Risco de rompimento democrático deve unir centro, esquerda e direita contra o bolsonarismo

Em conversa online com a juventude do Cidadania, Roberto Freire defende CPI como forma de chegar ao impeachment de Jair Bolsonaro e diz que cabe às forças que promoverem o afastamento dar sustentação a quem vier a assumir; ele ponderou, contudo, que posicionamento da legenda a respeito ainda não está fechado

Na avaliação do presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, embora não sejam grandes, os riscos de rompimento democrático existem e devem ensejar a união de forças à esquerda e à direitar para fazer frente a qualquer tentativa autoritária do presidente Jair Bolsonaro. As declarações foram dadas a integrantes da Juventude do partido na live Papo23, neste sábado (16). Segundo ele, há ambiente para uma quartelada e um autogolpe.

“A sociedade está desarmada. As instiuições meio inertes e problemáticas. Não sei se ele tem poder armado, pode estar se organizando, com forças militares, com as políciais nos estados, milícias e essa sua ideia de cidadãos armados. Vamos chegar a 22? Não são grandes os riscos, mas eles existem”, respondeu, quando questionado sobre a possibilidade de o exército assumir.

Mas os militares querem assumir mesmo com a crise que se instalou? Para ele, os fardados que estão no governo já se transformaram em políticos. “A crise já existia antes. Nenhum politico foge da raia porque a situação é crítica. Nem os políticos nem as Forças Armadas, até porque já assumiram no passado”, observou. Também quando questionado, Freire disse não ver risco de “guerra civil”, mas reiterou que “milícias armadas” são um problema real.

Tropas de assalto

Ele lembrou os exemplos históricos e inclusive recentes que preocupam. “Isso foi muito utilizado na década de 1930 na Itália e na Alemanha, com os Camisas Negras e Camisas Pardas. Eram tropas de assalto e milícias armadas que, mais tarde, apesar da resistência das Forças Armadas desses países, foram incorporadas ao aparato armado dos Estados nazifascistas. O mesmo está ocorrendo na Venezuela. Bolsonaro era admirador de Chavez e isso não mudou. Tenho receio e precisamos estudar como se articulou o golpe na Turquia”, apontou.

O que dá certa segurança ao país, diz Freire, são as atuações do Supremo Tribunal Federal e mesmo do Congresso Nacional, onde o partido tenta a instalação de uma CPMI para investigar as denúncias do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. “Você tem um STF que está tendo postura impecável, talvez até extrapolando um pouco. Mas há tentativa de formar um dique contra ações de desrespeito à Constituição e à Democracia”, ponderou.

O presidente do Cidadania disse ver na CPMI a chance de viabilizar o impeachment, desde que as forças democráticas à esquerda e à direita se unam. “Bolsonaro está tentando com o centrão se resguardar. Rodrigo [Maia, presidente da Câmara] está com certo temor de instalar uma CPMI. Mas será instrumento não de provocações, mas de importante afirmação. O PT diz que não quer porque pode ser palanque para Moro”, disse.

Frente democrática

Ele argumentou que 2022 não pode estar em questão e que o campo democrático deve estar aberto para receber adversários do bolsonarismo, ainda que dissidentes. “Podemos fazer a crônica do passado, mas não tem de ficar olhando a vida pregressa pra construir a futura. Temos de construir a vida futura”, disse, ao reconhecer que Moro pode realmente emergir como figura política de força nesse processo.

“Temos de agilizar agora o mais rápido possível. Superar qualquer ideia de exclsuão. Que valor maior temos de defender? Nosso adversário de valores é o Bolsonaro, que está colocando a democracia em risco. Cidadania precisa ser grande instrumento pra isso. Temos tradição e podemos fazer. Superamos o sectarismo quando iniciamos a afirmação, no velho PCB, do valor universal da democracia no início da década 1960. Na luta contra a ditadura, exercemos grande protagonismo na formação daquela frente”, opinou.

Sobre questionamentos a respeito de o vice, general Hamilton Mourão, assumir com o impeachment, Freire ponderou que o assunto ainda é debatido internamente no Cidadania, mas disse que o rito constitucional deve ser respeitado. “Do ponto de vista democrático, impeachment é instrumento constitucional. Se você impedir o presidente, assume o vice. Não tenho que discutir se é ou não o Mourão. Tem de assumir quem manda a Constituição”, pontuou.

Sem ingenuidade

Ex-deputado e ex-senador, Roberto Freire foi líder do governo Itamar Franco. Lembrou que quando do afastamento do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, não se sabia ao certo qual seria a composição do governo, mas considerou que é obrigação das forças políticas responsáveis pelo processo dar sustentação política a quem assume.

Afastou, contudo, qualquer ingenuidade sobre o perfil de Mourão. “Eu sei quem é Mourão. No governo Temer, ele foi mandado para uma chefia do Exército por conta de suas inclinações golpistas. Mas se houver impeachment, serão as forças políticas que fizeram que serão a base do governo que assumir. Ele não será continuidade do governo Bolsonaro. Vai chegar o momento em que teremos [no Cidadania] de começar a fazer campanha efetiva pelo impeachment”, avaliou.

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