MANCHETES
O Globo
Rio já tem 93% das cidades com casos de Covid-19
Leitos precisam ser abertos mesmo sem respiradores
De 2.700 novas vagas prometidas no Rio, só 20% funcionam
Militares avançam em cargos na área da Saúde
Programas de milhas sofrem com cris aérea
Em Belém, um ‘lockdown’ à brasileira
Karoline Postel Vinay – Batalha de narrativas
Tributo desperta importância de contar histórias da vítimas
O Estado de S. Paulo
Compras sem licitação por covid-19 são investigados em 11 Estados
Prefeituras podem adiar contribuição à Previdência
Interior de SP já teme sobrecarga hospitalar
Voluntários doam sangue para pesquisa
Lockdown com rua cheia em Belém
Paulo Neimeyer Filho – ‘Vemos cada vez mais AVCs ligados à covid-19
Com mais casos, Ásia teme nova onda de contágio
Trump tenta conter vírus na Casa Branca
Avianca Holdings pede recuperação judicial
Folha de S. Paulo
Semana será decisiva para apuração sobre Bolsonaro
Gestão atual gasta mais no cartão da Presidência
Vídeo do Planalto usa sentença que lembra lema nazista
Bolsonaristas reviram lixo para atacar imprensa
Com juros baixos, brasileiros buscam ações em queda
Sarampo cresce no país com pandemia do coronavírus
Megarrodízio de carros começa na cidade de São Paulo
Rogério Arante – Crise mostra limites para interferência em ação da PF
Com escritórios vazios, firmas da Faria Lima, em SP, já avaliam manter trabalho remoto
Governo de SP não consegue conter convid-19 nas prisões
Segundo estudo, uso de hidroxicloroquina não reduz nem intubações, nem mortes
Fisioterapia pode ajudar na prevenção e em todas as etapas do tratamento da nova doença
Valor Econômico
União pagará dívida de R$ 81 bilhões a Estados
Negociação favorece o novo TRF-MG
Estudo mostra concentração na agricultura
Moro enfrenta clima hostil nos três Poderes
“Bolsonaro fará país pagar caro”
Varejistas vão ao mercado buscar recurso para o caixa
Procuram-se técnicos em cibersegurança
Petróleo impõe perdas ao Nordeste
EDITORIAIS
O Globo
É preciso preparar a base industrial para o SUS
Hoje 90% da produção global de insumos e equipamentos se concentram na China e na Índia
Empresas químicas e farmacêuticas começaram a debater alternativas de produção local de insumos, produtos e equipamentos essenciais ao setor de saúde, para reduzir a alta dependência de fornecedores externos, sobretudo da China e da Índia, que concentram 90% do mercado global.
Tem sido grande a mobilização pública e privada para assegurar insumos e equipamentos essenciais ao Sistema Único de Saúde nessa crise provocada pela pandemia. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta apelou a empresas privadas (Vale, Lojas Americanas, Bradesco, Itaú e Santander, entre outros) para mapear fornecedores. Já chegaram as primeiras cargas de máscaras, luvas, insumos químico-farmacêuticos, respiradores e outros equipamentos médico-hospitalares comprados na China e na Índia.
Quando ultrapassada a emergência, será necessária uma revisão da estrutura produtiva brasileira nessa área. Como mostrou O GLOBO, empresas como EMS, Braskem, Guararapes e outras dos segmentos de higiene, perfumaria e cosméticos já planejam a substituição de importações, das quais dependem, e a diversificação da produção. É oportunidade de negócios num país cuja vulnerabilidade está expressa no aumento do déficit setorial da saúde. Há duas décadas era de US$ 3 bilhões. Saltou para cerca de US$ 20 bilhões. Importar, preferencialmente, foi uma decisão política baseada no critério de custo-benefício em relação à produção local. Está visível que levou-se ao extremo a dependência externa.
Na pandemia, governos passaram a considerar produtos de saúde como estratégicos à segurança nacional. Os Estados Unidos, por exemplo, decidiram que a produção da 3M de máscaras do tipo N95 deve ser integralmente reservada para consumo dos cidadãos americanos. Nas palavras do secretário de Estado, Mike Pompeo, países como o Brasil poderão “contar com nosso apoio para conseguir itens importantes no combate ao coronavírus, mas terão de esperar que a situação melhore no território americano antes.”
Sem um plano preventivo de reconversão industrial, o governo tenta estimular uma produção doméstica de 15 mil respiradores para entrega em 90 dias. A experiência pode ser didática: será preciso estabelecer uma base industrial de saúde que possa ser ampliada rapidamente — esta é a segunda pandemia em uma década, considerando-se a da gripe H1N1, em 2009.
O debate é relevante, mas a intervenção estatal merece ressalvas. Uma elas é a necessidade de se evitar a repetição do clássico erro das reservas de mercado. Não faria sentido, por exemplo, privilegiar empresas públicas ou privadas com quaisquer incentivos, sem mecanismos de cobrança de eficiência e produtividade, além de real capacidade de competição no mercado mundial.
O Estado de S. Paulo
Assombrações
No Brasil sob a Presidência de Jair Bolsonaro, todos os que não devotam total lealdade ao governo são vistos não como opositores, mas como inimigos que almejam destruir o País
Estão bem longe da perfeição as instituições republicanas do Brasil. Não são poucos os exemplos de abusos ou omissões do Supremo Tribunal Federal ou de corrupção e irresponsabilidade do Congresso. Ainda assim, se o Brasil pretende permanecer uma democracia, é preciso lutar para aperfeiçoar e prestigiar esses pilares, e não sugerir, como fazem os bolsonaristas, que estaríamos melhor sem eles.
Do mesmo modo, a saúde da democracia se mede pelo vigor da oposição. Nenhum grupo no poder que se considere democrático pode tratar a oposição como se fosse uma ameaça existencial. No Brasil sob a Presidência de Jair Bolsonaro, contudo, todos os que não devotam total lealdade ao governo são vistos não como opositores, mas como inimigos que almejam destruir o País.
O bolsonarismo, como todo movimento de corte autoritário, vive de cevar fantasmas para atemorizar a sociedade. A todo momento, vozes muitas vezes autorizadas por Bolsonaro – quando não o presidente em pessoa – invocam das trevas imaginárias a assombração da volta do lulopetismo ao poder. Segundo esse discurso, quem contraria Bolsonaro – na imprensa, no Congresso e no Judiciário – faz parte de uma grande conspiração para ressuscitar a turma de Lula da Silva, o Belzebu do bolsonarismo.
Nada nem ninguém escapa desse julgamento sumário – até o ex-ministro Sérgio Moro, outrora herói bolsonarista, foi chamado de “Judas” pelo presidente Bolsonaro porque ousou contestá-lo. Se o Supremo toma decisões que atrapalham o projeto de poder bolsonarista, como tem acontecido com frequência ultimamente, isso significa que os ministros togados estão a serviço do diabo, que não é vermelho à toa. Se o Congresso não vota os projetos do governo e não aceita sem discussão todas as medidas, inclusive as esdrúxulas e as ilegais, emanadas do Palácio do Planalto, então está claro que os políticos continuam a ser o grande empecilho para a redenção nacional prometida por Bolsonaro.
O bolsonarismo empenha-se em fazer o País acreditar que poucos brasileiros hoje se abalariam em defender o Supremo e o Congresso, especialmente quando estes se negam a atender aos desejos de Bolsonaro. Afinal, dizem, Bolsonaro é justamente a resposta natural e necessária a um sistema podre, que só pode ser aniquilado de vez por alguém como ele, que deliberadamente ignora os mais básicos princípios do exercício da Presidência. Sendo assim, quando desrespeita as instituições republicanas, Bolsonaro, segundo os ideólogos do movimento que leva seu nome, na verdade está enfrentando corajosamente os responsáveis pela destruição do Brasil.
Nessa mistificação que faria inveja aos fabuladores petistas em seus bons tempos, Bolsonaro surge como o campeão da guerra para livrar o País da corrupção e do “marxismo cultural”, cuja máxima expressão é o Foro de São Paulo, organização de partidos esquerdistas latino-americanos que só petistas nostálgicos e bolsonaristas paranoicos ainda levam a sério.
Para o bolsonarismo, o Foro de São Paulo e o PT de Lula da Silva são mais perigosos para o País do que o coronavírus, tratado pelo presidente Bolsonaro como uma “gripezinha”. Pouco importa que Lula da Silva seja hoje praticamente um zumbi político, que só aparece no noticiário quando sofre suas rotineiras derrotas na Justiça nos diversos processos a que responde por corrupção.
Lula, o PT e a esquerda latino-americana são as estrelas do bestiário bolsonarista, que o presidente brande sempre que precisa justificar os atos injustificáveis de sua funesta Presidência. Mais de uma vez, Bolsonaro cobrou apoio incondicional a seu governo sob o argumento de que, sem isso, “o PT volta” ou então “o Brasil vai se transformar numa Venezuela”.
No mais recente exemplo disso, durante a vergonhosa intrusão no Supremo Tribunal Federal protagonizada por Bolsonaro e um punhado de sindicalistas patronais, para pressionar aquela Corte a flexibilizar as medidas de isolamento adotadas contra a pandemia de covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que “a economia está começando a colapsar e não queremos o risco de virar uma Venezuela” ou “de virar sequer a Argentina”.
Cruz-credo!
Folha de S. Paulo
Pressão deflacionária
Queda de preços em abril reforça corte de juros; dólar e dívida são riscos
Com a queda de 0,31% dos preços ao consumidor em abril, a maior para o mês desde 1998, vai se confirmando o diagnóstico de que o impacto da pandemia de Covid-19 é deflacionário. Fora alimentos, todos os outros grandes grupos de produtos experimentaram pressão de baixa, o que sugere falta geral de demanda na economia.
Medida pelo IPCA, a inflação em 12 meses ficou em 2,4%, inferior à meta de 4% fixada para este ano —e mesmo ao piso de 2,5% admitido pela política do Banco Central.
A tendência, ao menos por enquanto, é de queda adicional. Para 2021, as projeções também apontam para inflação bem abaixo da meta de 3,75%, o que confere espaço para o Banco Central reduzir ainda mais sua taxa de juros, a Selic.
Há decerto dúvidas quanto à duração do fenômeno. O risco de surpresa inflacionária mais adiante existe, dada, por exemplo, a forte desvalorização do real, que encarece as mercadorias importadas.
Mas, com estoques em alta e a possibilidade de mudança duradoura nos hábitos do consumidor, reduz-se o espaço para uma grande recomposição de preços por parte das empresas.
Diante desse cenário, o BC cortou os juros em 0,75 ponto percentual, desta vez para 3% ao ano, novo recorde baixista. A autoridade monetária indicou, além disso, que, se não houver mudança significativa na conjuntura, deverá promover mais uma queda de magnitude similar, levando a Selic a 2,25%, algo impensável poucos meses atrás.
Há riscos na estratégia, sem dúvida. Um deles é o incentivo, em tese, para saída de capitais do país, ocasionando perdas ainda maiores do valor do real ante o dólar. Em algum momento, haveria repasses de custos para os preços locais.
A cotação da moeda norte-americana, com efeito, atingiu R$ 5,85 na quinta (7), maior cifra da história do real, em termos nominais.
A inflação muito abaixo das metas, no entanto, tende a pesar mais na decisão. A opção clara do BC foi por afrouxar as condições monetárias internas. Busca nem tanto estimular a demanda, que a esta altura enfrenta restrições físicas, mas minimizar o custo financeiro para empresas e famílias e, assim, facilitar uma retomada mais adiante.
A grande ameaça que paira sobre a permanência dos juros baixos, na verdade, é a fragilidade do Orçamento. A despeito da necessidade indiscutível de elevar despesas públicas para mitigar os efeitos da pandemia, o país não pode prescindir da devida cautela com as contas do Tesouro Nacional.
Sinais de desconforto aparecem, por exemplo, nos juros ainda elevados para prazos mais longos, os que mais importam para financiamentos. A própria queda do real, ademais, pode estar ligada à desconfiança quanto a solvência do governo a longo prazo.
A política monetária, sozinha, não conseguirá estabilizar a economia. Com a dívida pública mais alta, governo e Congresso precisam emitir sinais inequívocos de que retornarão à agenda de reformas no pós-crise. Do contrário, a experiência dos juros baixos será efêmera.
Valor Econômico
Toffoli disse o óbvio ao presidente Bolsonaro
O presidente gostaria de poder reabrir a economia por decreto
Na semana passada, depois de comandar uma inusitada e despropositada marcha de empresários e de ministros do governo até o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro certamente ouviu do titular daquela Corte, José Dias Toffoli, o que não gostaria.
Com ponderação e bastante equilíbrio, mesmo naquela situação constrangedora a que foi submetido, com o seu gabinete sendo ocupado por dezenas de pessoas sem acerto prévio, Toffoli disse ao presidente que é necessário um planejamento, de forma articulada com governadores e prefeitos, para a reabertura da economia. O presidente do Supremo disse o óbvio, que pode ser entendido por qualquer pessoa de bom senso.
É insondável a razão que levou Bolsonaro a comandar a passeata, que foi filmada e colocada em sua rede social em tempo real. O presidente gostaria de poder reabrir a economia por decreto e parece culpar Toffoli pelo fato de o Supremo ter decidido que os governos estaduais e municipais, além do governo federal, podem determinar regras de isolamento, quarentena e restrição de transporte e trânsito em rodovias em razão da pandemia do novo coronavírus.
Essa decisão foi tomada pelos ministros do STF de forma unânime. Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre o funcionamento das instituições brasileiras sabe que Toffoli não poderia alterar a decisão colegiada. Então, por que Bolsonaro foi ao Supremo? Após o lamentável episódio, alguns empresários disseram que não sabiam que iriam participar da marcha e que não foram consultados sobre ela antecipadamente. Mas, o fato é que dela participaram.
Desde o anúncio da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que se viu no Brasil foi uma completa desarticulação entre os governos estaduais, municipais e o federal sobre as medidas de combate ao novo coronavírus. Em grande medida, por causa do primeiro mandatário do país, que considerou a covid-19 como “uma gripezinha”. Preocupados em salvar a vida dos seus cidadãos, governadores e prefeitos foram adotando medidas de isolamento social, em alguns casos de maneira atabalhoada e com excessos.
Caberia ao governo federal, no entanto, fixar as regras para o isolamento social, estabelecendo limites e responsabilidades para cada ente da federação. Isto não foi feito e, ao contrário, o presidente adotou uma atitude radicalmente contrária a medidas de isolamento, chegando a demitir o ministro da Saúde, em plena pandemia, por ele discordar das suas teses.
Com dados sobre a atual situação da economia, que registra forte aumento do desemprego e paralisia de setores industriais importantes, Bolsonaro volta a defender o fim do isolamento, sem apresentar à sociedade um plano com essa finalidade. No dia 22 de abril, o novo ministro da Saúde informou que o governo iria lançar uma diretriz para que Estados e municípios possam criar políticas e programas próprios relacionados ao isolamento social.
Na quarta-feira passada, o ministro disse que a tal diretriz estava pronta, mas que o governo ainda estudava a melhor forma de divulgá-la. Na sexta-feira, ele voltou a dizer que é preciso uma articulação do governo federal, dos Estados e municípios para melhor enfrentar a pandemia e evitar o pior. Com isso, parece que apenas o presidente da República não concorda.
A maioria dos países adotou o isolamento social no combate à pandemia, alguns decretaram até mesmo um bloqueio total das atividades (o que é chamado de “lockdown”), com prisão daqueles que não obedecessem. As economias de todos eles apresentaram retrações recordes, com aumento expressivo do desemprego. Depois de passado o pico do contágio, com a situação dos hospitais sob controle, vários deles estão agora reabrindo, de forma planejada e gradual, suas atividades econômicas.
Os dados disponíveis indicam que o contágio da população brasileira pelo vírus ainda é ascendente e, diante dessa realidade atroz, vários governadores estão decretando o fechamento completo das atividades de seus Estados e outros, adiando a data da reabertura da economia que haviam programado. Por causa do número alarmante de novos casos da covid-19, a reabertura desejada por todos deverá demorar um pouco mais. Até lá, talvez o governo consiga apresentar um planejamento minimamente coerente de como isso será feito.