MANCHETES DA CAPA
O Globo
Na pandemia, exclusão digital agrava desigualdade
Pazuello é enviado a Manaus ‘sem voo de volta’
Três evangélicos disputam próxima vaga no Supremo
Enem registra abstenção recorde de 55%
Dispara número de motoristas embrigados pegos em blitz
Dirigente e quatro atletas do Palmas morrem em queda de avião
O Estado de S. Paulo
Com número limitado de doses, prefeitos disputam vacinas
Bolsonaro tem menos apoio na Câmara que antecessores
Curso técnico cresce com desemprego e pandemia
Pablo Di Si – ‘Esperamos crescer até 12% neste ano’
Inovação – Do relógio de ponto para o home office
Acidente aéreo mata 4 atletas do Palmas
Famílias perdem R$ 5 bi por mortes na pandemia
Sonho de voltar ao palco
Folha de S. Paulo
Bolsonaro perde de Doria em avaliação da pandemia
Crítica cresce após governo admitir que não negociou vacina
Planalto manda Pazuello a Manaus sem voo de volta
Rondônia registra colapso e transfere doentes com Covid
Grupos à direita promovem carretas contra Bolsonaro
Empresas pedem aval para comprar 33 milhões de vacinas
Geração de vagas foi maior em cidades com mais auxílio
Acidente com bimotor tem Tocantins mata piloto, 4 jogadores e dirigente de clube
Em segundo dia de provas, Enem registra recorde de abstenção, com 55,3 de faltas
Gregório Grisa – Esquerda sozinha não pode dar as cartas na educação
Presidente de Portugal é reeleito, e candidato da direita radical fica em terceiro lugar
Valor Econômico
Piora da pandemia eleva pressão por novo auxílio
Perspectiva para o 1º trimestre é de retração
Fibra óptica da Oi fica entre BTG e Digital
Refino ganha novos atores neste ano
O entregador do futuro bate à sua porta
Esforço global
EDITORIAIS
O Globo
Economia vai para a segunda década perdida
País está em estado semicomatoso estrutural, condição que só mudará com reformas no Estado
A economia brasileira parece cada vez mais distante do crescimento sustentado. Como todo o mundo, o país entrou em recessão sob o impacto da pandemia. Agora, em virtude de deficiências próprias, não demonstra vigor para sair da crise.
Um estudo dos economistas da Fundação Getulio Vargas Claudio Considera e Juliana Trece, divulgado no jornal “Valor Econômico”, não vê possibilidade de melhora significativa no cenário econômico brasileiro este ano. Com base em projeções do mercado (Relatório Focus) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), a análise estima que o Brasil deverá encerrar o ano com PIB per capita 2,3% inferior ao de 2019, um ano antes da pandemia. Não há previsão de quando o indicador superará o patamar anterior à crise atual.
A última vez que Brasil registrou um índice notável de crescimento foi em 2010: 7,5%. Foi um ponto fora da curva. Lula encerrava seu segundo mandato, encaminhava a primeira eleição de Dilma Rousseff. A crise mundial de 2008, deflagrada pelo estouro de uma bolha imobiliária insuflada por Wall Street, levou todos os países a executar políticas expansionistas, inclusive o Brasil. Em seu governo, Dilma manteve o pé no acelerador. O resultado foi o fim dos superávits primários nas contas públicas, a pressão inflacionária, com consequente elevação nos juros.
O descalabro fiscal do governo Dilma resultou não apenas em seu impeachment. A economia desacelerou até afundar numa recessão no biênio 2015/16. A queda de 7% foi superada apenas pelo mergulho de 9,7% do PIB no segundo trimestre do ano passado, como reflexo da pandemia.
A baixa capacidade de recuperação do PIB per capita, apesar das projeções de algum crescimento este ano, se deve, afirmam os economistas da FGV, a dois fatores: primeiro, a queda de 2020 foi intensa demais — as estimativas da FGV são de uma recessão de 4,4% —; segundo, a economia, antes da crise, já não demonstrava grande fôlego.
Passado aquele ponto fora da curva no final do governo Lula, em 2010, o comportamento da economia já começava a configurar uma segunda década perdida (a primeira ocorreu nos anos 1980, entre o final do regime militar e o governo de José Sarney). Mesmo sem saber ainda o dado oficial da recessão do ano passado, pode-se afirmar que o crescimento do PIB per capita nos últimos dez anos não terá ficado muito acima de zero.
É evidente que a economia brasileira está em estado semicomatoso estrutural, condição que só pode ser revertida por reformas estruturais que reduzam o peso do Estado. Um dos requisitos essenciais para a reativação é a vacinação em massa. Enquanto o Congresso se entretém com a eleição dos presidentes das duas Casas, e o governo Bolsonaro vai sendo emparedado no mundo com a entrada de Joe Biden na Casa Branca, a situação da economia continua preocupante. Poderia ser mais fácil se Executivo e Legislativo dessem prioridade à revisão necessária do papel do Estado, que consome e desincentiva a poupança, inibe investimentos e, portanto, freia o crescimento.
O Estado de S. Paulo
A pequenez de Bolsonaro
Em sua rinha contra o governador João Doria, Bolsonaro esgarça ainda mais os limites aceitáveis das lides políticas da democracia
A postura antirrepublicana do presidente Jair Bolsonaro é mais uma entre tantas evidências de que ele não cabe no cargo que ocupa. A bem da verdade, jamais coube. A notória mediocridade de seu currículo, por assim dizer, e a intolerância a tudo e a todos que contrariem seus interesses já apontavam desde antes da eleição que, caso ele chegasse à Presidência, como de fato chegou, a Nação haveria de lidar com o mais nefasto governo de sua história. Em vez de se moldar à dignidade da Presidência da República, Jair Bolsonaro a rebaixou como nenhum outro presidente antes dele.
Em sua rinha contra o governador de São Paulo, João Doria, o presidente esgarça ainda mais os limites aceitáveis das lides políticas próprias da democracia. Por raiva, medo, inveja ou outros sentimentos inconfessáveis em relação ao tucano, o comportamento de Bolsonaro põe em risco projetos de interesse da população do maior Estado da Federação.
Há dezenas de obras em São Paulo que dependem fundamentalmente do aval da União, da ação de Ministérios ou de financiamentos de bancos públicos. A esmagadora maioria delas tem sido sabotada pelo governo central, por ordem de Bolsonaro. O presidente da República proíbe ministros e assessores de atender a qualquer pedido do governo paulista. Quem desobedecer à ordem, conversar e “fizer graça” com Doria está sujeito a “cartão vermelho”. Quão mais mesquinho pode ser o presidente?
Uma das obras em risco é a construção do Piscinão de Jaboticabal, que é fundamental para solucionar o problema das enchentes do Rio Tamanduateí e dos Ribeirões dos Couros e dos Meninos. Mas a angústia das famílias ribeirinhas, que sofrem ano após ano com as enchentes, é irrelevante para Bolsonaro diante de sua necessidade de impor um revés político para alguém que ele trata não como um governador de Estado que lhe faz oposição, e sim como um inimigo figadal. A obra está orçada em R$ 300 milhões e seria financiada pela Caixa, de acordo com o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido. Mas, de uma hora para outra, a linha de crédito foi “congelada”. A fim de concluir a obra, o governo paulista vai buscar recursos no Tesouro do Estado.
A construção de uma ponte entre Santos e Guarujá é mais uma obra atrasada em função das disputas políticas entre o governo federal e o Estado de São Paulo. Não há desembolso de dinheiro público na obra, que será custeada pela concessionária Ecovias, mas a ponte precisa passar por uma área do Porto de Santos, que está sob responsabilidade federal. Sem a autorização do Palácio do Planalto, a obra não anda.
Por meio de nota, tanto a Caixa como o Ministério da Infraestrutura afirmaram que pautam a análise dos projetos “por critérios estritamente técnicos” e de maneira “isenta”. Espera-se que seja assim. Mas é no mínimo estranho que as obras que dependem do governo federal justamente no Estado governado pelo maior desafeto de Bolsonaro tenham um andamento tão acidentado.
A ira de Jair Bolsonaro contra João Doria aumentou significativamente após o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo, mas não é de hoje que o presidente atua para dificultar o avanço de projetos importantes para os paulistas e para os paulistanos.
Há muito tempo se negocia a devolução da área do Campo de Marte para a Prefeitura de São Paulo. Mas, no que depender de Jair Bolsonaro, o Campo de Marte pode até deixar de ser um aeroporto, mas não será reintegrado pelo Município. O presidente tem planos de instalar ali uma escola cívico-militar.
Em abril de 2019, Bolsonaro também firmou compromisso com o governo paulista para transferir a gestão da Ceagesp para o âmbito estadual. A ideia do governador João Doria é mudar o entreposto da Vila Leopoldina para outro local. Mas, no final do ano passado, o presidente renegou a própria assinatura e afirmou que nada muda na Ceagesp enquanto ele ocupar o cargo.
O presidente age contra os interesses dos brasileiros, os de São Paulo em particular.
Folha de S. Paulo
Vidas e empregos
Com governo inoperante, Brasil perde também benefícios da vacina para a economia
Apenas entre os negacionistas delirantes ainda existe uma dicotomia entre medidas de combate à pandemia e a preservação da economia. O atraso da campanha de vacinação e a tragédia em Manaus, ambos com as digitais do Planalto, mostram claramente que a irresponsabilidade custa vidas e empregos ao mesmo tempo.
Desde o início da pandemia ficou claro que o principal risco para a economia decorre do contágio acelerado e sem controle. Conforme se aproxima o esgotamento do sistema de saúde por causa do crescimento do número de internações, as autoridades deixam de ter opções gradualistas.
Toques de recolher e interrupção radical de atividades acabam se tornando obrigatórios para evitar um drama humanitário ainda maior. A população, que percebe os riscos, também passa a adotar comportamento cauteloso e mesmo exigir ações drásticas.
No caso da vacina, a inépcia do governo federal em assegurar acesso célere às várias alternativas que se tornaram disponíveis também se mostra custosa e ilógica. Imunizar rapidamente, além do imperativo sanitário, é o melhor e mais barato estímulo econômico possível.
Como já começa a ficar evidente nos países que estão na dianteira do processo como Israel e, em menor grau, Reino Unido e EUA, o foco inicial nos grupos vulneráveis tem o potencial de reduzir prontamente as internações e ameaça de sobrecarga nos hospitais.
No caso americano, os estratos que compõem os 10% da população a ser vacinada até fevereiro representam metade dos casos graves que exigem hospitalização. Estima-se que haverá queda drástica de mortes em poucas semanas.
Embora o número de novos casos ainda possa permanecer elevado até que parcela suficiente da população seja imunizada, como se espera até o segundo semestre na Europa e nos Estados Unidos, a imunização dos grupos vulneráveis pode ter impacto econômico positivo em prazo bem mais curto.
Tudo isso demonstra quanto custou ao país a irresponsabilidade do governo Jair Bolsonaro, que deveria ter fechado acordos com as várias empresas que buscavam a vacina, garantindo alternativas.
A negativa do governo a uma oferta formal da Pfizer, a primeira empresa a obter aprovação regulatória para seu produto, constitui um prova documental dessa inoperância, que significa perdas de vidas e de empregos.
Valor Econômico
Alta do dólar reflete a má situação fiscal do país
O Brasil deve perder o bonde da ampla liquidez global, deixando de atrair preciosos investimentos estrangeiros
O dólar chegou a R$ 5,48 na sexta-feira, depois de uma alta acumulada de 2,2% na semana passada. Pesou o clima ruim nos mercados internacionais, com maior aversão a risco e o rebaixamento das perspectivas de crescimento mundial, sobretudo na Europa. Mas não se engane: o dólar caro reflete, sobretudo, as nossas dificuldades para lidar com questões domésticas, na resposta à pandemia, na política fiscal e na agenda de reformas para ampliar a produtividade da economia.
Uma evidência de como o Brasil está descolado das boas notícias vindas de fora é que, na quarta-feira, o mercado acionário americano teve a maior alta num dia de posse de um presidente americano desde Ronald Reagan – mas, por aqui, a Bolsa registou queda. O pico de 125 mil pontos do Ibovespa ficou para trás e, no fechamento da semana, o índice ficou em 117 mil pontos.
A chamada onda azul, com a eleição de Joe Biden com um Congresso democrata, vem apoiando o preço das commodities desde o fim do ano passado. Entretanto, o real, uma moeda cuja força está historicamente relacionada às commodities, deu vários sinais de fraqueza. Reage pouco aos eventos positivos e, quando o mundo tem más notícias, está entre as que mais perdem valor ante a moeda americana.
Há algumas explicações técnicas para o real fraco. Uma delas é uma nova regra, criada por iniciativa do Banco Central, que isenta os bancos de proteger de forma exagerada os seus investimentos fora do país – o chamado “overhedge”. Esse sistema obrigava as instituições financeiras a manterem um excesso de posição vendida em câmbio de US$ 50 bilhões. No ano passado, os bancos compraram US$ 35 bilhões para desfazer parte dessa posição, pressionando a taxa de câmbio.
Outra justificativa é o corte dos juros básicos. O Banco Central baixou a Selic a apenas 2% ao ano para estimular a economia e impedir que a inflação caísse muito abaixo da meta. Um dos canais esperados de transmissão da política monetária é justamente a taxa de câmbio. Juros mais baixos dentro do Brasil – hoje estão negativos – desestimulam o ingresso de investimentos estrangeiros em renda fixa e incentivam brasileiros a aplicar no exterior.
Olhando adiante, porém, esses dois fatores devem pesar menos na desvalorização do real. O estoque de “overhedge” é finito e, hoje, há menos posições a serem desfeitas pelos bancos. Sobre a taxa básica de juros, o mercado precifica um início de aperto. Os juros futuros mais altos já deveriam começar a atrair capitais estrangeiros, ou pelo menos dissuadir investidores a retirar recursos que estão aplicados dentro do país.
De fato, o ambiente mais geral é bastante favorável ao fortalecimento do real. Não apenas pela alta das commodities. O governo americano está promovendo uma expansão fiscal sem que o Federal Reserve (Fed) se mova para retirar os extraordinários estímulos à economia. O Banco Central Europeu (BCE) também joga dinheiro na economia para afastar o risco de deflação. Com a ampla liquidez internacional injetadas pelos BCs e a perspectiva de alta de juros domésticos, os custos das captações de empresas brasileiras no exterior ficam relativamente mais competitivas.
Os fundamentos externos do Brasil também são favoráveis. O déficit em conta corrente está em apenas 0,82% do Produto Interno Bruto (PIB). É bem abaixo dos níveis considerados sustentáveis, na casa dos 3% do PIB. O normal é um país emergente, carente de poupança doméstica e cheio de oportunidades, atrair uma parcela maior de recursos estrangeiros para bancar os seus investimentos. As reservas internacionais estão em confortáveis US$ 354,8 bilhões.
A dinâmica do câmbio, porém, está em boa medida sendo determinada pela fragilidade fiscal do país. O Brasil se descolou dos bons ventos do exterior justamente no momento em que foi exposto o precário planejamento do governo para fazer a vacinação da população conta a covid-19. A economia ameaça um novo mergulho recessivo no primeiro trimestre, aumentando a pressão para novos gastos fiscais.
Há outros problemas estruturais. A agenda de reformas que poderia aumentar a produtividade e o crescimento de longo prazo da economia também parece estar perdendo a prioridade para a pandemia. Com isso, o Brasil deve perder o bonde da ampla liquidez global, deixando de atrair preciosos investimentos estrangeiros.