MANCHETES
O Globo
Desmatamento cresce 60% na Amazônia
Governo admite deixar estados fora da reforma
Polícia Federal indicia trio por esquema de laranjas no PSL
Toffoli sobre manifestações: “Ministros têm que ter couro”
Procurador é preso no Rio acusado de vender parecer
O Estado de S. Paulo
Professoras devem ter regra de aposentadoria mais branda
Mercosul-UE prevê elevação de tarifas em casos especiais
CPI sugere punição de ex-presidente da Vale
Senado arquiva caso do 82 voto em eleição
Delcídio se aposenta com R$ 11 mil mensais
Folha de S. Paulo
União Europeia vai reduzir tarifas mais rápido que Mercosul
PF indicia 4 candidatas do PSL no caso dos laranjas
Dias Toffoli tenta blindar Supremo no Congresso
Planalto não cogita saída de ministro ‘neste momento’
Ex-ministros da Ciência lançam manifesto contra governo Bolsonaro
Irmã Dulce será canonizada pelo papa no dia 13 de outubro
Prevista há anos, venda de remédio fracionado é rara
Após invasão do Parlamento, ativistas e policiais entram em confronto em Hong Kong
Valor Econômico
BNDES obtém ganho com ações de R$ 75 bi em 5 anos
Relatório da MP 881 acaba com o eSocial
Medidas virão após a reforma da Previdência
Peste suína valoriza ações de frigoríficos
Pets já vão ao cinema e movimentam R$ 35 bi
Para Huawei, ‘é crescer para sobreviver’
EDITORIAIS
O Globo
É vital que reforma cubra toda a Federação
A possibilidade de estados e municípios não entrarem no projeto põe a população em risco
A negociação em torno da reforma da Previdência é repleta de riscos e imprevistos, devido aos interesses em jogo. No caso das alterações imprescindíveis no sistema de seguridade, os problemas são de tamanho proporcional ao tempo que os políticos deixaram passar sem adequar as regras do INSS (dos empregados do setor privado) e dos “regimes próprios” (dos servidores públicos) às mudanças demográficas. O bem-vindo aumento da expectativa de vida da população requer que as pessoas passem mais tempo no trabalho ativo, contribuindo para a Previdência. Como isso não ocorreu, os déficits bilionários explodem, e, agora, tenta-se corrigir o erro.
Como se trata de uma reforma que implica mudanças na Constituição, há um longo rito a ser cumprido. O que significa que existem mais chances para obstruções e sabotagens contra a atualização do sistema, tramadas no Congresso por representantes de corporações que se beneficiam das atuais regras, a maioria delas do funcionalismo público.
Tem sido assim desde a tentativa, ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), de se estabelecer uma idade mínima para aposentadoria, derrotada por um voto. Com Lula e Dilma—mais com o primeiro —, houve avanços na seguridade do funcionalismo, mas insuficientes. Porém, em meio a crises no PT, partido capturado pela antiga visão ideológica de que o Estado tudo pode — a receita da hiperinflação. No momento, enquanto o relator do projeto da reforma, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), se prepara para apresentar à Comissão Especial um parecer complementar a seu relatório, há riscos de ficar pendente a inclusão de estados e municípios no projeto.
Se isso ocorrer, ainda no governo Bolsonaro mais governadores deverão pedir socorro ao Tesouro, pela impossibilidade de pagarem seus compromissos, devido ao estrangulamento de seus caixas provocado por aposentadorias e pensões do funcionalismo.
A política tem uma lógica nada cartesiana. Mesmo com a contabilidade asfixiada, governadores não trabalhariam em favor da reforma por serem de oposição. Exemplo de Pernambuco (Paulo Câmara, PSB), Maranhão (Flávio Dino, PcdoB) e Bahia (Rui Costa, PT).
Há, ainda, manobras e reações típicas do varejo da política, no estilo baixo clero, de parlamentares adversários de governadores, que preferem deixá-los enfrentar o grande desgaste de tentar aprovar a reforma em sua assembleia legislativa. O parlamentar típico também não deseja ser acusado de ter trabalhado “contra” os servidores em Brasília.
No entanto, dificultar a extensão das mudanças para toda a Federação é que prejudicará o funcionalismo e a população dos estados, onde já existem casos de falta de dinheiro para hospitais e postos de saúde.
Impedir que a reforma aprovada no Congresso abranja toda a Federação é condenar a população a enfrentar uma crise que já se agrava em serviços públicos básicos.
O Estado de S. Paulo
Agora, o jeito é modernizar
Modernizar é mais do que nunca um imperativo, uma condição de sobrevivência e de crescimento imposta pelo acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Este é o mais amplo e mais ambicioso pacto comercial celebrado pelo Brasil e pelos parceiros de bloco, mas é também o mais desafiante. Não basta combinar abertura de mercados e prazos para a redução ou eliminação de tarifas. Para competir, as empresas terão de se tornar mais produtivas e inovadoras, mas dependerão também de medidas políticas para enfrentar a nova concorrência. Do outro lado estarão produtores modernos, bem equipados, criativos, apoiados por ampla oferta de capital e de mão de obra qualificada e operando num ambiente mais propício aos negócios – com infraestrutura mais eficiente, menores entraves burocráticos, tributos mais funcionais, maior segurança jurídica e maior visibilidade para planejar.
Durante a longa negociação, iniciada há mais de 20 anos, a diplomacia do Mercosul foi sempre ofensiva quando se tratou do agronegócio e defensiva na discussão do comércio de bens industriais e de serviços. A diplomacia europeia dedicou-se ao jogo inverso, mas as duas estratégias nunca foram exatamente simétricas. Ao defender a agropecuária, os europeus deram atenção, com frequência, mais a pressões políticas internas do que a fatores técnicos. Do lado do Mercosul, os negociadores, principalmente brasileiros e argentinos, tiveram de levar em conta as condições efetivas de competição das indústrias locais.
A abertura será gradual dos dois lados e razoavelmente rápida para importantes produtos do agronegócio sul-americano. As indústrias do Mercosul também terão, de modo geral, prazos bem razoáveis para se ajustar às novas condições de concorrência. Já surgiram, naturalmente, reclamações de alguns segmentos industriais, mas isso era previsível. De modo geral, o acordo foi elogiado pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, em artigo escrito para o Estado.
Mas a importância do acerto comercial com a União Europeia vai muito além da expansão do intercâmbio entre os dois blocos e da formação de um mercado potencial de 780 milhões de pessoas. Pela primeira vez o Mercosul celebra um acordo com um parceiro desenvolvido e de grande peso internacional. Esse acordo é o primeiro grande passo para uma integração efetiva do Brasil e dos parceiros do bloco na cadeia global de produção. Essa era a vocação original do Mercosul, mas o rumo foi mudado com a aliança do petismo com o kirchnerismo.
O acordo, o maior já celebrado pela União Europeia, é também uma resposta à onda protecionista e antiglobalista desencadeada pelo presidente Donald Trump e pelo novo populismo nacionalista na Europa. O chanceler Ernesto Araújo mencionou uma nova atitude europeia, mais favorável ao entendimento e menos à imposição de condições. Mas a mudança é sem mistério. Sem querer, o presidente americano e a nova direita europeia apadrinharam o acordo. Por isso, é quase divertido ver o presidente Jair Bolsonaro celebrar o acordo como grande feito.
Onde ficam seu discurso antiglobalista e suas afinidades com Trump e com a nova direita europeia, além do desprezo ao Mercosul manifestado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes? As discussões com a União Europeia foram tiradas do limbo político pelos presidentes Mauricio Macri e Michel Temer. O argentino Macri continuou empenhado em negociar, até porque um avanço nessa frente poderá beneficiá-lo na campanha da reeleição.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, com visão mais clara dos interesses comerciais e econômicos do Brasil, certamente deu a sua contribuição. Mas ela é uma exceção, numa equipe notória por criar casos com chineses e muçulmanos, grandes importadores. Seja como for, o acordo foi negociado. Falta a aprovação dos Parlamentos, mas pelo menos a negociação foi liquidada. Falta o governo trabalhar pela competitividade – se sobrar tempo, depois de cuidar de prioridades como armas, pontos na CNH e tomadas.
O Estado de S. Paulo
Baixa competitividade
Ainda que tenha avançado uma posição no ranking global de competitividade elaborado pelo International Institute for Management Development (IMD), passando da 60.ª para a 59.ª posição, num total de 63 países, entre 2018 e 2019, a economia brasileira continua entre as menos competitivas do mundo. O levantamento do IMD – uma conceituada escola suíça de administração – foi elaborado com base em 235 indicadores, que permitem determinar a capacidade de um país de melhorar o ambiente de negócios, criar valor agregado a longo prazo, obter crescimento sustentável e assegurar prosperidade para os cidadãos. O trabalho também leva em conta dados estatísticos sobre desemprego, gastos governamentais com saúde e educação, coesão social, globalização dos mercados e corrupção.
No estudo do IMD, o Brasil está à frente apenas da Croácia, da Argentina, da Mongólia e da Venezuela. No primeiro lugar do ranking está Cingapura, seguida de Hong Kong, Estados Unidos, Suíça e Emirados Árabes Unidos. Entre 2018 e 2019, a China perdeu uma posição, caindo do 13.° para o 14.º lugar. Já a Alemanha passou da 15.ª para a 17.ª posição e o Japão despencou do 25.º para o 30.º lugar. Os indicadores relativos ao Brasil, que em 2010 estava no 38.º lugar do ranking de competitividade, dão a dimensão do preço que o País está pagando por sucessivas tensões políticas, inépcia administrativa, crise fiscal, falta de qualidade no campo do ensino e morosidade na implementação de reformas estruturais, como a previdenciária e a tributária.
Em matéria de corrupção e suborno, por exemplo, o Brasil ocupa a 58.ª posição do levantamento do IMD. Em matéria de produtividade e eficiência, está no 61.° lugar. Como decorrência da baixa produtividade da economia brasileira, no item relativo à eficiência nos negócios o País também é o antepenúltimo do ranking. Essa foi a mesma posição alcançada nos indicadores relativos à confiança das empresas no equilíbrio das finanças públicas, à eficiência da burocracia governamental e ao sistema educacional. Na prática, isso significa que, além de dificultar as atividades empresariais, em face do excesso de regulações imposto por uma máquina governamental anacrônica, o poder público não se revela capaz de oferecer às novas gerações uma educação efetivamente transformadora, que as qualifique para o desenvolvimento de uma atividade profissional.
Por não ter seguido a trilha aberta pelos países asiáticos no fim do século 20, que investiram maciçamente na modernização do sistema escolar, o Brasil está perdendo a corrida educacional. Como não consegue formar o capital humano de que necessita para a passagem para níveis mais complexos de produção, o País permanece muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva. O levantamento também mostra quanto a competitividade da economia brasileira tem sido comprometida pelo mau funcionamento das instituições e pelos altos índices de exclusão social. No item relativo à estrutura institucional, o Brasil está no 61.º lugar. Por causa da morosidade dos tribunais, no indicador relativo ao Judiciário, o Brasil também está nessa posição.
Em matéria de legislação comercial e de estruturas societárias, está no penúltimo lugar. Em termos de coesão e integração social, ocupa o 60.° lugar. E, no item relativo a homicídios, está na 61.ª posição. Por fim, os pesquisadores do IMD apresentaram 15 indicadores a executivos para apontar os 5 que mais os atraem. No caso do Brasil, o item menos votado foi a competência do governo. O ranking de competitividade do IMD apresenta uma advertência clara e objetiva: enquanto não modernizar as instituições, não equilibrar as finanças públicas, não investir em educação e não aumentar a eficiência governamental, o Brasil continuará sem condições de dar à iniciativa privada a segurança e a estabilidade de que ela necessita para investir. Sem isso, não há como assegurar a retomada do crescimento econômico.
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro nos passos do PT
Ao vetar a parte do novo marco jurídico das agências reguladoras (Lei 13.848/19) que estabelecia a indicação de diretores a partir de uma lista tríplice, o presidente Jair Bolsonaro mostrou sintonia com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em vez de proteger a autonomia das agências, a preocupação comum dos dois presidentes foi manter a ingerência política sobre elas.
Dias antes do veto, Bolsonaro afirmou que “as agências travam os Ministérios. Você fica sem ação. Você tem que negociar com agência, é um poder paralelo”. Foi precisamente essa a visão sobre as agências que imperou durante as administrações petistas e que tantos prejuízos gerou. Com a diminuição da relevância e da funcionalidade das agências reguladoras, importantes serviços públicos ficaram sem a devida regulamentação e sem o devido controle. O preço de tal descaso foi pago pela população.
Mas não é apenas com Lula da Silva que o presidente Jair Bolsonaro vem se identificando quando o tema são as agências reguladoras. Ele segue também os passos da presidente Dilma Rousseff, que ficou conhecida pelo atraso na indicação das diretorias das agências. Por falta de iniciativa da presidente, cargos ficaram vagos durante meses. Houve casos de vacância de mais de ano. Além disso, verbas cortadas prejudicaram o funcionamento das agências.
Segundo levantamento feito pelo Estado e pela União Nacional dos Servidores de Carreira das Agências Reguladoras Federais (UnaReg), até dezembro Bolsonaro terá de preencher 14 vagas. Até o momento, ele indicou apenas 3 nomes. A demora poderá levar à mesma situação ocorrida na gestão de Dilma, com diretorias vagas inviabilizando o trabalho das agências, sem quórum mínimo para as votações. Para que um cargo não fique vago, é preciso indicar os nomes antes do término do mandato dos diretores.
Das 14 vagas, 4 já estão abertas e apenas 2 nomes de substitutos foram enviados pelo Executivo ao Senado. Outros cinco postos ficarão vagos até o início de agosto, quando vencem os mandatos dos atuais dirigentes. Apenas para um deles já há um indicado. Foi tão grave o problema da vacância nas diretorias das agências durante o governo de Dilma Rousseff que o Congresso estabeleceu uma medida corretiva para a inércia presidencial. A Lei 13.848/19 previu que, “ocorrendo vacância no cargo de Presidente, Diretor-Presidente, Diretor-Geral, Diretor ou Conselheiro no curso do mandato, este será completado por sucessor investido na forma prevista no caput e exercido pelo prazo remanescente, admitida a recondução se tal prazo for igual ou inferior a dois anos” (art. 5.º, § 7.º).
O atraso de Bolsonaro na indicação de nomes para as agências reguladoras é contraditório com o veto aplicado à Lei 13.848/19. O presidente se insurgiu contra a lista tríplice, querendo liberdade total para indicar candidato, mas ao mesmo tempo não fez as indicações que deveria fazer. A contradição, no entanto, é apenas aparente. As duas atitudes manifestam profunda incompreensão a respeito do papel das agências, a mesma incompreensão vista durante os 13 anos de PT na administração federal.
A confirmar seu desapreço pelas agências, o presidente também vetou uma importante garantia contra a “captura regulatória”, que é a utilização das agências por parte de agentes políticos ou empresariais para fazer valer seus próprios interesses. O Congresso proibiu a indicação de quem tivesse, nos últimos 12 meses, algum vínculo, como sócio, diretor ou empregado, com empresa que explora atividade regulada pela agência. O presidente vetou essa restrição, alegando que era exagerada. Ora, para realizar sua missão de promover a qualidade e a continuidade da prestação dos serviços públicos, a agência precisa ter independência tanto da esfera política como do setor privado.
O Congresso tentou corrigir um problema, mas o presidente Jair Bolsonaro vetou a solução. Como se vê, a origem dos problemas nem sempre está no Legislativo. Provém muitas vezes do inquilino do Palácio do Planalto.
Folha de S. Paulo
Corda bamba
Escândalo das candidaturas de fachada do PSL leva a 3 prisões e complica ainda mais a permanência do ministro do Turismo, mal defendido por Bolsonaro
Uma operação desencadeada pela Polícia Federal na quinta-feira (27) fez balançar a corda bamba na qual se equilibra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, suspeito de envolvimento no caso das candidaturas de laranjas do PSL, revelado por esta Folha.
O político, que há muito perdeu as condições de continuar no cargo, se viu enredado em novas complicações após a prisão em caráter temporário de três pessoas ligadas a ele — um assessor especial e dois ex-assessores. Nesta segunda-feira (1°), todos eles tiveram a soltura determinada pela Justiça, mas foram indiciados pela PF.
O primeiro, Mateus Von Rondon, é tido como braço direito de Álvaro Antônio no governo; os demais, Roberto Silva Soares e Haissander Souza de Paula, atuaram na campanha eleitoral que o elegeu deputado federal por Minas Gerais.
As diligências dão seguimento à Operação Sufrágio Ostentação, que há dois meses cumpriu mandados de busca e apreensão em gráficas que declararam ter prestado serviços ao PSL mineiro.
A suspeita dos investigadores é que os detidos tenham atuado ao lado do hoje ministro, que presidia o diretório estadual da sigla, num esquema que forjou candidaturas femininas nas eleições de 2018.
No fulcro das apurações encontram-se quatro candidatas ao Legislativo. Elas receberam recursos públicos, porém inexistem sinais de que tenham efetivamente feito campanha. Juntas, amealharam pouco mais de 2.000 votos.
Parte dessa verba acabou sendo destinada a uma empresa pertencente a Von Rondone a outras ligadas a um irmão de Roberto Soares.
Confrontado com as prisões, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) saiu-se com evasivas. Argumentou que, até o momento, não haveria nada contra o ministro.
Afirmou que as investigações devem mirar todos os partidos, e “não ficar fazendo pressão em cima do PSL” para atingi-lo — um tipo de defesa, como se observa, nada inovadora na política nacional.
Não resta dúvida, de fato, quanto à necessidade de ampliar as apurações. Como mostrou o cruzamento de dados da Justiça Eleitoral feito por este jornal em fevereiro, 53 candidatos, entre os quais 49 mulheres, receberam mais de R$ 100 mil para financiar suas campanhas nas últimas eleições, mas obtiveram menos de mil votos.
O grupo pertence a 14 agremiações diferentes, com predomínio de Pros, PRB, PR, PSD e MDB.
Entretanto, ao contrário do que sugere a declaração presidencial, a abertura de novas frentes de investigações em nada desabona as que vêm sendo ora conduzidas. Tampouco a admissão de outros políticos e partidos no rol dos suspeitos pode atenuar ilícitos que o PSL e o ministro do Turismo tenham eventualmente cometido.
Folha de S. Paulo
Ciência nas sombras
Uma pesquisa de opinião recém-divulgada vem mostrar que, também entre jovens, os valores científicos seguem o padrão ambivalente das convicções sobre preservação do ambiente natural: adesão ampla, porém superficial.
O levantamento foi encomendado por órgãos públicos ligados ao setor de pesquisa. Seguiu a metodologia da série de estudos similares publicados em 2006,2010 e 2015, elegendo contudo a população de 15 a 24 anos como alvo (2.206 pessoas foram ouvidas, em 21 estados e no Distrito Federal).
A investigação científica conta de partida com muito prestígio entre jovens: 67% se dizem interessados nela, mesma parcela atraída pela religião. O assunto só fica atrás de meio ambiente (80%) e medicina/saúde (74%). Uma vasta maioria opina que o governo deve aumentar (60%) ou manter (34%) dispêndios em ciência e tecnologia.
Os problemas começam com suas respostas sobre busca e retenção de informação científica. Redes sociais despontam como a fonte primária, buscador de conteúdo (79%) e vídeos (73%) à frente. Não surpreende que 68% confessem ser difícil saber se as informações encontradas são verdadeiras ou não.
Campeiam nesse meio, como se sabe, as notícias falsas, distorções de fundo religioso e ideológico e teorias de conspiração. Entende-se, diante disso, que 54% enxerguem exagero nas previsões de cientistas sofre efeitos da crise climática, ou que espantosos 40% discordem da evolução de humanos a partir de ancestrais animais.
Embora minoritária, não é menos preocupante a manifestação de 25% dos entrevistados de que acreditam haver perigo na vacinação de crianças.
Também desanima que só 5% consigam mencionar um cientista brasileiro — e que 2 dos 3 mais lembrados, o astronauta Marcos Pontes e o inventor Santos Dumont, não pertençam propriamente à categoria (o outro é Oswaldo Cruz, morto há mais de um século).
A mesma pesquisa de opinião indica, felizmente, que há uma avenida aberta para a divulgação de boa qualidade: 85% dos jovens entrevistados sustentam que a maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for bem explicado.
Novas plataformas podem e devem ser usadas, mas sem esquecer que a verdadeira atitude científica se cultiva nos bancos escolares, com aulas inovadoras e demonstrativas. Ajudaria muito, ainda, se lideranças políticas e religiosas cessassem o envio de desinformação pelas redes sociais apenas para reafirmar suas convicções.