MANCHETES DA CAPA
O Globo
Estudo prevê risco de 3ª onda de Covid no inverno
EUA vão doar 20 milhões de vacinas de uso já aprovado
Governo federal lança ofensiva para conter danos de CPI
MC Kevin pode ter caído ao tentar fugir de suíte
Mercado Livre abre contratação de 7,5 mil pessoas no Brasil
Papa diz a pai que ‘loucura humana’ matou o menino Henry
Independentes surpreendem em eleição no Chile
Vacina e controle da Covid, as atrações de Portugal
Uma nova gigantes do ‘streaming’
O Estado de S. Paulo
Brasil é um dos países que mais gastam com funcionalismo público
General Ramos assinou lei do orçamento secreto
Caixa demite presidente e dois diretores da Funcef
Prazo para que Enem seja feito em 2021 está apertado
Comissão da Saúde rejeita medicamentos sem eficácia
EUA vão doar mais 20 milhões de doses
Folha de S. Paulo
Isolamento atinge nível mais baixo da pandemia
EUA enviarão 20 milhões de doses a outros países
CPI quer mirar Eduardo usando fala de Ernesto
Bolsonaro já sugeriu tortura para quem tenta se calar em comissão
Fórum Econômico Mundial cancela reunião de 2021
Polícia investiga circunstâncias da morte de MC Kevin
Projetos ferroviários disputam grãos de MT
Ao defender vitamina D contra vírus, presidente ignora notas da Saúde
Hipertenso pode ter receita de 1 só remédio para vacinação em SP
Excesso de trabalho faz subir risco de derrame
Proporção de mortos com mais de 80 anos cai 60% no mês de abril
PEC que reduziria férias do Judiciário é adiada
Instituto Samuel Klein fará pausa após escândalo
Pressão da Câmara sobre Ricardo Nunes será maior
Ataque aéreo de Israel mata chefe da Jihad Islâmica em Gaza
Constituinte do Chile terá maioria independente
Valor Econômico
Briga por receita cria impasse à privatização da Eletrobras
Gestão pública fica no escuro sem o Censo
Minha casa digital
Empresas usam veículo elétrico contra emissões
Brasil é o 10º em mortes por covid
Justiça resiste a permitir direto à ‘herança digital’
Discovery e Warner criam nova gigante
EDITORIAIS
O Globo
Falácia do voto impresso ressurge na forma de PEC
Bolsonaro reaquece sua velha campanha pelo voto impresso quando pesquisas eleitorais o colocam bem atrás de Lula
Apesar de 25 anos de uso sem comprovação de qualquer fraude, a urna eletrônica continua sendo alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer não ter sido eleito no primeiro turno em 2018 porque o pleito foi fraudado. Nunca apresentou qualquer prova, mesmo assim mantém os ataques. Agora, avança na Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui a impressão do voto para checagem pelo eleitor. A autora é a bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), que já aprovou a PEC com apoio do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). A intenção é que a medida já vigore para a eleição de 2022.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, aproveitou os 25 anos da urna eletrônica para defendê-la em campanha publicitária. O ministro lembra, com razão, que não faz sentido governantes tratarem do assunto neste momento de grave crise sanitária e dificuldades econômicas, com sérios reflexos nas contas públicas. Para Bolsonaro, os fatos são o de menos. O que importa é reacender um tema para mobilizar as bases e manter uma via de escape que lhe permita acusar de fraude qualquer pleito em que venha a ser derrotado, exatamente como fez Donald Trump nos Estados Unidos.
Deixando de lado o interesse político, o principal argumento em favor do voto impresso é manter um rastro físico para que a votação possa ser conferida. Em si, não é um argumento errado. Mas toda urna eletrônica já mantém um rastro físico, por meio do boletim com os totais da votação, sujeito a inspeção pelos fiscais de todos os partidos. Quanto ao sistema que computa os votos, o software da urna é objeto de testes periódicos, em que especialistas simulam ataques. Em virtude disso, já passou por vários aperfeiçoamentos.
Mesmo que esse software ainda esteja tecnicamente longe do ideal de transparência defendido pelos especialistas, é simplesmente inviável que fraudadores burlem a instalação e o troquem em milhares de urnas, de modo a alterar o resultado da eleição. Fraudar a totalização é também pouco crível, já que é possível rastreá-la por meio dos boletins de cada urna. O risco de fraude é, portanto, ínfimo. Em contrapartida, o voto impresso abre margem a outras possibilidades de fraude, semelhantes às que havia no tempo da cédula em papel. Por isso foi rejeitado pelo STF. Levando em conta que o custo de instalação gradual do sistema era, em 2018, estimado em R$ 2 bilhões, é razoável concluir que existem meios mais inteligentes de gastar o dinheiro do contribuinte.
Bolsonaro reaquece sua velha campanha pelo voto impresso quando pesquisas eleitorais o colocam bem atrás de Lula. Por óbvio, é cedo para qualquer desenho mais nítido de um quadro eleitoral para daqui a dois anos. Quase metade dos brasileiros (49%) não sabe dizer em quem votará, nem mesmo se anulará ou votará em branco, segundo o último Datafolha. Bolsonaro aproveitou para dizer que Lula só ganharia dele por meio de fraudes. Deverá ser assim até as urnas, criando um indesejável clima de tensão política e um paralelo perigoso com o que houve nos Estados Unidos. Acuado pela CPI da Covid, a surrada denúncia vazia de fraude eleitoral tende a se tornar mais frequente. O Congresso não pode embarcar nessa balela.
O Estado de S. Paulo
Nem liberal nem conservador
Jair Bolsonaro não é conservador; é apenas reacionário. O conservadorismo não se opõe a reformas, e sim às rupturas revolucionárias
Que o governo de Jair Bolsonaro não é liberal na economia, todos já sabem. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, queixou-se recentemente da falta de “aderência” a seu projeto de redução radical do Estado, anunciado na campanha eleitoral de 2018 por Bolsonaro e claramente frustrado após mais de dois anos de mandato.
A cada dia que passa, no entanto, o governo tampouco consegue ser o campeão dos valores conservadores, conforme também prometido por Bolsonaro nos palanques.
O presidente não é conservador; é apenas reacionário. O conservadorismo não se opõe a mudanças e reformas, como faz Bolsonaro, e sim às rupturas revolucionárias, especialmente aquelas motivadas por utopias que só podem resultar em autoritarismo e na anulação do indivíduo. Ademais, o conservadorismo defende o respeito às instituições democráticas e luta por sua estabilidade; defende a liberdade política e econômica, dentro da ordem constitucional; defende a igualdade de todos perante a lei, que é o verdadeiro lastro da estabilidade; defende a política como a “arte do possível”, fruto de ampla negociação; e, finalmente, defende a coesão social baseada em valores morais comuns, sobretudo o respeito, a responsabilidade e a honestidade.
Lamentavelmente, Bolsonaro viola esses princípios de forma sistemática desde que ganhou os holofotes da vida pública, quebrando o decoro sem constrangimento, tomando a coisa pública como se fosse privada e atacando os pilares da democracia.
Poucas vezes na história brasileira as instituições foram tão vilipendiadas por um presidente da República. Poucas vezes um chefe de Estado foi tão indiferente às leis e à Constituição, considerando-se frequentemente acima delas. Poucas vezes um governante desprezou tanto o diálogo político, demonizando a oposição e menosprezando partidos. E poucas vezes um presidente transgrediu de forma tão desabrida os valores morais comuns da sociedade, especialmente ao rejeitar a responsabilidade por seus atos e omissões e ao ofender e ameaçar quem o contesta.
Nesse cenário, a linguagem chula de Bolsonaro é, por incrível que pareça, o menor dos problemas – embora, frise-se, só isso já bastasse para constranger os movimentos que se dizem conservadores e que apoiam o presidente, notadamente os religiosos.
Bolsonaro julga ter recebido dos eleitores o poder de fazer o que bem entende – e, se as instituições republicanas e os valores morais se tornam obstáculos ao exercício desse poder sem limites, pior para as instituições e para os valores.
O presidente já se confundiu com a Constituição (“eu sou a Constituição”), um ato falho que traiu seu desejo de transformar sua vontade pessoal em lei. E anunciou, desde a campanha, que a “verdade” não era a realidade, mas uma revelação mística que ele profetizou nos palanques, transformando em slogan eleitoral o versículo bíblico “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32).
No seu governo, vale o Führerprinzip, isto é, o princípio da supremacia do líder sobre qualquer outra consideração, pois o presidente julga encarnar o “povo”. Por essa razão, demanda-se lealdade absoluta a Bolsonaro, seja de seus ministros, seja de seus eleitores, e o que quer que o presidente estabeleça como verdade deve ser aceito sem contestação.
Assim, a verdade dos fatos, cujo respeito é princípio central no credo conservador, não tem lugar no mundo bolsonarista. Nesse universo fantástico, o presidente não pode ser refutado quando declara não ter nenhuma responsabilidade sobre os mais de 435 mil mortos pela pandemia de covid-19, tampouco pela desastrosa situação econômica, e muito menos pela morosidade das reformas e das privatizações. Questionar Bolsonaro equivale a violar um mandamento.
Isso obviamente nada tem a ver com o espírito do conservadorismo cuja representação Bolsonaro reivindica. É, ao contrário, uma violação explícita. Os conservadores que se alinham a Bolsonaro supostamente por afinidade de valores deveriam repensar esse apoio, pois correm o risco de se confundir com a desonestidade bolsonarista.
Folha de S. Paulo
Conduta de risco
Atacados por Bolsonaro, brasileiros que praticam o distanciamento caem para 30%
Num momento em que a pandemia ainda resulta em um número indecente de novos casos e mortes no país, são preocupantes os números colhidos pelo Datafolha acerca do distanciamento social.
O índice dos que praticam a medida preventiva atingiu o nível mais baixo desde o início da série, há pouco mais de um ano. Hoje apenas 30% dos brasileiros acima de 16 anos declaram estar totalmente isolados (2%) ou sair de casa somente quando inevitável (28%).
No levantamento anterior, realizado em meados de março, esse percentual era de 49% —8% no primeiro caso e 41% no segundo. O recorde, de 72%, foi registrado no início de abril do ano passado.
Inversamente, a parcela dos que afirmam sair de suas residências para trabalhar ou fazer outras atividades atingiu o maior patamar nas pesquisas, com 63%. Trata-se de um salto de 16 pontos percentuais na comparação com o levantamento pregresso. Já os que dizem levar a vida sem mudanças de rotina passaram de 4% para 7%.
As pessoas com mais de 60 anos constituem o grupo etário que mais cumpre o distanciamento físico, embora essa parcela tenha despencado de 77%, em março, para 53% —um possível reflexo do avanço da vacinação entre os mais idosos.
A baixa adesão entre os jovens (apenas 20% na faixa entre 16 e 24 anos) se fez acompanhar por um aumento do número de infecções.
Principal instrumento não farmacológico, ao lado das máscaras faciais, para evitar o contágio pela doença, as medidas de distanciamento encontraram desde o início da pandemia um inimigo feroz na Presidência da República.
Jair Bolsonaro sabotou-as o quanto pôde, promovendo aglomerações e insistindo numa falaciosa dicotomia entre economia e saúde. Nesta segunda-feira (17), atacou os cidadãos que, com sacrifícios pessoais, zelam pelo bem comum, chamados de “idiotas que até hoje ficam em casa”.
Na ausência de qualquer coordenação nacional, restou a prefeitos e governadores baixar medidas para restringir a circulação das pessoas — não raro de maneira atabalhoada, com alcance limitado e sem a fiscalização necessária para que fossem cumpridas.
A consequência de tudo isso é que terminamos praticando um distanciamento social no mais das vezes precário, como atesta a catástrofe das mais de 430 mil mortes. Até que a imunização alcance percentual expressivo da população, não dispomos de alternativa para controlar a quantidade de infecções.
Valor Econômico
Reação da economia melhora, sem dar espaço para otimismo
Sem a recuperação do emprego e da renda falta sustentabilidade à retomada econômica
Apesar dos resultados fracos da economia em março, especialmente na indústria e nos serviços, as projeções para o primeiro trimestre estão melhor do que se esperava e a perspectiva para o ano é positiva. As incertezas, porém, ainda são muitas a essa altura do calendário, e arrefecem maior otimismo.
A economia vinha se recuperando a passos lentos desde o tombo de abril do ano passado, quando o IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) desabou 9,8% com o impacto da primeira onda da covid-19. Com as medidas de estímulo do governo, as perdas acabaram caindo pela metade e o PIB medido pelo IBGE acabou fechando com queda de 4,1%. A trajetória de retomada continuou neste ano. Em janeiro, o IBC-Br aumentou 0,9% em relação a dezembro e, em fevereiro, 1,9%, também em comparação com o mês anterior.
Foi quando sobreveio a segunda onda da pandemia. Além do aumento do número de mortes, a covid-19 obrigou Estados e municípios a adotarem medidas restritivas que frearam a atividade econômica. A produção industrial caiu 2,4% em março e o estrago só não foi maior por causa do mercado externo. Os serviços encolheram 4%; e o varejo teve módico crescimento de 0,6%, apoiado nas transações pela internet. Como resultado, o IBC-Br teve a primeira queda em dez meses, de 1,59% em março na comparação com fevereiro.
A surpresa, no entanto, veio com o fechamento do IBC-Br no primeiro trimestre que, segundo o Banco Central, teve elevação de 2,3% em relação ao quarto trimestre de 2020. O monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas, divulgado ontem, também mostra resultado positivo, embora menor, de 1,75% do primeiro trimestre na mesma base de comparação. O PIB oficial do IBGE será divulgado em 1º de junho.
O IBC-Br superou as previsões e desencadeou uma revisão das expectativas para o ano. Vários bancos elevaram a estimativa de crescimento do PIB neste ano para mais de 4%, o que neutralizaria as perdas do ano passado. Relatório Focus mostrou aumento da previsão do mercado para o PIB deste ano para 3,45% em comparação com 3,21% na semana anterior.
As previsões mais otimistas para o ano são sustentadas por outros dados. Levantamento do Confaz mostra que a arrecadação consolidada do ICMS em 18 Estados, imposto diretamente relacionado ao consumo, teve avanço de 19,6% de janeiro a abril frente ao mesmo período de 2020. Um dos bancos que elevou a estimativa para o ano, o Itaú Unibanco, que cravou 4%, informa que seu Indicador Diário de Atividade (Idat), baseado em dados de consumo de bens, serviços e energia elétrica na indústria, atingiu o nível pré-pandemia (100 pontos) pela primeira vez em 7 de maio, puxado pelos serviços. O aumento do consumo de bens também foi registrado e atribuído ao Dia das Mães.
Não há consenso a respeito do que está por trás desses números. Alguns especialistas dizem que as medidas restritivas não foram totalmente observadas como na primeira onda da covid-19 por falta de apoio do governo federal. A retomada do pagamento do auxílio emergencial só ocorreu a partir de abril e deve ter ajudado, apesar do valor significativamente inferior ao do concedido em 2020. Desta vez, o auxílio emergencial está projetado para liberar R$ 43 bilhões, para 46 milhões de brasileiros. No ano passado, foram pouco mais de R$ 293 bilhões para 68 milhões de pessoas.
O ciclo de alta de preços e aumento da demanda das commodities também favorece a economia, impulsionando o comércio exterior e setores como mineração e produtos agropecuários.
Mas algumas incertezas põem o cenário otimista em dúvida. Uma delas é a vacinação, que segue claudicante e com a disponibilidade de imunizantes incerta. Uma eventual terceira onda da covid-19 não é totalmente descartada.
Mesmo com o nível de atividade se recuperando, ainda que lentamente, não são visíveis melhorias no mercado de trabalho. Nem bem foi lançado, o novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) já tem 1,5 milhão de trabalhadores beneficiados. Sem a recuperação do emprego e da renda falta sustentabilidade à retomada econômica. Como se tudo isso já não fosse preocupante, há ainda as turbulências no cenário político, que inibem os investimentos e tolhem as empresas. Não é por outro motivo que as previsões para 2022 são de crescimento do PIB inferior ao deste ano.