Por que nós não podemos ser tudo isto?
O voto universal, ou seja, o direito do voto por cidadãos com mais de 16 anos, homens, mulheres, alfabetizados ou analfabetos, é uma conquista democrática instituída pela Constituição de 1988, que garante que todos possamos eleger nossos representantes políticos. Como o próprio nome diz, votamos em quem nos representa, defenda nossos direitos, lute por nós, independentemente se é “conhecida” ou não.
Lancei minha pré-candidatura para aumentar tal representatividade: defendo o espaço das mulheres na política e enfatizo a urgência e a necessidade de sermos protagonistas na construção de saídas para o país.
De fato, a discriminação de gênero interfere em dimensões cultural, econômica e política, e, com isso, seu combate interfere em mudanças nas relações entre pessoas e na sociedade. No âmbito cultural, reflexo é a violência contra a mulher: no Brasil, uma mulher é estuprada a cada 9 minutos; três mulheres são assassinadas a cada um dia; uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha a cada dois minutos (dados retirados da Agência Patrícia Galvão). No terreno econômico, a discriminação acentua-se na desigualdade salarial: segundo uma pesquisa do IBGE de 2019, no Brasil, as mulheres ganham 20,5% a menos que os homens de mesmo cargo. Na câmara dos deputados brasileira, segundo a própria câmara, apenas 15% das congressistas são mulheres, mesmo que sejam quase 52% da população do Brasil.
Assim, a proposta é que as mulheres estejam nos locais de tomada de decisão e participem efetivamente da construção de políticas públicas que promovam uma sociedade mais justa e igualitária, em que a vida de toda mulher e seus direitos sejam coletivamente respeitados e valorizados.
Fato é que a sociedade tem reconhecido a importância da política para além do exercício do voto, e, também, há uma expectativa de renovação, de alternância de poder com pessoas de fora da política.
Mesmo assim, mesmo que a ocupação dos espaços de poder pelas mulheres seja um ato revolucionário, ainda sofremos com questionamentos que nos inferiorizam. Apesar de parecerem inofensivos e de que “poderiam ter sido feitos para homens”, eles estão totalmente vinculados ao dilema de toda mulher: estar o tempo todo tendo que provar sua capacidade, seu valor e seu ponto de vista. E falo isso de minha perspectiva privilegiada de mulher branca e cisgênero. Isso se agrava de forma inimaginável quando falamos de mulheres não brancas, LGBTQI+.
O preço de ser uma mulher é ter que viver parcialmente anestesiada, para aguentar o bombardeio diário acerca de cada uma das decisões que tomou na sua vida.
É ter que habituar-se aos olhares, às sobrancelhas arqueadas, às frases feitas e aos conselhos inúteis, ainda que muito bem intencionados. É preciso estar disposta todo santo dia. É preciso querer muito e conformar-se com o fato de ter que pagar valores altos para ter o simples direito de seguir com a própria vida.
Vamos em frente!
Yula Merola, mulher, pré-candidata, mãe, servidora publica, docente, ativista, empresária e cientista