Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) está trabalhando pela organização do partido de Bolsonaro no estado. É uma vergonha para a indústria brasileira e para São Paulo.
Associando-se ao bolsonarismo, Skaf está amarrando a elite do estado mais dinâmico do Brasil ao que há de mais imundo e atrasado na tradição política brasileira.
A vanguarda de nosso empresariado defende o torturador Brilhante Ustra, que introduzia ratos nas vaginas das presas? A locomotiva da nação dá graças a Deus porque Pinochet matou o pai de Michelle Bachelet?
Há planos para projetar uma placa rasgada com o nome de Marielle Franco na fachada da sede na Paulista? As milícias de Rio das Pedras poderão se filiar à Fiesp?
A elite paulista, que já financiou a Semana de Arte Moderna de 1922, a USP e o Masp, agora patrocinará a doença mental de Olavo de Carvalho? Os empreendedores bandeirantes defendem o negacionismo climático? Aliás, que modelo de empreendedorismo os federados de Skaf pretendem oferecer aos jovens paulistas, a startup “Escritório do Crime”?
Os cidadãos brasileiros a quem o país permitiu ter mais dinheiro apoiam um novo AI-5, entusiasmam-se com os ataques ao STF, defendem a guerra de Bolsonaro contra a imprensa livre? A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo será a defensora do atraso e do coronelismo, do preconceito e do obscurantismo, da mais torpe e abjeta depravação autoritária?
Ao redor do mundo, segmentos econômicos que não se mostraram capazes de competir globalmente se aliaram ao populismo autoritário. Se o empresariado paulista seguir Skaf no bolsonarismo, terá também assinado sua desistência.
Talvez a indústria brasileira, em franco declínio, abrace o bolsonarismo como os antigos mineiros do norte da Inglaterra abraçaram o brexit. Vale lembrar, o bolsonarismo se distingue de outros autoritarismos da mesma safra pelo apoio que tem nas elites.
Se os industriais paulistas não protestarem contra Bolsonaro na qualidade de industriais, poderiam ao menos protestar na qualidade de paulistas.
Bolsonaro venceu em São Paulo, mas representa o contrário da visão que São Paulo já foi. Bolsonaro acha que desenvolvimento é plantar em cada vez mais terras e explorar cada vez mais minas. É o exato contrário do tipo de atividade econômica moderna e intensiva em conhecimento em que São Paulo é líder.
São Paulo é suas universidades, é o centro da ciência nacional, é a Fapesp. Bolsonaro é censura ao Inpe, guerra às universidades e negacionismo climático. São Paulo foi o berço dos dois melhores partidos que o Brasil já teve, PT e PSDB. Bolsonaro é uma infecção oportunista nascida das crises dos dois. São Paulo é um dos poucos estados em que dois grandes jornais sobreviveram. Bolsonaro pretende estrangulá-los financeiramente e substituí-los pelo jornalismo puxa-saco muito comum nas regiões mais pobres.
Ainda resta a esperança de que Skaf não seja representativo da indústria paulista como um todo. Matéria de Bruna Narcizo publicada nesta Folha em 3 de janeiro mostrou que há industriais insatisfeitos com os movimentos recentes do presidente da Fiesp. Tomara que sejam muitos e que estejam insatisfeitos pelo motivo certo. (Folha de S. Paulo – 06/06/2020)
Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)