IPCA-15 de agosto tem menor alta para o mês desde 2010
Bruno Villas Bôas – Valor Econômico
Com preços de alimentos in natura em queda, a prévia da inflação oficial de agosto surpreendeu o mercado e ficou mais distante da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,25% em 2019, além de ter provocado revisões para baixo nas expectativas do índice fechado do mês e mesmo do ano. Nem a desvalorização cambial preocupa analistas, que reforçaram apostas em cortes da taxa básica de juros nos próximos meses.
Conforme divulgado ontem pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou para 0,08% em agosto, ligeiramente abaixo dos 0,09% do mês anterior. É o menor índice para mês desde 2010 (-0,05%). A leitura ficou ainda no piso das expectativas de analistas ouvidos pelo Valor Data, que esperavam, pela mediana, aceleração da prévia da inflação para 0,16%.
A surpresa desta vez foi a intensidade da queda dos preços dos alimentos consumidos dentro da casa – conceito que exclui serviços de restaurantes e lanchonetes. Esses itens recuaram 0,45% em agosto, após o regime favorável de chuvas ter elevado a oferta dos produtos. Produtos importantes na mesa ficaram mais baratos, como feijão-carioca (-14,99%) e tomate (-13,43%)
O economista André Braz, coordenador de Índice de Preços ao Consumidor do Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a expectativa era de preços comportados de alimentos, mas o movimento foi mais intenso do que o antecipado por indicadores de atacado. “Esse comportamento deve ser manter no restante de agosto, mesmo com a desvalorização do câmbio.”
Outros preços contribuíram para o baixo índice de inflação de agosto. A gasolina ficou 1,88% mais barata nas bombas. Outro destaque foi a passagem aérea, com queda de 15,57% no mês. Os movimentos compensaram o aumento de custo da conta de luz, que subiu 4,91% com o acionamento da bandeira tarifária vermelha, o que acrescenta R$ 4 a mais a cada 100 quilowatts-hora.
Dessa forma, o IPCA-15 acumulado em 12 meses seguiu em trajetória de desaceleração, atingindo 3,22% até agosto. É o menor índice para esse tipo de comparação desde maio do ano passado. Assim, a inflação afastou-se um pouco mais da meta deste ano, de 4,25%, com margem de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. E nada aponta para uma convergência nos próximos esses, segundo analistas.
Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco, diz que o comportamento benigno de preços deve colocar a inflação acumulada em 12 meses abaixo do piso da meta de inflação em outubro, atingindo 2,7%. Em novembro e dezembro, porém, com descarte de taxas baixas do fim de 2018, a tendência seria o indicador acumulado acelerar e encerrar o ano em 3,6%, dentro da margem de tolerância do regime.
“A ociosidade da economia e a própria inércia inflacionária devem manter uma dinâmica confortável”, diz a economista, acrescentando que o quadro reforça o cenário de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai realizar mais dois cortes de 0,5 ponto percentual na Selic nas reuniões de setembro e outubro, para 5% ao ano. “As medidas de núcleo também reforçam essa percepção”.
Mais sensível ao ciclo econômico, o IPCA-EX3, medida de núcleo de inflação apresentada pelo Banco Central, teve alta de apenas 0,05% no mês, abaixo do 0,09% de julho. A média de sete medidas de núcleo do IPCA-15 foi de 0,14%, também abaixo do 0,16% do mês anterior. Esse indicador acumulado em 12 meses desacelerou para apenas 3,02% em agosto, abaixo do mês anterior (3,18%).
Surpreendida pelo resultado do mês, a MCM Consultores revisou sua expectativa para o IPCA “cheio” de agosto para 0,12%, de 0,23% anteriormente previsto. A consultoria cortou ainda de 3,9% para 3,75% sua projeção para IPCA do ano. Na mesma linha, o banco MUFG Brasil colocou sua previsão para o IPCA do ano, atualmente de alta de 4%, em revisão com viés de baixa.