interferência na PF
Guedes e ala política disputam agenda pós-pandemia
José Serra – Ministro da Saúde na epidemia da Aids vê isolamento como a solução
Em Foz do Iguaçu, paraguaios tentam voltar para casa
Dólar bate R$ 5,52 e mercado já cogita escalada até R$ 6
São Jorge é guerreiro, mas a máscara é fundamental
O Estado de S. Paulo
Tensão sobe em Brasília: Moro ameaça sair e STF cobra Maia sobre pedido de impeachment
Incerteza sobre ministro leva dólar a R$ 5,52
Equipe de Guedes vê ‘Dilma 3’ no Pró-Brasil
Medo de ‘pedalada’ aborta 2ª parcela do R$ 600
SP prevê 13 mil covas e câmaras refrigeradas
Isolamento é maior na periferia
Merkel pede fim lento da quarentena
Folha de S. Paulo
Bolsonaro avança na PF, Moro pede demissão e Planalto tenta segurá-lo
Brasil bate recorde de mortes por coronavírus
Sem isolamento de 50%, SP pode rever reabertura
Dólar dispara com crise política
Frente pelo impeachment ganha adesão de Lula e PT
José Sarney – Democracia não está em jogo, mas país vive labirinto
Frente pelo impeachment ganha adesão de Lula e PT
Samu no AM troca maca e oxigênio por internação
Presidente critica Onyx e diz que não antecipará auxílio
Mais de 2 mil já tiveram contrato suspenso após MP
Para Guedes, plano de retomada da ala militar é novo PAC
De 15 países, Brasil é 2º com maior descrença em isolamento social, aponta levantamento
Doria propõe Dia das Mães em agosto; para comércio paulista, troca teria de ser nacional
Presidente amplia limite de compra de munições em novo ato pró-armamentos
Valor Econômico
Gastos para o pós-pandemia geram embate no governo
Governo estuda retorno maior para concessões
Spence prevê recessão curta e retomada muito lenta
Moro dá ultimato a Bolsonaro
Venda de aço cai e setor vive mês “desesperador”
CVC se prepara para quando o mercado voltar
EDITORIAIS
O Globo
Bolsonaro cria instabilidades e eleva custo da crise
Choque com Moro e abalo de Guedes mostram presidente enredado na própria inépcia para conduzir a nação na pandemia
Jair Bolsonaro está aumentando o custo da crise para a sociedade em meio a uma pandemia histórica. O presidente escolheu se transformar num vetor de instabilidade e converteu o governo numa usina de crises. O resultado é óbvio: quanto maior o nível de conflito, mais alto tende a ser o preço a ser pago por 211,4 milhões de brasileiros para emergir do caos econômico e social provocado pelo vírus.
Nas últimas semanas ele se empenhou em tumultuar as perspectivas de uma governança ainda que precariamente estável ao abrir confrontos com governadores estaduais, demitir um ministro, Luiz Henrique Mandetta (Saúde), e agir claramente para desidratar outros dois, Sergio Moro (Justiça e Segurança) e Paulo Guedes (Economia).
O choque com Moro e o abalo de Guedes se enquadram na moldura de um presidente aparentemente enredado na própria inépcia para conduzir uma nação sob grave crise, que avança para completar uma década em recessão, neste ano em nível sem precedentes, e nos últimos dez dias registrou aumento de 150% no número de mortes na pandemia.
Sem plano coerente e consistente para o país, Bolsonaro circunscreve suas ações à receita que aplicou com êxito na campanha eleitoral de 2018, a da aposta na multiplicação de conflitos em todas as direções.
É legítima sua aspiração à reeleição em 2022, assim como a busca por amparo parlamentar a todo custo. O problema está na sua incapacidade sucessivamente demonstrada de distinguir os limites entre Estado e governo, assim como entre o papel de um presidente e o de candidato potencial em futuras eleições.
A exposição da discórdia com o ministro da Justiça obedece a um padrão visto recentemente no caso do ministro da Saúde e reproduzido, mais uma vez, na promoção de um plano de resgate econômico para “trinta anos” — incoerente, para se dizer o mínimo —, ao qual se opõe abertamente o Ministério da Economia.
No caso do desentendimento com Moro há o agravante do motivo. Bolsonaro tenta há tempos substituir o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, pessoa de confiança do ex-juiz. Assim como parece não arquivar a ideia de tirar a Segurança Pública do ministro da Justiça, para deixá-lo sem a PF. O interesse do presidente pela Polícia Federal cresce à medida que surgem ou avançam investigações no entorno do clã Bolsonaro. Agora, é o inquérito recém-aberto no Supremo, para investigar os subterrâneos das manifestações antidemocráticas, como as de domingo, de que Bolsonaro participou. Não se trata de uma preocupação republicana.
Hoje, a partir dos sinais emitidos pelo Palácio do Planalto, a única certeza possível é a de que o presidente da República não sabe o que fazer diante dessa inédita crise e, por isso mesmo, usa o recurso de fazer política do confronto, multiplicando conflitos em proporção e velocidades só comparáveis à disseminação do novo coronavírus.
O Estado de S. Paulo
Pró-Brasil, um arremedo de plano
É indispensável programar a retomada econômica, mas planejamento vai muito além de improvisação para servir a um projeto de reeleição
Desorganizado, perdido e rachado por desentendimentos internos, o governo promete um programa de recuperação econômica baseado em grandes obras. Devem ser investidos R$ 250 bilhões por meio de concessões e parcerias público-privadas e R$ 50 bilhões com recursos públicos, segundo o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto. A decisão foi anunciada em entrevista coletiva no Palácio do Planalto sem a presença de qualquer integrante do Ministério da Economia. O general, segundo se informou, coordenará o programa, batizado de Pró- Brasil.
As gavetas da Casa Civil podem até conter um plano econômico, mas nada parecido com isso foi apresentado na entrevista. Poucos pontos ficaram claros e nenhum deles é positivo. O coordenador pode ter, como se comenta, apoio de colegas militares, mas a opinião da equipe econômica pouco tem pesado. Mais que intrigante, isso é inquietante. Não é próprio de governos normais.
Mas há mais que isso. Em reunião anterior à entrevista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a preservação das âncoras fiscais, como teto de gastos. Defensores do plano já falam, no entanto, em ultrapassar o teto, a proibição constitucional de gastar mais que a soma do ano anterior corrigida pela inflação. Recorrer a um critério especial, o da calamidade pública, poderia ser uma saída, mas isso seria justificável?
Essa decisão poderia ser vista como sinal de abandono da seriedade fiscal. “Nada está descartado”, respondeu o presidente Jair Bolsonaro quando a imprensa lhe perguntou sobre uma possível flexibilização do ajuste fiscal já prometido e iniciado antes do surto da covid-19. A promessa de acerto das contas públicas é muito mais, no entanto, que um assunto interno do governo ou parte de um discurso dirigido ao eleitorado.
A gestão das finanças oficiais influencia a classificação de risco do País. Afeta as condições de financiamento do Tesouro e até a nota de crédito de grupos privados, mesmo daqueles mais sólidos. O presidente Jair Bolsonaro talvez ignore também esses fatos. Mas cidadãos mais informados, incluídos os membros da equipe econômica, sabem disso. O mercado pode aceitar o afrouxamento fiscal para ações de emergência, no enfrentamento de uma pandemia e de seus piores efeitos econômicos. Mas seu julgamento poderá mudar, e provavelmente mudará, quando tiver de analisar um programa de recuperação pós-covid-19.
Uma piora da avaliação de risco poderá resultar em juros mais altos. Não adiantará, então, cobrar do Banco Central uma política monetária mais branda. Afinal, quem financia o déficit fiscal e dá suporte ao endividamento público é o mercado. Terão os formuladores e defensores do Pró-Brasil considerado, ou mesmo lembrado, esse prosaico fato da vida?
Há, no entanto, outros pontos obscuros no esboço de programa anunciado pelo general Braga Netto. Qual a segurança quanto aos R$ 250 bilhões dependentes de concessões e de parcerias público-privadas? No mesmo dia do anúncio do Pró-Brasil, o secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, informou o adiamento de várias operações: “Neste ano acreditamos que não haverá clima para venda de ativos”. A meta de arrecadar R$ 150 bilhões em 2020 é, portanto, irrealizável.
Mas também privatizações previstas para 2021, como as dos Correios, da Codesp e da Telebrás, estão sendo reprogramadas para 2022. Além disso, segundo o secretário, as vendas de participações da União e do BNDESPar em empresas privadas é ainda mais incerta, por causa da má condição das bolsas de valores. Apesar disso, o coordenador do Pró-Brasil parece acreditar em clima para investimentos de R$ 250 bilhões por meio de concessões e parcerias público-privadas.
É indispensável, sim, programar a retomada econômica, com início neste ano e aceleração a partir de 2021. Mas planejamento econômico é algo mais sério e vai muito além de improvisações para servir a um projeto de reeleição. Há conhecedores do assunto em Brasília, no mercado e na academia. Por que não ouvi-los?
Folha de S. Paulo
Tragédia de erros
Governo lança plano obscuro de obras e exibe dados enganosos sobre epidemia
Como se o país tivesse tempo a perder, o governo Jair Bolsonaro conseguiu produzir incerteza e controvérsia em torno de um rascunho de programa de obras públicas para o período pós-pandemia.
Acalentada pela ala militar do Planalto, a ideia suscitou nos corredores brasilienses alusões ao Plano Marshall, o gigantesco socorro econômico concedido pelos EUA aos aliados europeus após o desfecho da Segunda Guerra.
Diante de referência tão estrambótica, auxiliares do ministro Paulo Guedes, da Economia, trataram de dar declarações para recordar que o governo federal vive —há pelo menos cinco anos— sob regime de severa restrição orçamentária.
O tema acabou por centralizar as atenções na entrevista coletiva concedida na quarta (22) por integrantes do primeiro escalão envolvidos no enfrentamento da crise do coronavírus —cuja atração principal deveria ser, em tese, a primeira participação do novo ministro da Saúde, Nelson Teich.
Muito pouco, porém, se pôde descobrir a respeito do tal programa. Seu expositor, o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, foi mais claro ao dizer o que ele não é: “Não existe nenhum Plano Marshall”.
Fora isso, soube-se que a propositura ganhou o nome de Pró-Brasil e terá a missão de concluir obras públicas ao longo de três anos, com investimento de R$ 30 bilhões, montante muito modesto para as dimensões do Orçamento —em 2019, com toda a penúria de primeiro ano de governo, investiram-se R$ 56,6 bilhões.
Ao fim e ao cabo, nem se entendeu a necessidade do anúncio precoce de um programa embrionário, quando há providências mais urgentes a serem tomadas, nem se desfez a impressão de que os militares pressionam contra a agenda liberal e fiscalista conduzida pela equipe de Paulo Guedes, não representada na entrevista.
Não foi a única trapalhada do evento, contudo. O estreante Nelson Teich, sem o desembaraço do antecessor diante do microfone, aventurou-se a dizer que o Brasil apresenta uma das menores taxas de mortes por Covid-19 do mundo, se considerada a população.
A comparação, além de usar números duvidosos e deixar de lado a subnotificação, foi feita com países que passam por estágios mais avançados da epidemia.
Notava-se o esforço geral em imprimir um tom mais positivo à comunicação de governo, complementado por um esdrúxulo apelo do general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, por boas notícias na imprensa. Servir a Bolsonaro é, de fato, uma árdua missão.
Valor Econômico
Bolsonaro agora desprestigia Guedes e volta-se contra Moro
Dúvidas sobre solvência fiscal podem voltar em péssima hora
Com seu estilo de administração pelo caos, o presidente Jair Bolsonaro caminha para desmantelar rapidamente seu governo. Dois sinais desta obra de destruição foram dadas em 24 horas. O primeiro, anteontem, quando o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, reuniu ministros para apresentar um plano “Pró-Brasil” sem a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, e com reparos públicos da equipe econômica sobre sua conveniência. Ontem, o ministro da Justiça, Sergio Moro, ameaçou se demitir após o presidente exigir a troca do diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Bolsonaro voltou atrás.
Bolsonaro demitiu um ministro muito bem avaliado pela população, Luiz Mandetta, da Saúde, no momento em que a covid-19 caminha para seu pico. Agora, provocou um ícone de seu governo e das hostes bolsonaristas, Sergio Moro, também mais bem avaliado que o presidente. Valeixo é o braço direito de Moro, mas Bolsonaro quer colocar alguém alinhado consigo (e família) no comando do órgão, enquanto investigações que a PF realiza envolvem pelo menos um filho de Bolsonaro.
Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta influir na PF. Em uma delas, quis nomear o superintendente no Rio, mas foi demovido, não sem antes ter procurado obstar o trabalho da Receita no porto de Itaguaí, vital para a logística de armamento das milícias. Em janeiro, o presidente declarou a intenção de separar, em novo ministério, a Segurança Pública da pasta da Justiça. Moro tinha dado prioridade ao ataque ao crime organizado de PCC e outros grupos, com sucesso.
Como não é transparente em seus desígnios, Bolsonaro quer intervir na PF, cujas investigações sobre as fake news podem chegar até o “gabinete do ódio” que habita o Planalto, e a seu mentor, Carlos Bolsonaro. Em outra frente de apurações policiais está Flávio Bolsonaro, suspeito de ligação com as milícias e do esquema de rachadinhas na Assembleia do Rio de Janeiro. Por motivos funcionais ou éticos, Bolsonaro não deveria ter o comando da PF sob seus pés, pois levanta suspeitas de que age com interesses nada republicanos.
Moro é um dos troféus do governo de Bolsonaro, Paulo Guedes no comando da Economia é outro. Seu prestígio também começou a ser erodido desde que a covid-19 entrou em cena e arruinou seus planos de entregar a economia em pleno crescimento em 2022 e, com isso, dar as melhores chances para a reeleição do chefe. Guedes ficou sem chão quando teve que fazer o contrário do que fez até agora: soltar as amarras dos gastos públicos para amparar o sistema de saúde e mitigar os danos de uma economia parada.
Por motivos desconhecidos, o ministro parece ter sido escanteado em um assunto essencial a sua pasta, a da formulação de medidas para reativar as atividades quando o coronavírus for domado. Braga Netto divulgou um plano de R$ 30 bilhões para a infraestrutura e um pacote de concessões que poderia trazer investimentos de R$ 300 bilhões a longo prazo.
Não haveria motivo para divergências se fosse apenas isto. Guedes diz que não há dinheiro e sua equipe persegue a ideia de que são os investimentos privados que alavancarão a economia. Mas projeto é tímido e não se desvia tanto disso. E não há nada mais surrado do que reunir projetos antigos de concessão quando se quer dar ideia de que o governo tem planos para o futuro. Isso ocorreu com Dilma e seu PAC-2, com Temer e seu PPI. O governo Bolsonaro, na reunião de maio do PPI, estimou projetos de R$ 1,58 trilhão – R$ 1,4 trilhão, no setor de óleo e gás. O próprio Guedes prometera R$ 1 trilhão em venda de ativos que nunca ocorreu, nem ocorrerá.
Antes do novo plano, era oficial que as concessões só deslanchariam para valer no último ano da gestão de Bolsonaro. O cronograma da maioria dos projetos do PPI mostra que eles aceleram de fato a partir daí. Logo, a discórdia não são os projetos, velhos conhecidos.
As parcerias são a única saída para um governo sem dinheiro. Com o teto de gastos, o investimento orçado para 2020 é de apenas R$ 22,4 bilhões, 0,3% do PIB, o menor valor em décadas. Com o teto de gastos, as despesas obrigatórias expulsaram investimentos. Essa é a questão central. Aparentemente, articula-se um drible ao teto, contra a vontade de Guedes, abrindo-se outro foco de instabilidade. Ao fim da pandemia, a dívida pública será muito mais alta e não se poderá evitar novo ajuste. As dúvidas sobre a solvência fiscal do país deram uma trégua diante da destruição causada pelo vírus, mas podem voltar antes, em péssima hora.