Presidente e parlamentares do Cidadania lamentam saída de Moro e criticam Bolsonaro

O presidente do Cidadania e os parlamentares do partido no Congresso Nacional consideraram graves as denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Moro pediu demissão nesta sexta-feira (24), após exoneração do ex-diretor geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, realizada por Bolsonaro sem comunicação prévia.

Para Roberto Freire, as denúncias indicam uma crise político-institucional. “Não é só uma crise de governo. É uma crise político-institucional. O ministro Moro denunciou a interferência indevida do Presidente da República [Jair Bolsonaro] na Polícia Federal. Isso é crime de responsabilidade. Tudo indica que o impeachment entrou definitivamente na agenda política do País”, disse.

Segundo o líder do Cidadania na Câmara dos Deputados, Arnaldo Jardim (SP), as declarações são comprometedoras e graves. “Sobrou uma grande indagação: por que interferir? Qual é o objetivo do presidente da República em mexer num cargo tão relevante para a segurança pública nacional? As revelações do ministro são gravíssimas e colocam em xeque de agora em diante todo e qualquer movimento de Bolsonaro nessa seara”, afirmou.

Já a líder do partido no Senado Federal, Eliziane Gama (MA), disse que as saídas do ministro e do Diretor-Geral da PF expõem a “falência do governo federal”. “O presidente rompe com o combate à corrupção e tenta sufocar investigações que o incomodam. Enamora-se com o fisiologismo do Centrão e a troca de cargos que sempre criticou”, apontou.

A senadora lembrou que a autonomia da PF é um dos pilares da democracia. “A PF manteve relativa independência em todos os governos passados. Ao trocar seu comando, Bolsonaro dá demonstrações de que pretende interferir na atuação do órgão e impedir o avanço de investigações como a Lava-jato”, condenou.

O senador do Cidadania e delegado de Sergipe, reconhecido por sua luta no combate à corrupção, Alessandro Vieira, prestou solidariedade a Sérgio Moro. “Os canalhas precisam entender, de uma vez por todas, que existem no Brasil homens e mulheres que não se vendem e nem abaixam a cabeça para os poderosos de plantão. Toda a solidariedade ao cidadão Sérgio Moro e à equipe, em especial da PF”, afirmou.

Segundo o senador, as promessas de campanha de Bolsonaro “acabaram” com a saída do ex-ministro. “O governo prometido por Bolsonaro acabou. O plano liberal de Guedes e o plano de combate à corrupção de Moro foram derrotados pela pandemia, rachadinhas e pelo casamento com o Centrão. Resta a ignorância boçal de Weintraub e Ernesto. E alguns generais tentando evitar o desastre”, disse.

Honra e dignidade

O deputado federal do Rio de Janeiro, Marcelo Calero, destacou que Sérgio Moro acertou ao renunciar o cargo e não compactuar com atos ilegais na gestão federal. Ele lembrou que agiu da mesma forma ao deixar o ministério da Cultura na gestão passada.

“Fazer a coisa certa, sempre. Essa era a mensagem. Hoje, ao deixar o Governo, ele me fez lembrar da minha própria saída do Governo Temer. Não existe cargo que justifique crimes. Nada substitui a honra e a dignidade. Sobre a autonomia da PF: foi essencial para que eu pudesse fazer as denúncias contra Temer e contra Geddel. Lembro da integridade dos servidores da PF que lidaram com meu caso, e o alto profissionalismo e isenção de seu trabalho”, defendeu.

Para o parlamentar, a saída de Moro expõe Jair Bolsonaro e acaba com as condições morais para a permanência dele na presidência da República. “Não há qualquer condição política ou moral para a permanência de Bolsonaro à frente da Presidência da República. Se não renunciar, caberá ao Congresso Nacional encaminhar seu processo de impeachment sem demora. Avolumam-se os crimes de responsabilidade, os desmandos, a crise”, afirmou.

Caminho da corrupção

O vice-presidente nacional do Cidadania, deputado federal Rubens Bueno (PR), também fez duras criticas à saída de Sérgio Moro do ministério da Justiça. Para o congressista, Moro confirmou que o governo de Jair Bolsonaro caminha na “direção da corrupção e do ataque ao estado democrático de direito”.

“Bolsonaro prefere ficar com mensaleiros, em vez do ministro Sérgio Moro, que, apesar de alguns equívocos, prestou e ainda presta um grande serviço ao Brasil no combate à corrupção e ao assalto aos cofres públicos. Essa decisão de trocar o comando da Polícia Federal deixa transparecer que, além do caso do senador Flávio Bolsonaro, o presidente tem mais coisas a esconde. Teme o resultado dos inquéritos que estão em andamento no Supremo Tribunal Federal para investigar as fake news e as manifestações contra a democracia, como o próprio ex-ministro Moro revelou em sua coletiva”, afirmou Rubens Bueno.

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