Frente de esquerda pode ter maioria a favor da Previdência no Senado
Vandson Lima e Renan Truffi – Valor Econômico
Montada para ser uma “oposição sem PT” no Senado, a frente de partidos de esquerda está rachada sobre a reforma da Previdência. Dos 13 integrantes do chamado Bloco Senado Independente, composto por PSB, PDT, Rede e Cidadania, pelo menos 7 já ponderam votar a favor da proposta.
Uma questão adicional ainda permeia a decisão dos senadores do grupo: vários deles foram convidados a trocar de legenda, o que lhes permitiria votar a favor da Previdência sem o peso da traição partidária. O Podemos, que tem atuado em uma faixa mais de centro-direita no espectro político, fez convites a Leila Barros (PSB-DF), Flávio Arns (Rede-PR), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Marcos do Val (Cid-ES) – este último favorável à reforma desde o início das discussões. Por ser considerado cargo majoritário, o senador pode mudar de partido sem risco de perda de mandato.
“Temos tido conversas e minha percepção é que a maioria do bloco vai votar favorável. Há um sentimento de que esse será o caminho”, atesta Eliziane Gama (MA), líder do Cidadania (antigo PPS). A sigla tende a depositar seus três votos em favor da mudança no sistema de aposentadorias.
A senadora era uma das mais resistentes, mas diz que a retirada de mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural mudaram sua posição. “O texto melhorou muito na Câmara. Minha disposição é votar favorável”.
Eliziane, que é aliada do governador maranhense Flávio Dino (PCdoB) – um ferrenho opositor do governo de Jair Bolsonaro – diz que não foi pressionada a ir contra a proposta. “O governador me deixou à vontade sobre a Previdência”, garante. Ela ressalva que ainda vai batalhar por mudanças para evitar o recebimento de pensão por morte menor que um salário mínimo e defende a inclusão de Estados e municípios na reforma. “Tem que incluir os entes, senão resolve apenas metade do problema. Prefeitos estarão preocupados com a reeleição no ano que vem, não vão entrar nisso. É obrigação do Congresso fazer a mudança”.
Um dos idealizadores da formação do bloco, o senador Cid Gomes (PDT-CE) diz que o racha não representa a ruína do grupo ou da pauta à esquerda, mas uma consequência de uma medida com tantos desdobramentos. “Numa situação tão relevante como essa, da reforma, com tantos detalhes, o melhor caminho é que o bloco não exija uma fidelidade”, atesta. “Lá atrás, na formação do bloco, isso já ficou estabelecido: nós teríamos divergências pontuais, que seriam toleradas e trabalhadas para que tivéssemos o máximo de posição conjunta, mas respeitando os indivíduos”.
O PDT, que suspendeu das atividades partidárias oito de seus 27 deputados favoráveis à reforma na Câmara – quase um terço da bancada -, pode ter novas defecções no Senado. E até Cid, irmão do presidenciável e crítico da reforma Ciro Gomes pode, no limite, ser um destes (ver matéria abaixo).
No Rede, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (AP) e Fabiano Contarato (ES) devem votar contra, mas paira a dúvida sobre Flávio Arns. “[Devemos ter] dois votos contrários do Rede. Ele [Arns] estava em dúvida porque o grande problema dele é a questão dos professores. Se os professores fossem resolvidos, poderia votar a favor”, conta Randolfe.
A Câmara aceitou emenda que diminuiu a idade mínima para que professores consigam se enquadrar nas regras de transição, atendendo o que seria o pleito de Arns. O Rede não pretende punir o senador se ele de fato votar a favor da mudança na Previdência. “O Rede não vai fazer fechamento de questão. Não é da política e da prática do Rede”, completa Randolfe. O Valor tentou contato com Arns, mas segundo sua assessoria, ele estaria em local isolado com a família durante o recesso parlamentar.
A situação mais complicada do bloco é do PSB. Na Câmara, foi o partido de esquerda que deu mais votos a favor da reforma (11 dos 32), o que rendeu a abertura de um processo interno que pode se converter em expulsão do grupo. No Senado, o PSB tem três representantes – ou quase isso, já que Kajuru foi convidado a se desfiliar depois de apoiar o decreto que facilita o acesso a armas de fogo. Ele era o líder da bancada.
Veneziano Vital do Rêgo (PB), que lidera o bloco independente, é o único voto garantido do PSB no Senado contra a reforma da Previdência. Integrantes do partido afirmam, sob reserva, que a senadora Leila já teria indicado apoiar a proposta, mas o embate partidário evita que exponha sua posição publicamente. A reportagem entrou em contato com a assessoria da senadora, que recusou sequer falar sobre a proposta em linhas gerais.