“É muito claro para todos nós que o presidente da República está descompensado”, reagiu a senadora, ao comentar a agressão de Bolsonaro a jornalistas nesta terça-feira (6), em Brasília (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)
A líder da bancada do Cidadania, Eliziane Gama, disse nesta terça-feira no Jornal Nacional (veja texto abaixo e aqui o vídeo) que o ataque do presidente Jair Bolsonaro a jornalistas mostra que ele está descompensado e que sua atitude demonstra falta de respeito com a democracia e a liberdade de imprensa.
“É muito claro para todos nós que o presidente da República está descompensado. O presidente hoje, a forma como ele se dirigiu aos jornalistas, mandando um jornalista calar a boca, é a demonstração clara da falta de respeito com a democracia, com as liberdades e com uma imprensa livre. Ele se demonstra aí alguém totalmente desequilibrado”, afirmou a parlamentar.
Bolsonaro confirma substituição do superintendente da PF no Rio e volta a desrespeitar jornalistas
Em tom exaltado, ele disse que era uma promoção para Carlos Henrique Oliveira. E, aos berros, mandou que jornalistas se calassem.
Jornal Nacional – TV Globo
Nesta terça-feira (5) pela manhã, o próprio presidente Bolsonaro anunciou que vai substituir o superintendente da Polícia Federal no Rio. Em tom exaltado, ele disse que era uma promoção para Carlos Henrique Oliveira. E, aos berros, mandou que jornalistas se calassem.
Na saída do Palácio da Alvorada, o presidente, como sempre faz, caminhou em direção ao grupo de apoiadores aglomerados no cercadinho que fica ao lado do espaço destinado aos jornalistas. Ele segurava uma cópia do jornal “Folha de S. Paulo”, que trazia na manchete a movimentação na Polícia Federal do Rio.
Com insultos ao jornal e à imprensa, Bolsonaro se dirigiu aos repórteres em tom exaltado para anunciar que o superintendente da Polícia Federal no Rio, Carlos Henrique Oliveira, será o novo diretor-executivo da Polícia Federal. O que, segundo ele, se trata de uma promoção e não de uma interferência.
“O atual superintendente do Rio de Janeiro, que o Moro disse que eu quero trocar por questões familiares. Não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia Federal, nem eu nem meus filhos, zero. Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizendo que meus filhos querem trocar o superintendente. Para onde é que está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Para ser o diretor-executivo da PF. Ele vai sair da superintendência – são 27 superintendentes no Brasil – para ser diretor-executivo. E aí eu tô trocando ele? Eu estou tendo influência sobre a Polícia Federal?”, disse Bolsonaro.
Carlos Henrique será o número dois na hierarquia da PF, mas deixará de lidar diretamente com as investigações, que são a principal finalidade da Polícia Federal. A estrutura da PF é diferente da de outros órgãos. O diretor-executivo tem funções somente administrativas e operacionais: voltadas a atos internos e a prover estrutura para atividades externas, preparar operações. Nesse cargo, ele é informado sobre futuras operações, mas sem saber a finalidade. Cabe ao diretor-executivo, por exemplo, tratar do número de veículos e agentes em operações, mas não comandá-las.
Investigadores dizem que, na prática, essa promoção dele concretiza um objetivo do presidente Bolsonaro verbalizado desde o ano passado: substituir o chefe da PF no Rio.
A procuradoria-geral da República vai investigar as razões para essa mudança no comando da PF no Rio de Janeiro. A análise será um desdobramento dentro do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal para investigar a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na autonomia da Polícia Federal.
Em outra frente, na Justiça Federal em Brasília, o juiz Francisco Alexandre Ribeiro deu 72 horas para o presidente Bolsonaro explicar a saída de Carlos Henrique da superintendência do Rio. Ele atendeu a um pedido do Movimento Brasil Livre.
As declarações de Bolsonaro ao sair do Alvorada tiveram ainda um momento de truculência – em que ele se dirigiu de forma agressiva e desrespeitosa aos jornalistas. Foi quando voltou a atacar a manchete do jornal. “Isso é uma patifaria, é uma patifaria. Cala a boca, não perguntei nada”, disse aos jornalistas.
O presidente atacou mais uma vez o jornal e mandou novamente que os jornalistas se calassem: “Cala a boca! Cala a boca! Está saindo de lá para ser diretor-executivo, a convite do atual diretor-geral”.
A “Folha de S. Paulo” divulgou nota em que afirma que não se intimidará diante das agressões do presidente: “Mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro desrespeita a liberdade de expressão e insulta o jornalismo profissional. Seguiremos altivos e vigilantes, cobrindo os atos desta administração com isenção e independência, como fizemos em todos os governos. E não, a Folha não vai se calar”.
O tratamento desrespeitoso do presidente provocou reações de políticos e entidades. Senadores de vários partidos condenaram as declarações de Bolsonaro.
“É muito claro para todos nós que o presidente da república está descompensado. O presidente hoje, a forma como ele se dirigiu aos jornalistas, mandando um jornalista calar a boca, é a demonstração clara da falta de respeito com a democracia, com as liberdades e com uma imprensa livre. Ele se demonstra aí alguém totalmente desequilibrado”, afirmou Eliziane Gama, líder do Cidadania.
“Eu quero registrar aqui o meu repúdio à fala do presidente da república, quando fala que a imprensa deve calar-se aqui no Brasil, o que nunca aconteceu antes”, disse o líder do PSDB, Otto Alencar.
“É impossível viver numa democracia com tantas agressões diárias a diversos setores que representam o que há de mais nobre na democracia, como, por exemplo, a liberdade de imprensa”, disse Rogério Carvalho, líder do PT.
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse, em uma rede social, que “mandar um jornalista calar a boca é tentar calar a boca da democracia”.
O governador de São Paulo, João Doria, declarou: “Minha solidariedade aos profissionais da imprensa e aos veículos de comunicação. Mais uma atitude condenável de desrespeito à imprensa. Cada ameaça à liberdade de expressão atinge a democracia no Brasil. Lamentável a escalada autoritária no país”.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) destacou que “o episódio não é apenas mais uma demonstração de falta de compostura do presidente. Ao cassar a palavra dos jornalistas, Bolsonaro tentou impedir que uma questão de interesse público fosse tratada”. E que “apesar das ameaças, a verdadeira imprensa e os jornalistas comprometidos com a sua nobre profissão, não se intimidarão. Continuarão a tratar dos assuntos que julgarem pertinentes e de interesse da sociedade”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo declarou que a agressão verbal aos repórteres diante do Palácio da Alvorada e os ataques ao jornalismo em geral, apenas dois dias depois de profissionais serem agredidos a socos e pontapés durante um evento político liderado pelo presidente na Praça dos Três Poderes, são muito graves, pois aprofundam o clima de intimidação contra a imprensa.
No fim do dia, ao retornar para o Palácio do Alvorada, o presidente Bolsonaro voltou à portaria onde havia apoiadores e jornalistas. Bolsonaro disse o seguinte:
“Vou repetir agora educadamente a vocês. Desculpa aí. Eu fui um pouco grosseiro de manhã com uma senhora e um senhor aqui”.