Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (16/03/2021)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

País tem o 4º ministro da Saúde na pandemia
Na saída, anúncio de 138 milhões de doses
Uso de AstraZeneca é suspenso em países da Europa, OMS discorda
Estado do Rio tem recorde de pedidos de internação em UTI
‘O cenário no Brasil é bastante sombrio’
Rodrigo Maia decide se filiar ao MDB, mas depende de aval do DEM
Bruno Funchal – ‘A melhor política fiscal é vacinar rápido’
Felipe Neto é intimado a depor por chamar Bolsonaro de genocida
Por visto gold em Portugal, brasileiros investiram R$ 5,2 bi

O Estado de S. Paulo

Médico pró-isolamento social será o 4º ministro da Saúde de Bolsonaro
Corte de salário e jornada deve atingir desta vez 3 milhões
Rodada extra do auxílio vai pagar R$ 150 a maior grupo
PGR recorre para validar quebra de sigilos de Flávio
Susan Rose-Ackerman – ‘Lava Jato errou na forma de operar’
SP tem primeira noite de toque de recolher
Com 3,7 milhões de kits, Saúde abandona meta para testagem
Felipe Neto deve depor por criticar presidente
Países europeus suspendem uso da vacina de Oxford
Uruguai imuniza brasileiros com dupla nacionalidade
Trump pressionou Brasil contra Sputnik

Folha de S. Paulo

Marcelo Queiroga, médico, aceita convite e assume Saúde
Sigilo mostra ‘rachadinha’ em gabinetes de Jair e Carlos
PF abre inquérito sobre negócios de Renan Bolsonaro
Europeus suspendem Oxford; para OMS, não vacinar é pior
Felipe Neto é intimado após falar em ‘genocida’
Doria admite que pode apelar para lockdown se for preciso
Hacker oferta base de dados atribuída ao Poupatempo
SP anuncia imunização de idosos entre 70 e 71 para 29 de março
Ex-patrões da mãe de Miguel são condenados a pagar R$ 386 mil
PEC Emergencial é promulgada pelo Congresso
Salário de 449 juízes superou R$ 200 mil
UE prepara passaporte de imunidade para circulação no bloco
EUA pressionaram Brasil a rejeitar a russa Sputnik V
Vaticano proíbe bênção a união homossexual

Valor Econômico

Fiol beneficia mineradora e desagrada ambientalistas
Queiroga ocupará pasta de Pazuello
Isolamento e alta do IGP-M afetam reajuste dos aluguéis
Parada obrigatória
Pacheco e Lira descartam CPI, agora, sobre a pandemia
Mercado vive ‘bolha atípica’, diz megainvestidor
Caso em GO expõe falha em licitação

EDITORIAIS

O Globo

Pazuello jamais deveria ter assumido o cargo

A marca da gestão é ter tornado o Brasil epicentro global da pandemia

A saída do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde — ele será sucedido pelo cardiologista Marcelo Queiroga — acontece com dez meses de atraso. Sem experiência ou conhecimento na área da Saúde, jamais deveria ter assumido cargo de tamanha importância em plena pandemia. Só assumiu, em maio passado, por dizer amém às barbaridades mais estapafúrdias do chefe, ao contrário dos médicos que o antecederam, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Pazuello foi escolhido para que o presidente Jair Boslonaro passasse a controlar a agenda do ministério, antes sujeita a critérios mais técnicos que políticos.

Em nome dessa agenda, um de seus primeiros atos foi alterar o protocolo para uso da cloroquina, droga comprovadamente ineficaz contra a Covid-19 que passou a ser recomendada em todas as fases de tratamento. Ao mesmo tempo que dava início à produção em massa de cloroquina nos laboratórios do Exército, o governo desdenhava as vacinas e desprezou diversas oportunidades de garantir doses aos brasileiros.

A missão de Pazuello ficou clara no episódio da compra de vacinas do Instituto Butantan, de São Paulo. Num raro momento em que ousou discordar do presidente, Pazuello assinou um protocolo para comprar 46 milhões de doses da CoronaVac. Bolsonaro o desautorizou dizendo que não compraria a “vacina do Doria”. “Um manda, o outro obedece”, disse então um conformado Pazuello. A frase define sua gestão. A escassez de vacinas levaria Bolsonaro a voltar atrás. Hoje a CoronaVac responde por 75% dos vacinados no Brasil.

Sob Pazuello, o Programa Nacional de Imunização, outrora modelo para o mundo, tornou-se motivo de desespero. Em quase dois meses de campanha, o país vacinou menos de 5% da população. Para março, ele prometera 46 milhões de doses. Depois de um festival de hesitação, o número baixou para 25 milhões. Sem honrar os cronogramas que ele próprio apresentava, prefeitos e governadores se mobilizaram para comprar vacinas por conta própria.

A marca da gestão Pazuello foi ter tornado o Brasil epicentro global da pandemia, com quase 280 mil mortos. Em virtude do hábitat propício às novas variantes, nos tornamos um risco para o planeta. Seu legado mais tenebroso foi a tragédia em Manaus, onde pacientes morreram sem oxigênio. A responsabilidade de Pazuello pela situação no Amazonas está sob investigação. Há evidências de que foi alertado para a falta iminente de oxigênio, mas demorou a agir. Ele nega. É fato que a força-tarefa do SUS em Manaus fazia relatos diários da escassez. Só Pazuello não sabia. No curso das investigações, não soube dizer nem a data em que foi informado da baixa dos estoques: disse que foi 8 de janeiro, depois 10, 11, 18…

Na semana passada, enquanto o sistema de saúde entrava em coma por todo o país, Pazuello disse que não havia colapso. A gestão das vacinas segue catastrófica. No Rio, a campanha foi interrompida pela segunda vez. As trapalhadas vinham incomodando os militares. Por Pazuello ser general da ativa, passou a contaminar a imagem das Forças Armadas com seu desgaste. Enfrentava resistência de governadores, prefeitos e secretários de Saúde.

Pelo conjunto da obra, a saída de Pazuello era inevitável. Devemos torcer para Queiroga promover uma mudança completa no ministério, mesmo sabendo que o ministro de fato — Bolsonaro — permanece. O país não aguenta mais tanta incompetência.

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro, ministro da Saúde

Malgrado tenha cometido inúmeros erros, Pazuello foi sabotado por Bolsonaro nas escassas ocasiões em que tentou acertar

A incompetência do intendente Eduardo Pazuello para exercer o cargo de ministro da Saúde, algo especialmente grave em meio à pandemia de covid-19, já está sobejamente comprovada. Portanto, sua substituição, cogitada no fim de semana, tornou-se há muito tempo um imperativo. Em defesa de Pazuello, contudo, deve-se enfatizar que, assim como jabuti não sobe em árvore, sua presença no Ministério da Saúde, a despeito de seu evidente despreparo, só se materializou porque o presidente Jair Bolsonaro o colocou lá.

Mais: malgrado tenha cometido inúmeros erros de sua própria lavra, Pazuello foi sabotado por Bolsonaro nas escassas ocasiões em que tentou acertar – como quando se dispôs a assinar um protocolo de intenções com o governo paulista para aquisição de vacinas produzidas pelo Instituto Butantan e foi desautorizado publicamente, de forma humilhante, pelo presidente. Qualquer um com amor próprio teria pedido as contas no ato; mas não Pazuello, que se limitou a admitir que estava no cargo apenas para cumprir ordens.

O intendente é o terceiro ministro da Saúde de Bolsonaro, colocado ali depois que os dois anteriores se recusaram a fazer o triste papel que lhes atribuía o presidente. Bolsonaro é, na prática, o ministro da Saúde.

Nessa condição, menosprezou a dimensão da pandemia, fez campanha contra a vacinação, estimulou os brasileiros a se automedicarem com remédios inócuos contra o coronavírus, ofendeu doentes e mortos, desmoralizou todas as medidas de isolamento destinadas a conter a covid-19 e ainda desdenhou dos cuidados mínimos para evitar contaminação, como o uso de máscara e o distanciamento social.

Logo, não é possível sequer imaginar que, diante desse comportamento do presidente da República, o Ministério da Saúde, sob a direção de quem quer que seja, será capaz de atuar tendo a ciência e o bom senso como norte. Quem tentou, antes de Pazuello, perdeu o emprego.

A esta altura, a esperança de uma mudança de direção no governo reside na pressão eleitoral, a única que move Bolsonaro. A perda acelerada de popularidade do presidente por conta da condução irresponsável da crise, com seus múltiplos efeitos trágicos, já fez Bolsonaro pelo menos reduzir sua hostilidade à vacinação.

De uma hora para outra – notadamente desde o ressurgimento do petista Lula da Silva no cenário eleitoral, com um discurso a favor da vacinação –, Bolsonaro passou a posar de campeão da imunização. Também cedeu à pressão política pela substituição do ministro Pazuello, hoje completamente desacreditado em todas as áreas envolvidas na luta contra a pandemia.

No fim de semana passado, Bolsonaro sondou, para o lugar de Pazuello, a cardiologista Ludhmila Hajjar, nome que imediatamente ganhou apoio de expoentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Sua nomeação representaria uma guinada radical na condução do Ministério da Saúde, pois a médica é conhecida pela defesa da vacinação e das medidas de isolamento social e por sua oposição firme ao “tratamento precoce” com cloroquina e outros elixires caros aos bolsonaristas.

A esperança de mudança durou poucas horas. Assim que se soube que Ludhmila Hajjar havia se reunido com Bolsonaro para discutir sua eventual nomeação, as redes sociais bolsonaristas reagiram com especial virulência, atacando a cardiologista como se fosse uma inimiga do Brasil.

Com bom senso, a doutora Ludhmila recusou o convite, informando o óbvio: que não houve “convergência” entre ela e Bolsonaro, pois o presidente não mudou de ideia sobre a pandemia, ao contrário do que seus marqueteiros pretendem fazer o País acreditar. E acrescentou que foi ameaçada de morte pelos camisas pardas que idolatram o presidente – o que dá a dimensão da loucura que o bolsonarismo inoculou no Brasil.

No mesmo momento em que Bolsonaro fingia interesse em melhorar o Ministério da Saúde, bolsonaristas – devidamente aglomerados e sem máscara – se mobilizavam em diversas capitais em manifestações contrárias às medidas de isolamento social e, de quebra, a favor de uma intervenção militar. É a esses celerados, e só a eles, que Bolsonaro dá ouvidos.

Folha de S. Paulo

O quarto ministro

Se Bolsonaro não mudar conduta, de pouco servirá a nova substituição na Saúde

Ainda no posto de ministro da Saúde, Eduardo Pazuello confirmou nesta segunda (15) que Jair Bolsonaro buscava um substituto para ocupar a pasta. À noite do mesmo dia, anunciou-se o nome de Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

O general, de início interino, acabou por ficar no cargo por mais tempo do que seria recomendável, dada a dificuldade de encontrar quem coubesse no figurino inglório desenhado pelo presidente.

Volta agora um profissional da área à pasta que deveria ser a mais importante no país assolado pela Covid-19. Não se trata, infelizmente, de garantia de uma nova e menos desastrosa gestão.

Bolsonaro entabula um quarto ministro na Saúde porque precisa do proverbial bode expiatório para justificar a guinada inverossímil em curso no tocante às vacinas que o presidente sempre negligenciou, quando não sabotou.

O submisso general será assim sacrificado no altar da inconsequência impune a que se habituou o ocupante do Planalto.

O presidente pressionado pelo centrão reage diante do detectado recuo de popularidade decorrente da escalada nas mortes, do colapso hospitalar nacionalizado e do lento avanço na vacinação.

Tem em vista empossar alguém com qualificação técnica, como os dois ministros médicos que defenestrou por não se curvarem a suas ideias fixas, erradas e cruéis.

Mais que sintoma da patologia dissociativa imperante no Planalto a respeito da pandemia, Bolsonaro encarna a própria causa etiológica do mal ali instalado.

Quer um médico que defenda o inexistente tratamento precoce, faça pouco caso de medidas eficazes de prevenção (máscaras e distanciamento social), releve o negacionismo antivacina anterior e priorize a economia antes da saúde pública —como se uma coisa não estivesse hoje ligada à outra.

Carece, ainda, de um auxiliar palatável à patrulha de milicianos digitais que o presidente açula sem pestanejar. Alguém que se disponha a abrir mão da paz de espírito ao vê-la ameaçada de violência, como já ocorreu com a cardiologista Ludhmila Hajjar apenas por ser cogitada para o cargo e prescrever a inadiável correção de conduta.

Queiroga conta tempo considerável de ligação com o presidente, tendo colaborado com sua equipe de transição. Na melhor hipótese, poderá aproveitar as relações e a oportunidade para viabilizar uma administração da pandemia mais racional e menos conflituosa.

Sem que Bolsonaro mude para além das aparências fugazes, entretanto, qualquer ministro estará fadado a escolher entre a pusilanimidade de Pazuello e o caminho de volta para casa.

Valor Econômico

Pandemia acentua déficits do país na frente social

São necessárias nove gerações, 225 anos, para uma criança nascida no grupo dos 10% mais pobres atingir o nível médio de rendimento do país

Depois da escalada de mortes, um dos balanços mais dolorosos da pandemia do novo coronavírus é o do estrago que produz na área social. A pandemia prejudica em várias frentes ao provocar o empobrecimento das pessoas, inviabilizar o funcionamento normal das escolas, ampliar o desemprego e achatar a renda. Todos esses problemas ameaçam persistir neste ano no Brasil, que acaba de fechar mais uma década perdida.

A queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado resultou em recuo de 4,8% do índice per capita. Segundo cálculo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), baseado em números do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB per capita brasileiro teve queda de 0,6%, de 2011 a 2020, levando em consideração a Paridade do Poder de Compra (PPC). Queda igual ocorreu na década de 1980, a primeira conhecida como década perdida, sob influência da crise da dívida externa, do fim do regime militar e da aceleração da inflação.

A nova década perdida começou com o fim de um ciclo de alta das commodities, foi marcada por decisões erradas na economia no mandato de Dilma Rousseff e uma persistente recessão entre o fim de 2014 até 2016, que culminou com o impeachment da ex-presidente. A partir daí houve uma recuperação medíocre, atropelada pela greve dos caminhoneiros em 2018, pelo desastre de Brumadinho, pela crise argentina e pela guerra comercial internacional, em 2019. Análise dos especialistas da FGV Claudio Considera e Juliana Trece lembra que o próprio Banco Central estima que esses três eventos tiraram 0,67 ponto percentual do PIB de 2019. Como se tudo isso não bastasse, sobreveio a pandemia que jogou o país de volta à recessão.

Na comparação da variação média anual do PIB per capita, o Brasil registrou recuo de 0,2%, resultado sofrível em comparação com o crescimento médio anual de 2,5% dos demais emergentes e de 0,4% da média global.

O desempenho prejudicou o mercado de trabalho, a renda, a educação e a saúde. A taxa de desemprego atingiu 13,5% em 2020, com o número de desempregados chegando a 13,9 milhões. No último trimestre de 2020, a população ocupada era de 86,2 milhões de pessoas, quase 10 milhões abaixo do nível pré-covid de 95 milhões. A renda média do trabalhador ficou em R$ 2.507, com tendência de queda. Como muitos menos estão empregados, a massa de rendimentos real habitualmente recebida por todas as pessoas ocupadas somou R$ 210,7 bilhões no quarto trimestre, número 6,5% inferior ao de igual período de 2019, ou R$ 14,8 bilhões menor.

O auxílio emergencial funcionou como amortecedor. Mas ele acabou neste ano e como o desemprego segue elevado, a situação da população mais necessitada ficou difícil. Segundo cálculos do Ibre/FGV, a pobreza extrema atingiu entre 10% e 15% da população, em janeiro, e a pobreza, entre 30% e 35% – bem acima dos 9,6% e 25%, respectivamente, de 2019.

Na educação, se 90% dos alunos de escolas particulares conseguiram interagir com os professores no ano passado, inclusive com recursos virtuais, segundo a pesquisa “Juventudes e a pandemia do coronavírus”, apenas 30% dos estudantes da rede pública foram bem-sucedidos.

A precariedade do ensino vai acentuar as falhas de desempenho dos estudantes que ficaram entre os 21 piores no mais recente exame internacional Pisa, aplicado em 2018, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em jovens de 15 anos de 79 países.

O conjunto emperra ainda mais a mobilidade social, que, desde os tempos coloniais, nunca foi fácil no país. Estudo da OCDE de 2018 colocou o Brasil como segundo pior entre 30 estudados em mobilidade social, medida pelo número de gerações necessárias para uma criança nascida no grupo dos 10% mais pobres atingir o nível médio de rendimento do país. No caso do Brasil, seriam necessárias nove gerações, 225 anos. O mesmo número foi atribuído à África do Sul. Somente tinha uma mobilidade pior a Colômbia, onde o período de ascensão levaria 11 gerações, ou 275 anos. Na dianteira está a Dinamarca, onde a ascensão social leva duas gerações, ou 50 anos. Na média dos países da OCDE, são necessárias 4,5 gerações para que esta evolução ocorra.

A mobilidade social deveria ser promovida não só porque beneficia as pessoas, reduz conflitos e favorece a coesão social, qualidades das quais o país está necessitado, como também é um firme alicerce para o crescimento econômico.

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