O movimento evangélico é de direita por natureza? Qual o papel dos evangélicos na defesa da democracia? Tais questões estiveram presentes em live da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), veiculada também pelo Reformistas
Há no ar do movimento evangélico mais coisas que o encantamento bolsonarista.
Pelo menos é o que se pode depreender da live patrocinada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), lincada ao vivo pelo Reformistas, sobre o a contribuição dos cristãos para o fortalecimento da democracia. Além de pastores e de representante da área cultural, participou do evento a senadora Marina Silva, evangélica que, tal como a senadora Eliziane, não ora pela cartilha do fundamentalismo religioso.
Chamaram a atenção na live as análises do pastor, historiador e professor da Universidade Federal do Maranhão, Lyndon Santos, ao cobrar uma explicação do movimento evangélico pelo fato de ter migrado de uma postura democrática de décadas – estado laico, casamento não católico, escola e saúde públicas, liberdade religiosa – para o apoio ao negacionismo bolsonarista, também excludente e intolerante. Ele disse alto e a bom som que Deus não guardaria afinidade com Mercado ou Estado, algo que os evangélicos precisariam compreender para poder se desvencilhar de seus atuais equívocos.
Foi cortante ao chamar a atenção para o empoderamento dos pastores, na sua opinião antibíblico, que estariam se arvorando junto às comunidades como “ungidos do senhor”. Defendeu o fim do que chamou bibliolatria e que os crentes sejam mais livres para reler o livro sagrado à luz de suas experiências de vida e não a partir de interpretações verticalizadas.
Marina Silva realçou a importância das diferenças e que Deus as quis quando determinou a confusão de línguas, derrubando a arrogância dos homens de quererem chegar aos céus por expedientes igualmente arrogantes.
Outra intervenção marcante na live coube ao reconhecido cantor cristão, adventista, Leonardo Gonçalves. Ele sugeriu que os evangélicos fujam do anacronismo representado pela tentativa de transplantar preceitos bíblicos para a realidade complexa do espaço público contemporâneo. Falou mais: que o cristão quando acessa esferas de influência ou de poder não é para defender evangélicos , e sim para distribuir bençãos aos mais vulneráveis. E que Deus, por sua grandeza, não precisaria de defensores.
Já o pastor Eleazar Ceccon, da Assembleia de Deus, lembrou que os evangélicos trilham um caminho de aprendizado, até mesmo porque essa temática nunca esteve no foco de preocupação dos antigos missionários, sem cidadania no Brasil. Ao falar de liberdade, lembrou que biblicamente Jesus nunca obrigou ninguém a fazer nada.
Por fim, na live, um desabafo da senadora Eliziane Gama. Disse que fica triste quando na comunidade se questiona a sua fé por causa de posturas políticas progressistas, ela que nasceu, cresceu, adotou os preceitos e é membro da mesma igreja até hoje, no caso a Assembleia de Deus.
Há novos polos de pensamento no movimento evangélico que tendem a se encontrar politicamente, mesmo com diferenças de doutrinas. (Blog Reformistas – 21/04/2021)
Davi Emerich é jornalista
Fonte: https://reformistas.blog.br/o-evangelho-sem-mito/