‘Ele era na época o coordenador desse grupo. Foi por ele, sim, senhor’, respondeu Barra Torres à pergunta do senador na CPI da Pandemia (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
O presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, revelou em depoimento à CPI da Pandemia, nesta terça-feira (11), que o general Walter Braga Netto, então ministro da Casa Civil, foi o responsável por convocar e conduzir uma reunião, realizada no Palácio do Planalto, em que se debateu no ano passado a edição de um decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina. O questionamento sobre a participação do atual chefe da Casa Civil no encontro foi feito pelo líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
“O convite veio pela gestão do grupo, via Casa Civil. Naquela época, a Anvisa, pela Lei 3979, fazia parte do grupo interministerial. Então, chegou uma convocação para mim. Essa reunião foi mais para o final do dia e era para tratar de algum tema de combate à pandemia. Elas aconteciam com frequência, então, o convite veio dessa maneira que lhe falei”, disse Barra Torres.
Em seguida, Alessandro Vieira perguntou se a condução da reunião foi feita também por Braga Netto.
“Exato, ele era na época o coordenador desse grupo. Foi por ele, sim, senhor”, respondeu o presidente da Anvisa.
Ele confirmou que a reunião ocorreu com as presenças do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da médica Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina, e que tinha como único objetivo massificar o uso do tratamento precoce com o medicamento, incluindo na sua bula o combate à Covid-19.
Barra Torres disse que rejeitou prontamente a ideia por “não ter cabimento”. Alessandro Vieira lembrou que, no entanto, após uma sequência de atos normativos restringindo ainda mais o uso da cloroquina, a Anvisa mudou de posição e passou a liberar o remédio com mais facilidade.
“Passou a haver um consumo bem maior que a produção, e numa velocidade avassaladora”, explicou Barra Torres.
“Então precisávamos garantir o uso para quem efetivamente precisasse, caso do uso para pacientes lúpicos, maláricos e artríticos. Como o medicamento sumiu das prateleiras, entendemos que era hora de desburocratizar”, justificou o presidente da agência.
A Anvisa, porém, nunca referendou o uso da cloroquina para Covid-19.
Compra de vacinas
Durante o depoimento à CPI, Barra Torres destacou ainda que não existe a obrigatoriedade de autorização do órgão para compra de vacinas.
“Ou seja, o presidente podia ter comprado a vacina da Pfizer, já que não era necessária a autorização da Anvisa para compra, apenas para o uso”, comentou Alessandro Vieira, membro da CPI.