MANCHETES
O Globo
Bolsonaro apoia ato antidemocrático, repudiado por ministros do STF e Maia
À PF, Moro cita vídeo do Planalto como prova
País passa dos 100 mil casos, e Rio, dos mil mortos
Marta Temido – ‘Não dá para voltar à vida como era’, afirma ministra portuguesa
Com pandemia, economia tem a pior década em 120 anos
Governadores criticam projeto, mas cobram agilidade na votação
Em Manaus, um surto de mortes dentro de casa
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro afirma estar no limite e diz ter apoio das Forças Armadas
Manifestantes pró-governo agridem equipe do ‘Estado’
‘Estado’ repudia ataque
A voz da caserna
Ao reforçar acusações, Moro cita ministros
‘Pela 1ª vez, Receita vai dar dinheiro’
Cresce a pressão para o governo gastar mais
Folha de S. Paulo
Bolsonaro vai a ato, diz ter apoio militar e desafia STF
País já soma 101 mil casos de Covid-19 e 7 mil mortos
Crise pode retirar até R$ 500 bi dos brasileiros
Quarentena reforça pornô feminista, diz diretora do Grupo Playboy
Criador do aplicativo Zoom, para reunião virtual, chinês fica US$ 4 bi mais rico
País e promotores recorrem à Justiça contra aula remota
Recuperados da Covid-19 não se reinfectaram
Moradores de Ilhabela são barrados na balsa ao voltar para casa
Vizinhos, Paraguai e Argentina temem situação no Brasil
Valor Econômico
BNDES deve fazer aporte de US$ 1 bi para salvar Embraer
Palavra empenhada
‘Pandemia não vira o mundo do avesso’
Covid-19 avança no interior para municípios menores
EDITORIAIS
O Globo
Bolsonaro insiste na desobediência institucional
Radicalização no ataque às instituições ameaça quebrar juramento que fez na posse
O presidente Jair Bolsonaro parece ter decidido se manter de vez na trajetória de desobediência institucional para fazer um teste mais forte dos limites que a Constituição impõe ao Executivo. Os arroubos autoritários de Bolsonaro, da família e de seguidores mais sectários vêm de antes da posse. A liberdade de expressão é um direito, mas todos podem ser responsabilizados se atentarem contra preceitos também constitucionais. Dessa forma, com idas e vindas e correção de desvios por força da Lei, vive-se na democracia, em liberdade e aperfeiçoamento constante.
Promote health. Save lives. Serve the vulnerable. Visit who.int
O que tem feito o presidente é algo diferente e mais grave, pelo cargo que ocupa. Tem pregado a sedição, com ameaças claras à ordem constituída. Vai muito além da irresponsável militância que exerce contra o isolamento social, e leva seguidores a fazerem o mesmo, preocupado exclusivamente com seu projeto eleitoral, que teme ser prejudicado caso demore a retomada da economia devido à epidemia do coronavírus. Junta-se a um grupo de autocratas bizarros e coloca o Brasil na companhia isolada de Bielorússia, Turcomenistão e Nicarágua. Não se preocupa com a marcha sem recuo da Covid-19 no país para ultrapassar, ontem, 7 mil mortos e 100 mil contaminados.
A participação de Bolsonaro em mais uma manifestação antidemocrática em Brasília, duas semanas depois da primeira, marca a radicalização do presidente. Naquela, na entrada do Quartel-General do Exército, entre slogans em favor de um golpe militar e um novo AI-5, ele soltou um pouco enigmático “não queremos negociar nada”. Nesta última aglomeração, desta vez em frente ao Planalto, também com ataques de militantes ao ex-ministro Sergio Moro, o presidente foi adiante na sua visão autocrática do poder, repetindo a leitura canhestra que faz da Carta: “Queremos a independência verdadeira dos Três Poderes (…). Chega de interferência. Não vamos admitir mais interferência”, avisou o presidente, aproximando-se de um chavismo de direita — todos os poderes nas mãos do Executivo, com Judiciário e Legislativo no papel de figurantes. O que é inaceitável. Para reforçar o caráter autoritário e ilegal do ato, bolsonaristas atacaram repórteres do jornal “O Estado de S.Paulo”, agredindo a própria liberdade de imprensa.
O presidente repete a postura que teve na posse do ministro da Justiça e Segurança Pública e do advogado-geral da União, André Mendonça e José Levi, quando reclamou do impedimento de nomear o delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da PF determinado pelo ministro Alexandre de Moares, do STF, a pedido do PDT. São os freios e contrapesos da democracia funcionando, contra o que Bolsonaro se revolta. Mas tem de obedecer, é assim que funciona. E terá de continuar a funcionar. Mesmo que não goste de investigações que ameaçam filhos e podem iluminar os porões que sustentam manifestações como a de ontem, uma investigação sob a responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes, não por acaso objeto de agressões do bolsonarismo e causa de irritações do presidente.
Bolsonaro, nesta radicalização, começa rasgando o próprio juramento que fez na posse, conforme o artigo 78 da Carta: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro (….)”. Na política e na saúde, ele vai em sentido contrário. O presidente aceitou as regras constitucionais para se eleger deputado federal e presidente da República. Agora quer virar a mesa, o que é inconcebível.
Bolsonaro garantiu que as Forças Armadas estão ao seu lado nesta empreitada inconstitucional. Estaria certo disso depois de ter se reunido, sem registro na agenda, com chefes militares. A ver se as Forças Armadas aceitam manchar sua imagem reconstruída com muito esforço, profissionalismo e disciplina.
Há duas semanas, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, depois do ato no QG do Exército, reafirmou o compromisso das Forças Armadas com a Constituição, promulgada há 32 anos, num processo político de redemocratização em que foram fundamentais. E continuam sendo nessas três décadas contínuas de estabilidade democrática, o mais longo período de normalidade sem interrupções em 131 anos de República.
O Estado de S. Paulo
Quando se tolera o intolerável
As denúncias não podem ser esquecidas sob a alegação do caráter excepcional da covid-19. Tolerar o intolerável é abrir a porta para desmandos ainda maiores
Aos que pregam acomodar a situação política, sem fazer especial caso das acusações do ex-ministro Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, vale lembrar a experiência de 2005, quando lideranças políticas optaram por poupar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do mensalão. O País sofre até hoje as consequências dessa transigência com a ilegalidade.
Em junho de 2005, envolvido em denúncias de corrupção nos Correios, o deputado Roberto Jefferson (PTB) revelou a existência de um esquema de compra de votos realizado pelo PT, o mensalão. Segundo o então presidente do PTB, o partido de Lula pagava mesadas de R$ 30 mil para que parlamentares votassem a favor do governo na Câmara.
Instaurada no mesmo mês, a CPI dos Correios foi ocasião para que o País tomasse conhecimento de como o PT operava no poder, num amplo esquema de corrupção. Diante dos escândalos, José Dirceu renunciou à chefia da Casa Civil, sendo substituído por Dilma Rousseff. O presidente do PT à época, José Genoino, também teve de deixar o cargo. Houve vários indiciamentos. Os mandatos parlamentares de Roberto Jefferson e José Dirceu foram cassados. No entanto, o presidente Lula foi estranhamente poupado.
Em agosto de 2005, no auge da crise, Lula reconheceu a existência de ilegalidades no governo. Em pronunciamento nacional, o então presidente da República disse que tinha sido “traído por práticas inaceitáveis das quais nunca teve conhecimento” e pediu desculpas pelos “erros” cometidos. Era o primeiro mandato presidencial de Lula, e houve uma acomodação da oposição, com base num raciocínio que se mostrou completamente equivocado. A ideia era de que não havia necessidade de um processo de impeachment, já que, diante de tantas denúncias, Lula não seria reeleito. Bastaria esperar as eleições de 2006.
Longe de enfraquecer o PT, a tolerância com Lula no mensalão facilitou a permanência do partido no poder. Se mesmo com todas aquelas revelações Lula era deixado intacto, a consequência era de que ele poderia fazer, a partir daquele momento, o que bem entendesse. Depois, o País teve o dissabor de ver até onde o PT foi capaz de ir. Petrolão, aparelhamento ideológico e a desastrada política econômica petista são alguns exemplos da falta de limites.
Agora, em vez de Roberto Jefferson, tem-se o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, denunciando a insistência de Jair Bolsonaro em interferir politicamente na Polícia Federal (PF). No dia 24 de abril, o ex-juiz da Lava Lato não pediu demissão do cargo por divergências políticas. Ele acusou o presidente Bolsonaro de querer “ter (na chefia da PF) uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. (…) Não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”. Segundo Moro, “o presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna na Polícia Federal por esse motivo”. No mesmo dia, uma prova contundente dessa acusação foi apresentada ao País. Em conversa de WhatsApp com o então ministro Sérgio Moro, o presidente da República indicou que a investigação de deputados bolsonaristas era mais um motivo para trocar a chefia da PF.
As acusações são gravíssimas e é preciso investigar. Não há manobra política capaz de apagar as denúncias de Sérgio Moro. A interferência do presidente da República na PF, algo que não ocorreu nem mesmo nos desastrosos governos petistas, como lembrou Sérgio Moro, não pode ser relevada por um acordo político. Trata-se de denúncia que envolve aspecto central do Estado de Direito – a capacidade de o poder público investigar com isenção as violações da lei.
Sendo tão graves, as denúncias também não podem ser esquecidas sob a alegação do caráter excepcional da crise da covid-19. A pandemia não foi motivo suficiente para deter o ímpeto do presidente Jair Bolsonaro de remover Maurício Valeixo da Superintendência da PF. Não cabe agora valer-se dela como desculpa para não investigar. A experiência de 2005 com Lula ensina: tolerar o intolerável é abrir a porta para desmandos ainda maiores.
Folha de S. Paulo
Marcha dos covardes
Incitados pela conduta do presidente, celerados agridem democracia e imprensa
No domingo (3), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, numa sucessão de eventos que infelizmente se tornam habituais no Brasil, um punhado de celerados se reuniu em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, para defender, entre outras coisas, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e uma intervenção militar.
Mais uma vez, o presidente Jair Bolsonaro achou por bem juntar-se aos manifestantes e gritar palavras de ordem que os legitimam. Ele sabe que as bandeiras afrontam a Constituição, mas não se importa. É o agitador de sempre, o antiestadista, o eterno deputado medíocre do baixo clero.
De novo, entre as sandices proferidas pelo atual ocupante do cargo máximo do Executivo brasileiro, estavam ataques ao jornalismo. A prática de Bolsonaro é macaqueada de seu inspirador norte-americano, Donald Trump, que já definiu a imprensa norte-americana como “inimiga do povo”, uma expressão popularizada, ironia das ironias, pelo ditador comunista Josef Stálin na União Soviética.
Palavras têm consequências. Mais ainda se ditas e repetidas por líderes políticos.
No mesmo ato de domingo, um repórter-fotográfico do jornal O Estado de S. Paulo e o motorista que o ajudava na cobertura foram agredidos com chutes (pelas costas), murros e empurrões. Profissionais da TV Globo, do portal Poder 360 e desta Folha também sofreram ataques físicos ou verbais.
Algo semelhante havia ocorrido no dia anterior em Curitiba, durante o depoimento do ex-ministro da Justiça Sergio Moro na sede da Polícia Federal, a partir de acusações que implicam o presidente em crimes de responsabilidade.
Bolsonaristas que antes inflavam balões com o rosto do ex-juiz agora o ofendiam com impropérios —e atacavam a imprensa. Um cinegrafista de uma afiliada da TV Record teve a câmera empurrada.
Ao saber do ocorrido no domingo, Bolsonaro respondeu: “Pessoal da Globo vem aqui falar besteira. Essa TV foi longe demais”.
A fala infelizmente é coerente com a prática. Levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostra que nos primeiros quatro meses de 2020 o presidente investiu contra a imprensa 179 vezes, 38 delas só em abril.
O protesto do fim de semana teve como gatilho uma decisão de ministro do STF que impediu Bolsonaro de nomear um apaniguado como diretor-geral da Polícia Federal, que investiga Bolsonaro e família. Trata-se do sistema de freios e contrapesos de um regime democrático em funcionamento.
Uma imprensa livre e independente faz parte desse sistema. Ela seguirá vigilante, apesar das agressões da marcha dos covardes.
Valor Econômico
Duas décadas da melhor informação econômica
A melhor arma do Valor está nos seus princípios: defesa intransigente da democracia e denúncia da corrupção e da incompetência no trato dos assuntos públicos
O Valor completa 20 anos como o mais prestigiado e premiado jornal de economia do país. A meta, traçada desde 2 de maio de 2000, quando começou a circular, foi plenamente atingida: “Oferecer um panorama abrangente e confiável do que ocorre na esfera produtiva, capaz de auxiliar a tomada de decisões pelos agentes econômicos e, ao mesmo tempo, servir de orientação para o público em geral”, como se propôs no editorial de fundação.
O Valor, fruto da união dos esforços do grupo Folha e das Organizações Globo – hoje sob controle só do Grupo Globo – e da criatividade do jornalista Celso Pinto e da redação que dirigia, atingiu em poucos anos a liderança entre jornais econômicos. Criado em plena bolha das empresas pontocom, o jornal tinha como projeto a constituição de uma ampla plataforma de informações que pudesse ser acessada por vários meios – já nasceu com um site de notícias a seu lado.
Em duas décadas, o mundo mudou muito e trouxe novos desafios, que o Valor soube enfrentar. A economia mundial acelerou seu processo de globalização, viu crescer um gigante que se tornou a segunda maior potência do planeta, a China; atravessou a devastadora crise financeira de 2008. Vive agora uma recessão global profunda, provocada por um inimigo invisível e mortífero, o coronavírus.
O mundo econômico sofreu fortes impactos de ações políticas radicais, que o Valor acompanhou, começando com os atentados às Torres Gêmeas em Nova York, em setembro de 2001, e prosseguindo agora, em outra escala e outro ritmo, com a destrutiva irrupção dos líderes populistas que põem em xeque a democracia. No Brasil, o Valor viu a ascensão do primeiro governo de esquerda, com a eleição do ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva, sua derrocada, com o impeachment de Dilma Rousseff, e a chegada ao poder de um político veterano que sempre fez propaganda de regimes de força: Jair Bolsonaro.
O Valor cresce nos grandes eventos, pois neles é ainda mais necessário fornecer a empresários, seu público principal, e leitores em geral, as melhores reportagens e análises para que possam vislumbrar suas consequências e agir com base na melhor informação. Tanto no auge do crescimento econômico recente, nos governos Lula, como no fosso de uma das maiores recessões, no segundo mandato de Dilma, o Valor soube se mostrar indispensável pelas qualidades que exibiu desde o início: imparcialidade, pluralismo, apartidarismo, confiabilidade, amplitude e profundidade das informações.
A batalha da informação nunca termina e os veículos que não se modernizam, definham. Este risco se tornou mortal na última década, com a expansão vertiginosa da internet, da proliferação das fontes de informações, e do surgimento de gigantes de TI que dominaram a mídia, como Google e Facebook. O Valor soube concorrer bem em todas as frentes. Lançou em janeiro de 2013 o Valor Pro, canal de notícias em tempo real, voltado ao mundo financeiro e corporativo, com agilidade, notícias concisas em primeira mão, análises gráficas e o apoio do maior banco de dados com análise sobre empresas do país (mais de 8 mil), trabalhado pelo Valor Data.
Neste período, o mercado de capitais, antes esmagado pela instabilidade econômica, prosperou. À crescente criação de novos instrumentos financeiros correspondeu o apetite informativo dos investidores por aplicações de maior rendimento, risco e complexidade. Por isso foi lançado em 2019 o Valor Investe, site dedicado ao universo multifacetado das finanças pessoais.
A imprensa ainda se debate com o desafio da era digital, cuja equação de sustentabilidade empresarial é um enigma em aberto. O Valor manteve sua saúde financeira no mundo impresso e avança nas outras plataformas. Em março, teve 9,63 milhões de visitantes mensais e o novato Valor Investe 6,5 milhões. Foram 58,37 milhões de pageviews e 14,6 milhões, respectivamente.
A revolução digital dos meios de comunicação deu origem a um desafio político de porte: fake news. As informações veiculadas pelo Valor e grande imprensa são o melhor antídoto à mentira proposital – e os leitores reconhecem isso. O jornalismo vive ainda a ameaça das campanhas de agressão vindas do presidente da República. A melhor arma do Valor está nos seus princípios: defesa intransigente da democracia e denúncia da injustiça, corrupção, violência, arbitrariedade e incompetência no trato dos assuntos públicos. Sem eles não se faz um bom jornal.