Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (08/01/2020)

MANCHETES

O Globo

Irã ataca bases com tropos dos EUA no Iraque e eleva temor de conflito
Em depoimento exclusivo, jornalista relata vida no Irã após início das tensões
Após apoio a Trump, Planalto adota discrição
Energia solar: cai taxa após pressão de Bolsonaro
Moro pede a Guedes crédito de R$ 1 bilhão
Com cor e gosto alterados, água é investigada no Rio
Dengue: 2019 foi o 2ª pior ano no país em registros da doença
Um novo planeta
Incêndios na Austrália – Fumaça chega ao Rio Grande do Sul

O Estado de S. Paulo

Irã lança mísseis contra bases usadas pelos EUA no Iraque
Instalações atingidas são as maiores dos americanos
Agronegócio pede que Brasil fique fora do conflito
Estação antártica será inaugurada na terça
Ghosn dá sua versão sobre acusações, prisão e fuga
Moradia em bairro elegante, mas em clima de mistério
Preço de material escolar deve subir 8%

Folha de S. Paulo

Irã lança mísseis em bases com americanos no Iraque
Empresas são beneficiadas com subsídio à energia solar
Com capacidade para 2.000 passageiros, trem para Cumbica leva 35
Juiz das garantias de SP emperra por falta de recursos
Fumaça vinda da Austrália chega ao Rio Grande do Sul
Guidó é agredido, mas força entrada e formaliza eleição
Coalizão de esquerda passa a governar Espanha

Valor Econômico

Prisão após 2ª instância vai antecipar gasto trabalhista
Ataque do Irã a forças dos EUA agrava tensões
Centenária, Thyssen vive ano decisivo
Taylor, o homem que ‘resgatou’ Ghosn
Impacto do FGTS supera expectativas
Refrigerante terá incentivo menor no AM

EDITORIAIS

O Globo

Já se sabe que é um erro subsidiar combustíveis

Brasília se depara com outra forte alta do petróleo, mas a experiência mostra o caminho a seguir

Devido à importância que o petróleo tem na matriz energética do mundo, variações bruscas de seus preços se propagam como abalo sísmico nos sistemas produtivos. Logo, na vida das pessoas. Durante muito tempo grande importador de petróleo, o Brasil passou por várias dessas situações.

Mesmo agora, quando exporta parte da produção, não pode ficar livre delas. Porém, com a enorme vantagem de que não corre riscos como no passado de crises sérias de abastecimento.

Estratégicos, os combustíveis são tratados com especial cuidado pelos políticos, sem que haja nada de mau nisso. Só há quando seus preços passam a ser administrados de forma populista. Há inúmeros exemplos deste erro na história do Brasil. Na ditadura militar, por exemplo, havia subsídios nada transparentes cujo valor efetivo não era divulgado. Sabia-se apenas que os rombos eram despachados para o Tesouro. E a inflação ajudava a disfarçar tudo.

Agora, com a crise provocada pela decisão do presidente Trump de ordenar o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, o preço do barril chegou aos US$ 70. Já vinha em elevação devido à deterioração do panorama geopolítico no Oriente Médio. Mais uma vez, o governo brasileiro precisa administrar o impacto da alta.

O discurso do presidente Bolsonaro tem sido de que não haverá retenção artificial de preços, coerente com o pensamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. É tranquilizador.

Perigosas são as pressões políticas que costumam surgir nessa hora e que podem sensibilizar Bolsonaro, autodenominado ignorante em economia. Ele já demonstrou excessiva sensibilidade a demandas irrealistas da corporação de caminhoneiros, de sua base eleitoral. Que se sentiu autoconfiante ao fazer greve no final do governo Temer, o qual cedeu na reivindicação de tabelar fretes, algo impossível em um mercado com milhares de agentes econômicos. O assunto está pendente no Supremo. Podem tentar outra vez, a depender da firmeza do imprevisível Bolsonaro.

Há fórmulas técnicas de atenuação do impacto das variações de preços do petróleo nas bombas dos postos de combustíveis. O ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima, tem dado declarações sobre um fundo a ser formado na fase de aumento da arrecadação, na alta das cotações, que compensaria os efeitos de grandes elevações nos preços. A proposta não é nova. Vem do governo Temer, falta executar.

Diante de choques como este é um erro o Estado intervir no mercado como se pudesse domá-lo. É preciso manter o Tesouro fora deste circuito. Congelamentos de combustíveis já criaram rombos bilionários na estatal.

Há, ainda, a questão de que a Petrobras deseja, acertadamente, privatizar refinarias, também para injetar concorrência neste mercado. A qualquer risco de intervenção no setor, os investidores se retrairão.

O Globo

Radicalismo de Trump é outro golpe na histórica aliança com a Europa

Os mísseis que mataram general persa também atingiram antigos laços diplomáticos dos EUA

O choque de isolacionismo que Donald Trump deu ao ordenar sem qualquer consulta o assassinato do general Qassem Soleimani levará algum tempo até ser absorvido. Claro, não contribui para o apaziguamento mundial. Semeia mais violência e ódio no Oriente Médio, região já intoxicada por grandes porções de inimizades sectárias. Com a ajuda também do Irã. Ontem, houve a primeira retaliação iraniana: ataques de foguetes a bases americanas no Iraque.

Mesmo em Washington, por mais que seja imprevisível, Trump causou espanto. Os seguidores devem ter ficado positivamente estupefatos com a audácia do líder. O velho establishment do Partido Republicano certamente não aprovou, mas o trumpismo já tomou o controle da legenda.

Já os Democratas ganharam nova munição para alvejar o presidente pelos seus flancos mais expostos: desdenha das instituições históricas americanas com a mesma tranquilidade com que chantageia o presidente da Ucrânia, com a retenção de US$ 400 milhões em ajuda militar, para que Volodymyr Zelenski determine uma investigação sobre a passagem do filho de Joe Biden, Hunter, na direção de uma empresa ucraniana de gás.

Usou o poder do cargo para conseguir de um governo estrangeiro informações que o ajudem a enfrentar Biden na tentativa de se reeleger, caso o ex-vice-presidente consiga vencer as primárias do partido para disputar o pleito de 2020. Daí o pedido de seu impeachment. As zonas de turbulência criadas por Trump — que há tempos se choca também com o estamento de segurança do próprio país — ultrapassam o Atlântico e atingem a Europa, outrora aliada inseparável dos EUA. Com Trump, não mais.

Desde que assumiu, o presidente americano pressiona França e Alemanha, principalmente, a aumentarem sua contribuição ao orçamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pela qual o amplo guarda-chuva militar americano protege a região. Trump pode ter razão, mas os termos das cobranças e o viés nacional-populista das pressões criam rusgas.

O assassinato do iraniano aumentou o distanciamento entre os dois históricos aliados. Sequer Boris Johnson, premier britânico, próximo de Trump, aprovou. Os mísseis de Soleimani também atingiram antigos laços.

EUA, França, Grã-Bretanha, Alemanha, China e Rússia conseguiram um entendimento com os persas em torno de um acordo nuclear. Ao assumir o lugar de Obama, Trump, como prometido, implodiu o acordo. E criou mais fissuras no relacionamento com a Europa, estratégico para o Ocidente. Nunca houve nada igual depois da II Guerra.

O Estado de S. Paulo

A privatização nos Estados

A disposição de governadores de transformar 2020 no ano de grandes privatizações, concessões e estabelecimento de PPPs é salutar por diversos motivos

A disposição de governadores de diversos Estados de transformar 2020 no ano de grandes privatizações, concessões e estabelecimento de Parcerias Público-Privadas (PPP) é salutar por uma série de motivos. O mais óbvio deles é que, caso tenha êxito, a iniciativa desses governadores contribuirá para reduzir o peso do setor público na atividade econômica e na vida das pessoas, abrindo espaço para quem pode exercer essas funções com maior eficiência e menor custo. Nesse sentido, é mais do que tardia a ação que, como informou o Estado, está prestes a ser iniciada por vários governos estaduais. Há muitas atividades pelas quais esses governos ainda são responsáveis, mas que não são exercidas com a qualidade, a presteza e o custo devidos à sociedade, o que exige sua reformulação urgente.

Há, porém, diversos aspectos nos planos estaduais de privatização que merecem observação especial.

A lista de ativos relacionados entre os que podem ser oferecidos à iniciativa privada é um retrato da fúria estatizante que caracterizou parte da segunda metade do século passado e da avidez com que governantes interessados em conquistar apoio popular ou favorecer determinados segmentos usaram dinheiro público para criar serviços e empresas que nenhuma ligação deveriam ter com as tarefas do setor público.

A quantidade de empresas estaduais de energia elétrica é consequência do forte papel que os planos de desenvolvimento elaborados na década de 1950 e, depois, durante o regime militar atribuíram ao setor público. Um quarto de século depois dos planos de privatização executados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, ainda há pelo menos quatro companhias de energia elétrica entre os ativos mais valiosos que podem ser oferecidos à iniciativa privada pelos governos estaduais. Há também empresas estaduais de saneamento e até mesmo uma estatal estadual de telecomunicações.

Mas a presença na lista de ativos privatizáveis de hotéis, zoológicos e de shopping centers mostra que alguns governos estaduais foram longe demais na expansão de suas atividades.

Alguns governadores têm consciência da necessidade de privatização para concentrar as ações do setor público, e dar-lhes maior eficiência, naquilo que é efetivamente de sua responsabilidade. “Tenho dito que o Estado já tem muito o que fazer na parte de saúde, educação, segurança e infraestrutura”, disse ao Estado o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Além disso, “as empresas do Estado, notoriamente no último governo, serviram para interesses políticos e cabides de emprego”.

Outros, porém, estão se vendo forçados a se desfazer de ativos para equilibrar as finanças estaduais, ou pelo menos para aliviar a grave crise fiscal provocada pela combinação de queda de receita e expansão contínua de despesas, especialmente com a folha de pessoal. No caso do Rio de Janeiro, a venda da empresa de saneamento Cedae foi exigência do governo federal para que o Estado pudesse aderir ao Regime de Recuperação Fiscal, que facilitou a rolagem da dívida estadual com a União.

Tanto na privatização por razões programáticas, com vistas a retirar o setor público de áreas onde é ineficiente e sua presença é desnecessária, como por motivos financeiros, a receita será contabilizada apenas uma vez. Essa receita deverá aliviar problemas imediatos. Outro benefício é retirar do setor público o ônus com os salários dos empregados das estatais privatizadas.

Problemas preexistentes, de desequilíbrio estrutural das finanças estaduais decorrente do aumento sistemático das despesas em velocidade maior do que o da arrecadação das receitas, persistirão e continuarão a exigir decisões corajosas dos governadores. Boa parte dos Estados enfrenta dificuldades para cumprir os limites fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal para os gastos com pessoal. Também tem dívidas cujo custo reduz dramaticamente sua capacidade de investimentos. Além de transferir ativos para o setor privado, Estados nessa situação precisam reduzir estruturalmente suas despesas.

O Estado de S. Paulo

Acelerando no mercado interno

As montadoras devem produzir 3,16 milhões de veículos em 2020, superando ligeiramente o total fabricado em 2014, último ano antes da recessão

Saindo da crise, as montadoras devem produzir 3,16 milhões de veículos em 2020, superando ligeiramente o total fabricado em 2014, último ano antes da recessão. Naquele ano a produção chegou a 3,15 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. A previsão é da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O cálculo é combinado com a expectativa de crescimento econômico de 2,5%, número muito próximo daqueles indicados pelo governo, instituições financeiras e consultorias. No ano passado a produção automobilística foi a maior em cinco anos. Chegou a 2,94 milhões de unidades, acumulando expansão de 2,3% em relação ao ano anterior.

O crescimento de 7,3% estimado para 2020 dependerá exclusivamente, ou quase, do mercado interno. O principal importador de veículos e tratores fabricados no Brasil, a Argentina, deverá continuar com a economia estagnada, segundo todas as previsões. Desde 2018 as vendas externas estão em queda. Em 2019 foram exportadas 428,2 mil unidades, número 31,9% menor que o do ano anterior. Novo recuo, desta vez de 11%, é esperado em 2020, segundo o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.

A dependência do mercado argentino é uma bem conhecida característica do setor automobilístico brasileiro. As exportações para outros mercados, em geral da América do Sul, são insuficientes para sustentar um fluxo razoável de vendas externas. Essa dependência se consolidou neste século, com o acordo automotivo entre os dois maiores sócios do Mercosul.

Não há notícias, no entanto, de planos para diversificação de mercados, pelo menos em proporção significativa, isto é, suficiente para reduzir de forma sensível a dependência em relação às compras argentinas.

A saída imediata mencionada pelo presidente da Anfavea é tornar mais dinâmico o comércio interno de veículos. Também no Brasil o quadro é insatisfatório. Em 2019 as vendas a compradores nacionais foram 8,6% maiores que as de 2018, mas dependeram principalmente de pessoas jurídicas, como locadoras, produtores agropecuários e frotistas. Esses clientes negociam diretamente com as montadoras, em condições mais vantajosas que as dos demais compradores. Para mudar o quadro, as empresas devem propor ao governo, como parte da reforma tributária, uma redução dos impostos incidentes sobre o crédito direto ao consumidor, disse o presidente da Anfavea.

Qualquer vendedor tem o direito de pleitear menor tributação sobre o crédito ao consumidor, assim como o governo tem o direito – e o dever – de levar em conta a sua conveniência financeira. A redução de um encargo tributário sobre o financiamento ao consumo está muito longe de constituir, no entanto, uma solução para as limitações da indústria automobilística. O presidente da Anfavea deve saber disso.

Produtividade, inovação e competitividade são itens muito mais importantes para o crescimento e o vigor de qualquer indústria. Esse tem sido o caso em países mais dinâmicos. Deveria ser o caso também no Brasil, onde vários segmentos industriais foram beneficiados, durante anos, por facilidades fiscais e – no caso das montadoras – por incentivos à modernização e à inovação.

Algum ganho de produtividade tem certamente ocorrido, porque o emprego nas montadoras continuou a cair depois de superada a recessão e iniciada a recuperação. Em dezembro as montadoras tinham 125,6 mil empregados. Um ano antes, 130,5 mil. O contingente do fim de 2019 foi menor que o de qualquer mês a partir de 2014. Naquele ano, 144,5 mil pessoas trabalhavam nas fábricas de veículos e tratores. Em janeiro de 2014 eram 156,7 mil.

Os números são claros e confirmam: houve ganho de eficiência e graças a isso a produção voltou a crescer. Quanto mais seria necessário, no entanto, para as empresas do setor se arriscarem numa competição mais aberta e mais diversificada? De respostas claras e práticas a questões como essa dependerão o vigor e a duração do crescimento geral da economia nos próximos anos.

O Estado de S. Paulo

Golpe

A crise na Venezuela é tão grave que o país tem hoje dois presidentes e três Parlamentos disputando poder

Tal é a gravidade da crise na Venezuela que hoje, a rigor, o país vizinho tem dois presidentes e três Parlamentos disputando poder. Seria cômico se esse imbróglio não produzisse resultados tão trágicos para o povo daquele país, que sofre há tanto tempo.

O ditador Nicolás Maduro segue cada vez mais confiante em sua permanência à frente do Palácio de Miraflores, respaldado pela força dos militares e milicianos que ainda lhe prestam vassalagem em troca de benesses de toda sorte. A esta casta armada que garante a sustentação do governo não só foram dados postos-chave da administração pública e de empresas estatais, como uma espécie de carta branca para a prática de crimes como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e contrabando, o que enriqueceu da noite para o dia muitos oficiais.

Em contraposição a Maduro na presidência da Venezuela está o deputado Juan Guaidó, autodeclarado presidente encarregado há quase um ano. Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, foi reconhecido como presidente da república por mais de 50 nações, incluindo o Brasil, após o Poder Legislativo venezuelano não reconhecer a legitimidade da reeleição de Maduro em maio de 2018, um pleito que, de fato, foi eivado de fraude do início ao fim.

Para manter-se na posição de presidente encarregado da Venezuela e seguir sua campanha para aumentar a pressão internacional sobre o regime chavista, era fundamental que Guaidó fosse reconduzido à presidência da Assembleia Nacional em eleição marcada para o domingo passado. No entanto, deputados chavistas, com apoio de tropas leais a Maduro, bloquearam a entrada no Congresso dos parlamentares da oposição, impedindo o atingimento do quórum de votação que levaria Guaidó à reeleição. Foi um golpe, não resta dúvida.

Em votação que contou apenas com a presença de deputados chavistas, Luis Parra foi eleito como novo presidente da Assembleia Nacional. Logo após o fim da votação fajuta, Maduro comemorou a “vitória” do governo e saudou o deputado Parra. Ato contínuo, os Estados Unidos e o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, emitiram declarações em que não reconheciam a legitimidade de Luis Parra como novo chefe do Poder Legislativo, que na Venezuela é unicameral.

A Assembleia Nacional não era reconhecida pelo regime de Nicolás Maduro desde 2017, quando foi “fechada” por ordem da Justiça. No lugar, a ditadura criou a Assembleia Constituinte, comandada por Diosdado Cabello, o segundo na hierarquia do regime.

Impedidos de ter acesso ao Congresso, os deputados oposicionistas realizaram uma sessão legislativa “paralela” em um hotel de Caracas, ocasião em que Juan Guaidó foi, enfim, reeleito como presidente da Assembleia Nacional.

Há hoje, portanto, três homens disputando a chefia do Poder Legislativo na Venezuela: Juan Guaidó, Luis Parra e Diosdado Cabello. O único que foi eleito de acordo com as regras democráticas, ainda que formalidades possam não ter sido cumpridas em função da força do regime, é Juan Guaidó.

Os caminhos da longa crise na Venezuela são demasiado tortuosos para que se aviste, ao menos por ora, qualquer possibilidade de saída a curto prazo. Maduro não dá sinal de que esteja disposto a negociar um fim para o impasse que tem custado muito caro para o povo venezuelano. O povo, aliás, é a menor de suas preocupações. Por sua vez, Guaidó vem perdendo força em sua campanha para enfraquecer o regime chavista e negociar uma transição democrática, tanto pela própria resiliência do regime como por erros de cálculo que ele mesmo cometeu, como a frustrada tentativa de levante militar em abril de 2019.

A situação hoje é favorável ao ditador Nicolás Maduro. Os Estados Unidos têm outras preocupações mais urgentes. O Brasil pode pouco além do que já vem fazendo no campo diplomático. E as forças de oposição no país vizinho veem cada vez mais tolhidas as suas possibilidades de ação. Triste povo.

Folha de S. Paulo

Aos amigos, tudo

Só índios, quilombolas e sem-terra ficam fora da distribuição de áreas públicas

Criticam-se amiúde os governantes por descumprirem promessas de campanha, porém há ocasião melhor para reprová-los, quando concretizam propostas que ficariam melhor varridas com o entulho da refrega eleitoral. Assim ocorre com a política fundiária do presidente Jair Bolsonaro, que só agrada aos ruralistas mais retrógrados.

Em 10 de dezembro sancionou-se no Planalto a medida provisória 910, à primeira vista voltada para o objetivo louvável de regularizar terras da União em posse de particulares. A situação aí é de caos que merece ser disciplinado, com efeito, mas cabe lembrar que o demônio se oculta nos detalhes.

O governo Michel Temer já havia dado um presente para os tomadores de patrimônio público —entre os quais incluem-se de pequenos posseiros a grandes grileiros— ao ampliar de 2004 para 2011 o prazo da ocupação. Depois que assumiu, Bolsonaro esticou-o para 2018 e dispensou a obrigatoriedade de vistoria prévia.

Fez mais: aumentou a extensão máxima da área por titular de 4 para 15 módulos fiscais. Em certas partes do país, isso pode chegar a 16,5 km2 (o mesmo que um bloco de 40 x 40 quarteirões).

Comemorou a franja mais atrasada do ruralismo, em geral pecuaristas mancomunados com grileiros e madeireiros ilegais na ponta da cadeia de devastação ambiental e do esbulho fundiário. Sem nenhum motivo para festejar ficaram aqueles que mais fariam jus à regularização de suas terras, até por previsão constitucional.

É o caso dos povos indígenas e quilombolas que ainda não viram demarcadas e homologadas áreas que tradicionalmente ocupam, como mandam o artigo 231 da Constituição e o de número 68 das Disposições Transitórias.

Bolsonaro, entretanto, cumpre a promessa de não lhes reconhecer legalmente nem um centímetro quadrado de terreno. Não por acaso, reduziu ainda o emprego da Força Nacional de Segurança Pública em ações federais para conter conflitos resultantes de invasões de garimpeiros e madeireiros nessas áreas.

O governo alega que a MP 910 beneficiará 300 mil famílias instaladas em terras da União, muitas delas de pequenos agricultores em assentamentos ainda não regularizados. De reforma agrária, propriamente dita, fez nada, embora contasse no final de 2018 com vagas para assentados em 66 projetos.

O resumo do primeiro ano sob Bolsonaro no campo é óbvio: aos amigos e apoiadores do agronegócio, tudo, mesmo ao custo de chegar a premiar, em muitos casos, quadrilhas usurpadoras de terras públicas; aos movimentos sociais, nem mesmo o cumprimento da Constituição Federal.

Folha de S. Paulo

Verão sem canudo

Oito estados já proíbem o acessório de plástico, mas é preciso fazer mais

O verão de 2019-2020 deve ser o primeiro em que muitos brasileiros se depararão com a proibição de algo que antes era inseparável dos refrescos da estação mais quente: o canudinho de plástico.

Levantamento da Folha mostrou que oito estados e o Distrito Federal baniram o acessório em pouco mais de um ano. Em 17 dos 18 outros estados há projetos de lei em tramitação para tanto.

Diversos municípios também tomaram a iniciativa de proibir os canudos: 80 cidades têm regras nesse sentido, segundo a organização não governamental WWF.

Ambientalistas chamam a atenção para a poluição dos mares por plásticos há décadas, mas a luta contra os canudinhos em particular ganhou especial velocidade a partir de 2015, quando viralizou um vídeo feito por uma bióloga de uma tartaruga com uma dessas peças de plástico no nariz.

Se leis não bastam para que os canudos sumam magicamente de restaurantes, bares, quiosques e padarias —a fiscalização da proibição no Rio de Janeiro, por exemplo, é deficitária, como mostrou reportagem da Folha—, os textos dos projetos acompanham um aumento da conscientização de parte dos brasileiros sobre o tema.

Muitos já perceberam que não é grande sacrifício usar acessórios de papel, de metal ou mesmo de materiais naturais; ou simplesmente dispensá-los e tomar seu líquido direto do copo. Usados por poucos minutos, os canudos raramente são reciclados e podem demorar centenas de anos a se decompor.

Mudança de comportamento similar aconteceu com as sacolinhas descartáveis plásticas há alguns anos.

Obrigados por lei, mercados e outros estabelecimentos começaram a cobrar por elas. Depois da onda inicial de reclamações, muitos consumidores passaram a levar consigo às lojas suas sacolas retornáveis, caixas ou carrinhos de compras, sem grandes dificuldades.

Ainda que sejam positivas as investidas contra um ou outro vilão da vez, a humanidade precisa repensar sua relação com o plástico, em especial aquele de uso único, logo descartado.

São necessárias medidas mais drásticas e alterações de hábitos permanentes em todos os países para evitar que o oceano continue a ser tomado por milhões de toneladas de copos, pratos, sacolas, garrafas, brinquedos e tantos outros badulaques não biodegradáveis todos os anos.

Valor Econômico

Investimento chinês no país manteve ritmo acelerado

O protagonismo chinês como investidor no Brasil também se manifesta nas relações comerciais

Há pouco mais de um ano, em outubro de 2018, Jair Bolsonaro, ainda candidato à Presidência da República, foi bastante enfático nas suas declarações sobre o relacionamento entre o país e nosso principal parceiro comercial em muitos anos: “A China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil”. Cinco meses depois, em aula a formandos do Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo disse que o Brasil não iria “vender sua alma” para “exportar minério de ferro e soja” para a China comunista.

Essas afirmações – apenas uma pequena amostra do que vários governantes expressaram sobre a ‘invasão’ econômica e comercial da China – não foram suficientes para interromper o fluxo de capital vindo do país asiático para o Brasil.

Como mostrou a repórter Marta Watanabe, na edição do dia 23, no Valor, os investimentos chineses no Brasil devem ter terminado o ano passado com avanço em relação a 2018 e as perspectivas são de crescimento ainda maior para o futuro. A retomada do programa de privatizações e concessões a partir deste ano e a esperada melhora no ritmo de recuperação econômica devem garantir a participação dos chineses não somente em grandes projetos de infraestrutura como também viabilizar diversificação e investimentos em projetos novos. Como pano de fundo, há a percepção de esforço do governo dos dois países para superar divergências políticas.

Dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério da Economia, mostram que os investimentos chineses no Brasil somaram até setembro US$ 1,87 bilhão, praticamente o mesmo valor registrado no mesmo período do ano anterior, de US$ 1,8 bilhão. Segundo Renato Baumann, da secretaria-executiva da Camex, no último trimestre foram fechados negócios importantes que devem ter engordado o valor do ano. Entre eles, o investimento do consórcio formado pelos grupos chineses CCCC e CR20 para a construção da ponte Salvador-Itaparica. O investimento total previsto é de R$ 5,3 bilhões, mas o governo da Bahia contribuirá com aporte de R$ 1,5 bilhão. Com as operações do último trimestre, os investimentos devem superar os US$ 3,5 bilhões em 2018.

Levantamento da PwC Brasil também mostra crescimento no número de operações de fusões e aquisições. Até novembro, foram anotadas dez operações em investimentos chineses, com a previsão de que até o dia 31 de dezembro tenha se chegado a 12. Em 2018 foram sete ao todo. A consultoria britânica Dealogic, que contabiliza também operações de fusões e aquisições, mostra que os investimentos chineses cresceram de US$ 195,5 milhões em 2018 para US$ 784,5 milhões até o início de dezembro.

Ironicamente diante do antagonismo diplomático do início do governo Jair Bolsonaro, um problema chinês acabou afetando positivamente e de uma maneira muito firme um dos principais setores da economia brasileira, o agronegócio. Reportagem publicada pelo Valor na edição do dia 30 informa que as 14 empresas do agronegócio com ações negociadas na bolsa de São Paulo tiveram valorização de 86% no ano passado e encerram o exercício com um valor de mercado conjunto de R$ 163,5 bilhões. Trata-se de um aumento de quase R$ 76 bilhões na comparação com 2018.

Grande parte das companhias que compõem o grupo se valorizou acima do Ibovespa, que subiu 32,6% no período. Com um faturamento combinado de quase R$ 300 bilhões, as quatro indústrias de carnes – JBS, BRF, Marfrig e Minerva – foram beneficiadas pela epidemia de peste suína africana na China, que dizimou metade do plantel do país asiático, fez os preços internacionais da carne dispararem e animou os investidores dos frigoríficos. Para 2020, espera-se a continuidade da tendência, reportaram os jornalistas Luiz Henrique Mendes e Camila Souza Ramos.

O protagonismo chinês como investidor no Brasil – e não apenas no Brasil, obviamente – também se manifesta nas relações comerciais. Como acontece há vários anos, também em 2019 a China foi o principal parceiro comercial brasileiro. Dados divulgados na quinta-feira pelo governo mostram que apesar da queda de 3,1% nas exportações as vendas para a China representaram quase 30% do total embarcado pelas empresas brasileiras no ano passado, um novo recorde. A queda na exportação de soja para os chineses foi parcialmente compensada pelo envio de carnes.

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