Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (12/06/2020)

MANCHETES

O Globo

Brasil tem 41 mil mortos e mais de 800 mil casos
Contato com vírus cresce 53% em duas semanas
Com novo ministro, Bolsonaro acena ao Congresso
Entidades temem que índios sejam dizimados na Amazônia
Dobra número de benefícios de auxílio no país
Witzel vai oferecer mais espaço a deputados
Reabertura de shoppings provoca aglomeração, e especialistas criticam
Eike Batista é condenado a 8 anos de prisão
Na Europa – Plataformas devem combater fake news
General se desculpa nos EUA
Medo de segunda onda de contágio derruba mercados nos EUA

O Estado de S. Paulo

41.058 mortos no Brasil – 805.649 contaminados – 10.145 mortos em SP
Bolsas caem por temor de 2ª onda de recessão mais forte
São Paulo vai testar vacina em 9 mil voluntários
Bolsonaro quer melhorar imagem com nova pasta
Shoppings reabrem com movimento fraco
Justiça barra alta do limite de compra munição
Nomeação no Iphan é suspensa pela Justiça
Europa vetará turista de países com covid em alta

Folha de S. Paulo

Vírus já mata mais do que trânsito no país em um ano
Com nova pasta, presidente faz aceno e tentar mudar comunicação
De perfil agregador e trato fácil, Fábio Faria já foi até um nome ‘dilmista’
Irmãos Bolsonaro bancam prejuízo com dinheiro vivo
Ciro Gomes – Bolsonaro quer assustar a classe média com o caos
Presidente incita população a filmar leitos de hospital
Vendas na volta de shoppings em SP superam previsão
Noite em abrigo anti-covid termina em casamento em Piracicaba (SP)
Por vacina, Doria anuncia parceria com chineses
Temor de nova leva do vírus e Fed atingem Bolsas
Europa vai barrar entrada de brasileiros
Chefe militar se desculpa por ato ao lado de Trump
Onda antirracista leva a derrubada de estátuas nos EUA

Valor Econômico

Mercado aposta em redução da Selic para 2,25% ao ano
Faria poderá facilitar trato com Congresso
Voando alto
Defesa será poupada de cortes em 2021
LD Celulose investe R$ 7 bi em Minas Gerais
Brasilianistas veem país na contramão
Volta às lojas

EDITORIAIS

O Globo

Governo precisa agir para proteger povos indígenas da Covid-19

Nas contas oficiais, 73 índios morreram da doença, mas o número real pode ser o triplo

A tragédia — mais uma entre tantas perpetradas pelo novo coronavírus — era previsível. As populações indígenas, que integram um dos grupos mais vulneráveis à Covid-19, correm sério risco, à medida que a doença se alastra pelas aldeias. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena, órgão do Ministério da Saúde, já foram registrados 73 mortes, 1.716 casos confirmados e 254 suspeitos na Amazônia. Porém, os números reais podem ser bem maiores. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) contabilizava, na quarta-feira, ao menos 228 óbitos, três vezes mais do que o oficial.

Vários fatores se somam para deixar as aldeias expostas. O Amazonas, que concentra a maior população indígena do Brasil, é um dos estados com maior proporção de casos de Covid-19, o que aumenta as chances de contaminação. A invasão de terras indígenas por grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais é apontada como um dos principais motivos de disseminação do vírus. O contato com agentes de saúde infectados, a precariedade de estruturas de saúde em áreas remotas e o próprio modo coletivo de organização social também contribuem para facilitar o contágio.

Por si só, já seria desalentadora a inércia do governo Bolsonaro para proteger os povos indígenas. Mas a questão é mais séria, à medida que servidores do Ibama que cumprem seu papel, reprimindo madeireiros e garimpeiros ilegais, acabam exonerados pelo governo.

O risco de que essas populações sejam dizimadas pelo novo coronavírus é real, e a ameaça já começa a repercutir no exterior, mobilizando instituições como os Escritórios de Direitos Humanos da ONU para a América do Sul e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O governo precisa ter um plano para proteger os povos indígenas. E ele pode começar pelo óbvio, ou seja, deixar que os órgãos ambientais, que passam por consistente processo de desmonte, cumpram a lei e afastem invasores das imediações das aldeias.

O Estado de S. Paulo

Hora de prorrogar a ajuda

As medidas oficiais foram insuficientes para impedir falências e demissões, mas, sem aqueles programas, a devastação gerada pela crise teria sido certamente muito maior

Milhões de famílias serão beneficiadas e a economia ganhará algum alento, numa das piores crises da história republicana, se o governo prorrogar medidas emergenciais implantadas em abril. Preservar o poder de consumo dos mais vulneráveis servirá a dois propósitos muito importantes – garantir um mínimo de bem estar a um enorme número de pessoas e injetar algum combustível nos negócios. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já indicou a disposição de manter as ações de apoio por algum tempo e congressistas dão suporte à ideia.

No Brasil, os primeiros casos de covid-19 foram confirmados em fevereiro e a gravidade da crise sanitária foi plenamente reconhecida em março. Em abril o Executivo anunciou as primeiras medidas econômicas para enfrentar a epidemia e seus efeitos econômicos. O Executivo apresentou um programa de apoio imediato a empresas pequenas e médias e de preservação de empregos. Foram definidas ações para facilitar a redução de jornadas e salários ou de suspensão temporária de contratos. Ao mesmo tempo, o Banco Central (BC) cuidou de expandir a liquidez e de criar condições para aumento crédito. A estratégia de suporte financeiro acabou envolvendo a participação do Tesouro e de bancos estatais.

Houve dificuldades para engatar a política de crédito, por causa dos critérios dos bancos e também pelas condições burocráticas impostas pelo Executivo. Também houve problemas no pagamento de auxílio emergencial de R$ 600 reais por mês a trabalhadores informais e a desempregados. Recursos foram entregues de forma indevida a milhares de pessoas, enquanto milhares de outras, embora qualificadas, tiveram dificuldade de acesso ao dinheiro. De modo geral, no entanto, as ações produziram efeitos sociais e econômicos positivos.

As medidas oficiais foram insuficientes para impedir falências e demissões, mas, sem aqueles programas, a devastação gerada pela crise teria sido certamente muito maior. Os efeitos positivos foram reconhecidos pela OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em seu recém-publicado relatório sobre perspectivas globais. Sem uma segunda onda epidêmica, o consumo privado neste ano deve ser 10,4% menor que em 2019. A queda poderia ser 2 ou 3 pontos maior, sem o programa oficial de ajuda, estimam os autores do estudo. Como o consumo é o principal motor da economia, no curto prazo, o impacto sobre a atividade seria bem maior.

O governo, segundo as informações conhecidas até agora, admite uma possível prorrogação dos programas de apoio a empresas e ao emprego por 60 dias. A transferência de renda a desempregados e informais também poderá ser prolongada por dois meses, mas com o valor mensal diminuído de R$ 600 para R$ 300.

O ministro da Economia insiste no caráter limitado dessas prorrogações, com prazo máximo de 60 dias. Essa restrição é apontada como necessária também no relatório da OCDE, onde as condições do Brasil sâo examinadas num capítulo de cinco páginas. O Executivo está autorizado a operar com medidas excepcionais até o fim de dezembro, numa situação reconhecida como calamidade, mas é preciso pensar nos problemas de recomposição das contas públicas a partir de janeiro.

Com despesas muito maiores e receitas muito menores que as previstas no Orçamento, o governo fechará o ano com finanças em péssimas condições. Seu déficit primário ultrapassará, segundo as projeções correntes, R$ 600 bilhões. A projeção antes da crise indicava R$ 124 bilhões. A dívida do governo geral – incluídos os três níveis – estará em torno de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), dez pontos acima, talvez mais, da meta antes fixada. Um compromisso claro de retomada do ajuste das finanças públicas será essencial para se manter a credibilidade diante dos mercados.

Uma redução da confiança na responsabilidade fiscal do governo dificultará a manutenção dos juros básicos em níveis suportáveis. Juros maiores criarão problemas para a gestão pública e para a reativação dos negócios. Pelo menos a equipe econômica sabe disso.

Folha de S. Paulo

À míngua

Economia brasileira dá sinais de que pode sofrer mais que as de outros países

Se os impactos econômicos e sociais da pandemia são graves em todo o mundo, no Brasil as consequências podem se revelar mais devastadoras. Com progressos insuficientes no combate ao vírus, a retomada ameaça ser ainda mais lenta do que em outros países.

As projeções mais recentes apontam para uma retração do Produto Interno Bruto de pelo menos 6,5% neste ano. Se confirmada tal hipótese, a deterioração da renda será equivalente à do período 2015-16, mas de forma mais súbita e com o país em situação mais frágil.

A taxa de desemprego, que já estava perto dos 12%, saltará mais alguns pontos. O desalento que atingia 25 milhões de pessoas tende a se tornar endêmico, com impactos sociais negativos e perdas para a produtividade da economia.

Outra limitação grave está nas contas públicas, que serão danificadas seriamente com os necessários programas emergenciais de suporte à renda e ao emprego. A dívida pública deve saltar do equivalente a 75% para 95% do PIB ou mais, um fator limitante para que o Estado possa fazer investimentos em montantes significativos.

A crise do coronavírus, na verdade, acentua o padrão de estagnação que já existia antes. A insuficiência de confiança e demanda vai se consolidando.

Evidência clara da persistente ociosidade na produção e no mercado de trabalho é a trajetória da inflação, que surpreende continuamente para menos há três anos.

Mais recentemente, a tendência baixista tem se exacerbado. Mesmo com a forte desvalorização cambial dos últimos meses (que normalmente tende a pressionar insumos importados), nos últimos dois meses houve deflação, inclusive no setor de serviços.

Desde pelo menos o século passado, o país nunca conviveu com inflação tão baixa. As projeções para o IPCA neste ano já estão em 1,5%, para uma meta do Banco Central de 4% —e caminham para perto de 3% no ano que vem, novamente abaixo da meta de 3,75%.

Neste contexto, faz bem o BC em testar os limites de baixa dos juros. Na próxima semana o Comitê de Política Monetária deve cortar novamente a taxa Selic, talvez de 3% para 2,25% ao ano. No presente contexto de demanda fraca, juros baixos e câmbio desvalorizado ajudam, mas não bastam.

As causas da paralisia são mais profundas e variadas. O Estado disfuncional, voltado para si mesmo e para sua elite burocrática, não trabalha em favor da produtividade. A estrutura de tributação e gastos penaliza a produção e concentra renda, entre outros vícios.

Valor Econômico

Fed sinaliza afrouxamento monetário e juro zero até 2022

As ações do Fed e a desvalorização do dólar deixam o BC brasileiro mais confortável para seguir reduzindo os juros

A catástrofe econômica provocada pelo coronavírus obrigará os EUA a manter as taxas básicas de juros encostadas no zero pelo menos até 2022, apontou ontem, por unanimidade de seus membros, o Federal Reserve. A economia está afundando no segundo trimestre, embora haja sinais de que deixou o fundo do poço, e o banco central manterá a alta dose de estímulos dados, e se precisar, acrescentará outros para que o país consiga fazer uma travessia que Jerome Powell, presidente do banco, acredita que será “longa”, marcada por “um grau extraordinário de incertezas”. Powell não fez qualquer menção, sequer hipotética, sobre quando começaria a retirar o apoio monetário em curso, que poderia motivar perigosa reversão de expectativas nos mercados de ações.

Pela primeira vez desde a pandemia o Fed apresentou projeções sobre o desempenho econômico e o retrato é tão pessimista quanto ou até mais do que as dos investidores. Para o Fed, os EUA vão se retrair 6,5% na média, mas pode ser um pouco pior – as previsões variaram entre -5,5% e -7,5%. Em 2021, a expectativa é de avanço de 5%. Uma pesquisa com 42 enquetes, feita pelo Fed da Filadélfia, indica que os analistas estão um pouco mais otimistas que o banco central no curto prazo – recuo de 5,5% – e menos no médio prazo, com o crescimento projetado de 2,2% a 4,1% nos próximos três anos.

O desemprego não será revertido logo, na visão dos membros do Fed. “Saímos da taxa mais baixa em 50 anos para a maior em 90 anos”, ressaltou Powell. O desemprego deve fechar o ano em 9,3%, cair para 6,5% em 2021, 5,5% no ano seguinte e 4,1 em 2022. A inflação, no índice cheio, fica abaixo de 1% agora (0,8%) e só chega à meta de 2% em 2022. Com isso, a taxa de juros se arrasta em 0,1% pelo menos até lá, quando apenas dois dos 17 membros do Fed acreditam que precisará ser elevada.

A dose cavalar de medidas monetárias, maior do que na crise de 2008, conseguiu fazer melhorar a oferta de crédito na economia, após o choque da parada súbita. O balanço do Fed ultrapassa US$ 6 trilhões – e pode chegar aos US$ 9 trilhões. Condições financeiras mais folgadas foram o único efeito positivo perceptível no comunicado do banco após a reunião. A pandemia atua “pesadamente” sobre a atividade econômica, afirma o Fed, e traz “consideráveis riscos para a perspectiva econômica no médio prazo”.

O tamanho do tombo dado pela pandemia em várias frentes é inédito. A oferta de crédito anualizada recuou 19,5% em abril, com encolhimento de US$ 825,4 bilhões, ante um estoque de US$ 4,13 trilhões. A produção industrial no mesmo mês diminuiu 11,2%, a maior queda em 101 anos.

Diante disso, Powell reafirmou, sem meio tons, que o Fed “estará fortemente empenhado” em usar todos os instrumentos de que dispõe, no montante de recursos que for preciso e “pelo tempo que for necessário para que a recuperação da economia seja a mais robusta possível”. A dúvida sobre se o banco indicaria uma meta para a injeção de recursos foi esclarecida: segundo Powell, seu piso será pelo menos o montante atual (US$ 80 bilhões de títulos do Tesouro, US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas, mensalmente), e pode ser aumentada se houver necessidade.

Powell enfatizou várias vezes que neste ambiente “extraordinariamente incerto” o trabalho do Fed será fazer de tudo para evitar “danos permanentes” no potencial de crescimento do país. Daí a rede extraordinária de apoio a empresas, cujo último instrumento, remodelado, é o “Main Street”, destinado a pequenas empresas, no qual o Fed bancará 95% do risco, com prazos de carência para pagamentos de juros e principal ampliados, que se estendem por 5 anos. O Fed estuda incluir neles as Ongs. Powell acredita que tudo vai dar certo. “Vamos superar isso”, disse.

O presidente do Fed pôs a queda do desemprego em maio e a forte alta das bolsas na qualificação de “imprevisíveis”. Após a reunião, os mercados acionários nos EUA recuaram (exceto Nasdaq), enquanto o dólar se desvalorizou. Ante os dados atuais, as ações podem ter poucos motivos para subir, e os investidores algumas razões para realizar lucros. No entanto, os juros ficarão por muito tempo a 0% e o dólar perde ímpeto até que a economia americana dê sinais de renovada vitalidade, possivelmente no terceiro trimestre.

As ações do Fed e a desvalorização do dólar deixam o BC brasileiro mais confortável para seguir reduzindo os juros, depois que o IPCA de maio consolidou um quadro de deflação de 0,16% nos cinco primeiros meses do ano.

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