Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (04/06/2020)

MANCHETES

O Globo

Municípios e estados esperam socorro federal há 70 dias
Brasil participa de teste da vacina de Oxford contra coronavírus
Indústria: queda histórica em abril
Flexibilização da quarentena no país divide especialistas
Brasileiros estudam uso de droga anti-HIV para Covid-19
Em Niterói, drive-thru de exames
No BNB, indicado do centrão cai em menos de 24 horas
A turbina das notícias falsas
Acuado, Witzel exonera aliado e afasta gestora de hospitais
EUA: ruas mostram sua força

O Estado de S. Paulo

Com receio de atos, Bolsonaro diz que manifestante é terrorista
Presidente do BNB cai um dia depois da posse no cargo
Senado aprova que plano pague remédio oral contra câncer
Vacina será testada em 2 mil brasileiros
País faz captação de US$ 3,5 bi no exterior
Brasil tem recorde de 1.349 mortes em 24h
Holanda rejeita acordo da UE com o Mercosul
Ato contra racismo em Londres tem confronto

Folha de S. Paulo

Retomada é lenta no comércio e não anima indústria
Indústria tem tombo histórico de 19% em abril
STF busca sanar vícios de inquérito das fake news
Para Bolsonaro, antifascistas são terroristas
Estado estima que casos de Covid-19 dobrem em junho
País registra outro recorde, com 1.349 mortes em 24 horas
Brasil é escolhido para participar de testes de vacina
Jornal vê falha em artigos críticos a hidroxicloroquina
Manifestos são alvo de desconfiança de políticos de direita
Indicado pelo centrão cai após um dia no cargo
Ricardo Salles – Despacho sobre mata atlântica está revogado
Nos EUA, acusação contra ex-policial branco é ampliada

Valor Econômico

Vendas têm reação em maio, mas varejistas temem calote
Intervenção é tese de lunático, afirma Gilmar
Suécia admite erro ao evitar isolamento
WEG começa a produzir respiradores
BNDES busca recursos no Bird, BID e NDB
Assédio conta com omissão nas empresas

EDITORIAIS

O Globo

Bolsonaro não pode se eximir de responsabilidade nas mortes

Equívocos do governo na Saúde dificultam combate à doença que já matou mais de 30 mil pessoas

‘Eu lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, disse o presidente Jair Bolsonaro, na manhã de terça-feira, ao responder a uma apoiadora que pedira uma palavra para as famílias que perderam parentes em consequência da Covid-19. Naquele dia, o Brasil romperia a marca dos 30 mil óbitos.

Os números trágicos da Covid-19 no Brasil — que já é o segundo país com maior número de casos, atrás dos EUA —, porém, estão longe de ser uma fatalidade. Refletem a sucessão de equívocos do governo Bolsonaro, e também de governadores e prefeitos, no enfrentamento do novo coronavírus.

Bolsonaro tratou uma das mais letais pandemias da História como “gripezinha”, que não apresentaria maiores riscos para pessoas jovens e saudáveis. A doença infectou mais de 550 mil e pôs o país entre os quatro com maior número de mortes (atrás de EUA, Reino Unido e Itália). Em óbitos diários, o Brasil assumiu indesejável liderança.

Desde o início, Bolsonaro adotou discurso divergente do Ministério da Saúde de seu próprio governo. Enquanto a pasta defendia o isolamento para atividades não essenciais, o presidente criticava as quarentenas e dizia que as medidas de restrição eram um exagero.

A gestão do Ministério da Saúde durante a pandemia é talvez o melhor retrato do modo errático como Bolsonaro conduziu o combate à doença. Em plena fase de aceleração, demitiu o ministro Luiz Henrique Mandetta — cujo trabalho era aprovado pela população, segundo pesquisas de opinião — e levou o substituto, Nelson Teich, a pedir exoneração com menos de um mês no cargo. Os dois não resistiram às interferências de Bolsonaro em assuntos técnicos, como a liberação do novo protocolo da cloroquina, contra todas as evidências científicas, que apontam ineficácia do medicamento contra a Covid-19 e aumento do risco de mortes.

Com a efetivação ontem de Eduardo Pazuello como ministro interino da pasta, após 18 dias no cargo, o Brasil passou a ter três ministros da Saúde em menos de dois meses. Quando Mandetta saiu, o país registrava 1.924 mortes. Na terça, eram 31.199, o que representa um aumento de mais de 1.500%.

Evidentemente, governadores e prefeitos, que protagonizam o combate mais direto à pandemia, com autonomia dada pelo STF para decretar medidas de restrição, também têm suas digitais nesses números. Mesmo podendo contratar sem licitação numa situação de calamidade, não conseguiram adequar suas redes para receber a avalanche de doentes. Mas Bolsonaro não pode se eximir de responsabilidade, e muito menos falar em destino. Se o governo tivesse um discurso coeso, se a gestão da Saúde não enfrentasse tantos solavancos, se o país mantivesse uma política sanitária consistente, e mais comprometida com a Ciência, talvez o panorama hoje não fosse tão sombrio.

O Estado de S. Paulo

A rua não tem dono

Bolsonaro reivindica para seus fanáticos devotos o exclusivo usufruto das ruas como local de manifestação

O presidente Jair Bolsonaro qualificou como “marginais” e “terroristas” os grupos que se denominam “antifascistas” e que foram às ruas no fim de semana passado para protestar contra seu governo. É assim que o presidente da República resolveu tratar movimentos que, a despeito das restrições impostas pela pandemia de covid-19, começam a sair de casa para expressar seu repúdio a ele e a seu sistemático desrespeito à democracia.

Até agora, as ruas pareciam ser um território francamente dominado pelos camisas pardas do bolsonarismo. Hostis à quarentena imposta em quase todo o País para conter a pandemia, esses celerados desafiaram autoridades e realizaram frequentes protestos ao longo dos últimos meses, promovendo aglomerações em locais públicos e, assim, contribuindo para a disseminação do coronavírus, em claro atentado à saúde pública.

Em diversas ocasiões, o presidente da República, em pessoa, participou desses atos, estimulando seus apoiadores a continuar a afrontar governadores de Estado que haviam adotado medidas restritivas – tratados publicamente como inimigos por Bolsonaro. O presidente tampouco pareceu incomodar-se com as faixas de teor golpista que infestavam esses protestos contra o Judiciário e o Legislativo e demandavam “intervenção militar”.

A insolência dos bolsonaristas jamais foi objeto de crítica ou censura por parte do presidente, nem mesmo quando se soube que havia armas no acampamento de seus apoiadores em Brasília – cujos integrantes se apresentam como o “exército que vai exterminar a esquerda”. A líder desse bando chegou a divulgar um vídeo na internet em que faz ameaças diretas de violência contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, dizendo que iria “infernizar a vida” do magistrado.

Além disso, tem sido frequente, nas manifestações bolsonaristas, a presença de símbolos de um grupo paramilitar ucraniano de extrema direita que se identifica com o nazismo. Houve até um deputado bolsonarista que disse que “está na hora de ucrânizar (sic) o Brasil”, referindo-se aos confrontos que derrubaram o governo ucraniano em 2014, especialmente ao momento em que os manifestantes jogaram um deputado em uma caçamba de lixo – sonho de dez em dez bolsonaristas, hostis à política e à democracia representativa.

Para Bolsonaro, esse é o “povo” que “quer liberdade, quer democracia”. Já os cidadãos que, cansados de tanta afronta à democracia, resolveram deixar o confinamento para demonstrar seu absoluto repúdio a essa escalada autoritária, estes são chamados de “terroristas” pelo presidente. “Não podemos deixar que o Brasil se transforme no que foi há pouco tempo o Chile”, disse Bolsonaro, aludindo aos protestos contra o governo chileno em 2019, que em vários momentos se tornaram violentos. “Não podemos admitir isso daí. Isso, no meu entender, é terrorismo. A gente espera que esse movimento não cresça, porque o que a gente menos quer é entrar em confronto com quem quer que seja”, acrescentou o presidente, em ameaça explícita de violência contra seus opositores – exatamente como fez seu ídolo, o presidente americano, Donald Trump, que também chamou os manifestantes que tomaram as ruas dos Estados Unidos de “terroristas” e ofereceu o Exército para enfrentá-los.

Com isso, Bolsonaro reivindica para seus fanáticos devotos o exclusivo usufruto das ruas como local de manifestação. Quem quer que ouse ocupá-las para questionar seu governo, apontar sua inépcia diante da pandemia e da crise econômica e denunciar seus frequentes atentados à democracia é, aos olhos do presidente, um delinquente.

Nada disso é por acaso. Premido pelo coronavírus e seu monumental impacto na vida nacional, obrigado a negociar cargos com a bancada da boquinha no Congresso para evitar um impeachment e assombrado por investigações policiais contra si mesmo e contra os filhos, Bolsonaro parece disposto a derrubar o tabuleiro de xadrez diante do xeque. O presidente inventa um confronto, que tão avidamente deseja, não só para intimidar seus opositores, mas principalmente para desviar a atenção de sua clamorosa incapacidade de governar.

No que depender dos brasileiros decentes, não vai conseguir nem uma coisa nem outra.

Folha de S. Paulo

Eleições 4.0

Sem prolongar os mandatos agora, país deveria debater votações remotas no futuro

Diante da paralisação generalizada de atividades no Brasil acarretada pela pandemia do novo coronavírus, tornou-se inevitável avaliar a conveniência de manter o calendário eleitoral ou de estendê-lo.

Pela Constituição o escrutínio para prefeitos e vereadores deve ocorrer no primeiro domingo de outubro (4), e o segundo turno, no último domingo do mês (25).

Fosse só pelas datas de votação, que já estarão provavelmente distantes dos picos da infecção, haveria pouco embaraço em manter o calendário. Com medidas de distanciamento e higiene, o pleito poderia ocorrer satisfatoriamente.

O que torna a sua consecução duvidosa é tudo o que vem antes da votação. Pelo cronograma do Tribunal Superior Eleitoral, as convenções partidárias para definir os candidatos devem se dar de 20 de julho a 5 de agosto. Se esse prazo não for exequível, começará a haver complicações logísticas na programação e na distribuição tempestiva das urnas para todos os 5.568 municípios.

Por isso uma comissão foi anunciada no Congresso para estudar a necessidade de alongar os prazos e empurrar as datas de votação. Ela toma como premissa, correta, que o novo cronograma, se for inevitável, não deverá jamais implicar extensão dos atuais mandatos.

Em paralelo a esse esforço emergencial, deputados, senadores e autoridades deveriam debruçar-se sobre projetos que poderiam, no futuro, lançar bases para um processo de votação muito mais barato e rápido, abraçando avanços tecnológicos em desenvolvimento.

As eleições 4.0 ainda não têm praticantes em larga escala no mundo, sendo o caso da Estônia, um pequeno país báltico de 1,3 milhão de habitantes, o que mais se aproxima do ideal em que todos podem escolher os seus candidatos digitalmente sem sair de casa.

O voto no smartphone, no entanto, é apenas o ponto de chegada de um processo abrangente de digitalização da relação do indivíduo com o Estado, que começa pela identificação inequívoca de cada cidadão no ambiente virtual. Terá também de oferecer as mesmas garantias contra a coação que o ambiente indevassável da cabine eleitoral propicia.

Delineado um bom sistema de votação remota, ele precisará ser testado em localidades pequenas ou com públicos restritos. Desse modo as vulnerabilidades poderão ser conhecidas e sanadas a tempo.

É um processo familiar ao Brasil, que chegou à inovadora urna eletrônica exatamente assim, mediante passos pequenos e seguros. Seguindo a receita, a escolha de representantes da população num futuro visível poderá se livrar das amarras e dos custos do século 20 sem perder credibilidade.

Valor Econômico

Crises em série abalam força eleitoral de Trump

Trump é uma ameaça à democracia e enfrenta dificuldades para se reeleger

Os maiores protestos desde a campanha pelos direitos civis dos negros, na década de 60, traçaram um retrato do estado atual dos EUA e outro, completo, de como agem populistas como o presidente Donald Trump em momentos de crise. A morte cruel, por asfixia, de George Floyd, pela polícia de Minneapolis, desencadeou manifestações ao redor do mundo, protestos em mais de uma centena de cidades americanas, em um rastro de ódio, violência, saques e depredações que ainda não terminou. Depois de brincar com a morte e com a cloroquina, Trump se depara com mais de 100 mil americanos mortos por coronavírus e as maiores metrópoles do país em pé de guerra, a cinco meses das eleições.

As eleições serão teste decisivo para a sorte de autocratas como Trump. Se conquistar um segundo mandato, ganhará carta branca para continuar sua missão de destruir política e institucionalmente vários dos pilares da democracia americana. Dar mais quatro anos ao mais despreparado dos presidentes do país da história recente tornará o mundo ainda pior, e mais perigoso.

O ambiente para uma conflagração como a atual se prepara há muito tempo. Os negros, mesmo após um deles, Barack Obama, ter assumido a presidência dos EUA, continuam sendo cidadãos de segunda classe e vítimas eternas da brutalidade policial – algo ainda mais chocante no país mais rico do mundo e que se vê como um modelo de democracia.

Além disso, um clima de antagonismo e radicalização prosperou desde a eleição de Barack Obama, quando os movimentos mais à direita do Partido Republicano conquistaram seu comando e se opuseram em bloco a toda e qualquer iniciativa tomada pelo presidente democrata em seus dois mandatos. A intransigência de seus líderes e a mudança da atmosfera política abriram caminho para a chegada ao poder de um embusteiro como Donald Trump. A rigor, ele sequer era republicano, mas abriu seu caminho para concorrer pela legenda humilhando a máquina dirigente. Com raras exceções, as lideranças republicanas deram aval a todas as tristes proezas do presidente.

Como seus imitadores baratos ao sul do Rio Grande, Trump manteve seu estado de negação sobre a pandemia até quando ela já causava devastações no país, para então mudar de comportamento – e tomar hidroxicloroquina. Incapaz de se deter sobre a complexidade dos assuntos que têm de tratar, Trump tentou disfarçar sua incompetência com uma barragem de insultos à China e uma guerra contra a Organização Mundial da Saúde. Os ataques buscam ganhar votos em novembro.

Diante da indignação de centenas de milhares de pessoas com a morte de Floyd, o tuiteiro Trump ameaçou não a polícia de Minneapolis, mas cidadãos americanos com tiros e “cães ferozes”. Durante dias, azucrinou os governadores para que usassem a Guarda Nacional e pusessem fim aos protestos a qualquer custo, sob a pena de parecerem uns “babacas”. Depois ameaçou com o uso de forças do Exército para a missão.

Na segunda-feira, encenou um espetáculo estarrecedor de desprezo pela opinião alheia e pelos direitos democráticos. Saiu da Casa Branca a pé, ordenou que a polícia despejasse gás lacrimogêneo em um protesto pacífico, para que pudesse ir até a Igreja Episcopal de São João e posar para uma foto com a Bíblia na mão. Na manhã de quarta, diante da diminuição de saques e depredações, Trump concluiu que a noite ocorrera sem problemas: “Força esmagadora. Dominação”, tuitou.

O secretário de Defesa, Mark Esper, um dos que acompanharam o presidente no ofensivo passeio à igreja, discordou em público do uso das Forças Armadas contra os manifestantes, permitida pelo Ato contra Insurreição, de 1807. Disse que só deveria ocorrer “como último recurso” em situações-limite. O ex-presidente George Bush, republicano que mandou bombardear o Iraque, diz que era importante ouvir a voz dos que se sentiam magoados e que os que querem silenciá-la “não entendem o sentido da América ou como ela se tornou um lugar melhor”.

Como seus imitadores no Brasil, Trump é uma ameaça à democracia e enfrenta dificuldades para se reeleger. Sua conduta na pandemia, e agora, deu 10 pontos de vantagem nas pesquisas a seu rival democrata, Joe Biden. Suas tiradas racistas garantiram que o eleitorado negro volte em número recorde às urnas, como fez para eleger Obama. Se Trump perder, as urnas confirmarão a máxima de Abraham Lincoln de que “é impossível enganar todo mundo o tempo todo”.

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