Para o presidente nacional do Cidadania, é preciso integrar liberais, conservadores, dissidentes e outros em esforço de oposição ao presidente se o objetivo for buscar um impeachment
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse nesta terça-feira (14), durante participação no Tertúlia, programa de debates da TV Democracia, que eventual impeachment do presidente Jair Bolsonaro não se construirá apenas com movimentos ligados à esquerda.
“Estão faltando setores mais liberais, conservadores e mais ao centro – até porque, se não tivermos isso, não vai prosperar um impeachment. As pessoas não entendem que uma frente de esquerda não derrota o presidente, não temos força pra isso. É preciso incorporar ainda os dissidentes. A sociedade é mais plural do que uma força de frentes da esquerda”, explicou, ao citar o exemplo de Teotônio Vilela, que deixou a Arena, partido da ditadura, e teve papel fundamental na frente ampla que restabeleceu a democracia.
Freire disse acreditar que o presidente Bolsonaro recuou momentaneamente nos atritos com as instituições, o que pode diminuir a rejeição ao seu governo e dificultar a reunião de forças de oposição.
“Estamos vivendo uma conjuntura em que o governo acuado fez um recuo e buscou se blindar, reduzindo níveis de atrito com os Poderes. Um dos problemas desse governo é a palavra solta do presidente. Isso ele reduziu nesses últimos dias, acuado pelas denúncias em relação ao clã, a prisão do Queiroz, além das questões das fakenews. Esse processo momentâneo diminuiu na sociedade o crescimento da rejeição ao governo”, apontou.
O ex-parlamentar também associou as decisões do Congresso, como a aprovação da renda emergencial e o apoio às pequenas e médias empresas, a esse clima menos desfavorável nesse momento.
“Há um certo refluxo. Para alguns setores que fazem oposição mais moderada, reduz também o nível de rejeição que eles têm, talvez também se acalmem. Isso pode ser momentâneo. Precisamos de abertura para entender que somente a esquerda não provoca processos necessários como o impeachment. Nossa grande tarefa é ampliar essa frente”, ressaltou.
Questionado sobre os limites dessa ampliação para fazer frente à Bolsonaro, Freire disse não discriminar ninguém. “Se eu começar com política de veto, não vou pra canto nenhum. Não estou pedindo para fazermos uma aliança, um projeto para o país, porque temos profundas divergências com várias dessas forças. Discutir 2022 é outro momento”, avaliou.
Na avaliação de Freire, mesmo que o objetivo final seja o impeachment, o processo não pode ser simplificado. Ele ponderou que são necessários para esse desfecho, além de ampla maioria da sociedade, um julgamento político favorável no Congresso. O processo, segundo ele, não pode ser visto só como divisor de águas nem permite vacilações. “Temos de ter clareza, não teremos tempo para errar. A questão é a defesa da democracia”, justificou.
Freire comentou ainda a possiblidade de impugnação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disse que, também para isso, é “necessário ter opinião pública mobilizada”.