Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (11/08/2020)

MANCHETES

O Globo

Ministério da Justiça se recusa a enviar cópia de dossiê para o MPF
Flávio se une a prefeitos da Baixada
Mais uma ex de Bolsonaro pagou por imóvel em espécie
Reforma administrativa é adiada para 2021
Praia pode ter lugar marcado e agendado por aplicativo
Macaé, caso de sucesso contra Covid
Relatório critica falta de ação do MEC na pandemia
Após eleição, revolta e pedido de recontagem
Premier do Líbano renuncia e acusa elite

O Estado de S. Paulo

Equipe econômica cria força-tarefa para manter teto de gastos
Varejo prevê queda menor por causa dos R$ 600
Apenas SP, DF e AM definem calendário de volta às aulas
SP recebe R$ 1 bi em doações
Na capital, 17,9% de infectados
Bancos buscam executivo de ‘grife’
Lugar na areia, só no aplicativo
Premiê libanês renuncia em meio a onda de violência
Por etanol, Trump fala em taxar itens do Brasil

Folha de S. Paulo

Receita com nova CPMF não banca promessas de Guedes
Só 3 estados e DF têm datas para aulas presenciais
Após respaldo no auge, Lava Jato vê reveses no STF
Alexandre Baldy – ‘É o momento de refletir se vale estar na vida pública’
Em lista, Planalto relaciona casos de Covid a adversário
Doações privadas contra vírus em SP passam de R$ 1 bi
Não há razão para alívio com números da pandemia no Brasil, afirma OMS
Com novas Câmaras, desembargador terá até R$ 100 mil extras
Incêndio no Pantanal ameaça um dos maiores hotéis da região
Morre 2º da equipe que separou gêmeas siamesas
Jovem é morto durante abordagem da PM
Premiê anuncia renúncia 6 dias depois de explosão no Líbano

Valor Econômico

Efeito ‘fintwit’ e temor de bolha rondam a bolsa
Crescimento veloz
Teles discutem rateio de clientes da Oi
Spic, da China, assume 33% das térmicas do Açu por US$ 1,65 bi
Sem governo
Senado enfrenta a discórdia do CAQ

EDITORIAIS

O Globo

Flávio Bolsonaro ainda deve muitas explicações

Investigações mostram operações inusitadas e circulação de dinheiro vivo; senador não é convincente

As atenções com a montagem do governo no final de 2018 terminaram ofuscando o noticiário sobre as descobertas que o Ministério Público do Rio de Janeiro fazia ao investigar a movimentação financeira em gabinetes de deputados da Assembleia Legislativa do estado (Alerj), no rastro da prática da “rachadinha”, o golpe pelo qual assessores de deputados devolvem parte dos salários que recebem, e o dinheiro toma rumos nada visíveis. Se Flávio Bolsonaro imaginou que, eleito senador, estaria fora do alcance das investigações, estava enganado.

Apesar das tentativas de criar obstáculos ao inquérito — algumas com êxito durante certo tempo —, as investigações avançaram e ampliaram o papel do ex-PM Fabrício Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro, nas traficâncias financeiras em torno do gabinete na Alerj do filho mais velho do presidente, o Zero Um. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já haviam detectado depósitos de cheques de Queiroz na conta da futura primeira-dama Michelle, num total de R$ 24 mil. À época presidente eleito, Bolsonaro explicou: era o pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil, feito por ele ao amigo. Há poucos dias, a revista “Crusoé” revelou que, entre 2011 e 2018, ao menos 21 cheques de Queiroz abasteceram a conta de Michelle. Márcia Aguiar, a ex-foragida mulher do ex-PM, depositou outros cinco. Somaram R$ 89 mil, sobre os quais o presidente até ontem não se pronunciara. Os relatórios do Coaf não mostram nenhum depósito de R$ 40 mil feito por Bolsonaro na conta de Queiroz. Não há, até agora, prova do tal empréstimo.

Flávio justificou assim o pagamento da prestação de R$ 16,5 mil de um imóvel, feito por um outro PM, Diego Sodré de Castro Ambrósio, por meio de aplicativo de celular: foi para evitar que ele saísse de um churrasco, em que ambos estavam, para ir ao banco. Diego, afirmou o senador em entrevista ao GLOBO, foi ressarcido em dinheiro vivo.

Na entrevista, Flávio confirmou também que Queiroz pagou boletos de mensalidades escolares dos filhos e de planos de saúde da família. Imagens da agência bancária da Alerj mostram Queiroz pagando contas em dinheiro vivo.

Em depoimentos prestados no inquérito do MP, a que O GLOBO teve acesso, Flávio disse ainda ter pagado R$ 86 mil, em 2018, por 12 salas comerciais no Barra Prime Offices, também em espécie. A construtora e a incorporadora confirmam. A origem? “Saí pedindo emprestado para o meu irmão, para o meu pai, e eles me emprestaram.”

O tempo passa, e o tráfego de dinheiro vivo, sem origem clara, só aumenta. Flávio deve explicações mais convincentes. Seu pai também. Bolsonaro está à frente de um governo eleito com a promessa de combate à corrupção. Precisa ser cobrado por isso. Tanto dinheiro saindo sabe-se lá de onde lembra a frase do ministro do STF Teori Zavascki, morto em desastre aéreo, ao espantar-se com as revelações da Lava-Jato, de que era relator: “Puxa-se uma pena, vem uma galinha”.

O Estado de S. Paulo

O governo fictício de Mourão

O vice-presidente discursa como se refletisse ideias e atitudes de um governo organizado, moderno e guiado por valores civilizados

Com palavras civilizadas, incomuns na atual diplomacia brasileira, o vice-presidente Hamilton Mourão discursou como representante de um governo imaginário, ao participar de evento ibero-americano organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele pode ter manifestado suas ideias, ao falar em compromisso com “parâmetros globais de sustentabilidade” e com o multilateralismo, mas esses valores têm sido rejeitados, de forma persistente, pelo presidente Jair Bolsonaro e por vários ministros. A noção de uma ordem multilateral é hoje igualmente execrada no Palácio do Planalto e na Casa Branca, endereço do guia e modelo do principal mandatário brasileiro.

“Executamos medidas urgentes para conter o desmatamento e as queimadas e estamos construindo um planejamento para médio e longo prazos para a Amazônia Legal”, disse o vice. Ele usou a primeira pessoa do plural, mas faltou – detalhe importantíssimo – esclarecer a quem se refere o pronome “nós”.

Haverá nesse pronome uma referência ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles? Nesse caso, como dar conta de sua tentativa, há poucos dias, de baixar a meta de redução do desmatamento? Mais difícil, ainda, é explicar a posição do presidente da República, crítico das informações ambientais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), protetor do ministro Salles e apoiador de suas ações contra o Ibama.

Na Amazônia, admitiu o vice-presidente, o desmatamento em 2020 poderá ultrapassar o do ano anterior. Se houver necessidade, acrescentou, o governo poderá manter até 2022 a ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), usando a força militar para proteção do ambiente.

Mas o general Mourão foi além, ao comentar a importância da preservação ambiental para o sucesso comercial do agronegócio. O aumento dos crimes ambientais, afirmou, expõe o agronegócio a campanhas difamatórias e a políticas protecionistas no exterior.

O problema é real. Essas campanhas, no entanto, são favorecidas por ações e atitudes do presidente e de outras autoridades, pormenores omitidos pelo vice-presidente. Mas ele mostrou realismo – virtude rara, no governo, quando se trata dessas questões – ao mencionar a importância, para as empresas, de apresentar boas “credenciais ambientais, sociais e de governança”.

Além do vice-presidente, só a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem mostrado percepção dos problemas criados pelo presidente, por ministros e por pessoas próximas da Presidência, quando defendem o afrouxamento da defesa ambiental ou ofendem parceiros comerciais.

Ainda falando em nome de um governo que não deveria ser imaginário, o vice-presidente mostrou pesar pela morte de mais de 100 mil pessoas pela covid-19. “São perdas irreparáveis, que colocam toda a nação em luto”, afirmou. O presidente só mencionou o assunto quando foi inevitável, nos últimos dias, sempre mostrando impaciência e logo passando a outro tema. “Vamos tocar a vida”, foi a frase de Bolsonaro, na quinta-feira, logo depois de comentar com o ministro da Saúde a proximidade do número 100 mil.

O general Mourão mencionou ainda os desafios da recuperação econômica e falou sobre prioridades da política econômica e sobre a pauta de reformas. Nessa altura, aproximou-se mais da realidade do atual governo. Isso em nada enriqueceu o discurso. Poderia tê-lo piorado, se o vice-presidente se dispusesse a defender, como há poucos dias, a criação de um tributo semelhante à CPMF.

Esse tributo será necessário, segundo o ministro da Economia, para permitir a desoneração da folha de pagamentos. O vice- presidente incorporou esse argumento. Não lhe ocorreram, aparentemente, duas perguntas simples e óbvias: 1. Por que só a CPMF, uma aberração execrada na maior parte do mundo e condenada, no Brasil, por economistas de primeiro time, tornará possível aquela desoneração? 2. Foram examinadas outras soluções?

Mas o discurso ficou longe desses detalhes. Assim, pôde soar como se refletisse ideias e atitudes de um governo organizado, moderno e guiado por valores civilizados.

Folha de S. Paulo

Mourão sob fogo

Desmate da Amazônia sobe 34% em um ano, e vice comemora queda mensal

O primeiro ciclo anual de desmatamento na Amazônia sob Jair Bolsonaro se completou em 31 de julho. Como era de esperar, a devastação segue rampante. Má notícia para o presidente e seu vice, general Hamilton Mourão, ora encarregado de impor lei e ordem na floresta.

A estatística oficial para o intervalo de agosto de 2019 a julho de 2020, fornecida pelo sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só fica pronta em novembro. Dados preliminares, entretanto, indicam salto de 34% no corte raso.

A alta veio apontada por outro sistema de monitoramento por satélite do Inpe, o Deter, um pouco menos preciso e muito mais ágil (surgiu para orientar em tempo real a fiscalização pelo Ibama). Nesses 12 meses, o Deter emitiu alertas para desmatamento em áreas totalizando 9.173 km², ante 6.838 km² no período precedente.

Operando com resolução mais fraca, o Deter capta a cada ano não mais que 60% da destruição amazônica recenseada pelo Prodes. Dada a diferença, infere-se que a cifra anual acabará fixada em torno de 13 mil km², a maior dos últimos 14 anos e cerca de 3.000 km² acima do apurado em 2018/19.

Mourão, contudo, vê motivo para comemorar. Agarrou-se ao fato de julho ter apresentado a primeira queda em 14 meses nos dados do Deter e enxergou o início de um suposta reversão na tendência de alta. É uma precipitação.

Verdade que os alertas de julho recuaram de 2.260 km² em 2019 para 1.650 km² neste ano. Ainda assim, trata-se do segundo dado mais alto para tal mês e corresponde à superfície do município de São Paulo. Não é pouca coisa.

Não há como congratular-se, como se fora já resultado de incursões das Forças Armadas na operação Verde Brasil 2. Derrubou- se tanta mata, em maio e junho, que os devastadores começaram cedo a incendiar madeira e resíduos já ressecados sobre o solo.

Basta dizer que as queimadas no bioma amazônico subiram 28% em julho, com 119,9 mil focos flagrados por satélites. No mesmo mês do ano passado, haviam sido 93,3 mil. Isso com os incêndios intencionais proibidos pelo governo.

Para piorar seu papel no combate à devastação, Mourão arriscou-se a apontar defeito nos sistemas por satélite do Inpe. Segundo disse o militar ao jornal O Estado de S. Paulo, não seriam os melhores, por empregar sensores ópticos, que podem ser atrapalhados por nuvens, e não radares em drones.

O general recorre ao expediente de insultar o mensageiro. Se almeja tirar o monitoramento da excelência de três décadas do Inpe, só contribuirá para manchar a reputação de seu estamento e alienar ainda mais investidores.

Valor Econômico

Desafios ainda aguardam os emergentes após pandemia

Endividamento alto é problema para o Brasil

Passada a fase mais aguda do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, os desafios econômicos dos países emergentes estão longe do fim. Muitos desses países ainda registram níveis elevados de mortes e contaminação da população, mas as autoridades começaram a flexibilizar as regras de distanciamento social e a reabrir as atividades. A desconfiança de que a saída da crise sanitária vai levar mais tempo do que se esperava, de que a aguardada vacina vai demorar a chegar e o reduzido espaço fiscal e monetário para o governo atuar tornam tudo mais difícil.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem certeza de que o impacto causado pelo novo coronavírus na economia dos emergentes será bem mais severo do que o provocado pela crise financeira de 2008. A previsão do Fundo é que o Produto Interno Bruto (PIB) dos emergentes vai encolher 3,2% neste ano – situação bem diferente da expansão de 2,6% de 2009. Para agravar, desta vez, as economias estão mais debilitadas. Se o crescimento médio anual dos emergentes foi de 6% de 2000 a 2012, frente a 2% das economias avançadas, de 2013 a 2019, houve desaceleração para 4,5% ao ano, enquanto os demais países seguiram no mesmo ritmo. Se a China e a Índia forem excluídas da conta, o crescimento é ainda menor.

Entre outros problemas, os países emergentes enfrentam agora a queda do preço das commodities, como o petróleo, o que diminui suas receitas. A automação crescente reduz a demanda de produtos que dependem do uso intensivo de mão de obra; e o aumento do protecionismo limita as exportações. Além disso, a pandemia secou ou praticamente eliminou algumas fontes de receitas, como o turismo, importante para a Costa Rica e Marrocos, entre outros; e as remessas de emigrantes, representativas para a Guatemala e Paquistão, por exemplo. Em alguns casos, esses fatores afetam também economias avançadas como a Noruega e a Rússia, prejudicadas pela queda do petróleo, e Portugal com o refluxo do turismo. Mas o impacto é relativamente menor porque a dependência não é tão significativa e há outras fontes de receita.

Apesar disso tudo, os países emergentes acompanharam as economias avançadas com políticas de afrouxamento monetário, redução dos juros e compra de títulos privados. Com o aumento generalizado da liquidez, puderam também captar recursos com a emissão de títulos e ações nos mercados avançados.

No entanto, as mais recentes decisões de bancos centrais de emergentes, como no Brasil, África do Sul e Colômbia, revelam a avaliação de que os movimentos de flexibilização podem estar perto do fim. Há menos espaço fiscal e monetário e maior risco de a dívida pública atingir patamares insustentáveis.

Na avaliação do FMI, um terço dos países já não tem espaço fiscal e pode enfrentar problemas de liquidez. Se o Brasil já gastou 10% do PIB no enfrentamento ao coronavírus em seus diversos aspectos, há países que gastaram mais e podem ir além. Mas os demais emergentes estão mais para a situação do Brasil. Na Índia, Malásia, Polônia, Qatar, África do Sul e Tailândia, os gastos públicos relacionados à pandemia ficaram ao redor de 10% do PIB. Mas, segundo o Banco Mundial, as economias em desenvolvimento gastaram em média metade disso.

Antes mesmo de a pandemia atingir os níveis mais críticos, a dívida global já era uma preocupação. Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) atingiu US$ 258 trilhões no primeiro trimestre, ou um recorde de 331% do PIB global. Em mercados emergentes, os índices de dívida aumentaram para o patamar inédito de 230% do PIB. Cerca de US$ 3,7 trilhões em dívidas de mercados emergentes vencem até o fim de 2020, e dívidas em moeda estrangeira representam quase 17% do total, pressionando também a área externa no caso dos países mais frágeis nessa frente.

Com reservas robustas, o Brasil não precisa se preocupar com as contas externas. Já em relação ao endividamento, porém, a previsão é que vai chegar perto de 100% do PIB no fim do ano, em comparação com 76% em 2019. O governo da Colômbia prevê que a dívida do país aumentará para 65% a 66% do PIB em relação a 50% no mesmo período de 2019.

Enquanto lutam para manter a cabeça acima da linha d’água, alguns países emergentes contratam desafios futuros para os quais não há uma saída fácil. Há casos em que o pior ainda pode estar por vir, quando chegar a hora de enfrentar esses problemas.

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