Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (01/12/2020)

MANCHETES

O Globo

Cientistas alertam para risco de colapso na Saúde
Paes anuncia Pedro Paulo e Calero em secretarias
Apenas 17% dos parlamentares candidatos foram eleitos
Congresso deixa discussão das pautas econômicas para 2021
Apelo a Maradona ajuda a dimunir tensão entre vizinhos
Desmate na Amazônia aumenta 9,5% e o maior desde 2008
Empresas médias investem R$ 10 bi em áreas vendidas pela Petrobras
Dívida pública cresce pelo 10º mês e chega a 90,7% do PIB
Biden terá equipe de perfil progressista na Economia

O Estado de S. Paulo

SP restringe atividades; 15 de 22 regiões têm contágio acelerado
Rússia iniciará vacinação
Governo busca brecha na lei para barrar Huawei no 5G
Protesto na Vila Madalena
DEM se divide entre apoio a Doria e Huck
Alzheimer – Remédio pode chegar ao Brasil em 2022
Mansueto Almeida – ‘Só aumentar gasto não resolve pobreza’
Desmatamento na Amazônia é o maior em 12 anos
Brasil se despede de missões de paz da ONU após 21 anos
Novo Fittipaldi na Fórmula 1

Folha de S. Paulo

Doria aperta restrições de SP um dia após Covas se eleger
Comerciantes paulistas ficam apreensivos com recuo perto do Natal
Rússia diz que começou a vacinação em hospital próximo de Moscou
Desmate na Amazônia volta a bater recorde
Moro é contratado por consultoria ligada à Odebrecht
Brasil e Argentina deixam diferenças de lado em reunião
Um ano depois, famílias de vítimas de Paraisópolis ainda esperam fim de invetigações
Correlação de forças muda e influenciará disputa em 2022
Guilherme Boulos – Vou atuar para que a esquerda se una
Covas quer mais espaço para vice, negros e mulheres
PT discute Lula e admite erros, mas afirma que nem tudo é sua culpa
‘Não votos’ na capital paulista superam Covas no segundo turno
Jovem, negra, evangélica e conservadora é eleita prefeita em Bauru
Disputa virulenta entre primos no Recife agrava divisão de partidos

Valor Econômico

Corrente do bem contra a covid-19 atinge R$ 6,4 bi
SP restringe os horários do comércio
Liberty leva prêmio por gestão de RH
Auxílio menor faz baixa renda buscar crédito
Bolsa sobe 16%, mas risco fiscal preocupa
Desconfiança afastou milhões das eleições
Retomada da indústria é desigual

EDITORIAIS

O Globo

É preciso combater a desinformação bolsonarista sobre o voto eletrônico

Bolsonaro não quer melhorar um sistema excelente. Como Trump, quer semear discórdia sobre a democracia

As eleições de domingo deram ao presidente Jair Bolsonaro um novo pretexto para atacar as urnas eletrônicas. Deputados bolsonaristas usaram redes sociais — sem nenhum alerta de alegações fraudulentas — para continuar a propagar acusações falsas, sem nenhuma prova, contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A verdade é que, ao longo de mais de duas décadas, jamais houve evidência de fraude. Ao contrário. Depois de um percalço que provocou atraso no primeiro turno, a divulgação quase imediata dos resultados do segundo levou observadores internacionais a louvar o sistema de votação e apuração brasileiro como o melhor das Américas.

A inspiração óbvia para as diatribes de Bolsonaro é Donald Trump, que até hoje não aceitou a derrota para o democrata Joe Biden. Lá como cá, o ataque aos sistemas de votação é, na essência, um ataque à democracia. Líderes de inclinações autoritárias como Trump e Bolsonaro testam as instituições, na tentativa de gerar uma confusão que lhes permita ampliar seus poderes em caso de derrota. Se colar, colou.

Nos Estados Unidos, não colou. As lorotas trumpistas estão restritas a veículos militantes e políticos que atrelaram suas carreiras ao “mentiroso-em-chefe”. Por aqui, Bolsonaro parece preparar o terreno para uma eventual derrota em 2022. Só que levamos enorme vantagem sobre os americanos, já que nosso sistema é mais ágil, mais confiável, e sua segurança vem sendo comprovada por auditorias e eleições sucessivas. Não dá espaço a devaneios.

Ainda assim, como afirmou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, “não há remédio na farmacologia jurídica” para quem continua a crer em teorias da conspiração. Os ataques recentes a sistemas do TSE — cuja investigação avança — nem chegaram a atingir as urnas, que não são conectadas à rede pública. Pode-se argumentar que, num mundo ideal, um rastro impresso para cada voto seria desejável, por permitir auditoria posterior se pairarem suspeitas. Mas todas as urnas eletrônicas já deixam um rastro em papel auditável, o boletim de urna, que qualquer fiscal partidário pode conferir. E a votação impressa foi rechaçada pelo Supremo, por custar R$ 2,5 bilhões e colocar em risco o sigilo do voto.

Ainda que uma ou outra urna possa falhar, nunca houve prova de fraude, muito menos em massa como insinua Bolsonaro. Claro que, ao imprecar contra as urnas eletrônicas, o objetivo dele não é aperfeiçoar um sistema de apuração já excelente. Bolsonaro não quer mais segurança. Quer apenas, como Trump, semear a discórdia. Quer disseminar a dúvida sobre a integridade da nossa democracia. É preciso cortar esse tipo de desinformação pela raiz, para evitarmos que o Brasil repita em 2022 a pantomima trumpista de 2020.

O Estado de S. Paulo

Um novo e positivo cenário

Ao rechaçar extremismos ideológicos e optar por candidaturas de centro, o eleitor deu uma eloquente manifestação de confiança na política

O resultado das eleições de 2020 sinaliza uma mudança significativa do eleitorado em relação às escolhas feitas em 2018. Ao rechaçar extremismos ideológicos e optar por candidaturas de centro, o eleitor deu uma eloquente manifestação de confiança na política. Naturalmente, é ainda muito cedo para traçar prognósticos para o cenário eleitoral de 2022 ou para listar os principais candidatos da próxima disputa presidencial. A importância do pleito de 2020 não reside em suas eventuais consequências sobre as eleições de 2022. Tanto no primeiro turno como no segundo, o que se destacou – e é extremamente positivo para a democracia – foi a maturidade do eleitor.

O resultado das eleições de 2020 revela, de forma contundente, um eleitor capaz de repensar escolhas políticas feitas em um passado recente, em especial, as propostas do bolsonarismo e as do lulopetismo. O eleitorado mostrou-se inclinado a superar a visão da política como terra arrasada pela corrupção, que, de tão difundida por integrantes da Lava Jato, chegou a ganhar nome correspondente: o lavajatismo.

Aos que anunciaram, depois das eleições de 2018, a morte da chamada política tradicional, o pleito deste ano mostrou que velhos partidos políticos podem ainda ter especial força e representação. Quando são capazes de apresentar candidatos e propostas consistentes, legendas há muito conhecidas continuam tendo apelo entre os eleitores. Basta ver que os cinco maiores partidos, em porcentual do eleitorado governado por seus prefeitos, foram PSDB, MDB, DEM, PSD e Progressistas (ex-PP).

O PSDB elegeu 533 prefeitos, que governarão cerca de 17% do eleitorado a partir de 2021. Em seguida está o MDB, cujos prefeitos eleitos governarão cerca de 13% da população. Além de ser campeã em número de prefeituras conquistadas (803 ao todo), a legenda conquistou neste ano cinco capitais: Porto Alegre, Goiânia, Teresina, Boa Vista e Cuiabá.

Outro destaque das eleições de 2020 foi o DEM, partido com maior crescimento em número de prefeitos eleitos. Em 2016, conquistou 277 prefeituras. Agora, foram 476, a representar cerca de 12% do eleitorado. A principal vitória do antigo PFL ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. No segundo turno, o ex-prefeito Eduardo Paes ganhou do prefeito Marcelo Crivella, que tentava a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro. O DEM ganhou ainda as prefeituras de Salvador, Curitiba e Florianópolis.

O PSD e Progressistas também cresceram nas eleições deste ano. Junto ao DEM, os três partidos devem governar quase um terço do eleitorado (32%). Em 2016, as prefeituras conquistadas pelas três legendas representavam cerca de 17% do eleitorado.

Esses resultados contrastam com os números do bolsonarismo e do lulopetismo. Ao longo da campanha eleitoral, o presidente Bolsonaro pediu voto para 16 candidatos a prefeito. Apenas quatro se elegeram – Tião Bocalom em Rio Branco (AC), Roberto Naves em Anápolis (GO), Gustavo Nunes em Ipatinga (MG) e Mão Santa em Parnaíba (PI). O PSL elegeu 92 prefeitos (1,3% do eleitorado).

Além da rejeição ao bolsonarismo, houve também o inédito sumiço do PT na gestão das capitais. A partir do ano que vem, nenhuma das 27 capitais do País será governada por um prefeito petista, fato que nunca tinha ocorrido desde a redemocratização. Nos próximos quatro anos, os prefeitos eleitos do PT deverão governar cerca de 3% do eleitorado. Trata-se de uma situação muito diferente da que se viu anos atrás. Nas eleições de 2012, por exemplo, o partido de Lula foi o campeão no ranking de prefeitos por porcentual de eleitorado, com mais de 19%.

As eleições de 2020 confirmam, assim, que para superar um extremismo ideológico não é preciso inventar outro extremo. Não é necessário o bolsonarismo para vencer o lulopetismo ou vice-versa. A política pode e deve oferecer outras soluções, mais viáveis e mais responsáveis. E, como se viu nos resultados dos dois turnos, o eleitor está atento a essas outras opções. Há amplo espaço para a política.

Folha de S. Paulo

Esquerda derrotada

Apesar de novidades como Boulos, centro e direita não bolsonarista prevaleceram

O PT perdeu menos prefeituras que o PSDB e quase tantas quanto o MDB, em termos proporcionais. Entretanto o encolhimento petista se mostra o mais notável entre os partidos tradicionais, e não apenas em razão dos números.

A fria estatística, de todo modo, evidencia um desempenho muito fraco para uma legenda que desde 1989 disputa os segundos turnos das disputas presidenciais.

O PT não elegeu prefeito nas capitais, fato inédito desde 1985. Tanto em quantidade de municípios quanto em população governada, a sigla ocupa agora o vexatório 11º lugar no ranking nacional.

Em termos simbólicos, o desempenho não foi melhor. Em São Paulo, onde costumava ocupar posição central, ficou muito longe do segundo turno. Sua candidata de maior relevo, Marília Arraes, no Recife, sempre foi tratada como corpo estranho no petismo.

Na falta de novidades no partido dominado pela figura centralizadora de Luiz Inácio Lula da Silva, o eleitorado propenso a votar na esquerda parece ter decidido renovar por conta própria as lideranças nesse campo político.

Apesar da força de novos nomes como Guilherme Boulos (PSOL), de Manuela D’Ávila (PC do B), e da vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém, a esquerda em geral foi derrotada. De menos desfavorável, o PDT de Ciro Gomes perdeu poucas prefeituras e conquistou duas capitais, Aracaju e Fortaleza.

Quanto ao mais, os partidos que cresceram foram os do centrão, PSD e PP em especial, e o DEM. Apesar do declínio, o PSDB manteve força considerável.

Embora o centrão ora esteja em boa parte aliado a Jair Bolsonaro, o presidente também foi derrotado. Candidatos em cidades importantes fugiam da associação com a pauta ideológica bolsonarista. Tampouco houve vitória relevante de outsiders e populistas.

Isso não quer dizer, necessariamente, que a antipolítica esteja morta, menos ainda a esquerda ou o presidente. Trata-se de uma eleição municipal, com questões específicas e locais, disputada no momento peculiar da pandemia.

Notaram-se, entretanto, sinais de que a população parece cansado da estridência que emergiu em 2018 com Bolsonaro e nomes como Wilson Witzel, eleito governador do Rio —e farto de seus fracassos ou escândalos administrativos.

Por vezes de modo significativo, parte considerável dos votantes pareceu buscar alternativas, mesmo na esquerda derrotada. Ainda assim, na dúvida e na falta de maiores novidades, o eleitor na média preferiu ser conservador.

Valor Econômico

Centro-direita deve dar o tom das próximas eleições

Bolsonaro ainda acha que seu principal inimigo será o PT. Pode estar enganado

Mal contados os votos, o prefeito Bruno Covas, que comandará por mais 4 anos a maior cidade do país, comemorou: “Restam poucos dias para o negacionismo e o obscurantismo”. Covas disse o que não fez durante a campanha, nacionalizar a disputa, mas sugeriu que a corrida para o Palácio do Planalto foi aberta. A distribuição das forças políticas nas eleições municipais é um dado significativo para desenhar alguns roteiros possíveis até outubro de 2022.

Eleições presidenciais trazem outras motivações para o voto, mas os eleitores estarão sob alguma influência dos agora prefeitos e da boa ou má gestão que fizerem até lá. A julgar pelos resultados das urnas, dificilmente os ventos soprarão a favor da esquerda. Houve um avanço expressivo dos partidos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro e que poderão acompanhá-lo na busca da reeleição. Mas a definição dos vencedores nas 95 maiores cidades trouxe nuances importantes. Os vencedores nos centros urbanos, que dão molde às opções políticas, foram PSDB, MDB e DEM. Juntos, governarão 45 milhões de pessoas, do universo de 88 milhões que somam este grupo de municípios – a metade do eleitorado brasileiro.

A conta do número de prefeituras conquistadas fica em segundo plano porque iguala portes e influência política. Nesse cômputo, o PSDB é o que mais perdeu prefeituras (284), mas ainda é o que terá mais pessoas sob seus governos, 34,1 milhões. O MDB foi o segundo que mais perdeu, mas é ainda o líder em número de prefeituras e o segundo em população sob suas administrações – 26,1 milhões. Com o DEM, comandarão cidades com 84,6 milhões de pessoas, a metade do eleitorado.

Estas eleições desconcentraram o voto e é importante saber para onde migraram. O DEM foi o que mais cresceu, mas em seguida aparecem o PP, PSD (Kassab), Republicanos, Podemos, Avante, PSL e PL. Houve um impulso grande dos partidos do centrão, que venceram em 45% dos 5.570 municípios do país.

Dessa forma, do campo da centro-direita podem emergir dois concorrentes ao Planalto. PSDB, DEM e MDB participaram de frentes e seriam os participantes naturais de uma candidatura conjunta contra o continuísmo de Jair Bolsonaro que, no entanto, é apoiado pelo centrão. O destino de Bolsonaro dependerá de sua habilidade em conduzir bem a economia e fazer uma administração razoável até o fim do mandato para que se lance à reeleição com 20% a 25% de apoio na largada. Em dois anos de governo, Bolsonaro foi inábil e sua gestão, caótica e ineficiente.

Como a crise econômica não irá embora tão cedo, e uma segunda onda de covid-19 se aproxima, a inoperância do presidente pode em tese afastar até mesmo o centrão adesista, se constatarem ao longo do caminho que Bolsonaro perdeu a “perspectiva de poder”.

Na centro-direita tradicional, o PSDB está acostumado a encabeçar chapas e levar consigo o DEM, ex-PFL. O MDB, por seu lado, não tem o hábito de lançar chapa própria ou encabeçar alguma. Resta ainda a dúvida sobre o PSD de Gilberto Kassab, com seus 23,5 milhões de pessoas sob seus governos. Como ele “não é de direita, centro ou esquerda”, como definiu seu fundador, é possível especular que ele colocará pés em várias canoas e pulará depois para a melhor. O PSD apoia pautas de Bolsonaro e Kassab é membro licenciado do governo de João Doria, rival do presidente.

A esquerda encolheu – governará 11,34 milhões de pessoas. O PT foi desalojado das capitais – pela primeira vez desde 1985 – e ganhou só 4 cidades das 94 maiores. Em São Paulo teve a pior votação da sua história. O PCdoB declinou de 82 para 46 prefeituras. O PDT segurou-se em Fortaleza e Aracaju, e o PSB venceu em Recife, Maceió e Campo Grande.

A possibilidade de uma união da esquerda, vista no segundo turno de Guilherme Boulos (Psol), que arrancou 2,16 milhões de votos (40,6%), depende de uma improvável autocrítica do PT e de a legenda concordar em ceder a cabeça de chapa para outros grupos de esquerda. A influência de Lula após a prisão não impediu nova derrocada do partido nas urnas, mas foi grande para impedir frentes em busca da prefeitura paulistana.

Se o PT não mudar, há chance de mais de uma chapa de esquerda o que, com a eventual divisão na centro-direita, tornaria a passagem de Bolsonaro para o segundo turno provável. Bolsonaro ainda acha que seu principal inimigo será o PT. Pode estar enganado, assim como achou que não precisaria de um partido para nada. Precisa agora de vários, e o preço não será pequeno.

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