Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (13/11/2019)

MANCHETES

O Globo

MP do emprego amplia reforma de leis trabalhistas
Bolsonaro confirma que vai sair do PSL e criar partido
BC vai mudar a taxa de juros do cheque especial
Oposicionista substitui Morales na Presidência
DPVAT repassou R$ 33 bilhões ao SUS em 11 anos
Comissão dá parecer contrário à MP dos balanços
Comissões de cotas raciais sofrem derrotas na Justiça
Prefeitura que flexibilizar regras para imóveis tombados

O Estado de S. Paulo

Governo usa pacote do emprego para mudar regras trabalhistas
Bolsonaro anuncia nova sigla para enfrentar PT
Sem DPVAT, motociclista será o mais prejudicado
Senadora se declara sucessora interina de Evo
Caixa reduzirá à metade juro do cheque especial
Perfil demográfico muda radicalmente
Carlos Bolsonaro apaga contas em redes sociais
Zika inibe tumor de próstata, diz estudo

Folha de S. Paulo

Em manobra, senadora se diz presidente da Bolívia
Jair Bolsonaro deixa o PSL, e aliados devem ser punidos
Proposta para emprego de jovens traz de volta reforma trabalhista
Alinhamento com americanos causa atrito com Brics
Promulgada, nova Previdência começa a valer
Planalto pressiona, e Caixa corta cheque especial à metade
Comissão rejeita MP sobre balanços impressos
Gargalo em SP, creches têm 65 mil bebês de até 2 anos na fila por vaga
Esquerda chega a acordo e forma governo na Espanha
Greve geral no Chile tenta pressionar Piñera a aprofundar reformas

Valor Econômico

MP pode decidir disputas bilionárias com a Receita
Pacote vai unir ações em infraestrutura
‘Petroleiras investirão em outros países’
Construção civil retoma contratações
Crise paralisa acordo com Bolívia
3G disputa os elevadores da Thyssenkrupp
Oferta de ações da Magazine soma R$ 4,7 bi

EDITORIAIS

O Globo

É relevante a promulgação da reforma

São vitais as mudanças na Previdência feitas no Congresso, mas elas terão de ser atualizadas

A promulgação da reforma da Previdência, pelos presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, transcende o fato em si, por não se tratar apenas de um evento do calendário político-administrativo do Congresso. A solenidade realizada ontem formalizou uma das mais profundas mudanças já realizadas no sistema de seguridade, reforma vital para o sustento de milhões de famílias. Principalmente as mais pobres, a grande maioria delas.

Numa perspectiva mais ampla, esta reforma impedirá, por enquanto, a quebra fiscal do Estado, já sinalizada pelo crescimento da dívida pública de 50% do PIB, em 2010, para os quase 80% atuais.

O índice ainda continuará a subir, porque persiste o déficit nas contas públicas, impossibilitando que o Estado volte a investir em obras de infraestrutura que melhorem a qualidade de vida da grande maioria dos 210 milhões de brasileiros.

Como pedras de dominó, esta sucessão de problemas levou à retração dos investimentos privados, contidos pelo compreensível medo que tinham os agentes econômicos, internos e externos, de empatar capital em um país com perspectiva de cair num redemoinho de depressão e convulsões social e política.

Portanto, é histórico o trabalho que o Congresso, mesmo com a falta de empenho do presidente Bolsonaro, conseguiu executar, junto com equipes do Executivo, destacando-se as do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do secretário especial da Previdência, Rogério Marinho.

A situação-limite a que se chegou na Previdência se deve à classe política, costumeiramente sensível a pressões corporativistas que partem dos servidores públicos e de sindicatos em geral.

Iniciada a redemocratização em 1985, depois de 21 anos de ditadura, o debate na sociedade ganhou os espaços democráticos que se abriam e, na agenda econômica, entraria a questão da Previdência.

O PT e aliados da esquerda impediram que na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso (1994-2001) todas as alterações necessárias fossem executadas. Mas era tão imperiosa a reforma que mesmo o PT, ao chegar ao Planalto, com Lula e Dilma, foi levado a tocar esta agenda, apesar de todo o discurso contra. A aritmética é implacável, não tem ideologia. Porém não foi a fundo.

Mas agora houve, enfim, a consciência majoritária entre os políticos de que os pobres, que dizem proteger, são os primeiros e grandes prejudicados numa crise fiscal. E já estão sendo, nas emergências do SUS, na precariedade de escolas públicas etc.

Por suposto, as regras previdenciárias continuarão sendo atualizadas, porque o processo demográfico de envelhecimento da população exige. No Brasil, há também outro motivo: reduzir a injustiça social das gritantes desigualdades entre os benefícios do funcionalismo, privilegiado, e do aposentado da iniciativa privada (INSS). Esta reforma apenas começa a enfrentar a distorção.

O Globo

A emblemática condenação de PMs acusados da chacina de Costa Barros

Há quatro anos, cinco jovens inocentes tiveram o carro fuzilado com 111 tiros quando voltavam de uma lanchonete

É exemplar a condenação, pelo II Tribunal do Júri, dos PMs Antônio Carlos Gonçalves Filho e Márcio Darcy Alves dos Santos, a 52 anos e seis meses de prisão, pelo fuzilamento de cinco jovens em Costa Barros, Zona Norte do Rio, em 28 de novembro de 2015. O policial Fábio Pizza Oliveira da Silva foi inocentado, mas o Ministério Público recorrerá da decisão. Já Thiago Resende Viana Barbosa, que também participou da ação, ainda será julgado.

O crime, que ficou conhecido como a chacina de Costa Barros, causou comoção no Rio. Os jovens Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16 anos; Roberto Silva de Souza, de 16; Cleiton Corrêa de Souza, de 18; Wilton Esteves Júnior, de 20; e Wesley Castro Rodrigues, de 25, tinham ido a uma lanchonete para festejar o primeiro emprego de um deles, que começara a trabalhar como auxiliar de supermercado. Na volta, o carro em que estavam foi atingido por 111 tiros — a maioria de fuzil —, disparados por PMs que tentavam surpreender uma quadrilha de roubo de carga.

O caso é emblemático também pelas tentativas dos policiais militares de falsear a verdade. Em resposta à indignação da sociedade, os agentes alegaram legítima defesa, afirmando que haviam trocado tiros com os jovens. Mentira. A perícia constatou que não existiam indícios de disparos feitos a partir do interior do veículo. Chegaram a apresentar um revólver para insinuar que um dos rapazes havia atirado contra os PMs. Falso. Verificou-se que a arma estava quebrada e não podia disparar. Alegaram então que ela caíra da mão do atirador e por isso estava avariada. Outra fraude descartada pela perícia. Durante o julgamento, um vídeo exibido pela acusação mostrou um dos PMs tapando uma câmera de segurança antes do crime.

Evidentemente, para as famílias a tragédia é irreparável. E sem fim — em julho de 2016, a mãe de um dos jovens, em profunda depressão, morreu, aos 44 anos, vítima de anemia e pneumonia. Mas o veredicto tem o mérito de resgatar a verdade sobre os rapazes, todos inocentes, e, mais do que isso, permitir uma reflexão sobre as chamadas mortes decorrentes de intervenções policiais, que têm crescido não só no Rio, mas em boa parte dos estados. Quase sempre sob o pretexto de “confronto com a polícia”.

É preciso refletir também sobre a proposta de excludente de ilicitude, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e rejeitada pelo grupo de trabalho que analisa o pacote anticrime do governo. Ela eliminaria a punição a policiais que matam em confronto, no exercício da legítima defesa. Considerando a realidade das polícias, poderia funcionar como uma licença para matar. E, como mostra a chacina de Costa Barros, seria um risco para a sociedade.

O Estado de S. Paulo

‘Ensaios autoritários’

Se há interesse em manter a democracia viva, é preciso prestigiar a imprensa livre, a única capaz de jogar luz naquilo que as autoridades pretendem manter nas sombras

Ao receber o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2019, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, lembrou que a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) foi criada em 1979 como resposta à necessidade imperiosa de reafirmar a importância da liberdade de imprensa. Naquela época, o regime militar ensaiava a abertura política, simbolizada pelo fim do AI-5, que havia estabelecido diversas medidas de força, entre as quais a censura prévia. Era o momento, portanto, de “sustentar a liberdade de expressão do pensamento e da propaganda, e o funcionamento sem restrições da imprensa, observados os princípios de responsabilidade”, como se lê no primeiro objetivo exposto no Estatuto da ANJ.

A pertinente lembrança do ministro Celso de Mello veio seguida de uma preocupante constatação: a de que hoje o País vive “um momento em que vozes autoritárias se insurgem contra a liberdade de expressão”. Se há 40 anos o surgimento da ANJ serviu para reafirmar que essa liberdade não é uma concessão do Estado, e sim uma das conquistas da democracia, hoje a preocupação da imprensa profissional é o risco nada desprezível de um retrocesso. “Temos que nos insurgir contra ensaios autoritários que buscam suprimir essa liberdade natural (…) em sociedades fundadas com bases genuinamente democráticas”, conclamou o ministro Celso de Mello.

A declaração fazia referência ao modo truculento com que o presidente Jair Bolsonaro tem lidado com a imprensa desde que tomou posse. Ao editar uma medida provisória que extinguia a exigência legal da divulgação de editais públicos em jornais diários, por exemplo, o governo deixou claro seu objetivo de sufocar economicamente alguns veículos. A esse propósito, o ministro Celso de Mello afirmou que a liberdade jornalística “não pode ser comprometida por interdições censórias ou por outros artifícios estatais utilizados para coibi-la”. Além disso, têm sido rotineiras as declarações de Bolsonaro hostilizando a imprensa, o que ajuda a naturalizar, entre seus eleitores, a ideia de que jornais e jornalistas críticos do governo são “inimigos” do País.

Para o presidente da ANJ, Marcelo Rech, há método nesse comportamento autoritário: primeiro, torna-se ilegítima a crítica; depois, mudam-se leis para criar obstáculos ao trabalho da imprensa; e, por fim, procura-se asfixiar economicamente as empresas de comunicação.

Tal ofensiva ocorre justamente no momento em que a imprensa passa pelo desafio de encontrar meios de se sustentar para continuar seu trabalho de forma independente e questionadora, em meio à transformação acelerada do ambiente midiático, que vem alterando dramaticamente o modelo de negócios da comunicação. “O principal perigo que a imprensa mundial está correndo é a viabilidade econômica, sem a qual não há independência jornalística”, declarou o presidente da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA), Fernando de Yarza López-Madrazo. Ele identificou uma “tempestade perfeita” para a imprensa, acossada pela necessidade de criar novas formas de financiamento no instante em que enfrenta uma ofensiva “das próprias lideranças políticas que deveriam estar protegendo os meios de comunicação, como garantia da democracia, mas que, no entanto, atacam esses meios”.

Se há interesse em manter a democracia viva e íntegra, é preciso prestigiar a imprensa livre, a única capaz de jogar luz naquilo que as autoridades pretendem manter nas sombras, de modo a oferecer aos cidadãos, em meio à epidemia de notícias falsas e de “realidades alternativas”, instrumentos para formar opinião acerca dos fatos – e apenas dos fatos, checados e comprovados por jornalistas profissionais. E, por fim, para que a imprensa seja efetivamente livre, “é preciso que haja juízes comprometidos umbilicalmente com a liberdade de expressão”, como lembrou o presidente da ANJ. Assim, o prêmio dado ao ministro Celso de Mello por sua constante defesa da liberdade de imprensa serve também para valorizar todos aqueles que protegem de forma intransigente o direito de todos dizerem o que pensam, ainda que isso possa desagradar aos poderosos de turno e a seus seguidores mais entusiasmados.

O Estado de S. Paulo

Várias cidades em uma só

O Mapa da Desigualdade revela o abismo social e econômico entre os bairros mais pobres e os mais ricos de São Paulo

O Brasil é o país mais desigual do mundo e sua maior cidade é o retrato mais bem acabado dos perversos contrastes dessa desigualdade. Isso fica claro no recém-divulgado Mapa da Desigualdade 2019, relatório elaborado pela ONG Rede Nossa São Paulo desde 2012. O Mapa apresenta a avaliação dos 96 distritos da capital paulista de acordo com 50 indicadores sociais, econômicos e culturais.

Para medir o abismo entre os melhores e os piores distritos avaliados segundo cada um dos indicadores, a Rede Nossa São Paulo criou o “Desigualtômetro”, índice que muito mais do que atestar as discrepâncias entre ricos e pobres, brancos e pretos ou homens e mulheres evidencia o tamanho dos desafios a serem superados para que São Paulo seja uma cidade mais justa e acolhedora para os cerca de 12,2 milhões de pessoas que aqui vivem.

O achado do Mapa da Desigualdade 2019 que recebeu maior destaque foi a enorme diferença que há entre a idade média ao morrer dos moradores de Moema, na zonal sul, e de Cidade Tiradentes, na zona leste. De acordo com o levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo, tendo como base os registros de 2018 fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, os falecidos de Moema tinham, em média, 80,57 anos ao morrer. Os de Cidade Tiradentes, 57,31 anos. Ou seja, os paulistanos que usufruem das condições de vida oferecidas pelo rico distrito da zona sul viveram, em média, 23 anos a mais do que os de Cidade Tiradentes. Há de ter o cuidado, no entanto, de fazer as devidas ponderações para que o dado frio não leve à conclusões equivocadas. Trata-se da idade média ao morrer, não da expectativa de vida ao nascer. Também deve-se levar em consideração que Cidade Tiradentes é um distrito mais jovem do que Moema. Evidentemente, a diferença de condições de vida em uma localidade e em outra é enorme, sob quaisquer critérios que se avalie. Apenas um indicador não daria conta de explicar o grau de complexidade que separa dois mundos em uma mesma cidade.

O Mapa da Desigualdade 2019 revela também que desigualdade econômica e desigualdade racial caminham juntas em São Paulo. Os distritos mais pobres da capital paulista concentram o maior porcentual de população de pretos e pardos. Na Barra Funda, por exemplo, a taxa de emprego formal por dez habitantes participantes da População em Idade Ativa (PIA) é de 59,24%, a maior do Mapa. Já o porcentual de pretos e pardos moradores do distrito da zona oeste é de apenas 15,71%. Em Jardim Ângela, distrito da zona sul, 60,11% dos moradores são negros ou pardos. Apenas 0,5% deles têm empregos formais. De acordo com o IBGE, 56% da população brasileira é preta ou parda. Como se depreende do relatório da Rede Nossa São Paulo, não há uma distribuição homogênea da população preta e parda da maior cidade do País, que vive em uma espécie de segregação socioeconômica nos distritos mais pobres.

À medida que cada um dos 50 indicadores do Mapa é apresentado, fica claro que há várias “cidades” dentro de uma só. Algumas com indicadores comparáveis aos de cidades ricas da Europa e dos Estados Unidos; outras tão miseráveis quanto cidades da África ou da Ásia. Muitos distritos paulistanos estão desprovidos dos mais básicos equipamentos públicos para que seus moradores tenham uma vida digna, como Unidades Básicas de Saúde, creches, escolas e bibliotecas. São distritos que retratam o abandono a que foram relegados pelo poder público.

O Brasil tem uma alta conta a acertar com sua história de patrimonialismo, corrupção e desigualdade. São Paulo, a mais pujante cidade do País, a maior da América do Sul, não pode conviver naturalmente com contrastes tão profundos como os revelados pelo Mapa da Desigualdade 2019. O abismo entre ricos e pobres, entre homens e mulheres e pretos e brancos causa hoje tristeza e indignação, além de apreensão quanto ao futuro. Só a união dos esforços das três esferas de governo e da sociedade civil será capaz de erguer o peso que nos mantém ancorados no atraso.

O Estado de S. Paulo

Estatais dominadas

A existência de cerca de 100 milhões de pessoas sem saneamento revela as péssimas condições de vida no País

A apropriação pelos próprios funcionários das companhias estatais de saneamento básico de boa parte dos ganhos que essas empresas tiveram com as sucessivas altas das tarifas de água e esgoto comprometeu seriamente os investimentos na área e retardou a expansão da oferta desses serviços essenciais para a saúde da população. A existência, ainda hoje, de cerca de 100 milhões de pessoas sem acesso a sistema público de coleta e tratamento de esgotos é o retrato mais realista e dramático das péssimas condições de vida nas cidades que as empresas estatais de saneamento básico não têm conseguido reverter. A submissão dessas empresas aos interesses de suas corporações – nítida nos ganhos salariais com que seus funcionários foram brindados nos últimos anos –, combinada com incompetência, incúria e, não raro, corrupção, vem preservando esse quadro que coloca em risco a saúde de milhares de crianças e deixa o Brasil com números piores que os do Iraque quanto à cobertura de serviços de saneamento básico.

Reportagem do Estado mostrou que, entre 2014 e 2017, as tarifas cobradas pelas empresas de saneamento básico aumentaram 30,7% em termos nominais e as despesas com a folha de pessoal cresceram praticamente na mesma proporção (26,9%). Mas os investimento caíram quase 3%. Esses números, que constam de estudo feito pela Consultoria Inter.B a partir de dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento, mostram a que tipo de despesa os gestores dessas companhias deram preferência.

Elas não estão conseguindo nem mesmo reduzir o volume de água tratada que perdem por problemas na rede. As perdas, no período considerado, passaram de 36,6% para 38,3% do que essas companhias produzem. Defeitos da rede e os chamados “gatos”, que são ligações clandestinas, causam prejuízos estimados em R$ 11,3 bilhões para essas empresas. A Cedae, concessionária do Rio de Janeiro, conseguiu reduzir suas perdas para cerca de 30%, mas seus gastos seguem o padrão das demais companhias do setor. Seus investimentos foram cortados em 62%, mas as despesas com pessoal aumentaram 55%, bem mais do que as tarifas (alta de 22,3%).

A Cedae retrata uma situação que torna ainda mais urgente a abertura do setor aos investimentos privados. A entrada de capital particular no saneamento básico vem sendo anunciada há anos, mas a resistência das empresas estatais – na grande maioria controladas pelos Estados – e de seus funcionários impede que isso ocorra. “Há muitos anos as empresas estão capturadas, numa situação que vem se agravando”, disse o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak. Essas empresas dominam 70% do mercado, daí o mau estado do saneamento básico.

O País tem uma importante oportunidade para mudar esse quadro, por meio do estabelecimento de um novo marco regulatório para o setor. O relatório do projeto de lei que estabelece o novo marco foi aprovado há dias pela comissão especial formada para examiná-lo e deve ser apreciado pelo plenário da Câmara dos Deputados proximamente. Se aprovado, será enviado para o Senado.

O texto dá prazo de um ano para a licitação obrigatória dos serviços de saneamento. Nesse período, as empresas estaduais de água e esgotos poderão renovar por 30 anos os contratos vigentes firmados com os municípios. Novos contratos semelhantes aos existentes hoje, porém, não serão mais permitidos.

O relatório estabelece que os contratos de saneamento básico deverão definir metas de universalização que garantam o atendimento de, respectivamente, 99% e 90% da população com água tratada e coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033. Contratos vigentes que não contenham essas metas terão de ser adaptados no prazo de um ano.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, acredita que o novo marco regulatório vai promover uma onda de investimentos no setor. “Essa é uma grande fronteira de investimentos no Brasil, que trará os serviços básicos para as cidades brasileiras”, disse.

Folha de S. Paulo

Remendo trabalhista

Programa do governo de estímulo ao emprego suscita dúvidas e merece mais debate

Planos destinados a estimular a criação de vagas no mercado de trabalho, encontradiços em governos de todas as tendências ideológicas, dispõem de um prestígio no debate nacional que não condiz com os resultados historicamente obtidos pelas iniciativas do gênero.

Se os objetivos declarados são sempre virtuosos, o mesmo não se pode dizer do rigor dos diagnósticos e da solidez das medidas propostas, não raro elaboradas sob a pressa das demandas políticas.

Recém-lançado pela administração de Jair Bolsonaro (PSL), o programa Emprego Verde e Amarelo suscita dúvidas e preocupações, a começar por sua providência mais vistosa —a redução de encargos para a contratação de trabalhadores de 18 a 29 anos de idade com remuneração até 1,5 salário mínimo (R$ 1.947 mensais hoje).

Nesses casos, as empresas estarão livres da contribuição patronal de 20% à Previdência Social, enquanto o recolhimento para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço cairá de 8% para 2%, e a multa por demissão sem justa causa, de 40% para 20% do saldo do FGTS.

As normas valerão por dois anos por beneficiário, se aprovada a medida provisória que as instituiu.

Para compensar a perda de arrecadação, estimada em R$ 10 bilhões ao longo de cinco anos, será cobrada contribuição previdenciária de 7,5% da clientela do seguro-desemprego, hoje isenta. Em contrapartida, o período de recebimento do seguro será contado para fins de aposentadoria.

O desemprego se mostra de fato mais elevado entre os jovens: no segundo trimestre, a taxa chegou a 25,8% na faixa etária de 18 a 24 anos, ante 12% na população total. Em parte, isso pode ser explicado por trocas mais frequentes de ocupação nessa etapa da vida.

Pretendia-se também incluir as pessoas com mais de 55 anos no programa, ideia abandonada em razão dos custos envolvidos.

De todo modo, é difícil justificar, até do ponto de vista legal, uma regra trabalhista especial para um contingente em particular do mercado. A legislação se torna mais complexa, dando margem a questionamentos judiciais.

Recorde-se, ademais, que apenas agora se completaram dois anos de uma ampla reforma promovida na CLT, cujas diretrizes ainda estão em análise nos tribunais. O mérito desse redesenho foi permitir contratos mais flexíveis e favorecer a formalização —para todos.

Não parece a melhor ideia, por fim, introduzir as mudanças por meio de medida provisória, instrumento mais adequado a medidas emergenciais. Espera-se que ao menos o Congresso encontre tempo, entre tantas outras MPs e projetos em tramitação, para um exame criterioso do assunto.

Folha de S. Paulo

Da facada à terra plana

Teses conspiratórias descoladas de lógica se propagam entre nichos ideológicos

“Eu me perguntava: ‘Como as pessoas podem ficar de cabeça para baixo e não cair?’ Nunca acreditei, apesar de ter precisado colocar nas provas escolares que a Terra era um globo.” Na boca de uma criança, a ponderação acima teria de ser confrontada com as armas da ciência e da paciência.

Foi proferida, entretanto, por um homem de 56 anos, como registrou reportagem desta Folha sobre a primeira Convenção Nacional da Terra Plana, a FlatCon, realizada domingo (10) em São Paulo.

O fato de um adulto alfabetizado prostrar-se diante das ilusões do senso comum pode ser atribuído, talvez, a falhas do sistema educacional, incapaz de ensinar fatos científicos básicos. Também seria aceitável argumentar que se trata de exceção irrelevante.

Havia cerca de 400 frequentadores pagantes na FlatCon. Supondo que poucos se aventurariam a desembolsar dinheiro para vincular-se de público a noções lógica e obviamente contrárias aos fatos, deduz-se que o contingente de terraplanistas não é tão diminuto assim.

De fato, pesquisa Datafolha de julho constatou que 7% dos brasileiros dizem acreditar que a Terra, em vez de esférica, tem formato de disco. Para mais de 10 milhões de pessoas, nada valem dados e documentos, sejam eles fotos tiradas do espaço ou voos de volta ao mundo, eclipses e fases da Lua.

Para cada evidência em contrário, o terraplanista encontrará explicação alternativa na indústria de vídeos, livros e memes em que opiniões têm o mesmo valor de fatos.

Essa franja de convicções excêntricas apresenta alguma superposição com grupos de índole conservadora que põem em dúvida outros fatos comprovados, como o aquecimento global ou a eficácia e a segurança de vacinas.

Espanta não só que tantos se professem refratários ao método científico, mas sobretudo que aceitem acreditar em ciclópicas conspirações globalistas. Livros didáticos, jornalistas, artigos científicos, professores, cartógrafos, engenheiros, agências espaciais, astronautas, pilotos —todos conjurados no engodo para incautos.

Parcelas cada vez mais visíveis do público se mostram propensas ao descrédito em fatos quando apresentados por aqueles de quem discordam por princípio. E errará quem daí concluir que a epidemia se propaga apenas à direita —do lado oposto há, por exemplo, quem acredite que a facada em Jair Bolsonaro (PSL) foi uma fraude.

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