Cidadania aponta ingerência política de Bolsonaro na Anvisa e quer explicações de Antonio Barra

Para Roberto Freire, ação federal contra Coronavac é política e pode atrasar programa de imunização contra Covid, único meio de controlar a pandemia e abrir a economia

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, classificou nesta terça-feira (10) de “criminosa” e “desumana” a comemoração do presidente Jair Bolsonaro da morte de um voluntário da Coronavac, vacina do laboratório chinês Sinovac que está na fase 3 de testes contra a Convid-19 no Estado de São Paulo. O caso foi de suicídio, sem relação com o imunizante, mas levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob influência política de Bolsonaro, avalia Freire, a suspender a pesquisa.

“Trata-se de ato vil do presidente e de Antonio Barra, seu indicado na Anvisa, pra sabotar o desenvolvimento da pesquisa. A ideia das agências reguladoras é afastar ingerência política em prol de decisões técnicas. Bolsonaro colocou lá um militar como ele, que topa atrasar uma vacina pra agradar o chefe. Nunca foram à guerra. Decidiram fazê-la contra os brasileiros: mais de 163 mil baixas e ele acha que ganhou”, apontou Freire.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apresentou requerimento para que Barra preste esclarecimentos ao Senado sobre a decisão da agência. O convite também é direcionado ao presidente Dimas Covas, do Instituto Butantan, que conduz os testes e deve produzir a vacina no Brasil, caso sua eficácia seja comprovada.

“Queremos tratar o tema com seriedade. Acabar com essa discussão infantil de piadinhas nas redes sociais”, explicou o senador à coluna Lauro Jardim, no jornal O Globo. 

A decisão de suspender o teste é precipitada e coloca em risco a imagem do Butantan, centro de pesquisas centenário e internacionalmente respeitado, além de lançar dúvidas sobre a única chance de controlar a pandemia, observou Freire. Daí porque as explicações são imprescindíveis não apenas para a saúde, mas também para a economia, sustentou.

“Bolsonaro quer, como sempre, despertar ódios e paixões e estimular a polarização. Por isso, a declaração absurda sobre a vacina. Repetindo: só a imunização impedirá mais mortes e o fechamento da economia novamente, seja por medo da própria população, seja por decisão dos governos”, analisou o presidente do Cidadania. “Torcer contra uma vacina os limites da baixeza humana”, completou.

O líder do Cidadania na Câmara, deputado Arnaldo Jardim (SP), também lamentou o episódio e censurou o comportamento do presidente.

“Inconsequente! É assim que classificamos a declaração do presidente, ao comemorar a suspensão pela Anvisa dos testes com a vacina. Além de desprezar a ciência, Bolsonaro se comporta de maneira antiética e desprezível”, protestou.

Aparelhamento

Assim como Freire, o vice-presidente nacional do partido, deputado Rubens Bueno (PR), alertou para a gravidade da ocupação política das agências reguladoras com apaniguados do bolsonarismo. Ele citou o caso do apagão no Amapá, há dias sem fornecimento regular de energia, e cobrou que as decisões tomadas por esses órgãos sejam técnicas.

“No Amapá temos a incompetência da escuridão e na vacina da Covid temos a clareza da situação. Nossas agências reguladoras estão sob forte suspeita de aparelhamento”, acusou. “No apagão demorou e na vacina foi ligeiro. Há de se apurar o motivo de tamanha discrepância”, acrescentou.

A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA),  recebeu com desconfiança a notícia da suspensão dos testes da Coronavac. E também condenou a reação do presidente comemorando a morte de um brasileiro.

“O mundo todo na expectativa por uma vacina. O Brasil em luto pelos mais de 163 mil mortos pela Covid-19 e o presidente Bolsonaro vem a público comemorar a suspensão feita pela Anvisa da fase 3 da Coronavac. Causa indignação a disputa política quando a prioridade é salvar vidas. Que absurdo”, publicou a parlamentar, em seu perfil no Twitter.

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