MANCHETES
O Globo
Vacina de Oxford é eficaz e pode chegar ao país em janeiro
Cirurgias eletivas suspensas no Rio
Guedes diz que Covid retrocedeu e descarta estender auxílio
Escolas reajustam mensalidade para 2021 acima da inflação
Marcelo Crivella – ‘Fiz bem menos do que gostaria porque herdei dívida colossal’
Polícia investiga racismo no assassinato de João Alberto
Grandes empresas firmam compromisso por equidade racial
BNDES planeja lançar edital de leilão da Cedae ainda este ano
Trump cede e libera informações para niciar transição
O Estado de S. Paulo
Vacina de Oxford é 90% eficaz; País pode imunizar 130 milhões
Trump ainda não admite derrota, mas autoriza transição de governo
Investigação de testes encalhados
SP tem R$ 130 bi a receber, mas pouca perspectiva
Ana Paula Vescovi – ‘Temos espaço para modernizar desenho de programas sociais’
Aliança pelo Brasil só tem 10% de assinaturas
Modelo acusa senador de estupro em flat em SP
Folha de S. Paulo
Boulos sobe a 45% e reduz vantagem de Covas, com 55%
Vacina de Oxford é até 90% eficaz, aponta teste
Com alta de casos, Einstein priorizará pacientes de SP
Beto foi ficando roxo, testemunha afirma em relato
Ações caem mais de 5% e Carrefour anuncia fundo antirracismo
Monica Benicio – Compromisso em 2022 é derrubar o bolsonarismo
Candidato em GO, intubado, ignora estar no 2ª turno
Taxa de ocupação é a menor em 28 anos na pandemia
Na periferia, ‘ou você come ou paga as contas’
Modelo acusa de estupro senador Irajá Silvestre Filho
Governo Trump autoriza transição com grupo de Biden
Valor Econômico
Governo recorre e posterga plano de vacinação anticovid
Yellen, ex-Fed, deve assumir o Tesouro
Entre jovens
Carrefour perde R$ 2,2 bi na bolsa após assassinato
O grande salto das maquininhas verdes
Totvs planeja expansão a novos setores
EDITORIAIS
O Globo
Perspectiva de vacina precisa ser aproveitada
Resultados dos testes de Oxford dão a Bolsonaro uma oportunidade para redimir parte de seus erros
Há luz no fim do ano. Se 2020 começou sob o espectro sombrio de uma nova doença, sobre a qual nada se sabia e que rapidamente se transformou na pandemia mais letal em um século, o ano termina com expectativas mais animadoras, ainda que sob os efeitos de uma nova onda de contágio da Covid-19.
As empresas Pfizer/BioNTech e Moderna anunciaram há poucos dias êxito nos testes finais de suas vacinas. Ontem foi a vez de a Universidade de Oxford trazer notícias boas sobre a vacina desenvolvida com a farmacêutica AstraZeneca, testada no Brasil em parceria com a Fiocruz. A chinesa Sinovac também prometeu para o início de dezembro os resultados de seus testes, parte deles a cargo do Instituto Butantan, de São Paulo.
Apesar de ainda persistirem dúvidas sobre a dosagem, a eficácia média verificada na última fase de testes da vacina da AstraZeneca/Oxford foi de 70%, superior ao patamar mínimo de 50% estipulado pelos cientistas para recomendar a aplicação. Se é notícia boa para o mundo todo, para o Brasil é melhor ainda. Foi essa a vacina em que o governo federal apostou todas as suas fichas — cegamente, diga-se. Pelos resultados divulgados, parece ter ganhado a aposta.
Em agosto, o Ministério da Saúde firmou um acordo de R$ 1,9 bilhão para a Fiocruz importar tecnologia e produzir a vacina numa fábrica que está sendo construída em Manguinhos, que deverá começar a operar em fevereiro. Levando em conta a aplicação de maior eficácia sugerida pelos testes (meia dose seguida de uma dose), a Fiocruz estima ser possível vacinar 65 milhões de brasileiros no primeiro semestre de 2021, outros 65 milhões no segundo semestre.
O resultado positivo é um motivo contundente para investir o que for necessário para acelerar a produção. Trata-se de uma vacina de custo baixo (inferior a US$ 3 a dose), fácil de fabricar e distribuir, pois pode ser armazenada em condições normais de refrigeração (entre 2° C e 8° C). Tais fatores facilitam a logística da vacinação num país continental. Outras vacinas certamente poderão fazer parte de um programa bem desenhado de imunização, que priorize os grupos mais expostos e sob maior risco, como profissionais de saúde, idosos, obesos, diabéticos ou hipertensos.
Um ponto de partida são os programas nacionais de vacinação já existentes há décadas. Os bons ventos que sopram da Ciência são também uma oportunidade para o presidente Jair Bolsonaro redimir ao menos parte da sucessão de erros que marcaram sua gestão da pandemia — e levaram o país à triste marca de 170 mil mortos, segunda maior do planeta. Com uma vacina 70% eficaz, seria necessário vacinar quase toda a população para o país ultrapassar o limiar de imunidade coletiva e garantir a erradicação do vírus. Daí a importância da vacinação obrigatória, proposta sempre rechaçada por Bolsonaro.
Por enquanto, por mais alvissareiras que sejam as notícias, nada muda em relação às precauções sanitárias para evitar o contágio. Ao contrário. Num momento em que a pandemia ensaia uma segunda onda no Brasil — o aumento na ocupação de leitos de UTI nos estados é evidente — , elas devem ser reforçadas. Qualquer vacina, incluindo a de Oxford, só deverá estar disponível no primeiro semestre do ano que vem — e só quem estiver vivo até lá poderá ser vacinado.
O Estado de S. Paulo
Insegurança inflacionária
A inflação estimada para o ano subiu pela 15.ª semana consecutiva, segundo a pesquisa ‘Focus’. É uma má notícia para os consumidores.
Pesadelo da maior parte das famílias, a inflação estimada para o ano subiu pela 15.ª semana consecutiva, segundo a pesquisa Focus, uma consulta feita pelo Banco Central (BC) junto a cerca de cem instituições do mercado financeiro. Em um mês a mediana das projeções para 2020 subiu de 2,99% para 3,45%. No mesmo intervalo a alta de preços calculada para o próximo ano passou de 3,10% para 3,40%. São más notícias para os consumidores, especialmente num período de pouco emprego, renda baixa e muita insegurança. Mas o quadro inclui pelo menos um aspecto positivo, ou menos sombrio. Se as expectativas se confirmarem, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), continuará abaixo da meta, de 4% neste ano e de 3,75% em 2021.
Com a inflação abaixo da meta, a taxa básica de juros, a Selic, deve ficar em 2% até o fim do ano, segundo a pesquisa Focus divulgada ontem. O superendividado Tesouro Nacional encerrará 2020 carregando juros excepcionalmente baixos. Para o fim de 2021 a projeção indica, no entanto, uma taxa de 3%, 0,25 ponto superior àquela estimada quatro semanas antes.
Essa projeção pode parecer estranha, à primeira vista. No Brasil, como na maior parte do mundo, os dirigentes dos bancos centrais têm-se mostrado dispostos a manter a política de juros baixos e crédito fácil por muito tempo, para dar espaço à recuperação dos negócios e do emprego.
No caso brasileiro, a orientação será mantida, segundo a autoridade monetária, enquanto duas condições forem observadas: 1) a expectativa de inflação deve permanecer compatível com a meta; 2) o Executivo deve manter o compromisso de condução responsável das contas públicas. Deste compromisso dependerá a evolução da dívida bruta.
Dúvidas sobre o compromisso com a responsabilidade fiscal continuam marcando o dia a dia do mercado. As preocupações aparecem na oscilação dos juros e, de modo mais sensível, na instabilidade cambial. O dólar tem estado mais barato do que até recentemente, mas sem sinal de acomodação. A cotação da moeda americana caiu, na manhã de ontem, mas em seguida subiu, depois de uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes. A fala, segundo fontes do setor financeiro, decepcionou quem esperava alguma indicação positiva sobre as condições fiscais em 2021.
A cobrança de sinais mais claros sobre a condução das finanças públicas tem sido feita, de modo muito diplomático, também pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Executivos do mercado financeiro também têm mostrado inquietação diante do cenário fiscal obscuro. O Orçamento federal do próximo ano continuava indefinido ontem. Não se sabia se a programação financeira do poder central para 2021 estará mais clara no fim de novembro.
A incerteza sobre as contas públicas pode afetar perigosamente as expectativas de inflação. A instabilidade cambial é uma das formas de transmissão da insegurança para os preços. O efeito inflacionário da alta do dólar tem sido facilmente observado. Mas o desajuste das contas fiscais pode afetar os preços de forma ainda mais desastrosa.
Um amplo desarranjo das finanças oficiais pode produzir, nos casos mais graves, a chamada dominância fiscal. Quando isso ocorre, o aperto da política monetária pelo BC deixa de funcionar como remédio para a inflação. Pior que isso: produz o efeito contrário.
Uma elevação de juros pode normalmente gerar duas consequências, a contenção de preços e o encarecimento da dívida pública. Em situações de dominância fiscal, a desconfiança crescente em relação à dívida afeta o fluxo de recursos, mexe no câmbio e realimenta a inflação. O aperto monetário deixa de funcionar como instrumento de ajuste e se converte em fator inflacionário, gerando uma situação descrita por alguns economistas como o pior dos mundos. Não há, até agora, dominância fiscal no Brasil. Mas sobram razões para o governo se comprometer claramente com a seriedade fiscal e com o controle da dívida, deixando em segundo plano os objetivos pessoais do presidente da República.
Folha de S. Paulo
Centrão expandido
Avanço de siglas do grupo dá sinal a Bolsonaro em 2022, mas arranjo é precário
Os sinais emitidos pelas urnas no primeiro turno das eleições municipais ainda estão sendo decodificados, mas uma constatação parece clara: o avanço das siglas do centrão fisiológico e seu entorno se deu num diapasão governista em espírito, por assim dizer.
Levantamento feito pela Folha mostrou, por exemplo, uma correlação direta entre um desempenho superior desses partidos em cidades que demandaram mais o auxílio emergencial da pandemia.
Nos 200 municípios com maior adesão à ajuda federal, Progressistas, Republicanos, PL, PSD e MDB angariaram 57% das vitórias. No conjunto das cidades brasileiras com eleição decidida em primeiro turno, o índice foi de 49%.
Com efeito, a esquerda, PT à frente, viu seu espaço sendo reduzido nesses locais mais necessitados.
Isso mostra o caráter governista de parte do voto brasileiro, reforçado neste pleito pelo índice de reeleições até aqui: 68% nas cidades que receberam mais auxílio, ante 63% no total dos municípios.
Isso não é exatamente uma boa notícia para Jair Bolsonaro.
O arranjo de poder montado em torno do presidente sugere mais a ação parasitária em relação ao poder dos partidos ligados ao Planalto —e aqui o MDB não se encaixa na definição precisa apesar de ter o líder do governo no Congresso— do que um mutualismo político.
A inexistência de uma agenda congressual do Planalto, que vê o ex-rei do centrão Rodrigo Maia (DEM-RJ) pautar o dia a dia na Câmara dos Deputados, exemplifica a falta de coordenação entre o governo e seus apoiadores nominais.
Com o apontado aumento da rejeição a Bolsonaro nas capitais, que sugere o que pode acontecer quando o auxílio acabar, e com o potencial recrudescimento da crise econômica, é plausível antever as siglas deixando os despojos que ora varejam para seu benefício.
Essa é uma chave para entender as chances de Bolsonaro na disputa da reeleição, em 2022.
Se atravessar o ano que vem de forma claudicante, cada vez mais amparado no binômio apoplexia pública e catatonia política, o centrão e suas adjacências tenderão a olhar para alternativas no que se convencionou chamar de centro e de centro-direita no país.
Mas se a economia não desandar e houver alguma racionalidade no esperado processo de saída da pandemia, hoje uma proposição algo panglossiana, Bolsonaro sempre terá consigo a máquina e seu poder de atração enquanto sacia o sistema político com migalhas.
Sob esse aspecto, as derrotas do presidente nos principais pleitos em que se envolveu parecem menos definitivas, embora revelem o humor de um eleitorado que, neste 2020, rejeitou o bolsonarismo.
Valor Econômico
É preciso um trabalho de longo fôlego contra o racismo
O assassinato de Freitas revela que parte do país deu mais um passo em direção à barbárie
O espancamento brutal, até a morte, de João Alberto Silveira Freitas, por dois seguranças de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, na véspera do Dia da Consciência Negra, diz tudo sobre o racismo à brasileira. É uma violência silenciosa, perene, prestes a explodir em episódios animalescos como o que ocorreu, mais uma vez, em um hipermercado do Carrefour. O assassinato de Freitas revela que parte do país deu mais um passo em direção à barbárie. Havia 15 pessoas presentes, e uma delas, fiscal da empresa, filmou impassível o desenrolar do crime. Já sem ação, o negro foi espancado por mais 4 minutos, até tirarem-lhe a vida. A impunidade de ataques a pretos e pobres é o manto de proteção para a ação violenta dos seguranças.
A atitude negligente do Carrefour, e de outros hipermercados, tornou o ato de ir às compras, para negros, uma atividade de alto risco, dada a boçalidade das pessoas pagas para manter “seguros” esses locais. A morte de Freitas em minutos foi associada a outros atos recentes de força bruta contra negros, até mesmo inválidos -jovens chicoteados, torturados com choque elétrico, espancamento com barras de ferro de animais. O tratamento que é dado aos negros, em relação a brancos, é diferenciado. A capacidade de reação legal do agredido é baixa e sujeita, na largada, ao descrédito. Quase sempre entra na delegacia já como suspeito, não como vítima.
Há um milhão de pessoas trabalhando em empresas de segurança, o equivalente a três vezes o efetivo das Forças Armadas do país. Um bom número é egresso das polícias militares ou civis e sua convivência com a força policial, pretérita ou presente, já configura um salvo conduto diante de atos aberrantes que eventualmente cometam. O Rio Grande do Sul, onde Freitas foi morto, é um inferno para negros, segundo as estatísticas policiais. Pelo Anuário de Segurança Pública, em 2018 foi o Estado onde latrocínios, homicídios e estupros diminuíram, menos as notificações de injúria racial, que somaram um quinto das 7.616 denúncias feitas formalmente em todo o país.
O Carrefour se vê diante da questão há anos, mas não teve êxito em evitar que o tratamento dado por homens pagos pela empresa a clientes seja mortal. Desta vez, além de funcionários do hipermercado presenciarem o ocorrido, uma outra funcionária aparece intimidando testemunhas do crime. Não parece haver sinais de uma “cultura” na empresa que trace uma linha vermelha do que é radicalmente proibido e inculque em todos os empregados a premissa de que todos os clientes devem ser tratados da mesma forma, com educação e respeito, não importa quanto dinheiro tenham no bolso.
Como sempre, uma ilegalidade nunca vem desacompanhada. O Carrefour contratou uma empresa que tem policiais na ativa como sócios, o que é vedado por lei – e não está sozinho nisto. Pela Constituição, PMs são proibidos de acumular cargos remunerados. O Grupo Vector presta serviços ao Extra (onde houve relatos de torturas em 2019), Atacadão e Walmart, entre outros clientes do comércio de varejo. O grupo é o responsável pela seleção, formação, treinamento e atos de seus funcionários.
A defesa de Giovane Gaspar da Silva, um dos seguranças presos pelo assassinato, seguiu o roteiro previsível – difamar a vítima. “Suspeita-se de que estava sob efeito de entorpecentes”, disse o advogado David Leal. Depois, um espancamento sem reação da vítima por 4 minutos não tinha, segundo ele, a intenção de matar. A defesa levantou ainda a hipótese de um ataque cardíaco, e não asfixia, como indica a análise inicial da perícia. Se não existisse um vídeo mostrando tudo, essas lorotas teriam chance de prosperar.
Os números não deixam dúvida sobre o racismo que permeia o assassinato de Freitas e muitos outros. Três quartos das mortes violentas no país têm negros como vítimas, apesar de somarem 56% da população. Dois terços dos detentos são negros, proporção idêntica à que povoa o exército de 12,7 milhões de desempregados. Só uma em cada três pessoas que concluem a faculdade é negra, e pouco mais de uma a cada dez as que exercem cargos de comando nas empresas.
O assassinato bárbaro de Freitas deveria galvanizar uma reação de empresas, Ministério Público, governadores, prefeitos e entidades da sociedade civil para um trabalho de longo fôlego contra o racismo. É importante concluir a dura tarefa apontada por Machado de Assis, um dos maiores escritores do país: “Emancipado o preto, resta emancipar o branco”.