Há 45 anos, a vida, a civilidade, a humanidade que há em (quase) todos nós sofria um duro golpe: perdíamos Vladmir Herzog, jornalista, diretor da TV Cultura, e companheiro do PCB, torturado na sede do DOI-CODI, quartel do exército em São Paulo. Naquele 25 de outubro de 1975, Vlado se apresentou voluntariamente para um interrogatório e foi covardemente assassinado por agentes da ditadura militar.
A missa ecumênica em sua homenagem, que reuniu judeus, católicos e protestantes na Catedral da Sé, é um marco na reação da sociedade civil aos covardes que deram o golpe militar de 1964, mataram e torturaram. Lá, o rabino Henry Sobel disse que estava ali, num templo católico, porque um homem havia morrido – “não apenas um judeu, mas um homem”.
E lembrou o que a ditadura naqueles dias preferia ignorar: “E os direitos do homem devem ser respeitados, sejam eles de que religião, raça ou nacionalidade forem”. Dom Paulo Evaristo Arns falou em liberdade, confiada a nós “como tarefa fundamental, para preservarmos, todos juntos, a vida do nosso irmão, pela qual somos responsáveis tanto individual quanto coletivamente”.
São duas lições que nos servem nos dias de hoje e que Herzog seguia em sua atuação, importando registrar que sua militância se dava em um partido clandestino, sim, mas que não aderiu à luta armada. Devemos muito da nossa democracia a seu ato derradeiro de coragem. E é em nome dela, a democracia, que deve ser lembrado e reverenciado.
Especialmente porque aquele regime encontra simpatizantes e saudosistas instalados em cargos civis no governo federal, inclusive a mais alta autoridade da República. Um governo democraticamente eleito, mas que, como aquele, preza tão pouco por valores universais, pela vida e pela liberdade. Viva, Herzog!
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania