Cidadania abre espaço para pré-candidatura coletiva e temática no município do Rio de Janeiro

Roberto Freire elogia entrada no partido da chamada Bancada do Livro, coletivo de oito ativistas que deve disputar vaga de vereador nas eleições de novembro

O Cidadania é o partido escolhido por um grupo de artistas e professores que criaram a Bancada do Livro (BL), no município do Rio de Janeiro, para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal da cidade. Entre as pautas, defendem a democratização do acesso aos livros e incentivo à leitura. Apenas um nome estará nas urnas, mas o mandato será compartilhado, iniciativa que o partido vê com bons olhos, diz o presidente do partido, Roberto Freire.

Segundo ele, as mudanças na democracia representativa podem tornar essa experiência mais comum no futuro. Freire ainda destaca o ineditismo do grupo ao formar uma bancada temática, focada na promoção do livro, da leitura e da cultura. Para ele, é uma articulação que pode estar vindo pra ficar, já que os partidos, tal como existiam antes, com estruturas rígidas, perderam capacidade de representação.

“A sociedade vem passando por um processo acelerado de mudanças com as redes sociais e intensa participação na vida pública ao menos da parcela que tem acesso às novas tecnologias. Ter um mandato coletivo é uma forma de buscar essa proximidade que perdemos com a população. Reduz-se o caráter personalista dos mandatos em benefício de um conjunto de ideias e propostas”, avalia.

A ideia de formar a Bancada do Livro surgiu em meio à decisão do prefeito da capital fluminense Marcelo Crivella de mandar recolher da Bienal do Livro do Rio de 2019 os gibis “Vingadores – A Cruzada das Crianças”. O material trazia o beijo entre dois personagens masculinos, conteúdo que o prefeito considerou impróprio, gerando forte reação contra o conservadorismo e a censura.

Contra a censura

“Nunca imaginei que veria com meus olhos atos de censura como esse. O obscurantismo não vai vencer pela apatia”, promete o poeta Gledson Vinícius, um dos articuladores da Bancada do Livro. “Eu nunca aceitarei a censura”, diz, na mesma linha, Vanessa Daya, articuladora do grupo e fundadora do Ler e Saber na Comunidade, projeto que incentiva a leitura, com biblioteca comunitária, na Favela Buriti/Congonha, em Madureira (RJ). 

Psicólogo e professor universitário, Eliseu Neto, coordenador do Diversidade23, também integra o coletivo e foi um dos responsáveis, ao lado do deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), pela entrada do grupo no Cidadania. Serão 8 pessoas, contando com Neto, no mandato compartilhado caso a experiência seja bem sucedida.

“Sou referência pra eles no Cidadania porque já estou na luta partidária com a pauta LGBTQI+ e atuo na Liderança no Senado. Cada um agrega experiências diversas, mas todos com esse objetivo comum. Se já temos as bancadas do boi e da bala, por que não a bancada do livro? A leitura liberta e constrói. Precisaremos reconstruir o que vem sendo destruído por gente como Bolsonaro. O espaço da política não pode ser ocupado apenas por eles”, pontua Eliseu.

As propostas ainda estão em construção com interlocutores da sociedade civil, mas o professor de História Ygor Lioi, idealizador do pré-vestibular comunitário da Portela e outro dos integrantes da bancada, adianta algumas das iniciativas que devem ser levadas à frente para democratizar a leitura na cidade.

“Uma das ideias da BL é criar uma rede de bibliotecas comunitárias pela cidade e facilitar o acesso dos cariocas a títulos diversos que, hoje, em razão do preço, não são tão acessíveis. Outra proposta é fomentar a emergência de novos autores a partir de editais de incentivo em articulação com a Prefeitura Municipal”, sustenta.

Sintonia com o partido

Na avaliação de Freire, a iniciativa do grupo está alinhada, ainda, com a redução das desigualdades, bandeira do partido. Ele lembra que o país ainda é um dos mais injustos, principalmente no campo da Educação, e a votação do Fundeb mostrou a força que tem o desejo de mudança nessa área.

“Nossos valores são os do humanismo e da solidariedade. E tudo isso se afirma por meio do conhecimento, da Educação, do avanço social. Na votação do Fundeb, houve um forte movimento da sociedade em prol de mais recursos e de um ensino público de melhor qualidade. A formação desse grupo para uma pré-candidatura nos eleva e vai ao encontro desse anseio da sociedade”, conclui.

Além de Gledson Vinícius, Vanessa Daya, Ygor Lioi e Eliseu Neto, compõem a Bancada do Livro a poeta Eliza Moreno, também professora de teatro, jornalista e criadora da Poesia Viral; José Couto Jr, professor de História que foi eleito Educador do Ano em 2018, título concedido pela Fundação Victor Civita; Paloma Maulaz, professora e analista de soluções educacionais; e Caroline Guedes, historiadora, pesquisadora e doutoranda.

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