Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (02/04/2020)

MANCHETES

O Globo

Mandetta: com equipamentos em falta, é preciso reforçar isolamento
Força-tarefa – 20 mil leitos em construção
Setor privado pode reduzir até 70% do salário ou suspender contrato
À espera do dinheiro prometido
Receita prorroga até 30 de junho prazo para declaração do IR
Entrevista Paulo Moll – Esperança no Rio

O Estado de S. Paulo

Governo libera redução de jornada de trabalho e salário
Mais informais podem ter benefício
Máscaras sim, mas de pano
Preços sobem e indústria culpa logística e demanda
Qual o impacto do coronavírus na política?
Testes rápidos têm até 75% de risco de erro
Na América Latina, isolamento pode ser insuficiente

Folha de S. Paulo

Estados e municípios relatam subnotificação de coronavírus
Governo vai liberar corte total de salário e de jornada
Estado de São Paulo tem na fila 201 exames de Covid-19 de pessoas que já morreram
Auxílio emergencial de R$ 600 a informais é sancionado
Brasil melhora de posição em ranking de países com medidas de contenção
Calor forte e falta de água encanada desafiam quarentena em palafitas no Recife
Nova crítica a governadores fragiliza apelo de Bolsonaro
Presidente falha ao não orientar as pessoas, diz Lula
Declaração do IR é prorrogada até 30 de junho
Em meio à pandemia, pessoas em situação de rua relatam preconceito em São Paulo
Risco de complicações por coronavírus já aumenta aos 50 anos, aponta estudo
Em Nova York, só sirenes quebram o silêncio das ruas

Valor Econômico

Governo adia impostos e entrega da declaração do IR
Congresso reduz poder do BC na crise
Prevent rebate ministro
Ministra afasta risco de desabastecimento
Pandemia e ‘home office’ não vão mudar o trabalho, diz especialista
Estudo aponta risco de colapso na rede pública
Em crise, Santas Casas buscam obter doações
Vazios, hotéis hospedam médicos
‘Valor’ amplia dados e põe tabelas no site

EDITORIAIS

O Globo

Bolsonaro encontrou na terça o melhor tom

Pronunciamento foi bem-vindo por indicar a necessária união diante de uma crise histórica

Em um ano e três meses de governo, o presidente Bolsonaro criou a imagem de alguém imprevisível, capaz de acertadas escolhas administrativas e desastradas atitudes políticas. Em condições normais, a característica já seria causa de preocupações com a estabilidade da gestão de um modo geral, com implicações no relacionamento com os demais poderes da República, principalmente o Legislativo, além de afetar a economia, por alterar expectativas de agentes econômicos. Em uma crise mundial grave iniciada por uma pandemia, a imprevisibilidade presidencial se torna uma fonte de ruídos institucionais que precisam ser atenuados neste momento especialmente sério.

Bolsonaro reconhece que está diante “do maior desafio da nossa geração”. Essas oscilações decorrentes do seu estilo político e pessoal, se em condições normais são inadequadas, agora muito mais — talvez ouça conselhos sensatos neste sentido de seus melhores assessores no Planalto. Seja como for, na noite de terça, o presidente encontrou seu melhor tom no pronunciamento que fez em cadeia nacional.

Não conseguiu deixar de se referir às declarações do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, que usara mal nas redes sociais na tentativa de provar a tese insustentável de que o isolamento social é um erro, mas não a defendeu abertamente. Na manhã seguinte, ontem, difundiu um vídeo fake que mostraria efeitos do desabastecimento na Ceasa de Belo Horizonte. A farsa terminou sendo desmascarada, e o vídeo, tirado do ar. Considere-se que se tratou de um tropeço que poderá ajudá-lo a filtrar os assessores mais próximos.

O presidente encontrou o tom correto no fim daquele pronunciamento, depois de se solidarizar e agradecer o empenho e sacrifício dos profissionais da saúde, da área de segurança, dos caminhoneiros — da sua base eleitoral, uma categoria estratégica —, todos os trabalhadores dos serviços essenciais e produtores rurais. A mensagem é vital para todos, seu governo e a população: “Com esse espírito, agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto para preservação da vida e dos empregos. Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”.

Esta é a questão-chave. A articulação entre ministérios que passou a ser exposta nas entrevistas à tarde para tratar do coronavírus resume bem um modelo de cooperação que precisa ser adotado. O certo é que a crise econômica e social que cresce no horizonte próximo, de proporções jamais vistas, não será superada sem união — de partidos, de organizações sociais, de diversas entidades de representação etc. —, além dos demais poderes republicanos, Judiciário e Legislativo. O aceno do presidente à Federação, a governadores e prefeitos, tem grande alcance, porque, em sã consciência, União, estados e municípios precisarão executar de forma coordenada e pactuada o programa de reconstrução nacional que virá no rastro do coronavírus. Ninguém se erguerá sozinho. Bolsonaro precisa recuperar e manter esta visão.

O Globo

Compra de testes por prefeituras é boa saída para ampliar diagnóstico

Em São Paulo, cidades do ABC vão adquirir um milhão de kits. No Rio, Niterói planeja testagem em massa

As imagens de ruas, praias e parques desertos em grandes cidades do país mostram que parte considerável da população está colaborando com o isolamento das pessoas que podem ficar em casa, como tem recomendado o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Esse distanciamento social, segundo ele, é fundamental para que os casos de Covid-19 não disparem nas próximas semanas, repetindo o roteiro trágico que acomete países como a Itália. É uma forma também de permitir que os serviços de saúde se estruturem para receber demanda crescente, evitando o colapso.

Mas, como tem dito o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, o isolamento social, adotado hoje em praticamente todo o mundo, é fundamental, mas não basta. É preciso também fazer testes em massa nas populações, para detectar doentes assintomáticos que ajudam a disseminar o novo coronavírus. Estudo de pesquisadores alemães publicado na revista “Nature” revela que pessoas com sintomas brandos podem liberar grandes quantidades do vírus já na primeira semana, como noticiou ontem reportagem do GLOBO.

Mandetta anunciou que o país terá cerca de 29 milhões de testes. O número inclui compras feitas pelo Ministério, produções de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e parcerias com empresas privadas e públicas — a Vale prometeu doar 5 milhões de testes, e a Petrobras, 600 mil. Segue no caminho certo. Mas, na prática, são fartos os relatos de pacientes com suspeita de Covid-19 que chegam às unidades de saúde e saem de lá sem saber se estão infectados, porque não são testados. Falta material para diagnosticar até os profissionais de saúde, que estão no front do combate ao vírus.

Nesse sentido, é positivo que municípios estejam se mobilizando para adquirir seus próprios kits. Como mostrou o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, cidades do ABC paulista anunciaram a compra de um milhão de testes rápidos, suficientes para diagnosticar 36% da população. No Estado do Rio, Niterói está para receber 40 mil testes comprados nos EUA. A cidade, onde 20% dos moradores têm mais de 60 anos, quer fazer testagem em massa.

Iniciativas como essas apontam um caminho. O Ministério da Saúde tem sob sua responsabilidade 5.570 municípios, entre os quais metrópoles como São Paulo e Rio, que concentram o maior número de casos da Covid-19. Prefeituras podem reduzir esse peso. Países que conseguiram conter o vírus, como a Coreia do Sul, combinaram isolamento social com testes em massa. O Brasil vive o início da epidemia. As curvas de evolução da doença dependerão muito de medidas tomadas agora. Podem pender para a Coreia do Sul como podem pender para a Itália.

O Estado de S. Paulo

Socorro à economia tem de ser mais pronto

Falta converter em realidade as medidas, muito bonitas no papel, adotadas pelo Banco Central para facilitar empréstimos

Dinheiro acabou, desespero chegou e empresas pedem socorro ao governo para pagar pelo menos as contas mais urgentes. Não adianta ir aos bancos, porque só algumas têm acesso ao crédito. Falta converter em realidade as medidas, muito bonitas no papel, adotadas pelo Banco Central (BC) para facilitar empréstimos. Além de curto, o financiamento continua mais caro do que sugerem as falas oficiais. A ansiedade dos empresários, principalmente dos médios, foi ontem mostrada em reportagem do Estado. O pacote de ajuda aos menores empreendimentos, com receita anual na faixa de R$ 360 mil a R$ 10 milhões, pode garantir algum alívio. Mas é insuficiente, como se previa, até porque os bancos ainda se recusam a entrar no jogo para valer.

Medidas ontem anunciadas, como a liberação de R$ 51 bilhões para complementar salários de quem tiver redução de jornada, apenas dão sequência, com atraso, a providências já prometidas. No começo da tarde, ontem, o presidente Jair Bolsonaro nem havia sancionado, ainda, a lei sobre ajuda mensal de R$ 600 a trabalhadores informais e intermitentes e a microempreendedores individuais. Enquanto o governo falha na ação de pronto-socorro, agrava-se a emergência.

Sem receita, só metade das maiores empresas teria caixa para aguentar três meses, como havia mostrado outra reportagem. A outra metade teria muito menos fôlego. Ainda mais dramática seria a condição das micro, pequenas e médias, mesmo com promessas de ajuda financeira pelos bancos oficiais. Quando se lançou o programa de empréstimos do BNDES, para empresas com até R$ 300 milhões de faturamento, falou-se em juros anuais de 3,75%. Foi mais uma bela abstração. Na ponta, segundo informam empresários, as taxas podem ser o dobro ou o triplo, e até mais, em alguns casos.

Sugestões se multiplicam, envolvendo, em alguns casos, medidas já parcialmente adotadas. As autoridades, antes de rejeitá-las, deveriam examinar com cuidado sua viabilidade. As propostas incluem suspensão da cobrança de impostos, maior participação do governo como garantidor de empréstimos e uso de recursos do seguro-desemprego para custear salários. O BC, argumenta-se, também pode fazer mais para garantir uma expansão real do crédito. A direção do BC, é preciso reconhecer, já se mexe, tentando ampliar seu arsenal. Poderia, por exemplo, socorrer mais facilmente as empresas por meio da compra direta de créditos. Mas é preciso apressar essa ampliação.

O governo deu o primeiro passo para uma ação mais eficaz quando reconheceu, com atraso, a gravidade da nova crise. Mas esse foi um segundo atraso. Os efeitos da pandemia atingiram uma economia já muito fraca – muito vulnerável, portanto, a qualquer novo golpe. A produção industrial cresceu 0,5% em fevereiro, dando continuidade, em ritmo mais lento, à recuperação iniciada com a expansão de 1,2% no mês anterior.

Mas 2019 havia terminado com queda acumulada de 2,5% em novembro e dezembro. O saldo dos quatro meses, portanto, ainda foi negativo. Além disso, o total produzido em janeiro e fevereiro foi 0,6% menor que de um ano antes. O acumulado em 12 meses ficou 1,2% abaixo do contabilizado no período anterior, como informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Alguma recuperação havia começado, mas era menos intensa do que pareciam crer os mais otimistas. Descontado qualquer exagero, é possível apontar nesse quadro alguns detalhes positivos. Além do crescimento pelo segundo mês consecutivo, o balanço mostra reação em 15 das 26 atividades pesquisadas. Mas a produção industrial ainda continuou, em fevereiro, 16,6% abaixo do pico alcançado em maio de 2011.

Se houve impacto do surto de coronavírus, ficou limitado a segmentos dependentes de insumos chineses, como os de informática e de equipamentos de transporte. Agora, no entanto, a pandemia afeta uma economia já muito débil, com expansão de apenas 1,1% em 2019 e lenta reação no primeiro bimestre – um caso claro de comorbidade. Isso torna mais perigosa qualquer hesitação do governo.

O Estado de S. Paulo

O mesmo de sempre

Para levar a metamorfose de Bolsonaro a sério, é preciso muita boa vontade – ou ingenuidade

Durou apenas algumas horas a suposta moderação do presidente Jair Bolsonaro ao lidar com a crise gerada pela epidemia de covid-19. Se na terça-feira à noite, em cadeia de rádio e TV, Bolsonaro deixou de lado o costumeiro tom raivoso e se esforçou para soar presidencial, defendendo “a união de todos, num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos”, na quarta-feira de manhã o presidente voltou a ser o que sempre foi e, quem sabe, sempre será.

Bolsonaro publicou em suas redes sociais um vídeo em que um homem denuncia o suposto desabastecimento da Ceasa de Belo Horizonte. O homem, então, passa a ofender os governadores que determinaram o isolamento social como forma de conter a epidemia, chamando-os de “canalhas” interessados apenas em “ganhar nome e projeção política”, enquanto “o presidente está brigando incessantemente para uma paralisação responsável”.

Trata-se de fake news – mais uma patrocinada pelo presidente, que já protagonizou o vexame de ter algumas de suas postagens suspensas pelos administradores das redes sociais por colocarem em risco a saúde pública ao disseminarem falsas informações sobre a pandemia de covid-19. Em nota encaminhada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, que administra a Ceasa, informou que a denúncia do vídeo compartilhado por Bolsonaro “é inverídica”, pois não há desabastecimento.

A ministra Tereza Cristina já vinha dizendo reiteradas vezes que não há desabastecimento. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, informou na segunda-feira que a logística para distribuição de alimentos está funcionando. Ou seja, o presidente dá crédito ao que diz um desconhecido em vez de confiar em seus próprios ministros – como, aliás, ficou claro no caso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cuja amarga tarefa de convencer a sociedade sobre a necessidade de isolamento social é constantemente sabotada por Bolsonaro.

Assim, o presidente solene e conciliador do pronunciamento da terça-feira em rede nacional é um personagem de ficção. Horas antes de ir à TV para tentar convencer os brasileiros de que passaria a levar a sério o que diz a ciência sobre a pandemia, Bolsonaro – o verdadeiro – distorceu uma fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, em favor dos trabalhadores que perderam renda, para dizer que “a OMS se associa ao presidente Bolsonaro” na defesa do fim do isolamento social. A repercussão da declaração de Bolsonaro obrigou o diretor da OMS a deixar de lado suas atividades para desmentir o presidente brasileiro e dizer que continua a favor do isolamento.

Além disso, no mesmo dia em que Bolsonaro pretendeu se passar por estadista na TV, o País ficou sabendo que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e articulador do chamado “gabinete do ódio”, passará a ter uma sala no Palácio do Planalto. Não se sabe o que o vereador faz na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mas sabe-se muito bem o que ele fará junto com o pai em Brasília: continuará a alimentar as redes sociais do presidente com fake news destinadas a confundir a opinião pública e causar confusão, hábitat do bolsonarismo. A tentativa de disseminar o pânico a respeito de um suposto desabastecimento de alimentos no País é só um aperitivo do que essa turma é capaz.

Diante disso, é preciso muita boa vontade – ou ingenuidade – para levar a sério a metamorfose de Bolsonaro. Afinal, o que mudou desde que o presidente desdenhou dos mortos pela pandemia e atacou todos os que dele discordavam até horas antes do discurso na TV? Por que a “gripezinha” se transformou, de uma hora para outra, no “maior desafio de nossa geração”?

Pode-se acreditar que Bolsonaro, numa incursão pela Estrada de Damasco, tenha tido uma iluminação transcendental e se conscientizado subitamente da gravidade da crise, mas o mais provável é que o presidente, como sempre, só esteja pensando em si mesmo e na preservação de seu capital eleitoral. O ensurdecedor panelaço que acompanhou seu discurso na TV mostra que grande parte dos brasileiros não se deixou tapear.

O Estado de S. Paulo

São Paulo vai à luta

O vírus será feroz com SP, mas o Estado pode liderar o País na superação da crise

Nesta quarta-feira foi entregue o hospital de campanha no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com 200 leitos e respiradores. Com gestão do Instituto Social Albert Einstein e infraestrutura da Prefeitura de São Paulo, começará a funcionar a partir de segunda-feira. A velocidade com que foi erguido – apenas 10 dias – corresponde à ferocidade do vírus em São Paulo. O Estado registrou as primeiras infecções e mortes, e está em primeiro na quantidade de infectados e mortos. Mas o caso ilustra também as respostas exemplares das autoridades e da sociedade civil paulistas à crise.

A prioridade urgente é salvar vidas e minimizar o impacto sobre a saúde. Na semana que vem será entregue outro hospital no complexo do Anhembi, com 1.800 leitos. O governo do Estado vai repassar R$ 309 milhões às 645 prefeituras para erguer hospitais e custear insumos. Além disso, as 377 Santas Casas e hospitais filantrópicos receberão R$ 100 milhões para ampliar suas operações. O Hospital das Clínicas, na capital, foi transformado num centro de atendimento para a covid-19, ampliando a capacidade de 200 leitos para 900.

O governo estadual realizou parceria com mil unidades da rede de farmácias para implementar a vacinação gratuita contra a influenza. Além disso, as farmácias também estão oferecendo álcool em gel a preço de custo em todo o Estado. Os hospitais da rede estadual montaram centros móveis de Triagem e Atendimento para suspeitos de coronavírus e serão assessorados por um sistema de teleconsultoria do Incor. Em parceria com 17 laboratórios ligados à USP, a capacidade de testes foi estendida para 2 mil por dia. Logo chegará a 10 mil.

A agilidade e a descentralização no tratamento são cruciais para evitar o colapso do sistema de saúde. Segundo o Instituto Butantan, sem essas medidas e a quarentena, o sistema de saúde estaria colapsando neste exato momento.

Na área de pesquisa, a Fapesp destinou R$ 30 milhões para o combate ao vírus. A USP desenvolveu um ventilador pulmonar que poderá ser produzido rapidamente a um preço 15 vezes menor que o de mercado.

Mas a crise também impõe o socorro às famílias, trabalhadores e empresas vulnerados pelo apagão econômico. O governo estadual suspendeu a cobrança da tarifa social de água para 506 mil famílias, as ações de interrupção de fornecimento de gás e os prazos para protestos de dívidas. O programa Merenda em Casa garantirá alimentação para 700 mil dos 3,5 milhões de alunos da rede estadual. As unidades Bom Prato oferecerão 1,2 milhão de refeições a mais por mês a R$ 1 para moradores de rua e necessitados. Os caminhoneiros, fundamentais para a cadeia de abastecimento, receberão 140 mil kits de alimentação.

Para amortizar o impacto sobre o setor do turismo, um dos mais afetados, o Estado mobilizará R$ 74,7 milhões em empréstimos. Também foram lançadas linhas de crédito para o setor cultural e criativo.

O poder público foi ainda ágil em canalizar a boa vontade difusa pela sociedade civil. O Fundo Social São Paulo já arrecadou quase R$ 200 milhões com o empresariado para custear equipamentos e serviços de saúde, além de produtos de primeira necessidade para comunidades carentes.

Mas as forças de combate ao vírus já têm suas baixas. Como que a representar todos os profissionais de saúde expostos ao risco, o chefe do Centro de Contingenciamento do Coronavírus, David Uip, foi infectado e está em recuperação. Vale lembrar que o prefeito Bruno Covas está no grupo de risco em razão do tratamento contra o câncer. Ele e o governador João Doria têm sido, além de tudo, protagonistas-chave do cordão sanitário institucional que as autoridades mais responsáveis do País montaram para neutralizar as atitudes contraproducentes, para não dizer flagrantemente nefastas, do presidente Jair Bolsonaro.

Muito antes de ser o epicentro da crise, São Paulo é o centro industrial e financeiro do País. O vírus será especialmente feroz com São Paulo, mas, se São Paulo for, como está sendo, especialmente feroz com o vírus, pode liderar o País na superação desta crise.

O Estado de S. Paulo

Retrato do emprego anterior ao vírus

Antes da crise sanitária, a evolução do emprego já se mostrava insatisfatória, com a taxa de desocupação atingindo 11,6%, segundo dados da Pnad Contínua

Antes da crise sanitária, a evolução do emprego já se mostrava insatisfatória, com a taxa de desocupação atingindo 11,6%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua relativa ao trimestre compreendido entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Construção, administração pública e serviços domésticos lideraram os cortes.

Em relação ao trimestre dezembro de 2018 a fevereiro de 2019, a desocupação foi 0,8 ponto porcentual menor, mas, na comparação com o trimestre anterior (setembro a novembro de 2019), a desocupação aumentou 0,4 ponto porcentual, alcançando 479 mil pessoas.

A população ocupada, de 93,7 milhões, mostrou queda de 0,7% (ou 706 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior, mas em relação a igual trimestre do ano anterior houve alta de 2,0% (1,8 milhão de pessoas).

Há indicadores piores que o da população desocupada de 12,3 milhões de pessoas. A população subutilizada ou que vive na informalidade corresponde a 40,6% da população ocupada, ou 38 milhões de trabalhadores. Essa taxa havia sido de 41,1% no trimestre móvel anterior e de 40,7% em igual trimestre do ano anterior. A população fora da força de trabalho é de 65,9 milhões de pessoas, maior nível desde 2012. E há 4,7 milhões de pessoas no desalento.

Os dados mostram a importância de aplicar, com a celeridade possível, os mecanismos oficiais já aprovados de suporte para dezenas de milhões de pessoas que já se inseriam de maneira precária no mercado e passaram a correr o risco de perder toda forma de renda.

Isso se explica porque a recessão que acompanha a crise do coronavírus é inevitável. Só se discute o tamanho da recessão, do que resultará maior ou menor número de novos desempregados, subutilizados ou em situação de desalento.

Deverá se perder a recuperação que estava em curso no emprego com carteira assinada, condição na qual estavam 33,6 milhões de empregados no setor privado, sem contar trabalhadores domésticos, com alta de 2%, ou 646 mil pessoas, em relação ao mesmo período de 2019.

As facilidades de crédito abertas pelo Banco Central devem ser acompanhadas da exigência de que as empresas beneficiadas retardem decisões de corte de pessoal, até que seja possível vislumbrar a hora em que a crise será vencida.

Folha de S. Paulo

Procura-se estadista

Em meio à crise da geração, Bolsonaro do discurso ponderado foi exceção fugaz

Por breves sete minutos e quatro segundos, na noite de terça-feira (31), o Brasil parecia ver o esboço de um presidente capaz de conduzi-lo em meio à imensa crise sanitária e econômica por que passa.

Foi essa a duração do discurso de Jair Bolsonaro em rede nacional, o nono de sua gestão e quarto desde o início da pandemia do coronavírus. Nele, foi ponderado, razoável e objetivo, adjetivos não comumente associados ao mandatário, a suas falas ou ações.

Chamou a atenção não só pelo que disse, mas pelo que deixou de dizer. Não houve espaço para as sandices de outrora, como classificar de gripezinha ou resfriadinho uma doença do impacto e da magnitude da Covid-19.

Não houve, igualmente, menção positiva à data em que o discurso era proferido, os 56 anos do golpe militar de 1964, que deu início a duas décadas de uma ditadura vil, em que milhares foram presos e torturados, e centenas, assassinados.

Nem mesmo a imprensa, alvo recorrente de ataques, foi lembrada.

No lugar, um irreconhecível Bolsonaro disse estarmos “diante do maior desafio de nossa geração” e acenou aos outros Poderes e aos governadores, com os quais vinha se atritando, ao exortar o país a buscar “grande pacto de preservação da vida e dos empregos”.

Mesmo ao falar de polêmicas recentes, como as recomendações da Organização Mundial da Saúde e a droga hidroxicloroquina, foi equilibrado. Quanto ao primeiro caso, à diferença do que fizera ao longo do dia, não distorceu o que disse o diretor-executivo da entidade, mas selecionou trechos em apoio de seu argumento: pensar igualmente em salvar vidas e empregos.

Sobre o segundo, adotou o tom de cautela e esperança que se exige ao tratar de um remédio ainda não devidamente testado.

Foi um sopro de normalidade de um presidente que se torna a cada dia um pária mundial por declarações e atos destrambelhados —e, no limite, criminosos. Infelizmente, a esperança durou pouco.

Minutos após terminar o pronunciamento, Bolsonaro publicou em suas redes sociais elogios à ditadura. Menos de 12 horas depois, voltou a criticar as medidas de isolamento recomendadas pela OMS e adotadas pelo mundo inteiro.

Reclamou dos governadores e espalhou fake news, agora sobre um desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte que não houve.

De fato, o Brasil passa pelo desafio de uma geração —a dos confinados, que têm de pagar as contas no fim do mês; a de seus filhos, isolados em casa; a dos idosos, privados do convívio familiar e social; a dos empobrecidos pela quarentena; a dos que vivem em condições subumanas em favelas.

Precisa-se de um estadista como o ex-premiê Winston Churchill, que dirigindo-se aos britânicos durante a Segunda Guerra disse que só tinha a oferecer “sangue, labuta, suor e lágrimas” —e conduziu seu país a uma vitória improvável.

Na falta de algo remotamente parecido, que ao menos o Brasil contasse com o presidente do discurso de terça à noite. Infelizmente, aquele era a exceção; o que voltou à ativa nas horas seguintes, a regra.

Folha de S. Paulo

Vírus autoritário

Hungria é caso extremo, não único, de país que solapou democracia por pandemia

O novo coronavírus ataca a saúde, devasta a economia e, por vezes, pode atingir a democracia.

Assim como existem pacientes assintomáticos e aqueles com quadros críticos, também países experimentarão sintomas em diferentes graus. Se, na esfera sanitária, a Itália parece ter sido a nação mais gravemente afetada, na política a Hungria foi a que mais se afastou da normalidade democrática

O premiê Viktor Orbán, que já pode ser qualificado como um autocrata, conseguiu do Parlamento uma lei de emergência para lidar com a epidemia que lhe dá o direito de governar por decreto durante tempo indeterminado.

Ganhou poderes especiais para suspender sessões parlamentares e eleições; para prender, por até oito anos, quem desrespeitar as regras de quarentena; pior, para prender, por até cinco anos, quem divulgar informações que o governo considere incorretas —medida já apontada como a morte do que restava de liberdade de imprensa no país.

A Hungria decerto constitui um caso exacerbado de retrocesso político, mas não o único. Outros líderes aproveitaram a pandemia para aprovar leis ou baixar medidas duvidosas, que ferem muito mais a democracia do que o vírus.

Em Israel, o premiê Bibi Netanyahu determinou o fechamento das cortes, adiando, assim, seu comparecimento ao tribunal para responder por acusações de corrupção. Na Tailândia, o governo ganhou poderes para censurar a mídia. No Reino Unido, para manter pessoas presas indefinidamente.

Ninguém ignora que estejamos em tempos excepcionais —que requerem medidas extraordinárias. Mas nada há no caderno dos epidemiologistas que sugira a necessidade de censura à imprensa ou de quebras nos mecanismos que mantêm o equilíbrio de Poderes.

Ao contrário, para que a população acate as políticas de enfrentamento da doença, é preciso que elas inspirem confiança — que sejam as estritamente necessárias para lidar com a situação e tenham uma duração claramente limitada.

Valor Econômico

Saldo comercial recua ao ritmo da retração global

Os principais mercados para o Brasil, com exceção da China, terão recessão, com pico no segundo trimestre

O saldo comercial brasileiro despencou no primeiro trimestre do ano (- 32%) e o pior ainda está por vir. As estatísticas começam a refletir a parada súbita de vários mercados desenvolvidos, atingidos pela propagação do coronavírus, e os plenos efeitos da retração global serão mais intensos agora, no segundo trimestre do ano.

O superávit da balança comercial chegou a US$ 6,13 bilhões, o menor desde 2015, mesmo contando com um impulso adicional de forte desvalorização do dólar. A redução dos resultados positivos ocorre de maneira funesta para a venda dos manufaturados, que apresentam pior resultado no trimestre – queda de 14,9%. Sua fatia vem encolhendo progressivamente e, no período, sequer alcança um terço da pauta de exportações, com 32,6%. A parcela dos bens básicos cresceu e domina 54,4% das vendas.

Apesar de a epidemia ter começado na China e de ela ter sido a primeira a desacelerar fortemente para combater o coronavírus já em fevereiro, isolando 60 milhões de pessoas e restringindo o comércio interno, as exportações brasileiras para lá aumentaram 4,3% e 10,7% para a Ásia, um dos poucos avanços observados nas vendas por países ou blocos comerciais. Mesmo com as turbulências, o Brasil é um grande vendedor de alimentos para o país e suas necessidades, portanto, não diminuem, pelo menos não muito, durante quarentenas ou epidemias.

As vendas externas caem em quase todo o mundo, apresentando quase estabilidade na Europa (1,3%, apesar dos -2% na União Europeia) e perda de fôlego relevante nos EUA (-20%), América do Sul (-13,5%), Mercosul (-12,6%), Oriente Médio (-27,8%) e Japão (-15,4%). A Argentina, tradicional cliente de manufaturados brasileiros, reduziu suas compras em 8,4%.

Com as economias que compõem 50% do PIB mundial em desarranjo por causa das defesas contra a covid-19, o comércio global está em derrocada, o que certamente levará junto as exportações brasileiras, que só são inequivocamente competitivas em bens agropecuários. Os principais mercados para o Brasil, com exceção da China, que já se recupera do baque do confinamento de Hubei, terão recessão, com pico no segundo trimestre.

A Argentina não tinha nenhuma perspectiva de crescimento antes da pandemia e agora, tem menos ainda. Analistas chegam a prever uma retração anualizada de 10% nesse período para a maior economia do mundo, os EUA. A Europa, antes a caminho da estagnação, marcha também para forte recessão. A Alemanha, o motor de sua economia, encolherá no melhor cenário (confinamento de 2 meses) 7,2%, segundo o economista Clemens Fuest. A Itália está parada e quebrada, França e Espanha estão sendo severamente castigadas pelo vírus, assim como ocorre com o Reino Unido. E o dinamismo asiático, que garantiu encomendas para o Brasil, deverá arrefecer com a queda dos pedidos da China e das principais economias desenvolvidas.

A demanda por commodities não alimentícias recua ao ritmo da desaceleração da produção industrial nos países avançados e na China. Particularmente problemático para o Brasil é o mergulho dos preços do petróleo, cujas cotações voltaram ao que eram há 20 anos, com o tipo Brent a US$ 22 o barril e o WTI a US$ 20. Uma inacreditável e predatória guerra de preços da Arábia Saudita com a Rússia – cujo alvo real é a indústria do shale nos EUA – retira as perspectivas de reação das cotações, se for mantida por mais tempo. Estima-se que há produção em excesso de 2,5 milhões de barris por dia agora, o que põe em xeque a capacidade de estocagem global.

A Petrobras, ainda com altas dívidas, embora cadentes, deverá cortar 200 mil barris por dia de produção, algo como 7% da extração total, ao mesmo tempo em que verá encurtar substancialmente suas receitas em dólar. Em 2019, a exportação de combustíveis e lubrificantes alcançou US$ 30 bilhões. Por outro lado, a arrecadação de royalties e participações, que alimentam municípios e Estados (20% do orçamento do Rio, por exemplo) sofrerá grande impacto, exatamente no ano em que os gastos vão disparar para enfrentar a covid-19 e quando esses recursos são mais importantes do que nunca.

Em outras circunstâncias, a redução dos superávits comerciais ou até resultados negativos trariam preocupação maior quanto ao aumento do déficit em conta corrente. Com a economia a caminho da recessão, reservas de US$ 358 bilhões e ingresso bastante relevante de investimento direto, o perigo pelo lado das contas externas, felizmente, não é o mais relevante.

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IMPRENSA HOJE

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