O amigo Rafael Parente sugeriu a excelente “Portinari of Brazil” (Portinari do Brasil), exposição que o artista plástico Candido Portinari, um dos grandes nomes da história, estreava há 80 anos no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, nos Estados Unidos. Em celebração à data, o Google Arts trouxe aquela experiência de volta, colocando à nossa disposição na rede a história daquele momento e obras como “Morro”, “Cena gaúcha” e “Jangadas do Nordeste”. Vale a visita neste link: Google Arts – Candido Portinari no MoMA.
A exposição me trouxe à memória um dos momentos marcantes da minha carreira política. Era 1978. Eu era candidato a deputado federal por Pernambuco e o grande Guri, Hugo Martins, meu companheiro de chapa como candidato a deputado estadual. Eu havia estado no Chile não tinha muito tempo. Lá, assisti às campanhas do Partido Comunista Chileno em que Salvador Allende, ainda antes de concorrer à presidência daquele país, participava.
Os chilenos formavam, para a disputa, o que chamavam de brigadas, reunindo artistas de diversas áreas. Pintavam muros, faziam shows e instalações em apoio a causas e candidatos. Inclusive uma família de artistas famosos ligada à esquerda tinha o seu próprio grupo: a Brigada de Los Parra. Violeta Parra já havia morrido, mas era o principal expoente artístico da família.
Resolvemos importar e reproduzir aquela iniciativa em Recife, cidade sempre muito à frente do nosso tempo. Chegamos, nos reunimos com alguns artistas que abraçaram a nossa causa e criamos a Brigada Candido Portinari. Estávamos no MDB, mas éramos, na verdade, PCB, o partidão, que ainda estava proscrito, na clandestinidade.
Fizemos atos, reuniões, intervenções, pintamos muros com artistas como o grande pintor João Câmara, Luciano Pinheiro, Zé Cláudio, o escultor Cavani Rosas, o cartunista Clériston, entre outros artistas plásticos de Recife e Olinda. Começava como um happy hour, sempre no finalzinho da tarde, e se tornava point dos boêmios, de toda sorte de gente de alma leve e sede de mudança e liberdade. Viramos notícia. Apareceu aí denúncia de um deputado estadual de que a Brigada Candido Portinari, ou BCP, era propaganda subliminar do PCB, invertendo a sigla do Partido Comunista Brasileiro.
Errado não estava, pois éramos mesmo comunistas. Tal como fora Portinari, que chegou a se candidatar, pelo PCB, a deputado federal e a senador na década de 1940. A bela obra do artista inclusive fala por suas preocupações. A ira daquele deputado, no entanto, é que nos serviu de publicidade: viramos um dos eventos mais marcantes da campanha em Recife e Olinda em 1978.
Enfim, vejam no Google Arts a exposição de Portinari, que faria 117 anos em 29 de dezembro deste ano. Um deleite. Aqui, ilustro a publicação com o quadro “O Morro”, o responsável pela ida dele ao MoMA e obra que pertence à coleção permanente do museu até hoje.
Roberto Freire, ex-deputado, ex-senador e ex-ministro da Cultura, é presidente Nacional do Cidadania