Declarações oficiais do ministro e do deputado criam crise diplomática com o maior parceiro comercial do Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, usou o cargo que ocupa para, falando em nome de eleitores de Jair Bolsonaro, defender o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que culpou a China pela pandemia do coronavírus. O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, criticou nesta quinta-feira (19) a conduta de ambos, que, em sua visão, partidarizaram a política externa nacional.
“Eduardo Bolsonaro, filho 03, ataca a China. Araújo, ministro teleguiado, dobra a vergonha e enxovalha o nome do Brasil institucionalmente. Pôs interesses eleitorais e familiares acima da política externa. Fala pelos “eleitores” de Bolsonaro, não pelos brasileiros”, declarou o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.
A declaração do deputado foi feita em sua conta no Twitter nesta quarta-feira (18). Apesar das inúmeras críticas ao seu comentário e do pedido de retratação por parte do governo chinês, o deputado federal Eduardo Bolsonaro não recuou. Ao contrário, tentou justificar porque se referiu ao Covid19 como vírus chinês e reforçou a comparação entre a eclosão da doença na China e o acidente nuclear de Chernobyl.
Já Araújo, em vez de contribuir para apaziguar uma nascente crise diplomática com o maior parceiro comercial brasileiro, saiu em defesa do filho do presidente e reclamou de supostas ofensas do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, ao presidente Jair Bolsonaro e, textualmente, a “seus eleitores”.
Mesmo com a pandemia do coronavírus, a China continua o principal parceiro comercial do Brasil. Em fevereiro, a balança comercial registrou superávit de US$ 3,096 bilhões, impulsionada por exportações de produtos brasileiros para a China. O resultado mostra que as vendas para o país asiático subiram 20,9% no mês. Juntos, China, Hong Kong e Macau foram responsáveis por US$ 4,7 bilhões – do total de US$ 16,3 bilhões – das exportações brasileiras em fevereiro.
Para o presidente do Cidadania, a crise diplomática provocada por Eduardo Bolsonaro pode comprometer a ajuda oferecida pelo país asiático no combate ao coronavírus. “A China já tinha mostrado o interesse em fornecer equipamentos como os respiradores artificiais e máscaras. Quem vai sofrer novamente são os brasileiros e os mais miseráveis”, sustentou Freire.