“Faltaram explicações e sobraram dúvidas sobre os rumos que o governo está tomando no combate a essa doença terrível”, afirma a líder da bancada, Eliziane Gama (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)
Os senadores Eliziane Gama (Cidadania-MA), Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) questionaram nesta quarta-feira (29) o ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre as ações do governo federal para conter a pandemia do novo coronavírus durante videoconferência realizada pelo Senado, mas de forma geral o novo titular da pasta apresentou respostas evasivas para as perguntas dos parlamentares.
“Ao final, faltaram explicações e sobraram dúvidas sobre os rumos que o governo está tomando no combate a essa doença terrível. Só sabemos que o isolamento social tem caído em vários estados e os números de doentes e mortes só aumentam. Lamentável!”, afirmou Eliziane Gama, líder da bancada na Casa.
A parlamentar quis saber se o ministro é a favor do isolamento vertical – em tese destinado a indivíduos acima de 60 anos, portadores de diabetes, hipertensão e doenças cardíacas ou pulmonares – defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, porque em entrevistas à imprensa Teich tem dito que a avaliação do Ministério da Saúde em relação à quarentena será feita por regiões.
“Para mim isso deixa claro que a ideia defendida pelo ministro é de um isolamento vertical que já deu errado em outros países porque é uma iniciativa que aumenta o contágio. O senhor disse aqui que o governo tem o entendimento da importância do isolamento social, mas não é verdade”, assinalou a senadora.
Para Eliziane Gama, a percepção que se tem das ações do governo para combater a pandemia de Covid-19 se contrasta com as declarações em sentido contrário de integrantes do governo e do próprio presidente.
“Nós temos um presidente que desdenha das mortes no dia em que chegamos a 5 mil mortos por Covid-19. Ao invés de se solidarizar, disse que não faz milagres. Nós temos um outro ministro [Ernesto Araújo, das Relações Exteriores] que compara o isolamento a campos de concentração, com um total desrespeito, inclusive à comunidade judaica. Nós temos de forma clara a percepção de que o outro ministro da Saúde [Luiz Henrique Mandetta] caiu porque defendia o isolamento social. Então é importante sabermos a opinião do ministro”, cobrou.
Mas apesar da insistência da senadora maranhense e de vários senadores, Teich foi evasivo ao responder sobre a sua opinião em relação ao isolamento social, o que levou Eliziane Gama a manifestar insatisfação com as respostas evasivas de Teich ao longo da videoconferência.
Sem resposta
Ficou sem resposta também a pergunta de Eliziane Gma sobre a possibilidade de o governo liberar os jogos de futebol sem público. A parlamentar questionou como o governo vai garantir a saúde dos jogadores e como será o procedimento para garantir a segurança em campo.
UTIs
A parlamentar também questionou o ministro da Saúde se há previsão do governo federal liberar mais leitos de UTI no hospital da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) porque estão faltando leitos de UTI no estado tanto na rede pública quanto na privada. Porém não houve resposta.
Bolsonaro, o ‘paciente’ que mais preocupa
O senador Alessandro Vieira disse ao ministro Nelson Teich que ele tem não um, mas dois pacientes. O primeiro, o Brasil. O segundo, “que mais me preocupa”, disse o senador, é o presidente Jair Bolsonaro.
“É necessário que vossa excelência, como ministro da Saúde, como maior autoridade de saúde do Brasil, oriente o seu paciente no sentido de adotar aquilo que é necessário como medida séria”, afirmou o senador do Cidadania, lembrando que o presidente tem acumulado “declarações absolutamente irresponsáveis”.
Bolsonaro, insistiu Alessandro Vieira, “não pode obrigar o Brasil a cumprir ordens ilegais, irracionais, desmedidas”.
“É muito claro que a ação do presidente da República prejudica a saúde pública brasileira, na medida em que ele ataca, agride, aqueles governadores e prefeitos que estão tentando manter uma contenção, uma barreira [para o coronavírus], que é o distanciamento social”, disse o parlamentar.
Ele também cobrou uma posição mais “firme e contundente” do ministro da Saúde. Ao se referir às mais de 5 mil mortes já registradas no País, Alessandro Vieira disse que esses óbitos “entrarão nos currículos ministro da Saúde, do presidente da República, e de todos nós que assumimos um compromisso com a Nação”.
Médicos
O senador Jorge Kajuru manifestou ao ministro da Saúde preocupação com a pesquisa da APM (Associação Paulista de Medicina) mostrando que 50% dos médicos que atuam no combate contra o Covid-19 enfrentam no local de trabalho a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Ele questionou Teich sobre os números apresentados pela APM e quis saber qual era a opinião dele sobre o percentual de isolamento social.
“Anteontem, na primeira coletiva que o senhor deu na imprensa, disse que a saída do isolamento social não deve ser intempestiva. Quando e como isso, então, terá início? O novo Secretário Executivo do Ministério, Eduardo Pazuello, declarou que a palavra de ordem agora é não linearidade, que as orientações devem ser diferentes para cada região. Há suficiente entendimento com os governadores para a coesão entre as ações federais e estaduais. Aproveito para perguntar ao senhor: há essa coesão, na sua opinião?”, questionou o senador.
Jorge Kajuru também perguntou sobre a previsão do pico de infecções e mortes pela Covid-19.
“O senhor diria às pessoas que o pior está por vir ou que o melhor está por vir?”, quis saber, mas Teich não respondeu diretamente as indagações do senador do Cidadania.