Novatos pretendem superar a polarização
Valor Econômico
Nem tudo é radicalismo no Congresso mais renovado desde 1994. Há um contingente entre os 52% de novatos na Câmara que mostra fôlego para manter-se em evidência mesmo quando a atual polarização entre bolsonarismo e esquerdas, um dia, for ultrapassada. Eles não chegaram ao Legislativo por meio de relações de parentesco ou apoio de grandes estruturas partidárias. Já são produto do protagonismo das redes sociais.
Nem todos os integrantes dessa nova geração lamentam o resultado da eleição do ano passado. “O que houve em 2018 não foi negativo, permitiu uma polarização com mais clareza de ideias. O PSDB e o PT não se distinguiam ideologicamente. As pessoas querem definições”, diz o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), que está alinhado ao Palácio do Planalto. Para o parlamentar, o governo do presidente Jair Bolsonaro representa uma confluência do conservadorismo com o liberalismo clássico.
O otimismo em relação ao processo desencadeado em 2018 pode ser encontrado também na ala jovem de deputados que está distante do governismo. “Boa parte da nova leva se preocupa muito mais com programas e em manter a conexão com a real opinião das pessoas. Dando espaço para parlamentares como nós, os partidos se renovam”, comenta Felipe Rigoni (PSB-ES).
Outro recém-chegado, Marcelo Calero (Cidadania-RJ), é mais cético ao comentar sobre as chances de o sistema partidário suplantar a crise. “Os partidos estão em processo de falência, perderam a confiança das pessoas.”
Recém-chegados, contudo, veem o risco da polarização colocar obstáculos na votação de reformas estruturantes como a Previdência. “A radicalização colabora para o travamento das reformas. O Congresso fica contaminado por discussões que não são prioritárias e confrontos absolutamente evitáveis”, afirma Calero.
Neste caso, segundo Rigoni, o discurso extremista pode se fortalecer nas próximas eleições. “Em momentos de crise aguda o radicalismo cresce muito. Se a reforma da Previdência não sair com força, não haverá atração de capital e a crise vai se aprofundar”, comenta.
Para van Hattem, o risco maior à reforma está nas eleições municipais de 2020 que se avizinham. “São muitos os pré-candidatos a prefeito. E há o medo, infundado, de se pagar um preço eleitoral por isto”, afirma.