Governo distribui cargos no Incra a aliados políticos, diz Estadão

Poderes. Ao menos 8 dos 10 indicados para ocupar superintendências têm deputados como padrinhos; secretário de Assuntos Fundiários vê “sintonia” com parlamentares

Renato Onofre / Brasília – O Estado de S. Paulo

O governo de Jair Bolsonaro distribuiu cargos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a indicados políticos de parlamentares. Dos dez escolhidos para comandar superintendências regionais desde o início do mês, ao menos oito têm como padrinhos deputados federais. Outros dois foram indicados por prefeitos da região e entidades de classe.

“Tem uma sintonia entre governo e parlamentares”, afirmou ao Estado Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários, que admite que as nomeações atendem a pedidos de bancadas e líderes de partidos na Câmara, mas nega o “toma lá, dá cá”. “O que não tem é o “me arruma uma indicação e eu te dou isso ou aquilo”. Como eu vou conhecer a fundo o perfil de quem está na Paraíba, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte? Quem está em Brasília não conhece. Então, às vezes, a gente pergunta: “Tem algum nome bom para indicar?”, disse Garcia.

É pelo Incra que passam todos os processos de regularização fundiária do País, uma das metas do atual governo. No total, são 30 superintendências -uma por Estado, com exceção do Pará, que possui três, e Pernambuco, com duas.

Os cargos no instituto são cobiçados por parlamentares porque cada superintendência tem autonomia para definir, além dos assentamentos, onde serão aplicados os recursos e outras questões agrárias. Com um aliado no comando, é mais fácil ao deputado influenciar em decisões que afetam seu reduto eleitoral, por exemplo.

Conforme o Estado antecipou, a distribuição de cargos, além da liberação de emendas parlamentares, foi uma das estratégias adotadas pelo governo para conseguir levar adiante a reforma da Previdência. A proposta foi aprovada em primeiro turno na Câmara no dia 10 de julho e uma nova votação está marcada para a terça-feira que vem. Todos os oito deputados federais atendidos com postos de direção no Incra votaram a favor da proposta que mudou as regras de aposentadoria.

Além do Incra, o acordo é para que parlamentares também preencham cargos nas superintendências regionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Suspensão. A distribuição de cargos, porém, tem desagradado ao PSL, partido do presidente. No fim de semana, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, teve de intervir após a nomeação de Adalberon de Sá para a Superintendência do Incra em Alagoas ser publicada no Diário Oficial da União. Sá foi indicado pelo deputado federal Marx Beltrão (PSD-AL), ex-ministro do Turismo de Michel Temer.

Onyx, então, tornou a portaria sem efeito. Em nota, o presidente do PSL de Alagoas, Flávio Moreno, comemorou a suspensão da nomeação. “Defendemos a meritocracia, escolha técnica e de pessoas com perfil alinhado às novas diretrizes do Brasil, via governo Bolsonaro”, disse Flávio Moreno.

PSD. Em Santarém, no oeste do Pará, a indicação coube ao deputado federal Júnior Ferrari (PSD-PA). Com atuação discreta na Câmara, o parlamentar ganhou o direito de escolher após um acordo do governo com o PSD. No Estado, as três superintendências estão ligadas ao partido. O escolhido é o contador Eugenio Hamoy. “Não vejo problema que seja uma indicação política. Tenho perfil técnico. Meu currículo ficou em análise por três meses”, afirmou Hamoy.

O PSL, no entanto, conseguiu emplacar pelo menos uma superintendência. O presidente nacional do partido, Luciano Bivar, colocou seu ex-coordenador de campanha, Marcos Campos de Albuquerque, no comando do instituto em Pernambuco, seu reduto eleitoral. “A indicação foi feita há três ou quatro meses em uma conversa com o Nabhan. Ele me pediu um nome e indiquei alguém de minha inteira confiança”, afirmou Bivar.

Nabhan foi chamado para intermediar as nomeações após parlamentares reclamarem a atuação do presidente do Incra, general Jesus Corrêa, como mostrou a Coluna do Estadão. A crise levou Onyx a passar a concentrar as nomeações às superintendências.

Questionado sobre a indisposição com o general, o secretário afirmou que prefere “se abster de comentar o assunto”. Procurado, o presidente do Incra não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

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