Benito Salomão: Coronavírus – efeitos na economia e possíveis respostas

O pânico instituído em função da rápida proliferação do Covid-19 já apresenta sua face mais dura sobre a rotina das pessoas ao redor do mundo. No Brasil não será diferente. Os efeitos até aqui sentidos na Bolsa e no câmbio serão em breve transmitidos para a economia real, principalmente produto e emprego. O que podem fazer as autoridades econômicas para minorar o impacto? O trabalho começa em tratar o assunto com seriedade e não contribuir com a difusão de falsas narrativas, teorias da conspiração ou insistir na tese estúpida da histeria propagada por Bolsonaro. Um presidente da República de comportamento estranho, que passeou em Miami durante o Carnaval com dinheiro público e tem 14 membros da sua comitiva diagnosticados com a doença.

Mas falemos primeiro de políticas públicas para “domar” a pandemia. Da mesma forma como no caso da dengue, os esforços preventivos são muito mais eficientes do que as políticas corretivas. O melhor a se fazer neste instante é impedir que o vírus se prolifere. Aliás, no Brasil cuja epidemia está ocorrendo tardiamente em relação aos países do hemisfério norte, alguns agravantes podem dificultar a ação das autoridades. Por exemplo, o surto de casos de infecção pode coincidir com a sazonalidade de doenças como dengue, zika e chicungunha transmitidas pelo Aedes aegypti. Isto certamente causará uma sobrecarga na rede pública de saúde e dificultará os atendimentos aos doentes. Países com disponibilidade de leitos por cada mil habitantes muito superiores à nossa, e que não coexistem com doenças tipo a dengue (em função do clima), tiveram sobrecarga do sistema público de saúde e escassez de leitos. Não é razoável acreditar que no Brasil a situação será melhor.

É importante saber que no curto prazo é impossível aumentar o número de leitos. Portanto, minorar os impactos humanos da doença envolve a ação não só do governo – que cancelou eventos públicos, artísticos, acadêmicos ou esportivos -, mas também de campanhas de prevenção que abrangem o comportamento da população. Tanto no que se refere ao Covid-19 quanto à dengue, os esforços preventivos da comunidade são fundamentais para o enfrentamento. O isolamento, a quarentena e a higiene pessoal devem ser adotadas pela população. Episódios como a manifestação pró-Bolsonaro ocorrida em inúmeras cidades no último domingo, mais do que uma irresponsabilidade, foi uma covardia para com a população brasileira.

Sobre os impactos econômicos é preciso primeiro decompor o que já iria acontecer em termos de economia, independentemente da doença, e o que foi agravado pela pandemia do Covid-19. O Brasil já apresentava problemas econômicos anteriores ao vírus. O crescimento de 2,5% já não ia se verificar e correções na Bolsa e no câmbio estavam a caminho, evidentemente que bem mais suaves do que vimos nos últimos dias. O mundo também está em sérias dificuldades e isto certamente refletirá na economia doméstica. Sob o novo cenário é possível trabalhar com a ideia de PIB muito próximo de 0, podendo ser até negativo em 2020. É importante lembrar que uma eventual paralisação por 2 ou 3 meses de vários setores econômicos causa danos agregados na economia, que se estendem para os meses seguintes. Ademais, se a crise for superada em junho, por exemplo, o Brasil já estará às vésperas do seu processo eleitoral. Reformas econômicas tendem, inevitavelmente, a ser adiadas.

O que o governo pode fazer neste momento? Infelizmente, o campo de ação é muito limitado. O pedido de abertura de crédito suplementar de R$5 bi, que o Congresso certamente atenderá, pode ser insuficiente. Ademais, o dinheiro será muito melhor gasto se for utilizado em conjunto com os municípios. É importante lembrar que as pessoas contraem a doença nos municípios e certamente os prefeitos têm melhores condições de aplicar este dinheiro, sob determinados critérios e metas, do que o governo central.

Políticas de controle de demanda como as propostas pelos macroeconomistas são ingênuas. Revogar a PEC do Teto sob o pretexto de que o investimento público pode suportar o choque é desconhecer a realidade. Projetos de infraestrutura demoram meses desde a sua concepção até a sua execução. Dependem de licitação e licenças, além de não surtirem efeitos de curto prazo. A revogação da PEC pode inverter as curvas de juros de longo prazo da economia brasileira e pressionar a carga tributária sendo recessivo. As políticas de antecipação do 13° e abono, e as carências de impostos como o Simples Nacional são bem-vindas, mas criam pouco dinheiro novo. Apenas transferem dinheiro do futuro para o presente. Seus efeitos macroeconômicos são limitados e as razões são óbvias. Não adianta injetar dinheiro em circulação se a população não pode circular.

Benito Salomão – Economista, Doutorando em Economia PPGE – Universidade Federal de Uberlândia e Visiting Researcher na University of British Columbia

Leia também

“Não funcionou”, diz presidente do Cidadania sobre federação com PSDB

Por Breno MorenoCidadeverde.comEm entrevista ao Jornal do Piauí, nesta...

Vereador de Camaquã/RS busca projetos que deram certo em outros municípios

Vereador Gabryell Santos participou de evento em Brasília e...

Presidente do Cidadania 23 Visita Iguaba Grande e Discute Políticas para o Rio de Janeiro

Na manhã desta terça-feira (9), Iguaba Grande, cidade da Região...

As novas tarifas de Trump: Impactos na União Europeia e no Brasil

No sábado, 12 de julho, o presidente dos Estados...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!