O Brasil é acusado desde o ano passado de querer dupla contagem de emissões em sua proposta, que é pouco compreendida pelos demais (Foto: Reprodução)
COP 25 deixa para 2020 regulamentação do mercado de carbono
Conferência do clima chega ao fim sem consenso sobre tema e discussão será em Glasgow
Daniela Chiaretti —Valor Econômico
A conferência do clima das Nações Unidas, a COP 25, terminou às duas da tarde na Espanha postergando seu ponto crítico — as regras do artigo 6 do Acordo de Paris. A complexa arquitetura dos mercados de carbono globais, prevista no artigo 6, não obteve consenso e foi adiada para a próxima rodada, em Glasgow, em 2020.
Os mecanismos financeiros são essenciais, segundo algumas visões, para aumentar a ambição das metas climáticas dos países e trazer a bordo o setor privado. Mas o desenho de como tornar isso economicamente atrativo e ao mesmo tempo, benéfico para o clima, não consegue obter consenso desde o ano passado, na conferência do clima da Polônia.
O Brasil é acusado desde então de querer dupla contagem de emissões em sua proposta, que é pouco compreendida pelos demais. A União Europeia é a maior adversária do Brasil neste tópico, embora tenham sido Brasil e UE que o criaram, nos últimos minutos, em 2015, em Paris.
A mensagem do bloco europeu é clara: não quer dupla contagem de emissões e defende a integridade climática. A CoP de Madri, contudo, avançou no debate deste ponto. Novas propostas surgiram para os três temas do artigo 6 — o que prevê a transação de emissões entre países, o que prevê o mesmo no setor privado e um terceiro, que prevê recursos, mas sem mercados envolvidos.
O Brasil, entre outros tópicos, defendia que certificados de créditos de carbono do passado, conhecidos por CDM, na sigla em inglês, fossem transferidos para o novo período, depois de 2020. O ponto é muito polêmico e também ficou indefinido.
Em termos de comunicação, a mensagem europeia foi muito mais eficiente. “É melhor nenhum acordo do que um mau acordo”, defendiam os ministros europeus, como um mantra.
Curiosamente, a participação dos Estados Unidos nas salas de negociação da COP 25 foi ambígua.
O presidente Donald Trump mandou à Espanha uma delegação inexpressiva e de diplomatas pouco experientes, sinalizando seu desdém com um processo que pretende abandonar em novembro de 2020, depois da eleição, em caso de se reeleger.
Os EUA, contudo, foram atuantes nas negociações dos mercados de carbono. “Não se entende o motivo, já que eles vão abandonar o acordo”, diz um negociador de um país vulnerável à mudança do clima, que quer ver progresso .
“Os EUA queriam deixar as regras estabelecidas para a eventualidade de retornarem a Paris”, diz outro negociador.
Mark Lutes, especialista em mudança climática do WWF Internacional, lembra que os Estados Unidos só sairão do Acordo de Paris em 4 de novembro, e que podem voltar logo depois, em 2021, caso um democrata vença a eleição presidencial.