Em entrevista, presidente do Cidadania diz que “insensatez” de rever decisões já referendadas por tribunais superiores instalaria “insegurança jurídica” no país
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou em entrevista à Rádio Mundial nesta terça-feira (8) que o ex-presidente Lula está fazendo um “esforço tremendo” para se manter relevante no cenário nacional e convencer o Supremo Tribunal Federal, por meio de uma de suas turmas, a iniciar um processo de anulação em série de setenças da Lava Jato que acabe beneficiando o líder petista.
“Ele está fazendo um esforço tremendo pra ver se o STF comete a insensatez de instalar a insegurança jurídica no país com sentenças que foram referendadas por tribunais superiores, inclusive pela Corte, e que podem agora não valer nada. Quem acha que Lula é inocente fica imaginando que isso pode acontecer”, criticou o ex-parlamentar.
Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do Triplex no Guarujá e pelos mesmos crimes o caso do sítio em Atibaia, São Paulo. O Supremo analisa habeas corpus do ex-presidente em que ele pede a suspeição do ex-juiz Sério Moro, o que poderia levar à anulação de suas condenações.
Na avaliação de Freire, Lula impede o PT de avançar para outra pauta que não a sua própria defesa. “O PT está prisioneiro do passado e nós não podemos voltar a momentos de roubalheiras como as investigadas na Lava Jato. Pra derrotar Bolsonaro, precisamos deixar pra trás todo esse passado”, defendeu.
Ditaduras de sinal trocado
Questionado sobre o discurso de Lula no 7 de setembro, Freire argumentou que a relevância da fala do petista está no fato de ter bases democráticas e que, ainda que Lula e o partido defendam regimes autoritários de esquerda, não apelam à barbárie, como faz Bolsonaro, que, no mesmo dia, exaltou a ditadura brasileira de 1964.
O presidente do Cidadania voltou a dizer que escolher lulismo ou bolsonarismo significaria um pacto com o retrocesso e sustentou que se não houver impeachment do atual presidente será necessário concentrar esforços somente na construção de uma alternativa democrática a ambos.
“Teremos de saber quem pode ser uma boa alternativa a Bolsonaro e a Lula, que é menos grave porque não representa a barbárie, embora seja tão antidemocrático quanto. Mudam apenas o sinal. Bolsonaro elogia a ditadura de Pinochet, a de 1964 no Brasil e outras de direita e Lula, as de Cuba, Nicarágua, Venezuela e outras de esquerda”, comparou.
Ele reiterou que a alternativa com a qual o partido trabalha é a candidatura do apresentador Luciano Huck em 2022. “A presença que ele tem junto aos setores mais vulneráveis, ele já andou por esse Brasil, tem boa formação política, é empresário de sucesso, sabe que o mundo é pós-industrial”, elogiou.
Segundo Freire, mesmo sem ser candidato, Huck sofre ataques de bolsonaristas e lulistas, que “têm medo, porque sabem que ele pode vir a representar o polo democrático”. Ele ainda observou que permanece a necessidade de unir as oposições no enfrentamento de Bolsonaro, mas que isso não significa união para as eleições deste ano ou de 2022.