Na avaliação do senador, ministro da Saúde enfrentará ‘muro de incompetência e ignorância’ (Foto: Pedro França/Agência Senado)
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, caiu em contradição em depoimento à CPI da Pandemia, nesta quinta-feira (06), sobre a política de enfrentamento à pandemia de Covid-19 da pasta, ao ser questionado pelo líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE), se seguiria seus princípios como médico ou as ordens do presidente Jair Bolsonaro.
“Qual é a política que o senhor vai implantar: do médico Queiroga ou do presidente Bolsonaro”, perguntou o parlamentar do Cidadania, após o ministro ter defendido uma política de combate à pandemia – com vacinação em massa e o uso de medidas não farmacológicas – , e ao mesmo tempo dizer que seguiria a ‘política do governo federal’.
“Se o presidente da República pensar de forma diversa, é o presidente da República. Estou trabalhando no Ministério da Saúde, fui nomeado pelo presidente e estou trabalhando conforme as orientações técnicas”, respondeu o ministro.
“Esse governo não cumpre aquilo que a ciência e o senhor verbalizam. Cumpre aquilo que o presidente verbaliza do cercadinho [área delimitada à imprensa], nas lives, nas conversas para animador de torcida”, criticou Alessandro Vieira.
Queiroga insistiu que o País tem uma política nacional de testagem, embora não tenha conseguido descrevê-la, além da mera distribuição de testes de Covid-19 para estados. Mas admitiu que essa política de testagem passaria por ‘alterações’, buscando testes ‘mais modernos e rápidos’.
Procedimentos não convencionais
Alessandro Vieira insistiu que procedimentos não convencionais, com o uso de recursos públicos, foram inseridos no SUS (Sistema Único de Saúde). O ministro negou e disse que não aceitaria isso. Confrontando com os gastos em cloroquina, medicamento sem comprovação científica no combate à Covid, Queiroga disse que um parecer a ser elaborado pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) ‘pacificaria’ divergências sobre o uso do medicamento para tratamento precoce.
O senador disse que já havia estudos técnicos, de alta qualidade e aceitos mundialmente, que recusam a utilização desse medicamento.
“Dois de seus antecessores esbarraram num muro de incompetência e ignorância”, disse o senador, referindo-se a Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Alessandro Vieira pediu que o ministro, se bater no mesmo muro, repita Mandetta e Teich.
Política oposta a Bolsonaro
Durante depoimento na CPI da Pandemia, Queiroga defendeu uma política de combate à pandemia oposta do presidente – com vacinação em massa, o uso de medidas não farmacológicas e apoio a estados e municípios com insumos -, mas reafirmou que seguirá a “política do governo federal”.
“Vivemos num regime presidencialista. A política é a do governo federal e eu sou ministro. Não existe ministro da Saúde dissociado do Presidência da República”, afirmou.
O senador lembrou então que no dia 16 de março, ao ser apresentado como novo ministro, ao lado do general Eduardo Pazuello, Queiroga afirmou que a pasta executaria a política definida pelo governo do presidente Bolsonaro e que iria dar continuidade ao trabalho do antecessor.
O Brasil, então, ultrapassava 282 mil óbitos. Agora, 45 dias depois de assumir o ministério, o País se aproxima de 415 mil mortos.
“O senhor relata um mundo ideal que não corresponde à realidade da política do governo. Em particular do presidente da República”, afirmou Alessandro Vieira.