Eleições municipais de 2020 encontram velhos e novos partidos em maus lençóis
Atenção: vencer ou perder as eleições municipais não significa, pelo menos não necessariamente, vencer ou perder as eleições presidenciais dois anos depois. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. As votações nos municípios confirmam a força ou a fraqueza de partidos e candidatos naquele momento, mas as projeções para as urnas nacionais dependem de vários fatos e fatores atrelados à dinâmica do País e da política.
Um exemplo recente: o PT foi fragorosamente derrotado nas eleições municipais de 2016, quando perdeu em todas as capitais, exceto uma, Rio Branco, no Acre. Detalhe: com a desincompatibilização do prefeito Marcos Alexandre, para disputar o governo estadual (aliás, sem sucesso), o partido ficou sem nenhuma das 26 capitais e nenhuma das cidades com mais de 200 mil eleitores.
E o que aconteceu com o partido de Lula em 2018, dois anos depois? Ultrapassou todos os demais partidos e empurrou Fernando Haddad para o segundo turno contra Jair Bolsonaro, do até então inexpressivo PSL. Perdeu no final, mas mostrou que está vivo.
Isso não significa que as eleições municipais não sejam importantes. Claro que são, e não só porque se trata da escolha de prefeitos e vereadores que vão definir os rumos das nossas cidades, onde, afinal das contas, as pessoas moram. É importante também para organizar o tabuleiro partidário, testar a imagem de siglas e líderes, desenhar as articulações e alianças nacionais.
As eleições deste ano têm uma característica muito peculiar, porque encontram um quadro político e partidário confuso e completamente desorganizado. Logo, novo, imprevisível.
Os partidos tradicionais parecem baratas tontas. O MDB, dono do maior número de prefeituras no País, enfrenta dramas éticos e falta de liderança: o ex-presidente Michel Temer é investigado, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha caiu, foi cassado e está preso, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral foi condenado a mais de 200 anos. Sem disputar a Presidência, ora pendurado no PSDB, ora no PT, o partido depende desesperadamente de bases municipais e estaduais.
O PSDB, que foi um sucesso em 2016 e domina o maior número de grandes cidades, acaba de sair de um desastre eleitoral: Geraldo Alckmin teve em 2018 o pior desempenho do partido numa disputa presidencial e os principais líderes tucanos no Congresso naufragaram nas urnas. Restou uma crise existencial: o que é o PSDB? Pior: quem é o PSDB?
O PT… bem… depois de construir sua história em cima da ética, o partido foi atingido em cheio pela Lava Jato, que levou à prisão o próprio Lula, seus ex-presidentes e ex-tesoureiros. Além de ter de responder pelo fracasso de Dilma Rousseff na Presidência. Mas o PT continua visceralmente dependente de Lula, que não aponta para o futuro, e ainda reelegeu uma presidente, Gleisi Hoffmann, capaz de defender o regime macabro de Nicolás Maduro e de brincar de Foro de São Paulo em Cuba, a esta altura da vida e dos acontecimentos.
Se as velhas siglas estão em maus lençóis, o que dizer das novas? O partido do presidente, qualquer presidente, sempre sai na frente e em vantagem em eleições municipais e em processos de reeleição. Já o Aliança, de Bolsonaro, tem uma corrida de obstáculos, a começar da criação da própria sigla. Até lá, é uma incógnita, na dependência de templos, escolas – e quartéis?
E o PSL, que surfou na onda Bolsonaro e conquistou a segunda bancada da Câmara com neófitos da polícia, da área militar, da Justiça, do Ministério Público? Esqueçam. Foi um meteoro que passou. Se tiver um papel na eleição, será o de azucrinar o Aliança, o presidente e seus seguidores. Uma guerra, aliás, nada santa. (O Estado de S.Paulo – 03/01/20)