Em live com o pastor Lyndon Santos, presidente do Cidadania defende importância de o partido se tornar um canal de representação dos religiosos progressistas
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, participou nesta segunda-feira (1) da live “Democracia, religião e Estado laico”, com o professor da Universidade Federal do Maranhão e pastor congregacional, Lyndon Santos. Recentemente, o partido criou o Núcleo Evangélico 23 e reforçou o diálogo com o segmento. Para o ex-parlamentar, a política é o espaço do pluralismo, que deve ser mediado pela democracia e pela capacidade de tolerar.
“Temos de entender que é importante ter a participação dos religiosos. Há um setor progressista e democrático que tem a visão do Estado laico para romper com essa ideia de que o mundo religioso é fundamentalista e está vinculado a um governo e a uma opção bolsonarista de extrema direita, que é como muitos encaram os evangélicos hoje. O Cidadania faz um aceno importante ao trazê-los para esse debate”, disse Freire.
Santos falou sobre a importância da criação de um núcleo de evangélicos liberais e progressistas no partido. “A esquerda em geral percebeu na última eleição que havia perdido o contato com esse segmento religioso. Há muitos preconceitos e discriminações que criam barreiras para o diálogo com esses evangélicos. Nos últimos 30, 40 anos, o crescimento numérico exponencial desse segmento religioso trouxe um novo ator para o cenário político”, avaliou.
Reforma protestante
Ainda na opinião do professor, o que predomina no cenário político hoje é um modo de ser evangélico que se tornou hegemônico, mas não representa sua totalidade, e que tem visão turva do que são Estado laico e a própria democracia. “Esse segmento hegemônico evangélico que está aí ignora toda a tradição da reforma protestante. Esses evangélicos inventam uma ideia de teocracia tosca, rasa e que não tem noção do que seja Estado, cidadania, Constituição”, acrescentou o pastor.
Durante a conversa, Freire ressaltou como fundamental, no debate público, o respeito à liberdade religiosa numa sociedade plural. “Ninguém vai mudar esse mundo se não entender e receber todos que queiram, que tenham a intenção de mudar, tenham a capacidade de se juntar, dialogar e lutar juntos”, defendeu.
Nesse campo do debate, Santos disse existir uma certa dificuldade em razão do fundamentalismo, que começa no campo religioso e vai para o político. “O fundamentalismo impede essa dimensão do diálogo, tanto o intereligioso, como o não religioso. Infelizmente o fundamentalismo norte-americano chegou no Brasil e se tornou hegemônico nesse campo protestante”, apontou.
Segundo ele, o que se vê aflorando com Bolsonaro “é essa mescla de fundamentalismo e conservadorismo e a dificuldade de lidar com a democracia e a laicidade do Estado”. “Um dos espaços menos democráticos hoje na sociedade brasileira são as igrejas evangélicas”, criticou. Ao concordar, Freire lamentou que líderes fundamentalistas usem as religiões para fins de hegemonismo político e lembrou que as sociedades mudam com o passar dos anos e com elas as crenças religiosas.
Evangélicos progressistas
Na época da Constituinte, católicos eram maioria no Brasil, hoje são os evangélicos, exemplificou o presidente do Cidadania. Santos também chamou a atenção para essas mudanças. “O que me chama a atenção é a dificuldade não somente de evangélicos de lidar com o Estado laico, mas outros segmentos também. Existe um segmento muito forte fundamentalista dentro do catolicismo. Toda religião que já foi hegemônica não quer deixar a sua hegemonia”, destacou.
Com a criação do Evangélico 23, o objetivo, segundo Freire, é trazer a discussão sobre a necessidade de pluralismo religioso e político para o partido, buscando levar representação aos que tenham uma visão mais progressista do mundo. “Começar a ser um elemento de atração de pessoas que tenham essa visão do mundo religioso, evangélico, ter militância política, com essa compreensão que vocês têm e que nós temos que abraçar. O Brasil está precisando disso”, disse Freire.
Na avaliação do professor, buscar esse pluralismo interno é importante, mesmo considerando que no próprio mundo evangélico a diversidade de visões é grande. “Vejo que o partido pode pensar como dialogar com os evangélicos progressistas, que já são militantes, mas também com o segmento mais fundamentalista e reacionário”, pregou