Em comemoração aos 40 anos da retomada da democracia no Brasil, o Cidadania e a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) promoveram, neste dia 15 de março, evento que contou com a participação do ex-presidente José Sarney, dos ex-presidentes do Uruguai Julio María Sanguinetti e do Chile Michele Bachelet, de deputados constituintes de 1988 e de pensadores do campo democrático. A data escolhida que corresponde à posse de Sarney em 1985, marcando o fim da ditadura implantada a partir de 1964. Foi o único ato no país a lembrar esse marco.
Sarney e constituintes foram homenageados. O ex-presidente, que está com 94 anos, relembrou dias tensos que antecederam a posse. O general João Batista Figueiredo avisara que só daria posse a Tancredo Neves, que estava internado e viria a morrer em 21 de abril daquele ano. “Foi muito difícil para nós enfrentarmos a doença e a morte de Tancredo, que fez toda a engenharia política, em torno da qual tantos políticos se reuniram, para a transição”, disse. “Eu não tinha o capital político que ele tinha”, afirmou.
Em três painéis com a participação de ex-parlamentares, ex-ministros e pensadores, foram discutidas as conquistas, as dívidas e desafios da democracia brasileira. O presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, saudou os presentes e salientou que o Cidadania tem suas raízes no PCB, e a história do partido tem mais de um século. “São duas gerações, em 40 anos, vivendo na democracia e fizemos questão de marcar essa data”, disse.
O presidente da FAP, Marcelo Aguiar, disse que a fundação tem o objetivo de difundir os ideais democráticos e republicanos e que a homenagem a Sarney se deveu ao fato de ele ter sido o condutor da transição democrática. “Teve a coragem de legalizar o PCB, que foi colocado na clandestinidade em 1947”, lembrou. Aguiar ressaltou que em várias partes do mundo surgem forças contra a democracia, condenou os planos de golpe de estado no Brasil por parte da extrema direita e defendeu punição contra o golpismo.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Carmen Lúcia, disse que “a melhor e única opção de se viver com liberdade é a democracia”. Em 15 de março de 1985, afirmou, permitiu ao Brasil vislumbrar uma sociedade mais fraterna, pluralista e sem preconceito, como estabelece o preâmbulo da Constituição Federal. A ministra também abordou a importância das mulheres na redemocratização.
O ex-ministro e ex-deputado constituinte Nelson Jobim lembrou a opção do PCB pela via democrática, sem aderir à luta armada. “Pra mim, o Partidão é mais que um partido, é um estado de espírito”. A ex-vereadora e ex-deputada estadual do Paraná Elza Correia disse o evento era “imprescindível” e que fez reviver o passado “do corredor polonês da ditadura”. E lamentou o fato de haver quem defenda a volta do regime autoritário. “Ditadura nunca mais. Viva a democracia”.
O ex-governador, ex-ministro e ex-senador Cristovam Buarque falou durante o painel das “dívidas” da democracia e ressaltou o “nível altíssimo de corrupção, os privilégios, “que não são menores do que a época do império” e a questão militar, ainda não resolvida, além do corporativismo e outras mazelas com as quais o Brasil convive, como a insegurança nas ruas.
O jornalista Luiz Carlos Azedo falou sobre “A democracia pela ótica da imprensa” e abordou o fim do monopólio da notícia pelos órgãos de comunicação, o que poderia dar a errônea ideia de que a mudança beneficiou a sociedade. “Mas vemos que a inteligência artificial é capaz de produzir notícias que não existiram e apresentar os fatos como se eles tivessem existido; isso resgata o papel do jornalista para esclarecer e informar de maneira fiel aos fatos”.
O ex-deputado Rubens Bueno lamentou que o Parlamento esteja tão divorciado das pautas realmente de interesse do país. Ele falou também sobre os movimentos da direita nas redes sociais em todo o mundo. “Precisamos fazer com que essa mobilização aconteça do outro lado também; partidos políticos e sociedade organizada precisamos sair disso”.