São cenas de cortar o coração mostradas diariamente pela televisão. Idosas e idosos estirados em macas nos corredores. Crianças de colo sem atendimento. Hospitais sucateados, falta de médicos e medicamentos, salários atrasados, filas de espera enormes e muitas vezes levando à morte, como nos casos seguintes, para só citar dois entre inúmeros.
“Meu pai deu entrada às 16h com princípio de infarto”, contou o motoboy Isaac de Souza na quarta-feira passada, “e agora, às 21h, eles dizem que meu pai faleceu. Ele ficou em cima de uma maca esperando, esperando. Só tinha uma médica atendendo a todos”.
“Infelizmente, meu pai morreu nos meus braços”, disse Márcia, filha de Valcido de Oliveira, na mesma quarta-feira. “A situação do Salgado Filho está muito complicada. Tivemos que comprar remédios, lençóis e até papel higiênico”.
Um levantamento feito pelo UOL revelou que 18.825 pacientes com classificação vermelha — a mais grave — estão à espera há anos. Um deles, com doença venosa, aguarda exame ou cirurgia desde, acredite, agosto de 2015.
Até os repórteres que cobrem o setor e estão acostumados com esse cotidiano se mostram indignados com o que têm visto ultimamente. Só Marcelo Crivella permanece indiferente. Ele, que se elegeu prometendo cuidar das pessoas, prefere debochar e dizer que “a crise é falsa”.
Daí não surpreender o alto nível de rejeição de seu governo na pesquisa do Datafolha: 72% dos eleitores cariocas reprovaram sua gestão, dos quais 68% atribuem à crise na saúde pública o fator preponderante na reprovação.
Além dessa rejeição, houve outra: 76% repudiaram o boicote de Crivella ao trabalho dos profissionais do grupo Globo. Ele tentava impedir que o público se informasse sobre o caos criado por seu governo. Uma liminar da juíza Alessandra Cristina Tufvesson, porém, passou a garantir o acesso dos jornalistas a coletivas de imprensa, classificando a censura como “violação a direito fundamental”, estabelecendo multa de R$ 10 mil para cada desobediência.
Há muito não se via um prefeito tão desmoralizado junto aos eleitores e à Justiça. (O Globo – 18/12/2019)