MANCHETES DA CAPA
O Globo
Mudança histórica: ‘A democracia prevaleceu’
EUA de volta à OMS e ao Acordo de Paris
Meio ambiente pauta relação com Brasil
Trump sai com rastro de danos às instituições
Criticado por atraso de vacina, Bolsonaro pressiona auxiliares
Setor privado faz campanha para incentivar a vacinação
Fura-filas e apadrinhamento político marcam imunização
O Estado de S. Paulo
A posse de Biden nos EUA: ‘A democracia prevaleceu’
Bolsonaro envia carta ao presidente e fala em ‘parceria’
App da Saúde indica cloroquina a bebês
Butantan não tem mais insumo para produzir vacina
BC mantém juro em 2%, mas sinaliza alta
Aras fala em ‘estado de defesa’ e Poderes reagem
Folha de S. Paulo
Em posse, Biden exorta democracia e valor da verdade sobre mentiras
Ernesto terá de mudar, diz deputado evangélico alinhado a Bolsonaro
Trump perdoa Bannon no último dia e fala em ‘voltar de algum jeito’
Disparidade regional agrava mortalidade, aponta estudo
BC abandona compromisso de não subir juros
Folha fecha década como maior jornal em assinantes
Falta de resposta à imprensa se torna padrão do Planalto
Subprocuradores dizem caber à PGR apurar presidente
Bolsonaaro tenta falar com Xi para liberar insumos de vacina
Jack Ma, o homem mais rico da China, reaparece após 3 meses
Valor Econômico
Joe Biden prega união e reverte ações de Trump
‘Não há vacina para todos em 2021’
Novata na bolsa, Aeris negocia contrato de R$ 2,5 bi
BC retira ‘trava’ de alta do juro
Desde o IPO, há 2 meses, Enjoei já subiu 57%
EDITORIAIS
O Globo
Congresso deveria voltar a fazer votação presencial
Respeitados os protocolos sanitários,eleições na Câmara e no Senado se tornariam marco da volta ao Parlamento
Na disputa entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) pela presidência da Câmara, é inexorável que qualquer definição sobre as regras da eleição seja interpretada pelo ângulo dos interesses políticos. Foi acertada, em que pese isso, a decisão tomada pela Mesa da Casa, por quatro votos a três, que tornou presencial a sessão que escolherá o substituto de Rodrigo Maia (DEM-RJ). A votação para a escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado deveria ser o marco da volta dos parlamentares ao Congresso.
É compreensível que a pandemia tenha transformado as sessões plenárias em virtuais. O susto foi mundial, e os Legislativos tiveram que se adaptar. Por sorte, a tecnologia permitiu votações à distância. Mas o convívio com o novo coronavírus trouxe um aprendizado sobre medidas sanitárias, que permitiu a vários países retomar a presença dos parlamentares. Não é difícil entender o motivo. Como o próprio nome sugere, o trabalho de um Parlamento é parlamentar, quer dizer, promover discussões, atividade que perde força e agilidade se feita à distância.
A Assembleia Nacional da França mantém sessões presenciais, cumprindo os protocolos sanitários. Em Londres, a Câmara dos Comuns funciona com a presença dos parlamentares, embora o recrudescimento da pandemia tenha levado o Parlamento a estudar limitações à circulação e a estabelecer sessões virtuais nas comissões. Nos Estados Unidos, cada estado tem uma regra. No Congresso, Câmara e Senado não estão fechados. Os mais de 500 congressistas que tomaram posse em janeiro realizaram intensos debates presenciais sobre o novo impeachment de Trump. Será assim nas discussões sobre as primeiras propostas de Joe Biden. Não há, nos Estados Unidos, base legal para o voto à distância.
Derrotado na decisão da Mesa sobre o voto presencial, Maia defendeu em entrevista à GloboNews o sistema brasileiro: votações remotas, com exceção das comissões, a depender da pauta. Seu argumento é o risco criado pelos 3 mil a 4 mil servidores circulando pelo Congresso. Ora, é um argumento frágil. Afinal, para que tanto assessor? A alternativa óbvia é deixá-los em home office e abrir espaço para a circulação em segurança de deputados e senadores. A Assembleia francesa e o Parlamento holandês pedem aos parlamentares que mobilizem apenas assessores imprescindíveis. Os demais trabalham de casa. Outro argumento de Maia, a dificuldade de circulação de ar, poderia ser facilmente contornado numa cidade com tanto espaço aberto quanto Brasília.
Não que seja impossível combinar sessões virtuais e presenciais, como tentam fazer britânicos ou argentinos. Mas o critério mais razoável é manter a presença nas votações decisivas, não nas comissões. O Congresso deveria aproveitar as eleições à presidência das duas Casas para retomar o trabalho parlamentar como ele deve ser: cara a cara. Desde que, obviamente, todos usem máscaras, mantenham a distância protocolar e um tom de voz moderado.
O Estado de S. Paulo
A alternativa a Bolsonaro
O mais inepto presidente da história só se segura porque não foram reunidas condições políticas para afastamento constitucional.
Está claro para um número cada vez maior de cidadãos que Jair Bolsonaro não reúne mais condições de continuar na Presidência e que sua permanência no poder põe em risco a vida de incontáveis brasileiros em meio à pandemia de covid-19, em razão de sua ignominiosa condução da crise. O mais inepto presidente da história pátria só se segura no cargo, do qual jamais esteve à altura, porque ainda não foram reunidas as condições políticas para seu afastamento constitucional.
Essas condições políticas dependem majoritariamente de um entendimento não em relação aos muitos crimes de responsabilidade que Bolsonaro já cometeu, hoje mais que suficientes para um robusto processo de impeachment, e sim em relação ao projeto de país que se pretende articular para substituir o populismo raivoso do bolsonarismo.
Nunca é demais lembrar que o bolsonarismo só triunfou na campanha presidencial de 2018 porque as forças de centro não foram capazes de apresentar uma alternativa eleitoralmente poderosa ao PT, enquanto Jair Bolsonaro falava abertamente em “fuzilar” petistas. Depois de tantos anos de empulhação lulopetista, marcados por corrupção, arrogância e incompetência, o eleitorado se deixou seduzir pela “autenticidade” de Bolsonaro, que espertamente se apresentou como o único capaz de derrotar Lula da Silva e impedir a volta do PT ao poder.
Faltou aos partidos tradicionais compreender as aflições de milhões de brasileiros frustrados com a falta de perspectiva de crescimento pessoal e indignados com tantas promessas descumpridas pelos políticos, em especial depois da passagem pelo poder dos mercadores de ilusão liderados pelo demiurgo de Garanhuns. Historicamente, esses cidadãos formam a clientela preferencial dos populistas, com suas soluções fáceis e radicais – muitas vezes em detrimento dos pilares institucionais que sustentam a democracia.
Assim, a tarefa dos partidos genuinamente interessados na manutenção da democracia e na criação de condições para o crescimento sustentado do País é muito mais complexa: a política tradicional deve ser capaz de convencer os eleitores de que é preciso fazer sacrifícios para que haja desenvolvimento e, sobretudo, de que não se alcançam soluções reais para os problemas, dos mais comezinhos aos mais graves, fora da concertação política proporcionada pelo debate público legitimado pelas instituições democráticas. Ou seja, a negação do bolsonarismo.
Não será nada fácil – especialmente tendo em vista a qualidade sofrível de muitas das atuais lideranças políticas –, mas a crise brasileira não admite acomodação ou discursos vazios. Não basta ir às redes sociais para atacar Bolsonaro e cobrar o impeachment; é preciso construir um discurso político forte o bastante para reduzir a clientela do presidente e oferecer uma alternativa concreta aos desencantados que ele cooptou.
Como disse em entrevista ao Estado o cientista político alemão Jan-Werner Müller, autor do livro O que é populismo?, “não é suficiente dizer ‘não somos Trump’ ou algum outro autoritário”, em referência ao ex-presidente norte-americano Donald Trump e seus discípulos, como Jair Bolsonaro. “É preciso oferecer uma visão positiva que responda aos problemas reais das pessoas.”
Além disso, enfatizou Müller, as elites “precisam ter a coragem de romper com os populistas”. As elites a que se refere o estudioso alemão são aquelas que, voltadas exclusivamente para seus interesses privados, emprestam seu peso socioeconômico a um governo que, a título de salvar o Brasil do comunismo e do lulopetismo, se notabiliza pela indecência e pela irresponsabilidade.
Ao mesmo tempo, é preciso reformar o que Müller chama de “infraestrutura crítica da democracia”, especialmente o sistema político, para torná-lo mais representativo do conjunto dos cidadãos, e valorizar a informação de qualidade contra a usina de patranhas disseminadas por redes sociais. Sem isso, eleitores continuarão a se encantar com a mendacidade patológica de Bolsonaro, dando sobrevida política a quem já deveria ter sido banido da vida pública há muito tempo.
Folha de S. Paulo
Araújo, o estorvo
Com pandemia e sem Trump, saída do chanceler é necessária, embora não suficiente
O chanceler Ernesto Araújo parece ter sido agraciado com o dom da profecia. Em outubro, ao discursar numa cerimônia de formatura de diplomatas no Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores admitiu que o Brasil poderia se tornar um “pária internacional”.
No tortuoso raciocínio do chanceler, isso seria positivo, pois ocorreria como resultado da defesa intransigente que o país faz da liberdade contra o globalismo.
No mundo real, o Brasil de fato virou pária, mas por causa da incompetência do governo, notadamente a do Itamaraty, que, contrariando uma longa tradição de diplomacia profissional e voltada para objetivos estratégicos, virou uma caixa de ressonância dos piores desvarios ideológicos do presidente Jair Bolsonaro e de sua família.
Essa decadência poderia ter sido apenas lamentável, mas agora é também trágica, porque, em meio à pandemia e à intensa competição de países por recursos médicos escassos, a diplomacia se converte em peça-chave para que se obtenham vacinas e outros insumos. Basicamente, não poderia haver momento pior para ser um pária.
Não bastasse o erro estratégico do isolamento, o Itamaraty segue falhando nas decisões pontuais.
Quando se fala em insumos médicos, dois países são os mais relevantes —China e Índia. É dessas duas nações que o Brasil agora depende para conseguir os imunizantes e outros produtos que nos permitirão superar a epidemia.
Temos contratos de fornecimento já firmados, mas que dependem de uma certa boa vontade das autoridades locais para que as remessas sejam despachadas sem delongas.
A família Bolsonaro passou os últimos meses antagonizando Pequim e responsabilizando os chineses pelo novo coronavírus. O ministro Araújo, em vez de tentar relativizar declarações inconsequentes de políticos, fez coro a elas. Obviamente, tornou-se carta fora do baralho na relação com o principal parceiro comercial do Brasil.
Existem canais de comunicação alternativos, que passam pela Vice-Presidência, pelo Ministério da Agricultura e até pelo estado de São Paulo. Mas não poder contar com o Itamaraty significa que o chanceler se tornou um ônus.
Essa condição de estorvo se faz ainda mais evidente com a saída de Donald Trump da Casa Branca. Nesse cenário, remover Araújo decerto não basta para reposicionar a diplomacia do país; trata-se, porém, de medida imprescindível.
Valor Econômico
Economia pode ter contração no primeiro trimestre
Maior disponibilidade de vacinas e competência em sua distribuição e aplicação podem mudar este quadro
A vacinação contra a covid-19 vai ditar o grau de recuperação da economia, assim como a duração e extensão da segunda onda da pandemia, que afeta mais de uma dezena de Estados nos quais o contágio está em progressão acelerada. As vacinas irão atrasar devido a problemas na entrega dos insumos ativos para sua confecção – no caso da Fiocruz, que produzirá o imunizante das AstraZeneca -Oxford, elas só estarão disponíveis a partir de março. Esses são mais alguns indícios de que o primeiro trimestre poderá terminar com um recuo na economia, que deverá ser compensado por uma aceleração a partir daí, se a aplicação das vacinas deslanchar.
Os índices de desempenho divulgados até novembro refletem uma perda de fôlego do ritmo de recuperação, até certo ponto previsível. A recuperação tem um formato de V, mas minúsculo, já que apenas em 2022 a economia voltará ao nível de crescimento que apresentava antes da pandemia. Os dados confirmam este arrefecimento. O mais recente deles, o IBC-Br, uma prévia do PIB, teve desaceleração, para 0,59%. No ano, há queda de 4,63%. Com a expansão esperada em dezembro, o país terminará com um recuo entre 4% e 4,5%. Foi o país latino-americano com as menores perdas causadas pelo coronavírus.
Apesar disso, mesmo retornar ao nível indigente de crescimento de antes da pandemia pode demandar esforço. O recrudescimento da pandemia, um novo cerco (moderado) à mobilidade, o fim do auxílio emergencial, que despejou R$ 361 bilhões na economia em 2020 e aumento do desemprego devem conter a recuperação no primeiro trimestre.
A redução do auxílio, de R$ 600 para R$ 300, teve alguma influência. As vendas no varejo apontaram estabilidade em novembro (-0,1%), após seis altas mensais consecutivas. A média móvel trimestral avançou 1,2%, mas também mostrou perda de fôlego.
O consumo impulsionado pelo auxílio de R$ 600 parece dar sinais de esgotamento. Menos dinheiro e mais inflação diminuíram as vendas de hipermercados, supermercados, alimentos e bebidas (-2,2%), setor que concentra boa fatia dos gastos das pessoas contempladas com o benefício. Chama a atenção ainda, no caso do varejo ampliado, a contração do setor de material de construção (-0,8%). Ainda assim, a expansão no ano foi de 10%.
O varejo é um segmento de peso no setor de serviços, que compõem mais de dois terços do PIB. Ele foi o mais duramente atingido pelo distanciamento e as restrições à mobilidade impostas pelo combate à pandemia. Apesar da expansão de 2,6% em novembro e de 19,2% em seis meses, continuará oscilando ao sabor da covid-19, e pode interromper a recuperação em breve. Com a reação, o acumulado do ano ainda apresenta uma queda de 8,2% e o resultado em 12 meses findos em novembro é um recuo de 7,4%, o maior desde dezembro de 2012.
A parte dos serviços movidos à renda dificilmente terá uma performance brilhante nos próximos meses, ou capaz pelo menos de fechar a distância do nível alcançado antes da covid-19 chegar ao país. Falta um avanço de 5,4% para que os serviços de transportes cheguem lá. O hiato para os serviços às famílias é muito maior, de 34,2%. Apenas os serviços de informação e comunicação e o de outros serviços (com destaque para serviços financeiros auxiliares) deixaram para trás o forte baque dos primeiros meses de pandemia.
A conjunção de fim do auxílio e alta dos contágios na segunda onda levou a uma gradual revisão suave para baixo das expectativas de crescimento do PIB em 2021. Entretanto, superam em pouco a expansão esperada decorrente do carregamento estatístico, de 3% a 3,5%. A consultoria Oxford Economics, por exemplo, prevê avanço de 1,7% do PIB no quarto trimestre, e uma contração da economia neste primeiro trimestre do ano. Mesmo assim, projeta um PIB 3,8% maior em 2021, perspectiva mais otimista que a mediana de 3,45% agregada pelo boletim Focus, do Banco Central.
Sem um claro alívio no front econômico, e no sufoco no campo sanitário, haverá pressões políticas pela renovação do auxílio emergencial, assunto que parece ter entrado de vez na disputa pelo comando da Câmara e do Senado. E, com aumento do desemprego e a economia fraca, o BC terá motivos para retardar a elevação dos juros. Maior disponibilidade de vacinas e competência em sua distribuição e aplicação – ambas em falta – poderão mudar bastante este quadro, para melhor.