“Nossa Senhora do Cerrado,
Protetora dos pedestres
Que atravessam o Eixão
Às seis horas da tarde,
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa da Noélia
Nonô Nonô Nonô Nonô”
Na Brasília da década de 1980, atravessar as largas pistas da cidade era um desafio arriscado. A situação era tão crítica que o poeta Nicolas Behr e o músico Nonato Veras compuseram Travessia do Eixão, canção em que um pedestre pede a proteção de “Nossa Senhora do Cerrado” para chegar “são e salvo” ao encontro com a namorada. A música foi posteriormente gravada pela banda Legião Urbana, no álbum Uma Outra Estação.
Mas, em 1996, o que parecia impossível tornou-se realidade. O então governador Cristovam Buarque colocou em prática uma ideia considerada utópica por muitos, mas que, na essência, representava um direito básico de cidadania: permitir que o morador do Distrito Federal pudesse atravessar as ruas sem correr alto risco de ser atropelado.
Segundo o Detran-DF, em 1996, ano anterior ao início da campanha de respeito à faixa, 652 pedestres morreram atropelados no Distrito Federal. Em 1997, esse número caiu para 465. Atualmente, nos últimos três anos, registraram-se apenas cinco mortes de pedestres em faixas, evidenciando que o respeito à vida e a campanha lançada pelo Professor, Governador e Senador Cristovam Buarque transformaram a rotina da cidade.
O jornal Correio Braziliense, que apoiou ativamente a campanha “Paz no Trânsito” iniciada no segundo semestre de 1996, registrou um momento marcante: 25 mil pessoas pararam o Eixão para protestar contra a violência no trânsito. Em 23 de janeiro de 1998, o jornal publicou uma capa histórica, mostrando Cristovam Buarque e a então Deputada Federal Marta Suplicy atravessando fora de um equipamento de segurança, chamando atenção para a causa.
Para Buarque, essa conscientização é um dos símbolos mais visíveis e admirados pela população do DF. Ele afirma que a faixa de pedestre é um “sinal de vida”: o simples gesto de estender a mão e fazer os veículos pararem garante a travessia segura e orgulha os moradores da capital.
Apesar dos avanços, o Detran-DF alerta para os riscos quando a travessia é feita fora da faixa. Os números mostram que as mortes continuam preocupantes:
- 2023: 86 pedestres mortos
- 2024: 81 pedestres mortos
- 2025: 39 pedestres mortos (até o momento)
O gesto de cidadania e respeito à vida precisa ser mantido e fortalecido para que mais vidas sejam salvas. Respeitar a faixa é respeitar a vida. Um gesto simples que salva milhares de pessoas há quase três décadas.