Em tempos de pandemia do novo coronavírus, há a percepção de que muita gente parece ter descoberto que é um pouco cientista, médico ou especialista no tema. Quem é da ciência estuda, pesquisa, testa, aplica e descobre. Quem não conhece, não pode atrapalhar. Tem que apoiar, aplaudir, incentivar e buscar experiências bem sucedidas.
São exemplos como o da Alemanha que, em 2019, destinou o equivalente a quase R$ 200 bilhões de reais em pesquisas nas universidades. Não é à toa que o país tem para exibir, orgulhosamente, nomes como Alois Alzheimer, Robert Koch, Albert Einstein e Jürgen Habermas. Esses cérebros contribuíram com trabalhos que revolucionaram a ciência.
Outro exemplo de fomento maciço em pesquisa vem de Israel. Com apenas 8,5 milhões de habitantes, é considerada a nação mais inovadora do mundo. O país possui o maior nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação ao PIB e o maior número de cientistas, engenheiros, patentes médicas e profissionais em tecnologia em termos per capita.
Enquanto isso, no Brasil – terra do médico e cientista Oswaldo Cruz, o atual governo federal, mesmo antes da decretação da pandemia da covid-19, já havia dado demonstração de que investir em ciência e pesquisa não está no seu radar. O presidente da República vetou uma emenda de minha autoria que impedia que a União “congelasse” recursos para instituições como a Fiocruz, Embrapa e para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O Congresso Nacional reagiu e derrubou a “canetada” presidencial. Vitória da ciência.
A discussão atual se dá sobre o uso ou não da cloroquina no tratamento contra a covid-19. Logo se formaram torcidas, como aquelas vistas em final de campeonato de futebol. Parte defende a prescrição, outra não. É o estudo científico que pode dar a devida resposta, baseada em protocolos rígidos. Não se joga com a vida de pacientes.
A respeitada Fiocruz em seu portal diz textualmente: “Especialistas afirmam que não se deve usar cloroquina ou hidroxicloroquina para prevenir ou tratar a covid-19 sem o devido acompanhamento médico”. Então por que um presidente da República defende com tanta veemência o uso da referida substância? A fala do mandatário ainda bate de frente com a as constantes advertências do Ministério da Saúde do seu próprio governo. Médicos renomados e sérios alertam sobre possíveis problemas que podem ser causados pelo medicamento, em especial em casos leves de coronavírus.
Aos líderes políticos, cabe ouvir, respeitar e seguir as recomendações estritamente técnicas. O que não pode é, sob o pretexto de uma suposta preservação da economia, por impulso, por vaidade ou na base do “achismo” contrariar instituições sérias e respeitadas como a própria Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nesse sentido, valem para todos nós os ensinamentos do dr. Albert Sabin, que após o término da Segunda Guerra Mundial voltou aos Estados Unidos com força total para concluir os estudos que levaram à descoberta da vacina contra a poliomielite. A ciência não pode parar, nenhuma barreira pode detê-la. Que o Brasil e o mundo sigam este receituário agora e depois dessa batalha mundial contra um inimigo invisível. (O Estado de S. Paulo – 05/05/2020)
Arnaldo Jardim é deputado federal por São Paulo, líder do Cidadania na Câmara e autor de emenda legislativa que impede o governo federal contingenciar recursos para pesquisa e tecnologia