‘Eu saí em função disso e ele [Bolsonaro] mantém a posição dele”, disse ex-ministro da Saúde em resposta ao senador Alessandro Vieira (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
A persistência na recomendação do uso generalizado de cloroquina e hidroxicloroquina, substâncias com ineficácia cientificamente comprovada para a Covid-19, e gastos na fabricação desses remédios, reconhecidamente inúteis no tratamento da doença, são de responsabilidade direta do presidente Jair Bolsonaro. A afirmação é do ex-ministro da Saúde Nelson Teich, respondendo a perguntas do líder do Cidadania, Alessandro Vieira (SE), durante sessão da CPI da Pandemia, nesta quarta-feira (05).
“O presidente tem aposição dele de defender a cloroquina, eu saí em função disso e ele mantém a posição dele”, resumiu Teich, confirmando que não existe nenhum estudo clínico, sério, referendado mundialmente, que apregoe utilizar esses medicamentos no tratamento de Covid-19.
O ex-ministro da Saúde reconheceu em resposta a Alessandro Vieira que se o Brasil tivesse entrado mais cedo, numa ‘estratégia de governo’, no disputado mercado de venda de vacinas, então ainda em desenvolvimento, o Brasil certamente teria agora mais vacinas agora, e poderia evitar tantas mortes.
Autonomia do médico
O ex-ministro da Saúde explicou ainda a diferença entre a autonomia do médico na relação com o paciente, na discussão do melhor tratamento, e o desenvolvimento de uma política pública, com gastos elevados, baseada em teorias sem nenhum lastro científico sério, como é o caso da fabricação e uso de cloroquina.
“Quando você fala em dinheiro público, aí não se pode usar em coisas que sabidamente não funcionam”, disse Teich.
Medicamentos sem eficácia
Ao inquerir o ex-ministro, Alessandro Vieira citou frase dita hoje (05) pelo presidente Bolsonaro, que chamou de “canalha” quem é contra o tratamento precoce contra a Covid-19, com uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina.
A promoção do tratamento precoce é um dos alvos da CPI, com o objetivo de investigar as ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia, além do repasse de recursos federais a estados.
Bolsonaro também voltou a fazer um novo ataque à China, sugerindo que o país asiático teria se beneficiado economicamente da pandemia, afirmando que a Covid-19 pode ter sido criada em laboratório — tese que não encontra respaldo científico.
“Não concordo com nada disso”, disse Teich, demonstrando desânimo com as declarações do presidente da República.