Ana Rita Negrini Hermes: Minha missão

Nasci em Caxias do Sul, mas sou joinvilense de coração há 35 anos. Sou professora de inglês, intérprete, tradutora juramentada, ativista da causa animal e, no momento, estou vereadora. 

Sempre fui voltada às causas sociais e fazia muitas ações, principalmente em prol de crianças carentes, quando eu era dona de uma das franquias da escola de inglês Yázigi.

Envolvi-me na causa animal em 2009, quando um cachorro perdido entrou na minha escola e eu não sabia direito o que fazer. Lembro que, naquele dia, a única coisa que me ocorreu foi trancá-lo em uma sala para que ele não fosse atropelado. Em seguidapedi ajuda para uma amiga que já havia resgatado animais na mesma situação e, a partir deste momento, passei a me envolver cada vez mais na causa animal

Sempre tive animais de estimação, mas não tinha a consciência que eu tenho hoje. Comecei a enxergar toda a problemática que existe por trás de um animal solto na rua, por exemplo. Um único animal solto pode causar um grave acidente de trânsito, pode atacar alguém, pode transmitir doenças, pode sofrer maus-tratos, causar poluição ambiental ao derrubar o lixo em busca de comida. Nada disso a gente enxerga quando está de fora. A maioria das pessoas não entende que se trata de um grave problema de saúde pública e que atuar na causa animal reflete diretamente na vida e na saúde das pessoas.

A Frente de Ação pelos Direitos Animais (Frada) surgiu em 2009,quando fiquei sabendo que o município de Joinville planejava construir um Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) que poderia praticar a eutanásia de animais que fossem retirados da rua. Achando isso um total absurdo e uma crueldade imensa, me juntei a um grupo de pessoas que estava fazendo uma manifestação contra o CCZ na Câmara de Vereadores, e ali nasceu a Frada. Após a manifestação, convidei o grupo para nos reunirmos e criarmos as diretrizes para a criação de uma ONG voltada para políticas públicas em prol dos animais.

Nas reuniões seguintes decidimos escrever uma lei para a criação de um Centro de Bem-Estar animal no lugar de um CCZ. Fizemos um compilado das melhores leis do país e entregamos a um vereador. Foi quando descobri o que era “vício de origem”. Um vereador não poderia colocar em votação um projeto que gerasse custos ao município, assim, nosso projeto precisaria ser protocolado pelo Executivo. O projeto foi entregue ao prefeito da época, que fez várias alterações. A Câmara aprovou, e começou a surgir o sonhado Centro de Bem-Estar Animal (CBEA).

O Centro de Bem-Estar Animal demorou ainda dois anos para sair do papel e tivemos de brigar muito pela sua inauguração. Fizemos um abaixo-assinado e entramos, junto com o Ministério Público, com uma ação contra o Executivo para que o CBEA, enfim, fosse entregue ao município em abril de 2012.

Isso foi apenas o começo. Além da inauguração do CBEA, tiveque lutar muito para que o município investisse em castração. Esta é a medida mais eficaz para se controlar o problema de superpopulação de cães e gatos. Graças a essa luta, hoje o município disponibiliza cerca de seis mil castrações por ano para os animais da população e da proteção animal.

Por meio de palestras em escolas, faculdades e empresas, comartigos em jornais e entrevistas em rádios e TVs, as meninas da Frada e eu aos poucos fomos conseguindo conscientizar parte dapopulação de que animais são seres sencientes, ou seja, sentem dor, medo, saudades, tristeza, fome etc., e precisam ser cuidados adequadamente. 

A certeza que eu tenho de que consegui uma grande mudança neste sentido é quando ouço as pessoas se referirem aos seus animais com a palavra “tutor” ao invés de “dono”. Sempre que escuto alguém falando que é dono de algum bichinho, seja quem for, eu corrijo na hora e falo: “Você é tutor e não dono. Você é dono dos seus objetos. Um animal não é objeto, é um ser vivo”. 

Todas essas conquistas fizeram uma grande mudança na vida das pessoas e dos animais de Joinville, mas ainda estava muito longe do ideal. 

Logo que o atual prefeito foi empossado, em 2013, uma nova administração do CBEA também assumiu e tudo que havíamos conquistado parecia estar se perdendo. Participei de muitas Palavras Livres na Câmara de Vereadores, mas ninguém nos escutava. Até que decidimos, em conjunto, lançar um candidato da causa animal nas eleições de 2016. Fui escolhida para ser essa pessoa pelo meu histórico, pelas conquistas, por ser briguenta epor ser teimosa. 

Minha campanha foi feita principalmente nas redes sociais, e surpreendi todo mundo ao ser eleita com mais de três mil e quinhentos votos. Minha campanha foi a mais barata dentre os 19 vereadores eleitos.

Assim que assumi, meu foco foi o Centro de Bem-Estar Animal, porque uma das minhas metas era “ressuscitar” o local pelo qualtanto lutei. 

Também protocolei algumas leis importantes, como a que proíbe a tração animal no perímetro urbano e a definição do que são maus-tratos aos animais.

Do primeiro dia de mandato até o atual, tenho sido fiel aos meus eleitores e a todos que depositaram sua confiança em mim.

Meu aprendizado é diário. O foco da Frada e o meu, como vereadora da causa animal, é trabalhar a conscientização. Só assim as grandes e importantes mudanças podem acontecer. Modificar velhos hábitos e até crenças é uma tarefa árdua. Mas sou uma pessoa obstinada e teimosa. Não desisto. É preciso ser constante e resiliente, do contrário não vou realizar meu grande sonho de não ver mais animais abandonados, testados em laboratórios, criados para consumo e para o entretenimento das pessoas. 

Como vereadora, minha missão é garantir que os direitos animais e os direitos humanos sejam respeitados, sem que um se sobreponha ao outro. Tento, por meio dos meus projetos e das falas na Câmara de Vereadores, incentivar uma sociedade mais justa para todos, ecologicamente equilibrada e que respeite todas as formas de vida.

Ana Rita Negrini Hermes é vereadora em Joinville e fundadora da Frente de Ação pelos Direitos Animais (Frada)

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