“Primeiro o filme, depois a Coca-Cola”
Dwight D. Eisenhower
Embora a frase acima seja relacionada aos esforços do alto comando americano pra levar aos seus soldados, durante a segunda guerra, sensações que lembrassem os EUA, ela se adequa perfeitamente e foi muito utilizada à posição estratégica da indústria de cinema norteamericano, como um vetor de venda do american way of life e seus produtos para todo o mundo. Onde quer que se vá hoje, há Coca-cola, calças jeans, tênis, camisetas, hambúrgueres, chicletes e etc. O potencial que a cultura tem para desenvolvimento econômico é enorme.
O show da Madona em Copacabana custou algo em torno de R$ 20 milhões para os cofres públicos (metade pago pela prefeitura e metade pelo estado, mais R$ 40 milhões de investimento privado), mas deve movimentar algo em torno de R$ 400 milhões na economia da cidade. Os números são fantástico: 1,5 milhões de espectadores, 850 mil da própria cidade, 500 mil de restante do estado do Rio, 120 mil turistas brasileiros e 30 mil estrangeiros, os hotéis estão com 95% de ocupação por 3 dias (gasto médio per capita/dia de R$1500,00 dos turistas estrangeiros e R$750,00 dos brasileiros na cidade), as companhias aéreas tiveram aumento de 82% na compra de passagens para o Rio e precisaram que colocar vôos extras. Lojas que vendem itens para o show apontaram 2 horas de filas, os restaurantes e bares então cheios, o Airbnb teve aumento de 1000%. Só em maio, a prefeitura vai arrecadar R$ 10 milhões a mais de ISS, o mesmo que desembolsou para o show. A estratégia foi excelente, Madona é o assunto do momento, e todo o evento foi pensado para durar bem mais que o show, ela chegou dias antes, a mídia cobriu sua chegada, ela se hospedou no Copacabana Palace que é um marco da cidade, a montagem da plataforma que a leva até o palco foi um evento à parte, suas aparições na janela, seus passeios pela cidade, os ensaios, os turistas na frente do hotel ou na região do evento, enfim, um show de duas horas, é na verdade um evento de dias.
Cultura: um grande vetor de desenvolvimento econômico, social, científico e claro, cultural. Se relaciona diretamente com o turismo e a educação.
A lente Cooke Speed Panchro 24mm foi desenvolvida como parte da busca por inovações técnicas para o filme “Cidadão Kane” (1941), dirigido por Orson Welles. Para alcançar o efeito desejado de deep focus (foco profundo) nas filmagens, Welles e seu diretor de fotografia, Gregg Toland, solicitaram à Cooke Optics uma lente especial que permitisse manter em foco tanto os objetos próximos quanto os distantes da câmera. A empresa levou cerca de seis meses para desenvolver a lente de 24mm de acordo com as especificações exigidas. A busca por lentes de alta qualidade para o cinema impulsionou avanços na tecnologia óptica, beneficiando não apenas a indústria cinematográfica, mas também outras áreas que dependem de ótica de alta precisão, como a ciência e a medicina.
O filme “O Poderoso Chefão 2” teve um impacto significativo no bairro de Little Italy, no Bronx, em Nova York, especialmente em termos de revitalização e promoção cultural. A representação autêntica do bairro no filme atraiu a atenção de turistas e cinéfilos, resultando no aumento do turismo. Esse aumento do fluxo de visitantes levou ao surgimento de novos negócios, como restaurantes, lojas de souvenirs e empresas relacionadas ao filme, que contribuíram para a economia local. Além disso, o filme ajudou a preservar a identidade cultural de Little Italy, destacando sua importância histórica para a comunidade ítalo-americana e para a cidade de Nova York. Mesmo décadas após seu lançamento, “O Poderoso Chefão 2” continua a atrair turistas para Little Italy, mantendo viva a conexão entre o bairro e a obra cinematográfica.
Filmes como Avatar, Titanic ou outros, promovem desenvolvimento tecnológico para atingir os efeitos especiais que precisam, em especial no campo da TI de da I.A. O cinema, por exemplo ajudou na universalização de Nova York, Rio de Janeiro, Roma, Londres e Paris. Há pacotes turísticos para visitar os sets de filmagens de filmes famosos nessas cidades e outras.
A cidade de Vitória (ES), na gestão compartilhada de Luciano Rezende, ocupou praças com atividades esportivas e culturais, pessoas começaram a frequentar locais que antes eram vazios à noite e, portanto, perigosos, pra fazer aulas de dança ou ginástica, assistir apresentações, e etc.
Conservatória (RJ), a cidade das serestas, tem festivais de chorinho, queijo e culinária, fazendas coloniais contam sobre a história do café e da escravidão na região, estas têm restaurantes e muitas são hotéis. Há também o Quilombo São José da Serra, que mantém a tradição do jongo, atrai turistas, produtores de cinema, documentaristas, artistas, capoeiristas, jonguistas, artistas e dançarinos de várias partes do mundo.
Claro que cidades como o Rio, Salvador, São Paulo ou Recife têm mais condições de promover mega eventos culturais, mas mesmo cidade menores podem ofertar para sua população, eventos com artistas que atraiam turismo regional. Além de proporcionarem acesso popular a shows caros, movimentam suas economias. Recentemente, Iza fez um show em Brasília e quem abriu foram artistas locais, o que incentiva o conhecimento pelo público desses artistas.
A cultura é um campo muito amplo, com valores de investimentos variáveis, o Louvre de Paris, o MoMa de Nova York, o Masp e outros, são exemplos de sucesso comercial e turístico a partir do atrativo cultural. Vale estudar a vocação de cada região ou cidade: as bonecas do Vale do Jequitinhona, o repente nordestino, o samba carioca, frevo pernambucano, São João, afoxé baiano, carnaval, cavalhada, vaquejada, exposições, circo, dança, capoeira ou batalhas de RAP. A cultura tem algo extraordinário, todo microcosmo que seja, tem a sua própria, mesmo que importada e não faltam artistas locais, além da capacidade que a cultura tem de mobilizar uma comunidade e capilarizar a repercussão na sociedade, sua divulgação é natural e engaja veículos de imprensa, comunicação e influenciadores digitais, hegemoniza os assuntos por bom tempo.
Os candidatos podem se aprofundar no assunto e pesquisar como a cultura em suas cidades pode ser uma aliada do progresso humano, social e econômico. Há recursos federais, há interesse privado e de praticamente todas as comunidades do país.
“A arte existe porque a vida não basta”
Ferreira Gullar