A produção da indústria brasileira no ano passado foi impactada pela tragédia de Brumadinho (Foto: Reprodução)
Após dois anos de alta, produção industrial fecha 2019 com queda de 1,1%, aponta IBGE
Bruno Villas Bôas – Valor Econômico
A produção industrial brasileira recuou 0,7% em dezembro, na comparação com novembro, pela série com ajuste sazonal da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgada nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando comparada a dezembro de 2018, a produção do setor mostrou queda de 1,2%. Com mais um mês de resultado negativo, a indústria fechou 2019 com queda acumulada de 1,1%, interrompendo dois anos consecutivos de crescimento: 2017 (avanço de 2,5%) e 2018 ( alta de 1%).
A queda, segundo o IBGE, foi impactada sobretudo pelo resultado negativo do setor extrativo, que foi afetado pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).
“Esse foi o principal responsável pela queda, mas houve redução de produção para além disso, o que pode ter a ver com o contingente de pessoas fora do mercado de trabalho, crise na Argentina, mais entrada de importados”, diz André Macedo, gerente de Indústria do IBGE.
Na passagem de novembro para dezembro, o desempenho da indústria ficou pior do que a mediana das estimativas de consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que apontava para queda de 0,5% no mês.
O IBGE também revisou o resultado da produção da indústria de novembro, frente a outubro, com ajuste sazonal, que passou de uma queda de 1,2% para uma retração de 1,7%, uma mudança um pouco mais intensa do que usualmente verificada.
Segundo o instituto, o movimento reflete a entrada de um mês de dezembro mais fraco na série, o que provoca uma revisão de resultados dos meses anteriores pelo ajuste sazonal, que busca expurgar efeitos típicos de cada período do ano.
Apesar disso, a produção industrial encerrou o quatro trimestre de 2019 com alta de 0,2% na comparação aos três meses anteriores. Foi o segundo trimestre consecutivo de crescimento.
A produção havia avançado 0,1% no terceiro trimestre deste ano, na comparação aos três meses imediatamente anteriores. No segundo trimestre, frente ao primeiro, o setor havia recuado 0,6%, com ajuste sazonal.
Bens de capital e duráveis têm forte queda
Bens de capital e duráveis foram os principais destaques negativos da produção industrial em dezembro entre as grandes categorias econômicas.
A produção de bens de capital registrou forte queda de 8,8% em dezembro, na comparação a novembro, com ajuste sazonal. Essa queda foi disseminada entre os produtos dessa categoria, com caminhões, máquinas e equipamentos para atividade agrícola e industrial. No ano, essa categoria teve queda foi de 0,4%.
“Os bens de capital não crescem desde abril e agora registou essa forte queda. O movimento ao longo desses meses parece ter relação com a confiança de empresários no período”, disse Macedo.
A produção de bens duráveis, por sua vez, apresentou queda de 2,7% em dezembro, na comparação a novembro, pela série com ajuste sazonal. A fabricação de automóveis pesou negativamente no mês. Apesar disso, essa categoria fechou o ano com crescimento de 2% na produção.
No caso de bens de consumo semiduráveis e os não duráveis, houve queda de 1,4% na produção comparação a novembro. No ano, essa categoria mostrou avanço de 0,9%.
Já entre os bens intermediários (bens usados para produção de outros bens), o IBGE notou avanço de 0,1% da produção na passagem de novembro para dezembro, pela série com ajuste. No acumulado do ano, a queda foi de 2,2%, influenciado negativamente ao longo do ano pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG).
Na comparação ao quatro trimestre de 2018, a produção da indústria mostrou queda de 0,6%.
Indústria da transformação perde fôlego
A recuperação da indústria de transformação brasileira perdeu tração no ano passado, mas se manteve em território positivo pelo terceiro ano consecutivo.
A indústria de transformação cresceu 0,2% no ano passado, frente a 2018. O segmento também havia registrado crescimento de produção em 2017 (alta de 2,2%) e 2018 (avanço de 1,1%). O desempenho, contudo, não recupera ainda as perdas da crise. Só em 2015, a transformação caiu 9,8%.
De acordo com Macedo, o crescimento da indústria de transformação foi possível com o crescimento da produção de alimentos (alta de 1,6%), puxado por sucos, carnes e açúcares, rações e pães, por exemplo.
Também cresceram no ano passado a produção de veículos automotores (avanço de 2,1%), puxado basicamente por caminhões, além da produção de produtos de metais (crescimento de 5,1%), neste caso voltado para construções pré-fabricadas de metal.
Macedo chama atenção para o fato que o crescimento da indústria de transformação em 2019 não foi disseminado. Das 25 atividades acompanhadas pelo IBGE, 15 tiveram queda na produção no ano passado, frente ao ano anterior.
Produção ainda está abaixo do pré-crise
O volume de produção da indústria brasileira está 14,8% abaixo do registrado antes da recessão econômica, iniciada em 2014.
No primeiro ano da recessão, em 2014, a indústria brasileira registrou queda de 3%. O pior ano, contudo, foi 2015, com baixa de 8,3% da produção. No ano seguinte houve nova baixa, de 6% no setor. Nesses três anos de recessão, a indústria acumulou perdas de 16,7%
Já o primeiro ano de recuperação da indústria foi o de 2017, com crescimento de 2,5% da produção. A liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelo governo Michel Temer e a baixa base de comparação do ano anterior contribuíram para o crescimento. Em 2018, o setor avançou 1%, afetado pela greve dos caminhoneiros.
Se comparado ao pico da série histórica, registrada em maio de 2011, a produção do setor está 18% menor.