Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (21/01/2020)

MANCHETES

O Globo

INSS apontou há 6 meses déficit de 13,5 mil servidores
Regina Duarte anuncia ‘noivado’ com o presidente
Enem: MEC corrigiu notas de seis mil candidatos
Com plateia evangélica, Crivella recebe Bolsonaro
Repetição de erros castiga população no verão
Andar de ônibus no Rio ainda é fazer sauna sobre rodas
João de Deus é condenado a mais 40 anos por estupro
Teto igual para universidades pressionará conta dos estados
Pai ajudará Harry por 1 ano
Trump cogitou autoperdão
Paraguai prende 31 agentes de prisão após fuga

O Estado de S. Paulo

Regina Duarte fará ‘teste’ como secretária da Cultura
Seleção para faculdade é estendida após erro no Enem
BNDES gasta R$ 48 mi e não acha corrupção
CNJ investiga juiz que falou de ‘merdocracia’
Após arrastão, Paulista terá mais policiamento
Moro agora é contra federalizar caso Marielle
Remédio contra úlcera tem recall
Marcha pró-armas causa tensão nos EUA
Depois do fogo, tempestades de areia assolam Austrália

Folha de S. Paulo

Unir tributos pode ter efeito positivo sobre desigualdade
Secom critica Folha e nega ter ajudado cliente de secretário
Regina Duarte começa teste à frente da secretaria de Cultura
BNDES gasta R$ 48 mi, mas não acha ‘caixa-preta’
Medida provisória de Guedes pode criar novos Refis
Mudança na lei limita poder de procurador e amplia papel de juiz nos acordos de delação
Após erros no Enem, MEC amplia prazo do Sisu
Polícia recupera 2 fugitivos; outros 26 escapam no AC
Ato na Virgínia contesta restrições a armas
Senado dos EUA começa a julgar impeachment; defesa de Trump pede rápida absolvição
Vírus desconhecido causa 4ª morte na China

Valor Econômico

Leilões de óleo são adiados e déficit fiscal cresce em 2020
Caixa entra no negócio de ‘maquininhas’
Plantando o futuro
Brasil abrirá compras públicas a estrangeiros
Um cenário apocalíptico em Maceió
Empresa tenta excluir inflação do IRPJ e CSLL
Turboélice no radar de Boeing e Embraer

EDITORIAIS

O Globo

Cargos nas agências afetam investimentos

Indicações de Bolsonaro podem alterar segurança jurídica, atraindo ou não empresas para setores-chave

Não é preciso conhecer economia para saber, ou pelo menos intuir, que a volta dos investimentos é chave para o país acelerar o crescimento e mantê-lo durante prazo razoável em um nível elevado. Um raciocínio lógico simples indicará que são os projetos de aumento da capacidade da produção em geral que expandem quantitativa e regionalmente a criação de empregos e renda, o que ajuda a elevar o consumo das famílias, que, por sua vez, induz mais investimentos, e assim por diante.

Qualquer pessoa em sã consciência deseja que o país entre neste estágio. Há alguns sinais positivos, porém ainda tímidos. Mas o presidente Jair Bolsonaro tem este ano pelo menos uma grande oportunidade de dar contribuição importante para aumentar a atratividade do país a investimentos pesados e de longo prazo: a indicação de 22 nomes até o fim do ano para diretorias de agências reguladoras, organismos que têm papel estratégico para garantir a segurança jurídica de que necessitam as empresas nacionais e estrangeiras para assumir riscos em projetos principalmente na infraestrutura, onde há carências visíveis no Brasil.

Entre as agências nas quais há vagas a preencher — por indicação do presidente à avaliação do Senado — estão as dos setores de telecomunicações, de aviação civil, de transportes aquaviários, de transportes terrestres, de petróleo e de águas. Seis agências que tratam de questões fundamentais: a entrada do Brasil na nova geração da internet, a 5 G; a imoral situação do saneamento básico, de que a crise da água no Rio de Janeiro é símbolo; a ampliação e melhoria de aeroportos; e, de uma forma mais ampla, o precário escoamento da crescente produção agropecuária — mas não apenas dela —, por estradas, ferrovias e portos, onde persiste um gargalo que contribui para elevar o tal “custo Brasil”.

Bolsonaro terá de fazer indicações técnicas, por motivos explícitos. Esses organismos — de interesse público, autarquias autônomas — começaram a ser criados no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em decorrência do programa de privatizações. O modelo foi importado dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

A primeira agência reguladora, de telecomunicações, a Anatel, surgiu em 1997. Nestes 22 anos, ficou estabelecido que o pior que pode haver é a interferência política nessas entidades. Destrói a credibilidade do país como receptor confiável de investimentos, porque deixa de existir segurança jurídica.

No seu primeiro governo, Lula acusou as agências de “terceirizarem” seu poder; há pouco, ao vetar artigo de nova lei das agências, Bolsonaro reclamou que desejavam transformá-lo em “rainha da Inglaterra”. Reação parecida. Preocupa, ainda, a pressão incabível feita pelo presidente sobre a Agência de Energia Elétrica (Aneel), contra a redução de subsídios à energia solar.

A definição de nomes para os 22 cargos de diretoria nas agências vai indicar se o Planalto terá entendido o peso da independência desses organismos e da segurança jurídica na tomada de decisões de investimento.

O Globo

Fuga de presos no Paraguai expõe poderio de facções transnacionais

Ação demonstra que combate à criminalidade precisa ser feito em conjunto com países vizinhos

A fuga de 76 detentos ligados ao PCC de um presídio em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia na fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, não deveria surpreender autoridades de segurança, nem do Paraguai nem do Brasil. Há muito a facção paulista se espalhou pelo país e por nações vizinhas na América do Sul, pondo em prática os seus métodos mafiosos. A ação ocorrida na madrugada de domingo, em que 40 brasileiros e 36 paraguaios escaparam por um túnel escavado a partir do banheiro de uma cela, é mais uma demonstração do poderio dessas quadrilhas transnacionais.

Parece certo que, para atingir seu objetivo, a facção corrompeu funcionários — a fuga teria custado US$ 80 mil (cerca de R$ 335 mil). Na manhã de ontem, o diretor do presídio, Christian González, e 30 agentes foram detidos. Há fortes suspeitas de que a fuga foi facilitada. Imagens de câmeras de segurança mostraram movimentação atípica na madrugada de domingo, mas isso não teria chamado a atenção dos guardas. Durante a escavação do túnel, ligando um dos pavilhões à área externa, 200 sacos de areia foram guardados numa cela, mas a cena também passou despercebida no presídio.

Embora a fuga tenha sacudido o governo do Paraguai — o vice-ministro de Política Criminal, Hugo Volpe, renunciou ontem, e a ministra da Justiça, Cecilia Pérez, chegou a pôr o cargo à disposição, o que não foi aceito pelo presidente, Mario Abdo Benítez —, o fato é que corromper agentes penitenciários é método usado por chefões dos cartéis de droga no mundo inteiro.

Também não é a primeira vez que facções brasileiras se mobilizam para libertar presos no país vizinho. Em outubro de 2018, a polícia paraguaia e a Interpol conseguiram frustrar um plano do Comando Vermelho para resgatar o traficante brasileiro Marcelo Piloto, preso numa unidade da capital, Assunção. Os policiais estouraram um esconderijo da facção carioca na cidade de Presidente Franco, mataram três pessoas e apreenderam armas, detonadores e dois carros carregados de explosivos, que seriam usados no resgate.

Portanto, está claro que o combate à violência — e o enfrentamento das organizações criminosas é parte importante desse processo — não pode ficar restrito ao país, como tem defendido o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Deve ser tratado em conjunto com os vizinhos, já que essas facções atuam em rotas que se estendem das áreas de produção da droga até os mercados consumidores e pontos de distribuição. Para lidar com essas quadrilhas, é preciso haver trocas de informação e colaboração permanentes entre as autoridades de segurança dos países. Ou essas multinacionais do crime continuarão desafiando os governos e o estado democrático de direito.

O Estado de S. Paulo

Os limites da governabilidade

O governo tem base esquálida de parlamentares fiéis na Câmara. Com ela, o presidente não garantiria aprovação nem de regimento de condomínio

O governo de Jair Bolsonaro dispõe de cerca de 30 parlamentares fiéis na Câmara, segundo as contas de líderes do Congresso ouvidos pelo Estado. Essa base esquálida nem pode ser propriamente chamada de base, pois com ela o presidente não garantiria a aprovação nem de regimento de condomínio.

A incerteza do apoio ao governo já era grande mesmo quando Bolsonaro podia contar com a maioria dos votos do PSL, partido com o qual se elegeu e que colocou meia centena de deputados na Câmara na eleição de 2018, sob o embalo da onda bolsonarista. Depois que Bolsonaro brigou com o PSL e deixou o partido, o núcleo parlamentar com o qual o presidente podia contar em qualquer circunstância tornou-se praticamente insignificante.

Até que consiga formar seu próprio partido, o que não deve acontecer tão cedo, Bolsonaro terá que conviver com um Congresso sem qualquer tipo de vínculo ou compromisso com o governo. Essa já era mais ou menos a realidade antes da ruptura de Bolsonaro com o PSL, pois o presidente tomou posse determinado a implodir o chamado “presidencialismo de coalizão” – em que o presidente é obrigado a dividir o poder com as fragmentadas forças do Congresso para conseguir governar. Nesse modelo bolsonarista, em que o governo não se dedica nem a montar uma base parlamentar sólida nem a negociar compensações em troca de apoio nas votações de sua agenda, a governabilidade fica à mercê da coincidência circunstancial de interesses entre o Palácio do Planalto e o Congresso.

Por ora funcionou, ao menos na pauta mais urgente da área econômica. A reforma da Previdência, por exemplo, foi aprovada com boa margem, mesmo sendo um tema eleitoralmente espinhoso. Outros projetos importantes patrocinados pelo governo, como a nova Lei de Licitações e a medida provisória da liberdade econômica, também passaram sem muita dificuldade. As lideranças políticas coincidem no diagnóstico segundo o qual há um clima favorável no Congresso a uma agenda de reformas econômicas, o que tem facilitado a tramitação de projetos nesse sentido.

É evidente, portanto, que se trata de uma situação circunstancial e aparentemente restrita à área econômica. Quase todas as demais iniciativas do governo foram derrotadas no Congresso, em escala poucas vezes vista desde a redemocratização. Vários dos poucos projetos de lei aprovados foram modificados pelos parlamentares, enquanto medidas provisórias caducaram sem votação (uma delas chegou a ser devolvida por ser considerada inconstitucional), decretos foram derrubados por sua ilegalidade e vetos presidenciais foram anulados. Nem é preciso mencionar que tal situação, causada pela falta de articulação política do governo, gera insegurança jurídica.

Assim, tem-se o enfraquecimento acentuado da capacidade do presidente da República de influenciar a agenda legislativa, contrariando uma das principais premissas do presidencialismo. O resultado disso é o fortalecimento do Congresso como condutor dos destinos do País – algo que já se verificou no primeiro ano do mandato de Bolsonaro e que tende a se consolidar a partir de agora, especialmente porque o poder de negociação do Executivo caiu drasticamente graças à redução da capacidade do governo de gerenciar o Orçamento. Nesse simulacro de parlamentarismo, o País ficará à mercê de maiorias frágeis, constituídas nos corredores do Congresso conforme insondáveis propósitos, sob a condução de líderes parlamentares que foram eleitos com apenas alguns milhares de votos – e, portanto, com representatividade limitada.

É, sob qualquer ponto de vista, uma governabilidade precária. Diante dos enormes problemas que aguardam soluções urgentes, tal perspectiva não é das melhores. A esta altura, parece inútil esperar que o presidente Bolsonaro, que vive a se queixar das “cascas de banana” atiradas contra seu governo, mude de ideia e aceite montar uma base no Congresso que lhe garanta um mínimo de solidez política. Mais realista é continuar a torcer para que as lideranças do Congresso coloquem seus interesses paroquiais em segundo plano e prossigam na ampliação das reformas, sem as quais não há como sair da crise.

O Estado de S. Paulo

O Brasil na Antártida

Em oito anos, sob as condições adversas de uma das regiões mais inóspitas do planeta, reergueu-se das chamas a mais moderna e segura base científica já construída no chamado continente gelado

A nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) é um triunfo de engenharia e logística. Em oito anos, sob as condições adversas de uma das regiões mais inóspitas do planeta, reergueu-se das chamas a mais moderna e segura base científica já construída no chamado continente gelado. O feito deve orgulhar os brasileiros. Deve ainda chamar à responsabilidade as autoridades incumbidas de fomentar o progresso da ciência no País.

Em seu discurso na cerimônia de inauguração da nova EACF, no dia 15 passado, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que a ocasião era de “júbilo, reconhecimento e homenagem”. Mourão referia-se à excelência das instalações brasileiras na Antártida, onde o País realiza pesquisas desde 1982, e à memória do tenente Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha. Os militares foram as duas vítimas fatais do trágico incêndio que destruiu 70% da base no dia 25 de fevereiro de 2012.

Mourão afirmou também que o ato representa “o avanço do Brasil neste continente e expressa o compromisso do governo com o desenvolvimento das atividades científicas, climáticas e ambientais”. Mas será preciso muito mais do que um discurso em ocasião festiva para que a Nação, de fato, veja no governo do presidente Jair Bolsonaro um genuíno compromisso com o desenvolvimento científico do País. Até o momento, diante dos atos e palavras do mandatário, a percepção é exatamente a oposta. Em todas as oportunidades que teve de se manifestar sobre questões “científicas, climáticas e ambientais”, Bolsonaro não se furtou a desqualificar pesquisadores respeitados nacional e internacionalmente, minimizar os efeitos das mudanças climáticas e menosprezar preocupações legítimas com a preservação ambiental. Ou seja, não faltaram oportunidades para que o presidente da República deixasse claro que produção de ciência não está entre as suas prioridades.

A desinformação propagada pelo ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, tampouco ajuda a reverter a má impressão que se tem da ligação tênue do governo federal com o progresso científico. Membro da comitiva que viajou à Antártida para a reinauguração da EACF, Pontes escreveu no Twitter que a base é “um grande projeto do governo Jair Bolsonaro, através (sic) da parceria entre a Marinha do Brasil, responsável pela estrutura e operações”, e sua pasta. Isto não é verdade. A reconstrução da EACF foi autorizada durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff e executada primordialmente no governo do ex-presidente Michel Temer. Não fossem intempéries que atrasaram a obra, a nova EACF teria sido inaugurada há mais de um ano. Antes, portanto, da posse do atual presidente.

Mas, se não teve participação direta no planejamento e construção da nova EACF, o governo Bolsonaro pode contribuir muito para a realização de todo o potencial de um complexo científico composto por 17 laboratórios de pesquisa nas áreas de microbiologia, medicina, química atmosférica, paleontologia e mudanças climáticas, entre outras. Basta deixar de lado a exploração política da promissora obra e cuidar para que não faltem recursos necessários para a produção científica. É hora de um olhar de estadista, além do alcance imediato dos interesses de um governo.

A reconstrução da EACF foi custeada pelo Ministério da Defesa (US$ 100 milhões). Já o financiamento das linhas de pesquisa na Antártida é feito por órgãos ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Sem estes recursos, “a EACF não passará de uma casa vazia”, como disse certa vez o cientista Jefferson Simões, vice-presidente do Comitê Científico de Pesquisa Antártica (Scar).

Obstáculos de toda ordem foram vencidos para que o País fosse dotado da mais moderna e segura base de pesquisas na Antártida. Resta saber se os cientistas que lá estão sucumbirão à burocracia e ao descaso com a ciência que grassa em certos gabinetes de Brasília.

O Estado de S. Paulo

Potencial de crescimento

A produção deve crescer no País, mas ninguém pode apontar com segurança o ritmo nos próximos anos

O Brasil ganha impulso e a produção deve crescer neste ano mais que em 2019, mas ninguém pode apontar com alguma segurança o ritmo da atividade nos próximos anos. Isso dependerá do potencial de crescimento e esse continua sendo o ponto mais duvidoso da economia brasileira. Avançar na pauta de reformas poderá remover outros entraves, mas o futuro do sistema tributário continua incerto. A insegurança geral é visível no baixo nível de investimentos produtivos.

A incerteza quanto ao longo prazo caracteriza as projeções de crescimento do Brasil. O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou de 2% para 2,2% a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) esperada para 2020. A estimativa para 2021 foi diminuída de 2,4% para 2,3%.

Não se apresentaram novas estimativas para prazos mais longos, o que é normal nas atualizações de cenários em janeiro e julho. Essas projeções poderiam ser diferentes daquelas divulgadas em outubro, quando se apresentam as atualizações mais amplas?

A resposta é negativa. Não há, por enquanto, indícios de mudança no potencial de crescimento do Brasil, confirmou o vice-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti. Esse potencial, segundo ele, deve continuar na vizinhança de 2,5% ao ano. Isso é quanto o País pode crescer sem desajustes.

A mesma visão é perceptível nas projeções de mercado. Para este ano, a mediana das projeções indica expansão de 2,31%, segundo a pesquisa Focus divulgada ontem pelo Banco Central (BC). Para os três anos seguintes o crescimento projetado fica em 2,5%.

Pode haver até algum otimismo nessa estimativa: o crescimento atingirá pelo menos o potencial do País. Nos últimos anos nem isso ocorreu. Mas o dado mais importante, e obviamente preocupante, é outro. Não há indício relevante de aumento da capacidade produtiva. Esse é o recado embutido nas projeções mais longas.

Depois da recessão mais funda em cerca de 80 anos, a prioridade do governo, dos empresários e dos trabalhadores deveria ser, compreensivelmente, a retomada de algum crescimento. Era preciso sair do buraco e, tanto quanto possível, diminuir o desemprego. Esse foi, claramente, um objetivo imediato do governo do presidente Michel Temer. Enquanto criava algum estímulo à reativação dos negócios, a administração federal cuidou de questões de maior alcance, como a reforma trabalhista e a criação de um limite constitucional à expansão do gasto público.

O novo governo desprezou durante um semestre as questões de curto prazo, incluído o desemprego de 12% da força de trabalho, e se concentrou na pauta de maior alcance. Houve avanço significativo na questão da Previdência. Isso poderia aumentar a confiança do empresariado em relação ao médio e ao longo prazos, mas seria preciso algo mais tangível para movimentar a economia, criar oportunidades de emprego e estimular o investimento.

Por que os industriais investiriam em máquinas e equipamentos, quando havia capacidade ociosa na faixa de 25% a 30%? Houve algum investimento, sim, mas certamente limitado à solução dos mais graves problemas imediatos.

Iniciada há cerca de oito anos, a crise da indústria reduziu severamente a capacidade produtiva do setor e, como desdobramento, do Brasil. Ao mesmo tempo, o investimento em infraestrutura declinou, derrubado pela deterioração das contas públicas e por grandes escândalos na relação entre governo e empresas contratadas. Infraestrutura deficiente eleva custos e compromete a produtividade.

Juros baixos e reformas são importantes para destravar os investimentos privados, mas o País precisa de algo mais. Maior segurança quanto à intensidade e à duração do crescimento é indispensável como estímulo. Ganhos de eficiência dependem crucialmente de progressos na infraestrutura. Além disso, é cada vez mais urgente cuidar da atualização tecnológica e da qualificação do capital humano. O governo continua devendo respostas a todas essas questões.

Folha de S. Paulo

Balbúrdia no Enem

Falha no sistema é nova marca para ministério envolto em cruzada ideológica

Em mais uma demonstração da inépcia que vem assolando o Ministério da Educação, o responsável pela pasta, Abraham Weintraub, admitiu no sábado (18) a existência de erros nas notas do Enem realizado no ano passado.

O problema, de acordo com o MEC, deveu-se a uma falha da gráfica que passou a imprimir a prova em 2019, após a falência da empresa que fazia o serviço anteriormente.

Verificou-se uma inconsistência entre a identificação de alguns candidatos e a respectiva cor dos exames realizados por eles (cada cor traz uma ordem diferente das mesmas questões). Em razão disso, o sistema corrigiu testes de uma versão como se fossem de outra.

A princípio, o ministério afirmou que os problemas estariam restritos à prova de matemática e ciências da natureza, feita no segundo dia do Enem. Depois, confirmou a existência de falhas também no teste do primeiro dia.

A pasta estimou inicialmente que os erros poderiam ter afetado até 1% dos participantes, ou cerca de 39 mil alunos. Depois, baixou a estimativa para cerca de 6.000.

Embora tenha divulgado dimensões diferentes do problema, o MEC manteve o início do calendário do Sisu, sistema que seleciona alunos para as universidades públicas pela nota do Enem —as inscrições começam nesta terça (21) e foram estendidas por dois dias, até domingo (26).

Mais prudente talvez fosse dirimir completamente todas as dúvidas antes de dar prosseguimento às etapas seguintes do processo.

Mas seja qual for o universo de estudantes prejudicados, o estrago está feito. As inconsistências encontradas na correção não só abalam a imagem e a credibilidade do exame, hoje o principal meio de ingresso nas instituições federais do país, como dão margem a toda sorte de questionamentos, como a contestação das notas da redação, que não teriam sido afetadas.

Vista em perspectiva, a balbúrdia no Enem constitui apenas o problema mais recente de um ministério cujo desempenho até agora foi pífio, e que passou o último ano consumido por cruzadas ideológicas, trocas sucessivas em cargos de comando e paralisia institucional.

Não à toa, foi o fato de não ter conseguido elaborar um projeto que impediu o MEC de utilizar, em 2019, o dinheiro resgatado da Lava Jato que lhe foi repassado, ao contrário de outras seis pastas também contempladas, conforme revelou reportagem desta Folha.

Em vez de explicar a inação ministerial, Weintraub preferiu atacar este jornal e um dos repórteres que assinaram o texto.

O risco agora é que tamanho despreparo venha a macular também um avanço bem-sucedido na área educacional como o Enem.

Folha de S. Paulo

Sangue e petróleo

Guerra civil na Líbia volta a preocupar após fracasso de conferência de paz

A guerra civil de intensidade variável que consome a Líbia virou uma nota de rodapé do noticiário internacional nos últimos anos. Nesses tempos intranquilos, há conflitos para todos os gostos no mundo.

A barbárie que destroça a Síria desde 2011, amplificada pela emergência do Estado Islâmico e a interferência de países ocidentais e árabes, Rússia, Turquia, Irã e Israel, sempre teve apelo inquestionável.

Assim, o deserto líbio e a décima maior reserva de petróleo do mundo abaixo dele permaneceram sob relativo baixo escrutínio. Até aqui.

O fracasso da Rússia e da Turquia em atrair o poderoso líder rebelde do país, marechal Khalifa Haftar, ao renovado processo de paz durante conferência no domingo (16) em Berlim, traz perspectivas sombrias para a guerra.

Haftar domina boa parte do país, e parece não estar disposto a abrir mão de uma vitória militar sobre o enfraquecido governo reconhecido pelas Nações Unidas, centrado na capital, Trípoli.

O militar até foi a Berlim, mas esnobou a plenária com a alemã Angela Merkel, o russo Vladimir Putin, o turco Recep Tayyip Erdogan, o francês Emmanuel Macron e representantes de outras potências.

O ônus maior ficou para Putin.

Maior apoiador de Haftar, o russo havia trabalhado por um acordo prévio. Pode no máximo acusar o colega turco de ter dificultado as coisas, por ter renovado a promessa de enviar tropas para apoiar o governo oficial de Fayez al-Sarraj.

O Kremlin está de olho em expandir sua influência na região e no petróleo líbio, que antes da queda de Muammar Gaddafi em 2011 era o terceiro mais importado pelos europeus. Hoje, é o oitavo.

Já Ancara vê oportunidade de afirmar-se no leste do Mediterrâneo e de retomar projetos energéticos parados desde a era Gaddafi.

Quem não tinha muito a dizer e assim permaneceu foi a Europa, que recebe quase toda a imigração ilegal a partir da costa da Líbia.

Após apoiar com bombas a deposição do ditador, o Ocidente lavou as mãos. Agora, reluta em sujá-las de sangue e petróleo, algo que não incomoda tanto russos e turcos.

As atenções se voltam a Haftar, que bloqueou a produção petrolífera do país e se mostra um aliado inconfiável da Rússia e de outros países, como França e Egito.

Com a perspectiva da intervenção militar de Ancara, em um país que já conta com mercenários russos e sudaneses, parece mais distante uma acomodação pacífica.

Valor Econômico

Previsões do FMI para a economia frustram Davos

Economia não só foi fraca em 2019, mas também teremos que contar com mais dois anos de crescimento baixo

As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global, divulgadas ontem no Fórum Econômico Mundial, foram um balde de água fria nas expectativas da seleta audiência reunida na simpática comuna de Davos, nos Alpes suíços. Frequentado geralmente por chefes de Estado desejosos por atrair investimentos internacionais e altos executivos interessados em se atualizar em temas de ponta, o Fórum Econômico Mundial contava com algum otimismo da parte da diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva e sua equipe.

Os mercados financeiros vinham manifestando mais animação após a assinatura do acordo que aliviou a tensão comercial entre os Estados Unidos e a China, na semana passada. Mas o FMI não pareceu compartilhar o mesmo grau de otimismo. Apesar de ter reconhecido que alguns riscos diminuíram com o anúncio da fase 1 do acordo entre Pequim e Washington e com a maior probabilidade de um acordo para o Brexit, a mensagem do FMI ao globo foi que a economia não só foi fraca em 2019, mas também teremos que contar com mais dois anos de crescimento baixo. Pelo menos até 2021, a economia deve crescer a uma taxa anual inferior aos 3,6% registrados em 2018.

Na verdade, o FMI até reduziu as projeções feitas em outubro. O crescimento esperado para 2019 foi reduzido de 3% para 2,9%. A projeção para este ano caiu 0,1 ponto, de 3,4% para 3,3%; e a estimada para 2021, recuou de 3,6% para 3,4%. Ajustes pequenos, mas com viés negativo. Ainda assim, são previsões acima das divulgadas pelo Banco Mundial há cerca de dez dias, antes do acordo comercial, quando informou esperar crescimento de 2,4% em 2019 e de 2,5% neste ano.

Kristalina Georgieva salientou que os números do FMI embutem uma estabilização e a expectativa com uma retomada, que ainda não foi detectada. Disse que quatro palavras sintetizavam a análise: “Estabilização provisória e recuperação lenta”.

A economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath, explicou a revisão para baixo dos números pela redução do crescimento esperado para a Índia, em consequência de problemas do setor financeiro não bancário e da economia rural. A previsão para a China foi elevada em 0,2 ponto percentual, para 6% neste ano, após a retomada das negociações com os Estados Unidos. No entanto, o estrago feito pela briga de Trump com os chineses não será apagado. Gita informou que, se a fase 1 do acordo vingar, a expectativa é que o impacto negativo das tensões na redução do Produto Interno Bruto (PIB) global apenas diminuía ligeiramente, de 0,8 ponto para 0,5 ponto.

Gita também manifestou apreensão com o fato de a recuperação global estar nas mãos de economias emergentes que claramente estão sob pressão, como a Argentina, Irã e Turquia; ou vêm se comportamento abaixo do esperado, como o Brasil, Índia e Marrocos. Na média, os mercados emergentes devem crescer 4,4% neste ano e 4,6% no próximo, em comparação com 3,7% em 2019. Já as economias avançadas devem desacelerar ainda mais, passando de 1,7% de crescimento em 2019 para 1,6% neste ano, repetindo a dose em 2021. A previsão para o Brasil, um dos poucos países cuja revisão foi para cima, é que o crescimento passará de 1,2% em 2019 para 2,2% neste ano e 2,3% em 2021. Gita comentou que as novas regras da Previdência e a queda dos juros ajudaram, mas acrescentou que outras reformas econômicas devem ser levadas adiante.

A avaliação geral é que os riscos diminuíram. Porém, ainda estão no horizonte e há outras incertezas como a tensão no Oriente Médio e problemas climáticos. Para piorar, os países dispõem de poucos instrumentos para animar a economia. Os juros estão em patamares historicamente baixos e há pouco espaço fiscal para medidas de estímulo. Desde a crise financeira global, 29 bancos centrais fizeram 71 cortes de juros, em uma política acomodatícia sincronizada, que adicionou 0,5 ponto de crescimento à economia, evitando uma recessão global, contabilizou a diretora-gerente do FMI. Ela reconheceu também que muitos países já recorreram a instrumentos fiscais.

Kristalina Georgieva sublinhou a necessidade de cooperação entre os países. Para ela, o início desta década apresenta alguns paralelos com os anos 20 do século passado, como a desigualdade acentuada, a rápida disseminação da tecnologia e riscos e prêmios elevados no setor financeiro. “Para que a analogia pare por aí e não vá além, é absolutamente crítico que os países ajam de modo coordenado e cooperativo”, salientou.

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