“Mas servidor público nem trabalha!”
O serviço público no Brasil já não é uma casta de burocratas despreparados, pouco afeitos ao trabalho e repletos de mordomias. Basta verificar a qualificação da nova geração de funcionários públicos. No Poder Executivo, a grande maioria, 66,5%, tem diploma universitário. A parcela pós-graduada praticamente dobrou de dez anos para cá, passando de 12% para 21% — metade tem doutorado. Esses números são motivo suficiente para dizer que somos qualificados sim.
Além disso, a qualidade das políticas públicas é diretamente proporcional ao nível profissional dos servidores: são eles que assessoram a classe governante na elaboração das políticas e, também, são eles que executam os projetos.
Para muitos o empregado público é aquele que pendura o paletó na cadeira pela manhã, fingindo-se presente na repartição, voltando para apanhá-lo somente no fim do expediente. No Brasil, é arraigada a imagem de um funcionalismo preguiçoso e incompetente, e acima de tudo inchado, mesmo depois dos anos 30, quando se esboçaram as primeiras tentativas de racionalização da máquina administrativa.
É uma ideia sem muito embasamento empírico e que serviu para fazer do emprego público, nos anos 90, alvo de políticas restritivas como suspensão de concursos de admissão, programas de demissão voluntária, contratações precárias e, claro, ofereceu importante argumento para as privatizações.
O estigma que envolve o servidor público brasileiro é injusto e pouco embasado.
Yula Merola, farmacêutica, gestora pública, professora universitária, cientista e agente política